Ok, o jantar era a ocasião perfeita. Angie não me perdeu de vista o tempo todo e o jeito que ela me encarava até me assustava um pouco. Depois que nos servimos lancei meu olhar mestiço por todo o cômodo até encontrar Cal. Ele estava sentado sozinho na mesa. Suspirei e olhei para Ângela. No momento ela entendeu. Nós duas fomos para lá.

            -Podemos sentar aqui?

            Perguntou ela.

            -Claro, a vontade.

            Sentamos-nos ao lado dele. Ai caramba, o que eu ia fazer? Como se diz para um cara que você é possivelmente a filha dele.

            -Então Serena... Como você se sente... – Ele perguntou e eu quase achei que ele tivesse telepatia. – Quero dizer, eu sei que Saralynn era importante para você.

            -É... – Dei de ombros – Aquele anjinho dava alegria por aqui. Acho que eu me sinto meio culpada por causa do que aconteceu...

            -Por quê?

            -Ela dizia que eu era o anjo da guarda dela. Que belo anjo que eu sou...

            Ângela já tinha ouvido aquele papo e se limitou a revirar os olhos diante da minha tentativa patética de achar a coisa certa para falar.

            -Você não tinha o que fazer...

            -Só espero que ela ainda esteja pensando que eu sou o anjo dela... Aquela pessoa que você pensa quando está com medo. Como eu penso no meu pai...

            Deixei escapar. Tá bem, quando eu ficava com medo, eu pensava em Jamie, e no sorriso dele. E eu dificilmente ficava com medo, porque ele estava sempre por perto. Menos agora... O que será que ele estava aprontando... De qualquer modo...

            -No seu pai?

            -É... Ele era humano e ele e minha mãe tiveram um relacionamento que deu origem à mim e minha irmã mais velha. Depois ele foi pego e a alma dentro dele não voltou como era de se esperar.

            -Jura? – Perguntou Cal. Ângela despertou de sua comida quando notou que eu fizera algum progresso. – E qual o nome da sua irmã?

            -Tanzânia...

            Eu disse. O nome pareceu fazer um impacto no rosto inabalado de Cal. Eu tive a impressão de que ele ia dizer algo, mas então eu vi Jamie entrando no refeitório. Me levantei e corri até ele.

            -Oi, lindo. Onde você tava?

            -Lá fora...

            -Você pirou de vez?! – Peguei a mão dele e lancei um olhar para os confusos na mesa que eu deixara e o puxei para fora do refeitório para que ninguém ouvisse, afinal, não queria que ele se metesse em encrenca. – Não faz ideia do perigo? Imagina se quem pegou Saralynn te pegasse? O que é que eu ia fazer sem você, seu insano?!

            Eu o abracei para dar ênfase a frase. Ambas as minhas partes borbulhavam de preocupação.

            -Calma, Serry. Está tudo bem, não há ninguém lá fora, e não me pegaram. Você sabe que eu preciso caminhar quando no clima está tenso aqui dentro.

            -Eu sei... Desculpe... Mas desse jeito você me mata de susto, menino humano!

            Por fim não entramos novamente no refeitório, e fomos para o quarto. Contei minhas suspeitas paternas acerca de Cal. Ele achou que era bem provável, mas que não era para eu me jogar de cabeça na teoria. Mal sabia ele que eu já estava imersa nessa teoria havia muito tempo.