Juntos na Vida e na Morte escrita por Guardian


Capítulo 2
Capítulo 2




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   Passaram-se alguns dias desde aquela noite, mas nenhum dos dois mencionou nada. Matt estava ficando impaciente, mas teria de continuar esperando, afinal, Mello podia ser o segundo mais brilhante de Wammy's House, mas era muito lerdo para perceber essas coisas. Melo ainda não sabia direito o que pensar, e isso o estava irritando; gritava com qualquer um que chegasse perto dele, menos Matt, o que estava assustando os outros alunos. De certa forma Matt se divertia com isso.

   - Esses serão os pares para o trabalho de Artes - a professora anunciou.

   Teriam de fazer um trabalho em dupla, e Matt e Mello não ficaram juntos. O garoto que foi escolhido para trabalhar com Mello não estava nem um pouco feliz, assim como o próprio Mello; totalmente diferente da garota que foi escolhida para fazer dupla com Matt. Ela estava... Exultante, há tempos queria se aproximar daquele garoto ruivo e finalmente... Matt exibia seu sorriso de sempre, mas estava internamente insatisfeito com a escolha. Ao virar e ver o olhar raivoso de Mello, sentiu pena imediata do garoto que faria dupla com ele. Deu um rápido, imperceptível sorriso maroto e pensou em provocar Mello um pouquinho; puxou a garota, Lynda, para fora da sala para começarem o trabalho já e piscou para Mello. O loiro esmagou a pobre barra de chocolate que segurava ao ver o ruivo saindo da sala com a garota. Por que se importava com aquilo?

   - Vamos logo - ordenou ao seu " par ", frustrando sua tentativa de sair de fininho de perto dele. Mello mordeu o que sobrou de seu chocolate e saiu da sala, seguido pelo garoto que tremia.

- x- 

   Depois de três dias, Matt já tinha terminado a parte escrita de pesquisas do trabalho, e agora só faltava a parte prática, pintar um quadro do estilo de pintura escolhido. Nesses dias, Mello nem mesmo falou com ele. " Parece que o nível de irritação alcançou o pico " pensou Matt, o amigo parecia que ia matar qualquer um que encostasse nele " não sei como aquele garoto ainda está vivo ". Matt sabia que parte do humor de Mello era por culpa dele, que vez ou outra o provocava com Lynda, mas não era totalmente dele; no mesmo dia em que dividiram as duplas, saiu o resultado da última prova, e Mello perdera novamente para Near. Não dera um ataque como da última vez, porque o resultado foi um Matt de lábio cortado e inchado e com um hematoma nas costas, que por sinal já estava começando a sumir. Mas era óbvio, pelo menos para Matt, que o loiro estava usando toda sua força de vontade para se manter sob controle, e era prudente não atrapalhá-lo mais. Mello já tinha terminado todo o trabalho, inclusive a parte prática, então além de irritado, estava entediado. E essa era uma péssima combinação, principalmente quando havia pessoas à sua volta.

- x -

   No domingo de manhã, Matt conseguiu a permissão para deixar o instituto com Lynda para fazer o trabalho, e ele estava ansioso para terminar logo com aquilo. A companhia da garota até que era agradável, mas tinha um único problema: ela não era Mello. Nas horas em que eles não estavam trabalhando e ela insistia em ficar ao seu lado, ele ligava seu Nintendo DS ou seu PSP e começava a jogar; ela parecia não ligar e continuava lá.

   A dupla saiu do orfanato às dez horas da manhã e estavam demorando para voltar. " O quê aquele idiota está fazendo?! " Mello não entendia o porquê de estar tão irritado por Matt fazer o trabalho com aquela garota. Tinha uma teoria, mas era absurda. " Ciúmes? Do Matt? Impossível ".

   Começou a chover. Mello observava a chuva pela janela do quarto, comendo chocolate. Não aguentava mais, tinha de descontar sua irritação em alguém; e sabia perfeitamente em quem seria. Saiu do quarto e foi decidido até a sala de brinquedos, onde tinha certeza de que ele estaria. E lá estava ele, no chão, com uma perna flexionada e um enorme castelo de cartas à sua frente. Se aproximou e chutou o castelo, acabando com o cuidadoso trabalho do menor; ficou parado, esperando alguma reação do outro, mas Near apenas recolheu algumas das cartas e começou a montarr um novo castelo. Aguentou o impulso de matar aquele pirralho por tempo demais. Agarrou o mais novo pela gola da camisa larga e estava pronto para direcionar sua raiva em algo útil, socando-o, machucando-o, mas parou, o punho no ar, sem encontrar seu alvo. Teria continuado, se não fosse a visão do outro objeto de sua atual raiva pela janela, correndo na chuva, entrando no orfanato. Tinha algo errado, Matt não estava com ela. Largou Near sem nem pensar, fazendo ele cair com um baque no chão, e saiu correndo.

   - Roger! Cadê o Roger?! - Lynda chamava em desepero, ofegando e tremendo.

   - O que aconteceu? Cadê o Matt? - Mello perguntou à garota.

   - Nós estávamos naquele campo afastado e... E...

   - Fala logo! - exigiu Mello impaciente.

   - Ele caiu... Ele caiu no barranco! - e começou a chorar alto.

   Só para entender o estado de espírito de Mello ao ouvir isso, ele deixou cair a barra de chocolate e pisou em cima ao sair correndo porta afora, esbarrando em Roger, que aparecia para ver o que acontecera.

   O campo que a garota falara tinha uma paisagem linda, perfeita para um quadro, mas não parecia tão belo no momento, não no escuro e na chuva e com Matt desaparecido e possivelmente machucado. Mello corria desesperado, as palavras da garota ecoando em sua cabeça " Ele caiu... Ele caiu no barranco ". Tinha de encontrá-lo. No lugar só havia um barranco, e Mello correu direto para lá; a chuva estava forte, o que deixava a terra lamacenta e escorregadia, e no escuro dava a impressão de ser ainda mais íngreme. Entretanto, nada disso fez Mello hesitar em descer, escorregando, procurando aflito por Matt. Não enxergava quase nada, mas continuou prosseguindo, tateando em volta , procurando qualquer coisa que indicasse a posição do amigo.

   - O que... - pisou em algo dura que não parecia ser uma pedra, e tampouco terra. Se abaixou com cuidado para ver o que era e encontrou um óculos. Conhecia aquele óculos, era o óculos que Matt sempre usava na cabeça. Voltou a procurar mais freneticamente, até que finalmente o achou: caído, sujo, molhado e imóvel.

   - Não... Por favor... Não...

   Mello segurou a face de Matt; estava gelada, e ele estava extremamente pálido, mesmo no escuro. Temeu o pior.

   - Me... Mello?

   Ouviu seu nome ser dito naquela voz fraca e foi como um sopro de vida dentro dele.

   - Matt! Você está vivo...

   O ruivo tentou sorrir, mas tudo que conseguiu foi um sorriso fraco, pálido, assim como sua face - Lynda foi rápida... Ai...

   - Onde você machucou? - Mello começou a passar os olhos pelo outro, procurando algum ferimento.

   - Minhas... Costas...

   E agora? Se ele caiu de lá de cima e bateu as costas, seria muito arriscado, loucura até, tentar movê-lo. Sem falar que a situação podia ser crítica; machucar as costas duas vezes em menos de duas semanas não era brincadeira.

   - Vai ficar tudo bem - disse gentilmente. Repetia mentalmente " vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem " tentando se convercer. Estava com medo. Era corajoso e encarava tudo de frente, poucas coisas eram capazes de assustá-lo, mas agora experimentava o mais puro e verdadeiro medo.

   Matt fechou novamente os olhos e os manteve assim. Mello tentou cobri-lo com seu sobretudo preto, mas estava tão encharcado, que não faria muita diferença. " Mas que merda! Não posso nem mesmo protegê-lo da chuva?! " Mello finalmente se deu conta. Por que ficava tão irritado quando via Matt com aquela garota? Sim, estava com ciúmes. Por que saíra tão desesperado quando soube que ele se acidentou? Era mais do que preocupação por um amigo. Por que quase o beijara naquela noite? Não dava para negar: ele amava Matt. Mas desde quando? Por que nunca se dera conta disso? O conhecia há tanto tempo... Talvez esse sentimento apenas estivesse escondido dentro dele, só esperando para aflorar. E agora? Matt não devia curtir esse tipo de coisa, todas as brincadeiras deviam ser apenas isso, brincadeiras... " Mas o quê?! Não é hora de ficar pensando nessas coisas! " A respiração do ruivo estava fraca e seus olhos ainda fechados " Será que não dá pra alguém aparecer logo?! "

   Como que atendendo aos seus pensamentos, Mello avistou lanternas ao longe. Levantou e começou a gritar, atraindo as pessoas que as carregavam Alguns professores e uma equipe de resgate apareceram. Ao verem os dois garotos, se apressaram a alcançá-los.

   - Ele bateu as costas - explicou Mello à equipe de resgate. Eles se entreolharam preocupados e dois  deles colocaram cuidadosamente Matt em uma maca que trouxeram. Começaram a subir com ele por um lado menos íngreme, muito cautelosamente para não escorregarem nem tropeçarem, para não piorar a situação do garoto.

   O levaram para o orfanato, onde a enfermaria era mais do que bem equipada e não teriam problema por não mostrarem a identidade de Matt. Mello trocou as roupas ensopadas, e essa foi a única hora que saiu da sala ao lado da enfermaria. Sabia que não faria diferença onde estivesse, mas não conseguia sair dali. Pouco depois de terem voltado, Lynda apareceu na sala para saber como o ruivo estava e Mello não se conteve.

   - Você! A culpa é sua! - prensou a garota na parede, ameaçadoramente. Ela apenas começou a chorar.

   - Pare Mello! Foi um acidente - Roger interveio, afastando o garoto da menina que tremia.

   O loiro voltou a sentar na cadeira, sem persistir; teria outras oportunidades de acertar as contas com aquela garota. Estava fraco. Não sabia se era pela situação em que Matt se encontrava ou por ter pego uma gripe depois de toda aquela chuva, talvez os dois. Só queria que os médicos saíssem de lá, dissesem que estava tudo bem e ele pudesse entrar e ver o sorriso de sempre do outro.

   Os médicos finalmente saíram, mas não estavam com cara de satisfeitos. Pelo contrário, estavam sérios e pediram para falar com Roger em particular. Mello estava pronto para exigir que falassem ali mesmo, mas o medo o tomou novamente.

   Após alguns minutos incrivelmente longos, Roger voltou, com a feição extremamente preocupada - Bom, Matt bateu as costas um pouco forte - " ah, muito obrigado Sr. Óbvio " pensou Mello, ansioso por alguma notícia nova - e seu estado não é dos melhores. - Mello paralisou - Está fora de perigo, mas ainda não sabemos a extensão do dano.

   - Posso... Vê-lo? - pediu Mello. Estava realmente desesperado, para estar pedindo algo.

   - Ele ainda não acordou.

   - Não importa - e entrou na enfermaria.

   O ruivo estava seco e limpo agora, mas continuava pálido; Mello pôde ver que ele usava um daqueles coletes para impedir o movimento. Se sentou ao lado da cama e ficou lá.

 - x -

   " Cara, como isso dói! " Matt acordou, mas não abriu  os olhos. Sentia um pontada de dor forte nas costas e algo apertando nessa mesma região. Tentou se lembrar do que acontecera: saiu com Lynda para fazer o trabalho, terminaram tudo, começou a chover... Depois teve um acidente... Ah, é mesmo, ele havia caído do barranco. Mas e depois? A garota disse que ia buscar ajuda e então... Apareceu o Mello. Mello fora atrás dele, mas não lembrava de nada depois disso. Abriu os olhos lentamente, com dificuldade devido à claridade e qual foi sua primeira visão? Mello.

   - Você não tentou abusar de mim enquanto eu não acordava, não é?

   - Matt! - estava tão aliviado que nem ligou para a brincadeira.

   O ruivo olhou em volta, reconhecendo a enfermaria. Mal conseguia se mover com aquele colete.

   - Já era tempo. Faz dois dias que você tá dormindo! - Mello disse, mas estava quase rindo de alegria.

   - Então você teve tempo o bastante para fazer o que quiser comigo - Matt fingiu ultraje.

   Mello riu. Era a primeira vez que ria em semanas. Mas depois, mais sério, disse ao outro - O que você acha que estava fazendo me deixando preocupado daquele jeito?! Seu idiota! - ficou estranhamente corado, iria arriscar - Eu devo ter algum problema... Eu... Eu acho que... Amo você!

   Ao final da frase, Mello já estava com o rosto em brasa, completamente vermelho. Matt sorriu, talvez o maior e mais radiante sorriso que deu na vida. Não acreditava. Tinha ouvido certo? Ele o amava? Quanto tempo esperara para ouvir essas palavras? E agora estava ouvindo, sem sombra de dúvida ouvira Mello dizer.

   - Mello? Quer terminar o que começamos no outro dia? - perguntou desejoso.

   - O quê...? - Mello achou ter entendido errado. Isso queria dizer que Matt sentia o mesmo que ele?

   Matt falou manhoso - Eu não posso me levantar.

   Mello hesitou um pouco, mas por fim se abaixou e o beijou. Começou como um beijo tímido, mas foi ganhando intensidade, com a língua de Matt abrindo caminho e explorando a boca do outro, sendo logo correspondido e tendo sua boca explorada também. Matt não conseguia se mover e Mello estava tão inclinado sobre ele... Iam continuar, Matt já estava abrindo o zíper da blusa do outro, a única peça que seus braços alcançavam, mas ouviram um barulho próximo, antes de poderem fazer algo mais.

   Eles se afastaram bem a tempo, ambos vermelhos e ofegantes e Mello com o tórax aparecendo, antes do médico entrar na enfermaria. O loiro fechou fechou rapidamente o zíper e se afastou, dando passagem para o médico, e escondendo o rosto para que ele não visse. O doutor se mostrou preocupado ao ver Matt, mas este apenas sorriu e disse que estava tudo bem.

   Mello abriu um chocolate " Nem machucado esse idiota se controla? ", mas estava extremamente feliz. 


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Notas finais do capítulo

Aí está, mais um capítulo

Espero que tenham gostado^^

Obs: eu inventei completamente o campo, espero que não tenha ficado estranho...