A Melodia do Princípio escrita por Ton D


Capítulo 8
Capítulo 7 - Embaixo da Cama




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Ela o levara para uma sala no segundo andar, afastada de todas as outras. Era uma sala espaçosa, apesar de não parecer, mobiliada por uma enorme mesa circular com lugar para no mínimo 15 pessoas ao que indicava o número de cadeiras presentes. Além da mesa que ocupava quase toda a sala, havia mais ao fundo uma estante com o que pareciam ser antigos mapas e cartas enroladas e presas com delicados laços de cetim vermelho. Havia apenas uma janela na sala, e está dava para o mar. Após entrar na sala que a Condessa segurava apesar dos protestos de Carlos, ele pode ouvir atrás de si uma chave rodar em uma fechadura. Então era isso, ele estava encurralado como um rato acuado por um gato feroz. Pena que a gata em questão não sabia discernir a diferença entre um camundongo e uma cobra.

- Por favor, sente-se. Temos muito que discutir. – Disse a Condessa enquanto passava ao lado de Carlos e apontava a cadeira defronte a que ela escolhera para si.

Enquanto se sentava, Carlos reparou o quanto ela o observava. Parecia estar quase o dessecando com o olhar. O que ela buscava? O que esperava descobrir? Ele já vira e encontrara muitas pessoas que eram capazes de dizer sua vida toda somente olhando para uma parte do seu corpo, especificamente sua aura. Por saber disso é que ele fora indicado para este trabalho. Se ela era uma dessas pessoas, ele não sabia. Se fosse, bem, ele esperava que ela não ficasse ressentida de perder tanto tempo em uma perseguição que terminaria em um abismo. O que iria ocorrer era bastante claro para ele, a postura dela deixara de ser séria, o jeito que ela sentava, o jeito que manejava as mãos na mesa, fazendo arcos e floreios na superfície de madeira… Ela estava segura de si e de suas habilidades… mal sabia ela que ele também sentia o mesmo sobre si.

Olhando-a diretamente, e agora o importante, se focando em qualquer coisa que não seus olhos, ele começou o espetáculo:

- Não sei sobre o que está falando Condessa. Creio que tenhamos que conversar, mas duvido que seja algo que vá demorar, afinal, negócios como os nosso são fáceis de resolver. Se pretender tratar de apresentações e contatos nobres, está conversando com o convidado errado.

Ele se mantinha neutro e seguro de si. Era algo fácil de fazer, pois ele sempre fora assim. Mas se perguntava por quanto tempo se manteria assim… Havia coisas que podiam muito bem não só alterar as atitudes mortais como também imortais.

Foi então que ela entrou no palco, a sedutora e manipuladora, com seus lábios cheios, seus cabelos loiros e seus olhos verdes:

- Você está certo. Mas não quero conversar sobre armamentos, alimentos e metais. O que quero são informações, e sei que um cainita como você, sério e sem rodeios, diferente de La’ Fontie é o homem certo para me ajudar.

Enquanto ela dizia essas palavras, ela pousou levemente a mão na dele que jazia despreocupadamente em cima da mesa. Ele sentiu muito antes do toque, no momento em que ela começara a falar. Não olhar em seus olhos seria inútil. Ela não precisava disso. Cada palavra que ela dizia era incrivelmente atrativa, era como se ele pudesse ficar ali a ouvindo durante horas sem nunca se cansar, e para ajudar no seu fascínio, ela era bela, não que ele liga-se para esse tipo de detalhe. La’ Fontie era um mestre na dominação, ele só precisa olhar para os olhos de alguém para forçá-lo a fazer o que ele quer. Ela não. Ela não forçava, ela fazia você desejar fazer, pois não havia nada mais prazeroso do que a agradar e a sua presença. Claro, ele suspeitava que La’ Fontie sabia algo sobre como usar sua presença de maneira sobrenatural, assim como essa mulher estava fazendo, mas se ela era boa, La’ Fontie era um total iniciante.

- Claro, se é isso que você deseja, me diga, o que quer saber?

Ele não era tolo, muito menos fraco. Sua força de vontade era grande e não seria dobrada tão facilmente. Ele estava acostumado, aquele garoto era infinitas vezes mais persuasivo que ela, mas era melhor se prevenir e jogar o jogo dela. Contra pessoas como ela era melhor agir diretamente e evitar que ganhem terreno.

- Viu? É disso que falo. Um homem direto e sem enrolações. Vamos começar do princípio. O que vocês querem aqui?- Perguntou ela enquanto retirava delicadamente a mão de cima da dele. Aquilo não era mais necessário… “Como era inexperiente”, pensava Carlos.

- Já lhe dissemos. Eu vim tratar de negócios e La’ Fontie veio conversar com seu senhor Christian. – Respondeu ele. Simples. Uma resposta clara e objetiva, por isso mesma, ambígua.

Ele viu que ela começara a morder levemente o lado esquerdo do lábio como em um sinal de nervosismo e que seus dedos começaram a passar quase como automaticamente a mão por seus cabelos. Inexperiente e fácil de desestabilizar… Aquela era mesmo a Catherine que ele tanto ouvirá falar ou as histórias sobre sua frieza e inteligência não passavam de boatos?

- Não brinque comigo Mondego, sei que há muito mais coisas acontecendo aqui e que você pode me dar as respostas. A única coisa que peço é que confie em mim do mesmo jeito que eu confio em você para ficar assim, cara- a- cara e sozinhos. – Disse ela delicadamente enquanto o encarava com um olhar cálido e firme.

Pronto. Ela acabara de jogar seu maior trunfo. Ele começava a sentir aquela falsa emoção, aquela falsa devoção e adoração nascendo em seu peito… Uma vontade crescendo de lhe ajudar, de lhe contar tudo o que ela queria saber e mais um pouco. Como ele pensara… ela era boa, mas não estava aos pés do garoto, uma total decepção, com certeza as histórias deveriam ser boatos, ou será que não?

- Você está certa Condessa. Há muito mais coisas acontecendo aqui. Meus negócios em sua mansão acabam aqui e os de La’ Fontie acabam com Christian, mas a coisas que afetarão diretamente o que ocorre não só aqui, mas toda a Europa começam com o fim dos assuntos que em sua mansão. Já não preciso mencionar que trabalhamos ambos para a Archangeles. Creio que Christian lhe contou sobre nós não?

Agora o jogo inverteria de lado. Ela exibia uma cara de espanto e descrença. Por trás daquele rosto era quase audível o barulho de suas ideias e de suas dúvidas. Não havia erro, era esse o momento…

- Eu lhe prometi que diria o que me pedi-se e é isto que estou fazendo. Creio que você ainda não faz parte da Archangeles mesmo a conhecendo, afinal é muito jovem e inexperiente. Não quebrarei minha promessa, caso deseje saber mais, lhe direi.

A menção das últimas palavras ela pareceu despertar do transe em que estava. Parecia ter percebido o que estava fazendo e desenrolará o cabelo que já estava enrolado até quase chegar à raiz em seus lindos dedos.

- Entendo… Se o que o senhor diz for verdade…

Claro, agora ela confiaria mais uma vez na habilidade de observar auras… Algo tão fácil de enganar, mas não havia necessidade. O que ele dizia era verdade, e ela logo descobriria.

- Você me pede confiança, e eu lhe darei. – Ele disse. Era necessário convencê-la, OK. Ele a convenceria. – Meu trabalho é servir como ponte de informações. A Archangeles procura alguém que o Conselho dos Tremeres também procura. O Conselho está ocupado com sua guerra pessoal contra os Tzismisce e os Gangreis, além disso, poucos sabem da Archangeles. Assim, toda e qualquer informação que o Conselho descubra e que seja de nosso interesse é repassado para a Archangeles.

Ela não parecia totalmente convencida, então ele decidiu terminar com classe. Ao que parecia, estava aprendendo muito bem com Richellieu a surpreender e conquistar os nobres. Ergueu a mão direita a altura dos olhos e conjurou a arma mais mortal que pode existir com exceção da fé e do Sol contra vampiros. Sua mão se cobriu com fogo, Um truque banal, aquilo não passava de uma fonte de luz fraca, mas fez muito bem seu trabalho. Ela deu um salto e recuou a cadeira instintivamente. Claro, vampiros temem o fogo com todas as suas forças, mas ele esperava mais dela… Será que ele se enganará ao achar que ela fosse ser um obstáculo em sua missão? Algo haveria ocorrido entre sua chegada e sua partida? Ele ainda não acreditava que as histórias fossem mentira, afinal até o garoto havia lhe alertado sobre ela. Enfim, agora ele estava entediado com ela. Desfez as chamas.

A sala permaneceu silenciosa por quase dez minutos, ela ponderando as confissões do outro, e o outro, pensando o quão arriscado ele achou que seria essa conversa e o quanto ele se enganara. Enquanto ambos se encaravam nos olhos, a tensão crescia. Foi então que ele riu por dentro. A sensação de falso sentimento se esvaeceu e ela começou a retomar uma postura mais séria em sua cadeira. Ele vencera, e quase não fizera nada. Ela não conhecia os vampiros e suas habilidades o suficiente, deveria achar que o mundo se limitava as habilidades que ela conhecia e já virá, sempre desprezando a existência do diferente, do desconhecido, do oculto, e era nesse ponto que ele a vencerá.

Ela suspirou antes de continuar e então disse:

- Eu acredito em você. Peço desculpas pelo meu rápido interrogatório, mas precisava saber em quem confiar e sobre o que se tratava tudo isso. Não precisa me dizer mais nada, afinal, não pertenço a Archangeles e caso seja do interesse de Christian, ele me dirá tudo.

- Não se incomode, você não fez nada mais do que qualquer um faria. Agora, sinto ser rude, mas precisamos falar de negócios…

 

 

~~~

 


Dave havia acordado cedo. Pretendia estudar o máximo possível para a noite poder conversar com o Senhor Sebastian. Estava um pouco assustado quando havia deixado o quarto. Tivera um pesadelo horrível sobre um monstro em forma de sombra que saia debaixo de sua cama e o agarrava com seus braços, o erguendo pelo pescoço. Ele se debatia e tentava gritar, mas o monstro ria e o encarava com seus olhos vermelhos cheios de ódio e maldade. Só de lembrar do sonho, ele já sentia todos os seus pelos se arrepiarem e o coração acelerar como se fosse pular pelo peito, rasgando a carne  e deixando apenas um buraco vazio e sangrento.

Ele pensava no sonho e andava distraído pelo corredor que fazia uma curva e daria no outro corredor onde ficava o quarto de sua mãe. Seria bom lhe dar um bom dia. Quando estava quase chegando à curva, ele o viu. O monstro em forma de sombra, atrás de um homem que ele jamais virá em sua curta vida.

 

~~~


 

Ele estava saindo da sala onde conversará com a Condessa. Acabado o que ela chamava de interrogatório e ele chamaria de piada, eles haviam conversado sobre coisas triviais. Ele lhe forneceria mercadorias que ela jamais receberia e ela lhe daria o capital necessário para financiar explorações clandestinas pelo mar. Em troca, qualquer lucro que fosse obtido durante as expedições (se é que haveriam lucros), seria dividido entre ambos. Já era quase manhã e ele procurava um quarto livre em que pudesse descansar para então à noite, cuidar de assuntos mais importantes.

Ele procurava a sala que uma das empregadas sonolentas que acordavam para os afazeres matinais havia lhe indicado como “adequada para os senhores”. Ao que parecia era no próximo corredor, ele apenas precisava vira e veria portas. A sua era a quinta a direita. Foi quando virou que ele realmente viu o perigo que corria estando ali.


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Notas finais do capítulo

Assim como prometido, dois capítulos postados. Começarei a adotar esse sistema de dois capítulos, é melhor até na minha concepção .

Bem, sobre o capítulo. Um confronto unilateral que achei interessante de se criar com uma Catherine fraca de um lado, e um misterioso Tremere do outro, com um final WTF Õ.Õ! Concepções unilaterais saídas da cabeça de Carlos, o que mostra um pouco mais sobre ele e talvez um pouquinho mas de luz para aqueles que pensarem um pouco, e acreditem, mas está por vir, só que agora de maneira mais explicita.

Resumo misterioso do capítulo: ... ... ... ? ... Olha mãe, uma sombra *¬*...



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