Não Sei mais Viver sem Você escrita por Dumpling


Capítulo 7
Proteção


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada por lerem.
Espero que continuem acompanhando.



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Capítulo 7 – Proteção

        Era meu direito exigir saber de Usagi? Afinal, eu tinha saído de sua vida e o mais provável – e o que eu mais temia – é que ela tivesse continuado seu caminho com alguém… Por que tinha sido recebido daquela forma pelos pais e irmão de Usagi? Era uma forma de me demonstrar que eu não podia interferir em sua vida? Sentia-me perdido. Então, a campainha soou e depressa a abri, estava bem atrás dela fazia uns 10 minutos, tal a ansiedade. Allison entrava, descontraída de nariz para o ar rindo, olhando todos os pontos do meu apartamento. Mas só quando ela se adiantou ao convite, sentando-se no cadeirão, notei que tinha seu cabelo pintado de loiro.

        - Você realmente se sabe cuidar…

        - Onde está ela? – Meu sangue fervia, eu sentia todo o meu corpo tremer e esquentar em sintonia.

        - Quem?

        - Como quem? Usagi!

        - Bem diante de si, querido. Não estou idêntica?

        Eu temia que ela estivesse brincando com meus sentimentos todo o tempo que me ouvia em Harvard, e quando ela me dissera saber o paradeiro de Usagi, ainda temi mais isso… mas nunca julguei que ela fosse tão longe... Só alguém com o coração muito bem-posto poderia brincar daquela maneira. E doía; eu julgava que podia ser forte, mas doía demais.

        - Você julga que pode vir aqui brincar com coisas sérias? – Fechei o punho. Jamais atingiria uma mulher, mas sentia-me quase perdendo o controlo. – Se você quer meu respeito, se dê ao respeito!

        - Ora, meu querido, - Senti a proximidade de sua boca com minha orelha. – sou uma jogadora, você sabe isso muito bem. E, como tal, não poderia perder minha única chance de saber onde vive. Ah, Mamoru, - Colocou sua mão no ombro, deslizando uma alça do curto vestido vermelho. – sabe que me sinto só… não conheço ninguém e aquele seu amiguinho é meio idiota sempre com quatro menininhas também idiotas em seu redor, não se fazem amizades por aqui. Me dê um aconchego por essa noite, não pode dizer que não gostou de…

        - Basta! – Me afastei ante o toque de sua mão abaixo de meu cinto. – Você está jogando sim, mas com minha paciência. E acredite ou não, ela se está esgotando para você.

        - Não me vai bater! Eu conheço o seu tipo, nada ao jeito bruto de homem japonês, mas sim paciente e delicado. Então… me deixe passar essa noite com você.

É, eu não conseguiria bater em uma mulher. Mas sabia como pegar uma, que não sairia a bem sem brutidade e, então, a joguei porta fora. Ainda pude escutar alguns desabafos furiosos bem sonoros até finalmente ouvir eu vou, mas volto. Que fosse… homem ou mulher, não admitia gênero em assuntos sérios.

Determinado a saber naquela noite o paradeiro de Usako, saí. Apercebi-me que, em tão pouco tempo, já muito havia mudado em Tóquio. Entrei em um bar qualquer e bebi… Muito! E, ao sair, decidi que tinha de confrontar Motoki e desabar ali mesmo naquele balcão, sequer me importava se aquelas quatro meninas iriam ouvir.

        - Tenho de falar com você.

        - Ei, Mamoru, estou trabalhando… não tenho tempo agora.

        - Não! Você me vai dizer agora onde está Usagi. – Meu tom de voz subira implacavelmente, apoderado pela bebida, todos ali me notaram e eu tão-pouco quis saber. Apenas queria saber dela, como era possível ter chegado a Tóquio e logo a encontrar e não mais?!

        - Você está alterado. Conheço-o, deve ter bebido. O melhor é ir para casa Mamoru. E eu não sei de Usagi, acaso soubesse, já lhe teria dito como você pediu.

        - PÁRA DE MENTIR! – Se havia alguém que não prestava atenção anteriormente, agora não podia deixar de notar. – Eu amo-a e apenas quero falar com ela. Que eu saiba ela já não é mais uma menininha que você e aquelas – Apontava com o dedo para as quatro cabeças mais atentas – possam proteger. Na altura ninguém o fez, ela se tratou sozinha. Pois bem… eu não sou um monstro, e ela é uma mulher que se sabe cuidar. Quero saber, JÁ!

        - Eu creio Mamoru, - E ali eu vi um olhar com um misto de pena e incompreensão. – que você não tem direito algum de interferir na vida de Usagi. Ela seguiu sem você, foi sua opção deixá-la sozinha depois de tudo o que ela passou! Agora sofra as consequências e encare como um homem. Foi o que ela fez! Teve de deixar de ser uma menininha por sua culpa, teve de o esquecer para agora você voltar e pedir que ela o oiça, não lhe continue fazendo mal!

        Senti lágrimas escorrendo na minha face. Não senti vergonha. Tudo o que temia, tudo o que evitara nesses anos todos, caia em cada gota. E, agora, baixava meu tom, só Motoki e elas que se aproximavam me podiam ouvir:

        - Então é assim que me vêem? Como o que a abandonou e foi egoísta? Eu pensei nela esse tempo todo, mesmo antes de ir para Harvard, era minha ambição, não a impedia de concretizar nosso sonho anos mais tarde, ou seja, agora! Eu sou a besta no meio de tudo isso? Quando eu fui para Harvard, pensei em levá-la comigo, caso ela não aceitasse, eu nunca iria estar com ninguém além dela e mantinha sempre contacto, mesmo que tivesse de sair no meio de alguma aula! Tudo o que eu pensei, foi lhe puder dar um bom homem a seu lado, como ela merece, boa estabilidade para que ela não tivesse de pensar em mais nada e que pudéssemos ter nossa filha de forma saudável, sem remorsos… quem sabe mais se pudesse dar uma partida no destino. Para que nenhum de nós vivesse com pesares, para não a culpar de sonhos que não realizei. E apenas aí posso dizer que fui egoísta. Por querer ser mais que um homem a cambalear por aí, por querer viver um pouco mais para mim antes de viver para os outros! É injusto, tão injusto… chegar e saber que todos os meus amigos foram uma mentira… nenhum deles foi porque quis, mas sim por obrigação, por eu estar com a Usako. Não me querem dizer? Sequer me informar que ela só se está escondendo de mim? – Esperei um pouco para saber. – Ótimo então! Eu mesmo descubro!

        - Mamoru! Espere! Não saia assim, está muito nervoso.

        Virei costas, não ouvindo mais Motoki. Aquele silêncio… escondia mentiras, como fora em toda minha vida, para chegar e ninguém querer ouvir minha parte, o que eu sentia e o quanto precisava dela… Peguei um táxi, cheguei a casa e cai no sofá. Quando amanheceu, lembrava o sonho dela diante mim, nada mais em seu redor.

As suas asas, quebradas como ela. Num olhar cheio de céu e pedaços de nuvem, qualquer um cairia de deslumbre caso os olhasse mais que o tempo de uma pena cair ao chão. Os seus lábios rosados traçavam um trilho de mistério. Para chegar ao seu fim, era necessário respirar fundo caso faltasse o fôlego em meio caminho. Levando nos longos dedos histórias de um passado quase perfeito, as suas impressões são de desejos quase mágicos por realizar. Não leva máscara, leva encanto na linha maxilar delineada por deuses, o seu toque subtil no joelho não traz má intenção; apenas a torna discretamente sensual. Perfeições nos seus defeitos, nas hastes partidas que não a seguram ao céu. Livre em cima dos pés descalços, branco puro.

Apenas tinha sido um sonho… Mas o dia não ia ser bom, tinha essa certeza.

.Usagi.

- Eu sei lá porquê, filha.

- Mas mamãe, eu quero saber!

- Mas porquê perguntas assim logo de manhã?! Tenha calma com esses seus raciocínios. Chega aos 20 anos e tem cabelos brancos, querida. Faça favor de parar com perguntas e andar para o carro sem eu ter de a tirar daí?

- Fazem precisamente agora 15 minutos que vos estou esperando quando você disse me dê 1 minuto para calçar Rini.

- Desculpa... Então, por favor, resolva você o drama dela.

O dia começava com uma viagem até Aichi, onde um cliente esperava Ryo e aproveitaríamos para passar lá todo o fim-de-semana. Primeiro com a visita a meus pais, depois com Rini doente e com o ano novo passado no hospital, depois eu doente e os dias de trabalho… não nos tinha sido possível comemorar com uma saída sem preocupações. Então, chegara a altura… Mas Rini não nos estava facilitando a vida! Eu não sabia que lhe responder; normalmente inventava uma resposta ou pesquisava, mas essa ela exigia saber a ponto de se colocar num buraco entre uma estante e a parede e não querer sair dali.

- Qual é a pergunta dessa vez? – Ryo se colocou de cócoras diante da pequena, sorrindo. – Você sabe que se fizer muita pergunta sua mãe vai ganhar rugas num piscar de olhos?

- Ei! Ela quer saber porque foi à janela e viu a lua, sendo de dia.

- Ah, então pequena… é por que na noite anterior a lua esteve mais brilhante. Tal como sua mãe brilhou muito ontem, pois…

- Ryo! – Achei engraçada a sua comparação a mim e a lua, o que me fez, momentaneamente, voltar ao passado. – Isso só irá despoletar uma outra pergunta.

- Entendi. – Rini saiu e correu para o carro. Criança mais curiosa essa… porque tinha de ser mais precoce e fazer tanta pergunta? Não podia esperar fazer 4 anos?!

Finalmente, podíamos seguir viagem com mais calma. Ryo tinha um sorriso nos lábios como eu nunca tinha visto e o brilho no seu olhar estava diferente. Mas não me queria convencer de que tudo isso era por mim... Afinal, ainda julgava não valer tanto quanto um sorriso de um homem por mim. Passada uma hora de viagem, Rini já havia colocado mais 32 perguntas. Sim, eu contara! E quando Ryo colocou a sua mão no meu colo, fez mais uma: porque ele tem sua mão no seu colo.

- Não há xanax para crianças? – Ryo quase tirou as mãos do volante em uma curva de tanto rir pela minha questão. – Não tem piada, é sério.

- O que é “xanaz”, mamãe?

- Boa, mamãe. – Ryo me olhou torto. – Agora se vire.

A viagem continuou tranquila, e mesmo eu ignorara as vezes que Rini chamou pai a Ryo. Chegando ao destino, ele encostou o carro para ligar a seu cliente, afim de saber as direcções para a sua casa. Rini adormeceu e entrei com ela no colo. Recebidos por um homem nos seus 30 anos, numa enorme mansão, começámos a tratar do seu processo de divórcio; Ryo me deu sua mão a meio da conversa e, no fim, pediu o homem para assinar uns papéis enquanto ele ia à casa de banho.

- Vocês assistentes são todas iguais, não é mesmo? – O olhei confusa, diante do seu tom de voz, depois de guardar os papéis na pasta. – Não se deviam chamar assistentes, mas sim prostitutas.

- Desculpe, não estou a entender onde o senhor quer chegar. – Mirava-me com fúria, notei seu punho fechado e sua aproximação. Me levantei derrubando a cadeira acidentalmente. – Eu não sou nenhuma…

- Silêncio! – Quase gritou. Agora sentia medo e vontade de gritar por Ryo. – Não podem ver um homem bonito, de corpo musculado e, claro, muito dinheiro que lhes caiem logo em cima, não é mesmo?

- O senhor não me conhece, não tem…

- Eu disse silêncio. Ou você é surda?! Ryo tem dinheiro sim, mas quanto você quer por uma noite comigo? Você sabe que não deve resistir muito, eu sou um homem com muito poder. – Quando vi seu punho perto de minha face, rapidamente me afastei, tropeçando na cadeira e caindo no chão e o senti em cima de mim, esmurrando-me como se eu tivesse seu tamanho. O esbofeteei, pontapeei e gritei. Desejei muito ter meus poderes e capacidades de luta que tinha antes de volta, apenas meus bons reflexos se mantinham. Sem grande chance… rezei para que Ryo chegasse rápido. Sentia minha cabeça latejar e todo meu corpo doía. – Que vagabunda, ein? Mas é burra também… não entende que de nada vale gritar com minha mão sobre seus lábios e com a porta fechada?!

Do outro lado, ouvi Ryo tentando girar a maçaneta, gritando por Kento, e depois por mim. Senti a mão daquele homem que me continuava chamando nomes me tapar a boca, enquanto tentava rasgar minha camisa com a outra. Apercebendo-se que não tinha grande sucesso, tirou a de minha boca e aí gritei por Ryo. O homem me socou forte, me deixando quase inconsciente mas logo ouvi um pontapé de Ryo na porta e imediatamente começou lutando com o homem.

- Que raio de ideia era a sua?! – Gritou. E logo depois atirou o homem ao chão. – Você desta vez tem sorte, mas mova um dedo daí e chamo a polícia imediatamente! Que fique claro, Kento! Vou entregar o processo a um colega e não se atreva a entrar naquele escritório e se cruzar comigo.

Já aparentemente mais calmo, me pegou e pediu a uma empregada para levar Rini até ao carro. Ainda me sentia zonza quando Ryo me sentou no banco da frente e me começou examinando e tentando fechar minha camisa, sem sucesso. Encontrou em minha mala por uma nova e me vestiu. Procurei seu braço quando ele se virou e o abracei, chorando. Quem preveria que o dia ia começar assim?! Sussurrou no meu ouvido e me acalmei a pouco e pouco. Julgo que, quando tudo estava acontecendo, não sentia medo por saber que ele estava perto... Sentia a protecção que há muito necessitava, apesar de todas as dores que sentia.

Seguimos e tentámos fazer o dia normal sem grandes conversas; apenas com mais uma grande desculpa para Rini quando questionou o porquê do meu olho vermelho e inchado e meu lábio rebentado. Quando anoiteceu, partimos para o hotel. Após deitar Rini, me juntei a ele em silêncio. Sua respiração ainda era forte, nervosa.

- Se você se sentir melhor, eu ligo à polícia. – Começou a conversa, tirando esse peso de meus ombros. – Não tem de se sentir forçada só porque eu o conhecia.

- Não, julgo que não tem necessidade disso… eu estou bem porque você estava lá, caso contrário...

- Não pense sequer em se… - Suspirou levemente. - Você sabe que, tudo isso foi por que a mulher dele o deixou pelo chefe. No fundo, só achou em si uma figura em quem podia rever sua mulher. – Eu sabia que devia haver algo estranho em toda aquela conversa… afinal, eu não estava fazendo nada de mau com Ryo. O abracei. Durante muito tempo senti que apenas me podia defender a mim mesma mas ter alguém como ele, era bem diferente. – Claro que você não está errando. Apenas sendo feliz, e fazendo um homem feliz.

- É, que mentira!

- Como mentira?!

- Eu não o faço feliz… devo ser chata, aborrecida; por algum motivo Mamoru procurou algo mais do que eu. Ele podia ter cursado medicina aqui mas…

- Mas nada. – Interrompeu colocando seu indicador nos meus lábios, encostando sua testa na minha. – Eu não me chamo Mamoru. E não a acho nada aborrecida, pelo contrário, tem um ótimo sentido de humor e paciência de santa para lidar com as indagações da nossa pequena.

Não tinha escutado mal… ele tinha dito nossa. E eu não o negava. Rini estava cada vez mais próxima de Ryo e realmente gostava dele. Eu sabia que não era de meu direito fazer cair um pai desses do céu mas… e se até eu necessitava de alguém? Afinal, ele conseguiu o milagre de me permitir voltar a dormir 8 horas por noite e a acalmar Rini de forma natural. E, sobretudo, não queria que ela chegasse a adolescente me acusando de, pelo menos, não lhe ter dado oportunidade de uma figura paternal na sua vida. Acabei adormecendo no seu peito enquanto ele lia um livro qualquer mas acordara no minuto em que ouvia Rini, ouvido apurado de mãe provavelmente… mas permaneci de olhos fechados.

- P-pai posso dormir com vocês? – Sua voz estava mais infantil que o normal, que geralmente soava séria e quase correta em todas as palavras. Seria também esta figura masculina a salvação para que ela vivesse realmente a sua idade?

- Não consegue dormir?

- Não.

- Apenas hoje. Mas no meio, esta cama não tem grades. Está bem princesa?

- Obrigada. – Ouvi ela rir leve e se deitar junto a mim. – Você ama minha mamã?

- Muito Rini, muito.

- Quanto é muito, muito?

- É não poder contar pelos dedos, pelos braços, por metros ou qualquer medida.

Continua


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Notas finais do capítulo

E sabem que mais?!
O capítulo 8 está pronto. É verdade... mas depende de vocês e dos vossos comentários para eu postar.



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