Estávamos no encarando. Roxanne olhava de mim para Ian, e de Ian para mim, esperando alguém ceder. Com certeza não seria eu e acho que Ian notou isso, várias vezes ele abriu a boca a fim de dizer algo, mas acho que algo em meu olhar fez ele se calar.

            7 vezes.

            A questão é que, por mais que Kyle tivesse provocado, brigar naquele momento poderia nos levar a morte, e talvez pior, o esquecimento, todos os que nós amávamos podiam ser invadidos do jeito que eu invadi Mel. E ainda vinha a questão de que Saralynn podia estar correndo sério perigo e não podíamos recuperá-la sem respostas da minha parte, respostas que Ian nem se quer se esforçou ao tentar retirar de mim.

            Pude me lembrar das músicas que uma das meninas do clã do Nate vivia cantando por aí. Ângela o nome dela. Garota ótima. Um dia perguntei para ela porque ela vivia cantando aquela música, Poker Face, e ela disse que foi a última música que ela dançou no gelo no ano da invasão e que ela conseguiu ficar tão séria que ninguém entendeu  porquê, e isso deu sentido à música, garantindo o primeiro lugar, pela teatralidade.

            Agora, Ian não conseguia entender minha cara séria, a minha cara de Poker.

            Roxanne sorriu para mim, mas logo seu sorriso se desfez, ela sorriu para Ian, mas de novo seu sorriso se desfez. Ela se levantou olhou novamente para mim e para ele e se dirigiu à porta.

            -Roxanne, aonde você vai?

            Perguntei quebrando o silêncio, enquanto ela se emparelhava com a porta.

            -Vou comer um hambúrguer com o tio Jeb.

            Ela disse tentando empurrar a porta. Ian levantou e pegou-a no colo, colocando-a nos ombros. Mais um olhar para mim os dois deram, e eu aproveitei para comparar seus rostos, e eram quase idênticos. Ambos saíram pela porta me deixando sozinha, desamparada e ainda quieta.

            -Dancing with myself, dancing with myself…

            Cantava uma voz no corredor que se aproximava. Serena parou na frente da minha porta sorrindo.

            -Oi, Peg. Que bom que está de pé.

            Novamente eu tive a sensação de que eu precisava ficar longe dela.

            POV. Serena.

            Mesmo com o desaparecimento de Saralynn, naquele dia eu tinha acordado de bom-humor. Passei na frente do quarto de Peg e a cumprimentei. Ela parecia estranha. Mas não importei muito, não que eu não me importasse com Peg, mas hoje eu tinha tido um sonho ótimo, com meu pai.

            Saltitei felizmente por aí até encontrar Ângela no salão de jogos.

            -Oi, Angie.

            -Oi Serry.

            Sentei na arquibancada ao lado dela.

            -Parece feliz...

            -Eu estou feliz, Angie... Eu sonhei com Saralynn e vê-la de novo me deixou em

Êxtase e sabe quem mais estava lá no sonho? O meu pai!

            Claro, Ângela sabia dos meus dramas pessoais com família, afinal éramos tipo, super amigas.

            -E como é que ele era?

            -Eu não faço a menor ideia, mas a voz dele estava lá... E era muito terna...

            -Terna Serry? As vezes você me vem com cada uma, menina alma. E dai, o que ele disse?

            Eu abri a boca para falar mas fui interrompida.

            -Ei, vocês duas, reunião amanhã, no refeitório, ao meio-dia.

            Olhei para Cal enquanto ele lançava um sorriso e saía do salão de jogos. Meu queixo caiu e olhei para Angie.

            -Isso.