Não Sei mais Viver sem Você escrita por Dumpling


Capítulo 8
Brincando com o fogo


Notas iniciais do capítulo

Eu digo sempre que um comentário, seja pequenino ou grande, faz-me querer continuar.
E foi isso que aconteceu.
Se quiserem ouvir a música à qual juntaria algumas partes deste capítulo, chama-se Playing with Fire, de Brandon Flowers.



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Os dias foram passando, trazendo um cheiro a primavera e a felicidade junto de Ryo que era cada vez maior. Ele sabia cuidar da minha miniatura, como a chamava carinhosamente, e sabia como agir sentimentalmente perante tudo o que eu havia passado.

Já a papelada acumulada no escritório se intensificava bem como o trabalho que vinha dela. Como tal, eu e Ryo passávamos várias horas sem sequer sair para almoçar. Foram precisas semanas até terminar todos os assuntos. E aí nada estava terminado, claro, eram processos, mas nos permitimos respirar um pouco de alívio. Um fato era certo: nos negavamos a demonstrações amorosas perante a companhia; chegavamos juntos, sim, mas logo ele fechava a porta que me separava dele e eu a que me separava do resto dos empregados. Mas nem por isso eu deixava de sentir olhares, mal saía para um café ou para ir buscar o correio de Ryo. Num dia, falava com algumas das minhas colegas secretárias, quando uma falou indirectamente algo sobre o que todos já haviam notado. Porém, decidia ignorar esse e todos os outros comentários que se seguiram…

Era sexta-feira quando uma abordagem diferente me fez desabrochar em lágrimas.

- Ei, Usagi, chegue aqui. – A mulher de cabelo quase tão negro como os seus olhos me chamava com gestos, como a um cão, enquanto ria junto de outras duas todas já uns quinze anos mais velhas que eu. – Me constou que você e Ryo devem casar em breve.

- Não sei onde ouviu isso mas é mentira. – Engoli em seco. Onde queriam chegar com todos os sussurros?

- Mas certamente quer se apressar não é, querida? Começando a ouvir burburinhos pelo nome da Tsukino com uma filha pequena de outro homem, sem grandes posses... Não diga que não, não me engana! – Sorria sarcasticamente enquanto me avaliava. – Só gostava de saber como ele pôs os olhos em você! Apesar de ficar bem sem maquilhagem, se veste como uma menininha imatura que vem para um luxuoso escritório de ténis! Homens ricos e bem sucedidos gostam disso, por diversão, claro. Imagino o quanto ele aproveita seu corpo na sua grande mansão, sinto pena só de imaginar… mas sabe, Koizumi Usagi, tudo tem um preço. Esse de bonequinha de luxo… é o seu!

Fiquei sem reacção. Era assim que todos me olhavam? Pensando eu que era apenas por eu andar com ele e afinal… me pintavam como uma aproveitadora? Desviei o olhar enquanto riam e saí quase correndo para a grande partição. Pela janela notei que Ryo não estava, então me sentei e desabei com os cotovelos na escrivaninha, chorando. Mas logo o ouvi, enquanto abria a porta falando com um colega e com um copo de café na mão. Era nesses momentos que nos cruzávamos que geralmente na rotina trocávamos um breve sorriso e falávamos um pouco. Tentei disfarçar, sem sucesso, logo correu para perto de mim com inúmeras questões às quais meus soluços não permitiam responder.

- Não é nada, Ryo. – Por fim, depois de 10 minutos, recuperara o fôlego. Durante esse tempo ele me tinha levado gentilmente para a sua parte, me sentando no seu colo colocando minha cabeça sobre seu ombro, tocando meu rosto. – Desculpe, tem coisas para fazer e eu o estou fazendo perder tempo.

- Você não me faz perder tempo. Pode, por favor, me dizer o que se passa? E não comece a frase com não é nada.

- Eu, bem… Sério… o amo tanto! – Era a primeira vez que eu dizia aquilo, ao contrário dele que repetia todos os dias. Logo notei seus olhos arregalados ao som de vários arrepios percorrendo minhas costas. – Até o conhecer, eu estava completamente entorpecida para a vida. Deixava os dias passar, me preocupava com Rini e me descurava. Você fez perceber que eu valia a pena… mesmo quando eu estava à beira do abismo, fez com que meus dias se tornassem mais felizes, me puxou de volta. Não sei como agradecer por tudo…

- Não tem de agradecer. – Sorriu terno, me beijando em seguida. – Mas tenho a certeza que não está chorando por isso. Quero ouvir o que aconteceu para a deixar tão em baixo.

- Ryo-kun, eu… - Um lado me dizia que ia piorar contando, outro que ia pôr fim a toda a confusão. Por um lado sabia que o meu silêncio ia ser a vitória delas. – Eu não posso… sou adulta e tenho de me saber vir…

- Usagi… - Interrompeu, olhando sério.

- Bem… é que todos os dias, ultimamente, escuto sussurros, comentários, indirectas… tenho ignorado tudo! Mas hoje vieram falar comigo de um jeito diferente. Eu julgava que era só por chegar com você e com isso as desconfianças, e afinal falam de mim como se me estivesse aproveitando das suas posses. – Me olhou surpreso enquanto se endireitava. – Eu sei que você sabe que não é assim, e que é sua opinião é o mais importante… mas magoou tanto!

- Quem?

- Não interessa quem… é muita gente, ela só disse na frente o que aparentemente todos falam nas nossas costas.

- Quem é ela? – Insistiu, olhando torto. Continuei em silêncio. – Eu não vou sair daqui enquanto não me disser e vou ficar muito aborrecido se permanecer calada. Violência verbal não deixa de ser violência.

- A secretária do Dr. Sekai, Komori. – Cedi, baixando a cabeça.

Depois disso, o vi discando uns números, não conseguindo ouvir o que dizia. Pouco depois, Dr. Sekai e Dr. Yoshida, chefe da empresa chegavam, encontrando-se com Ryo na parte onde eu trabalhava. Ryo falava com um tom superior, ainda que os outros dois tivessem bem mais idade que ele. Ameaçou sair, caso não acabassem com todos os burburinhos que me inquietavam. Mais uma vez, demonstrou o quanto gostava de mim e que não temia nada. Mas ele era dos melhores advogados da companhia, ainda que o mais novo, e temeram a perda lamentando a situação.

No dia seguinte, Komori foi despedida e Ryo me prometeu acompanhar sempre, deixando, assim, de ouvir um único sonido à nossa passagem.

Mamoru.

Não havia mais nada a dizer… Apenas tinha sido puxado para aquele café por aquele tormento das terras do tio Sam, agora loira e mais aborrecida que nunca.

- Vai ver que um pouco de diversão nunca fez mal para ninguém. Se para me redimir do pecado de ter seguido você for preciso arrancá-lo de casa, ótimo! – Dizia sorrindo, enquanto esperava uma resposta. – Se não vai falar, problema seu.

Entrei de cabeça baixa, continuava sem querer olhar Motoki nem qualquer uma daquele grupo. Allison rapidamente se sentou no balcão, junto das quatro enquanto preferi manter distância, sentando-me numa mesa… mas mesmo isso não impedia que ouvisse a conversa absurda.

- Quero saber… uma de vocês. Quão popular é Mamoru por esta cidadezinha?

- Oh, bem… não sei se posso dizer. – Murmurou Mina. Devia pensar que eu era surdo. Tossiu brevemente e continuou. – Você está perguntando pelo rapaz conhecido pelo mistério do botão Chiba.

Essa não…

- Mistério do botão Chiba?

- Ou drama das estudantes histéricas apaixonadas. – Riu Mina, enquanto via meu estado. Tinha sono, passara vinte e duas horas de serviço e continuava pensando em Usagi. O trabalho era muito, mas ainda não havia desistido. Entretanto, parecia ter que levar com um erro para o resto da vida, já que Allison pensava ficar mais tempo. Já havia passado um mês. E agora tinha de sair arrastado e ouvir um monte de estupidez sobre minha própria vida. – Não sei se você sabe, mas no fim do Ensino Médio o rapaz tem de dar o segundo botão do seu gakugan para a mulher que ama*. Acontece que saltaram para cima do Mamo-kun e lhe rasgaram a camisa, diz-se até que uma professora andava em busca de um pedaço, e o segundo botão não apareceu… foi até notícia de jornal! Acontece que o próprio Mamoru o encontrou, guardou e entregou-o a Usagi assim que saiu da formatura, na época que começaram a namorar. Ah… - O seu suspiro era um reflexo do meu interior. Algo que eu achava idiota, pensava ter significado para ela. – Apesar da fama, sempre teve olhos só para Usa-chan, sabia bem o que queria.

- Idiotices. Vocês têm hábitos realmente estranhos. Botão de camisa? Nós nos US temos tantas tradições tão mais originais, que retrógrados!

- Amiga, vamos lá conversar, – proferiu Motoki, já vermelho de irritação – se está aqui é porque gosta, nem anda aqui a fazer nada quanto mais! Engole aquilo que quer dizer, que esse hábito de cheerleader já começa metendo nojo.

E ora discutiam, ora Allison tentava uma aproximação das quatro amigas. Não ouvira mais nada, meio que perdido em pensamentos, além das desculpas sinceras de Motoki e do pedido de presença de um amigo em comum com ele para a festa surpresa desse Domingo, pelos 23 anos daquele meu loiro melhor amigo… ou assim eu continuava achando.

No entanto, estava longe de sonhar que aquelas palavras eram um convite para o inferno.

Continua


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Notas finais do capítulo

*A maioria de vocês deve saber, principalmente se se recorda bem de Itazura na Kiss: muitas vezes dado o segundo botão do gakuran a uma mulher por quem o rapaz está apaixonado, é considerado uma forma de confissão porque é o mais próximo ao coração e se diz conter as emoções de todas as presenças de três anos na escola.