Havia se passado quanto tempo desde que deixara o orfanato? Três anos? Ainda não tinha encontrado Mello. O loiro fazia jus ao segundo na sucessão de L, e não ia facilitar para o ruivo. E nem ele queria que o outro o fizesse, ia encontrá-lo sozinho; era o mínimo que podia fazer. Matt não mudara muito desde a última vez em que estiveram juntos. Claro, ele cresceu um pouco e parecia mais um homem agora, e adquiriu um novo vício além do videogame, o cigarro. Mas no geral continuava o mesmo, despreocupado e pensando em Mello.

   Aquele dia pareceria um dia normal se não fosse uma explosão em uma construção perto de onde Matt estava. Sua investigação indicava que Mello podia estar naquela região, uma explosão parecia um bom começo para começar a procurar. Quando pôde ver o lugar, parecia ser um galpão, mas Matt deduzia que devia ter uma parte no subsolo Antes que pudesse chegar mais perto, avistou um grupo de pessoa saindo de lá, aparentemente todos homens, a maioria machucados e um deles, o mais alto, carregava um outro homem que parecia estar em estado muito grave. Se escondeu na hora que os viu, mas pôde ouvir o que diziam.

   - Aquele Mello é completamente louco! Explodir tudo desse jeito! - exclamou o que parecia ser o mais novo do grupo. Matt gelou ao ouvir isso, o cigarro pendendo na boca.

   - Vamos, Matsuda - chamou outro - Ele deve estar morto.

   - Mesmo se não estiver, não podemos voltar para conferir. Precisamos levar o chefe daqui - disse o que carregava o homem ferido.

   Chefe? Quem eram aquelas pessoas? Foi então que reparou nas roupas que eles usavam, mais precisamente uniformes completamente equipados. Policiais?! Deu a volta, de modo que eles não o vissem, para se aproximar mais da construção. Mello tinha explodido aquele lugar? Não duvidava nem um pouco disso. Será que Mello estava no meio da explosão? Bom, ele sempre foi radical. Mas morto? Aquele homem estava errado, tinha de estar. Conhecia Mello, ele devia ter uma rota de fuga. Confiando nisso, tratou de procurá-lo. Começou com um círculo pequeno em volta da construção, aumentando a área de procura gradativamente. Não acreditava que Mello estivesse morto, mas podia muito bem estar ferido.

   Ouviu um barulho. Parou de andar, apurando os ouvidos. Tinha certeza de que ouvira um barulho. Parecia um... Gemido? Desatou a correr na direção de onde veio o som. Ouviu de novo. Estava perto. Na terceira vez que ouviu já podia ver quem o emitia. Assim como Matt, Mello não parecia mais um garoto: o cabelo loiro num corte chanel ( como antigamente ), as roupas coladas de sempre e sangue, muito sangue. O ombro e a face esquerda exibiam feias queimaduras, provavelmente consequências da explosão, e o rapaz gemia de dor. " Você nunca pára de me impressionar " pensou Matt, indo até ele. Realmente era impressionante, Mello conseguira chegar bem longe, mesmo com aqueles ferimentos. " Tanto tempo e temos de nos reencontrar assim? " Matt estava extremamente preocupado com Mello, mas estava tão feliz por encontrá-lo, mesmo naquelas condições, que não pôde evitar de sorrir.

   - Tudo bem, eu vou cuidar de você - sussurrou carinhosamente.

- x- 

   Onde estava? Seu rosto e ombro ardiam muito. Arriscou abrir os olhos. Não reconhecia aquele lugar, um quarto pequeno, com a parede descascando e um irritante cheiro de tabaco. Levou a mão ao lado esquerdo do rosto e sentiu a gaze cobrindo-o; o mesmo com seu ombro. Alguém o encontrara? Aquele quarto definitivamente não era um quarto de hospital, mas onde estava afinal? A porta se abriu e dela apareceu um homem, ruivo, roupa listrada, óculos na cabeça e um cigarro na boca. Reconhecia ele. Como poderia não reconhecer?

   - Mello! - o ruivo exclamou, largando o cigarro e correndo até ele.

   Mello estava surpreso demais para reagir. Apenas fez alguma coisa quando Matt o beijou, correspondendo. Até o momento, guardava na memória a sensação daquele último beijo, do dia que deixara o orfanato, mas nem se equiparava ao de agora. Intenso, saudoso, como se um único beijo pudesse preencher todos aqueles anos.

   - Você está com gosto de tabaco - Mello disse quando se separaram. Matt o encarou incrédulo e acabou rindo. " Ah! Que saudade desse som " deliciou-se Mello.

   Matt tentou falar, sufocando a risada - Quatro anos, depois de quatro anos essa é a primeira coisa que você me diz? Tremendo corta clima, hein?

   Mello esperara tanto por aquele encontro, mas agora não sabia como reagir. Estava tão feliz!

   - Está doendo? - Matt perguntou, um pouco mais sério agora.

   - Isso não é nada. Como me encontrou?

   O ruivo de de ombros - Eu estava te procurando, e quando ouvi uma explicação, pensei que só você poderia estar no meio dela - olhou para ele meio bravo -Claro que não pensei no sentido literal. O que você tinha na cabeça?!

   - Eu não tive escolha - respondeu indiferente, olhando em volta - Matt, tem chocolate?

   Matt riu de novo. Tirou uma barra do bolso e entregou para ele - Pelo jeito você não se livrou desse vício.

   Mello mordeu o doce ávido, e assim que engoliu o primeiro pedaço, disse - E você arranjou outro.

   O outro apenas sorriu - Ah, e não se preocupe, o tratamento médico foi feito em completo sigilo.

   - Obrigado, Matt - começou, mas foi interrompido por outro beijo.

   Matt acariciou o rosto de Mello - Percebeu que nessas horas um de nós sempre está machucado?

   - Pelo menos agora você pode se mover - disse baixo.

   O ruivo sorriu malicioso - Pode deixar que eu vou cuidar muito bem de você - começou a se livrar lentamente das roupas que o loiro usava e das suas próprias " Elas não serão necessárias ".

   - Matt... - chamou baixo.

   Matt se inclinou mais sobre ele, sussurrando docemente em seu ouvido - Eu te amo.

   Finalmente estavam juntos novamente.