A Melodia do Princípio escrita por Ton D


Capítulo 3
Capítulo 2 - O Professor


Notas iniciais do capítulo

Nota: corrigida uma besteira minha... Pennington é um humano pois carniçais não envelhecem enquanto forem mantidos com sangue vampírico uma vez ao mês... sorry '



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Eram 18 horas quando Sebastian despertou. Já se habituara aquele horário, uma hora antes de sua senhora acordar, tempo suficiente para deixar tudo no gosto de sua senhora e se informar sobre os acontecimentos diurnos. Para isso, contava com a ajuda de carniçais fiéis que faziam todos os serviços domésticos e financeiros durante o dia, para que a noite, Sebastian assumi-se as rédeas da antiga mansão. Não confiava totalmente no serviço daquelas pobres almas, afinal, em seu passado aprendera a desconfiar da maioria dos humanos.

Sebastian era um vampiro com cerca de 200 anos. Fora abraçado por um antigo filósofo grego que se interessara por suas ideias revolucionárias sobre o estudo da alma e da vida, ideias que lhe concederam a excomunhão da Igreja e uma caçada por sua cabeça, pois tais atos e ideias só podiam provir de fontes diabólicas, Deus jamais permitiria tais ideias no século X. Perseguido, fugira de sua cidade natal, Londres, e se refugiara em um monastério escondido em uma pequena vila situada na costa da Bélgica com 20 anos. Lá conhecera Daniel, um senhor com cerca de 50 anos e costumes um tanto quanto taciturnos e noturnos que vivia junto aos monges. A maior parte do tempo Daniel, como descobriria Sebastian mais tarde, ficava recluso em seu quarto no subsolo do monastério estudando e reformulando muitas de suas teorias que só viriam à tona muitos séculos após a sua morte, algumas apresentadas ao mundo pelo próprio Sebastian.

O quarto de Sebastian era simples. Sua mobília se constituía de uma cama confortável, uma pequena mesa cheia de pergaminhos, penas e tinteiros, uma cadeira sem almofadas, um modesto guarda-roupa e uma enorme estante que ocupava quase toda uma parede abarrotada de livros, além de tantos outros livros que enchiam o chão com suas pilhas e mais pilhas. Não havia janelas no quarto, uma mania que Sebastian pegara de seu antigo mentor. Sebastian se levantou e vestiu a roupa de costume, uma fina túnica branca por dentro de uma calça de linho negro. Envolvendo tudo, havia um belo manto negro com detalhes bordados em dourado, uma exigência de sua senhora Catherine. Nos pés estavam calçadas poulaines negras e dourados, combinando perfeitamente com o manto. Sebastian aparentava cerca de 30 anos, cabelos negros e longos, amarrados em um elegante rabo de cavalo. Ombros largos, músculos medianos e dono de uma altura de 1,85 metros, o perfeito Dionísio com exceção ao cabelo. Ao passar os longos e pálidos dedos em seu cabelo para amarrá-los, Sebastian se lembrou dos tempos em que vivia no monastério, onde havia deixado crescer uma longa e desgrenhada barba.

Sebastian havia morado no monastério até seus 30 anos quando fora descoberto por conta da denúncia de um dos monges que ele já considerava como parte de sua nova família. Durante o período entre chegar e ser descoberto, fizera uma grande amizade com Daniel, com quem passava as maravilhosas noites estreladas e frescas dentro de um pequeno quarto abafado e escuro revisando documentos e discutindo ideias .Seu cabelo já chegara á altura dos ombros e a barba já alcançava seu peito na época. Se tornara irreconhecível, “Um verdadeiro filósofo da Antiga Roma”, como gracejava Daniel. Por conta dos hábitos noturnos de Daniel, Sebastian começara a se habituar a dormir durante o dia, para a noite enfim discutir e aprender mais sobre filosofia, história, latim e outros tantos estudos em que Daniel era versado.

Bons tempos aqueles em que vivera ao lado de Daniel. Mas agora não eram tempos para lembranças, havia muito trabalho a fazer e pouco tempo antes do despertar de Catherine. Assim, devidamente vestido, Sebastian saiu de seu quarto próximo a ala leste da mansão rumo ao quarto de Lord Pennington, o humano que servia, assim como sua família, de artifício para esconder a origem da fortuna e poder de Catherine. Em troca de seus serviços e de sua lealdade, a dinastia Pennington herdara os títulos, as posses, o renome e a abundante fortuna de Catherine, afinal alguém teria de viver em uma enorme mansão como aquela e se apresentar aos servos mortais a luz do dia.

As 18 e 15 Sebastian se encontrava na frente da luxuosa porta de mogno do quarto de Lord Pennington. Como de costume, a porta se encontrava entreaberta para a passagem de Sebastian, que como bom mordomo-mor, bateu e se anunciou antes de adentrar no quarto.

- Com sua licença Lord Pennington, mas venho lhe incomodar como de costume para receber as notícias sobre os pormenores deste dia. – Disse Sebastian ao bater na porta e adentrar nos aposentos do Lord.

Lord Pennington era já um senhor de 45 anos e de altura mediana. Tinha um porte físico um tanto quanto esquio. Seu rosto era de feições um tanto quanto femininas e delicadas. Na cabeça trazia um belo chapéu azul marinho que escondia o inicio da queda de seus belos cachos ruivos. Dono de uma ganância sem limites, era conhecido por fazer e tramar de tudo quando o assunto era de seu interesse. Um homem desprezível, mesquinho e que não valia sequer a merda que produzia aos olhos de Sebastian.

- Já lhe esperava meu caro Sebastian. Não poderei lhe ceder muito de meu tempo pois como pode ver, estou me preparando para um banquete servido pelo Duque Hardigan está noite. – Respondeu Lord Pennington com seu costumeiro tom de superioridade.

Jonas Pennington era o 10º de sua linhagem a ocupar a posição de falso senhor da fortuna e dos títulos cedidos por Catherine. Seu filho, Dave, não demoraria muito, tomaria o título de 11º Lord Pennington. Dave era um garoto de 13 anos um tanto quanto mimado por Jonas e sua mulher, Emmanuele. Diferente do pai, era educado, meigo, inteligente e de uma bondade que quase se igualava a de Christian, o vampiro a quem o príncipe inglês confiava tanto ao ponto de lhe chamar de filho. O garoto adorava Sebastian, o que em si era uma benção, pois após 10 gerações de lealdade, a dinastia Pennington estava começando a se considerar superior aqueles que a tudo lhes deram, fato que se depende-se de Sebastian e da educação que dava ao pequeno Dave, nasceria e morreria com Jonas Pennington.

- Claro, entendo perfeitamente meu caro Jonas Pennington. – Respondeu Sebastian dando ênfase ao nome do até então nobre Lord enquanto fazia uma humilde reverência – Mas como de praxe, sua função é cuidar de tudo que for de interesse de minha senhora até meu despertar, quando então poderá me informar acerca do que ocorreu e então gozar da modesta vida que minha senhora lhe proporciona.

Sebastian pode ver no olhar de Pennington que seu intento fora bem sucedido. O homem que até então estava falando sem nem sequer desviar os olhos de suas finas poulaines abaixou a cabeça e disse na voz mas temerosa e subserviente que era capaz:

- Sinto muito se lhe faltei com meu dever Sr. Sebastian. Sou muito grato ao que você e sua senhora tem feito por minha linhagem e prometo que tal comportamento não se repetirá.

- Como esperado de um homem com sua estirpe e distinção Lord Pennington. Mas vamos ao dia que se passou, pois não quero que o senhor se atrase para o banquete, afinal, é bom mantermos as aparências. – Respondeu Sebastian elevando a voz ao dizer a última palavra.

- Claro meu senhor. Como fui instruído, enviei um mensageiro ao Visconde de Lafouret o saudando e convidando a vir a mansão da senhora Catherine a fim de discutir possíveis acordos diplomáticos e comerciais. – Respondeu mecanicamente Lord Pennington enquanto tentava mascarar o ódio que sentia.

O Visconde de Lafouret como muito bem sabiam Sebastian e Catherine, detinha fortes laços com líderes e nobres Ventrue da França, mesmo esse não sabendo do caso. Era uma porta ideal para se adentrar naquele território. O mundo vampírico é similar ao humano, aquele com mais aliados e influência vence e infelizmente, Catherine era uma lástima como perdedora.

- Muito bom milorde. E quanto ao caso da carga que virá de Jerusalém daqui a duas noites, está tudo acertado com os marinheiros de sua confiança? – Perguntou finalmente Sebastian. Tudo poderia esperar o retorno de Lord Pennington, mas este assunto em especial valia muito bem a perca de tempo que sempre fora conversar com Jonas Pennington, principalmente quanto este se encontrava em maus modos.

- Quanto a isto não a nenhum contratempo, mas foi necessário um pagamento maior por conta da área de embarque da carga. Os marinheiros partiram hoje ao amanhecer e devem chegar em Jerusalém na data prevista. Ao fim da quarta noite a carga já haverá desembarcado em terras inglesas, onde será transportada de carruagem até aqui. Creio que ao nascer da quinta noite apartir de hoje, a carga já esteja em vossas mãos. – Respondeu Lord Pennington enquanto limpava a sua até então limpa poulaina, dando assim desculpa para não olhar para Sebastian e sim para baixo, dissimulando uma falsa subserviência.

- Os gastos não importam. A carga é de extrema importância e por isso eu vos agradeço Lord Pennington. Os assuntos restantes poderão ser discutidos quando milorde retornar de seu banquete. Mande saudações ao pequeno Dave por mim. Com sua licença, preciso me apressar para os afazeres da noite. – Respondeu Sebastian enquanto fazia uma última mesura aquele homem desprezível.

Após se curvar, Sebastian deu as costas para Lord Pennington e caminhou em direção a porta aberta quando foi interrompido pelo chamado do Lord.

- Sr. Sebastian, o senhor me avivou a memória. Dave pede para que o senhor lhe permita visitá-lo em seus aposentos. Ele deseja muito discutir filosofia se for de seu agrado.

- Claro, muito me agrada a presença de Dave. – Respondeu Sebastian se virando mais uma vez para Lord Pennington com um leve sorriso – Se me permite Lord, seu filho é dono de uma excelente mente. Um ótimo ouvinte e inquisidor quando se trata de teses e filosofia.

- Muito me agrada saber disso Sr. Sebastian. – Mentiu Lord Pennington enquanto se lembrava de proibir as visitas do filho ao mordomo-mor.

- Diga-lhe que me visite após as 19, quando minha senhora já estiver desperta. Muito agrada a ela a presença do pequeno. Ela entenderá se eu dedicar uma noite a educação do futuro Lord. Se não há mais nada a discutir, só me resta me retirar. Uma boa noite e um bom banquete ao senhor Lord Pennington. – Respondeu Sebastian.

Sem esperar resposta, Sebastian saiu dos aposentos deixando a porta entreaberta o suficiente para um irado e terrível Lord Pennington lhe olhar com desprezo pelas costas.

O garoto lembrava-lhe a juventude. Quando estava com ele, Sebastian se via no lugar de Daniel, ensinando, discutindo e aprendendo com os mais jovens, e foi pensando sobre Daniel e tudo o que lhe ocorreu que Sebastian foi em direção a cozinha no térreo da mansão.

 

~~~

 

- Tua pesquisa muito me agrada Sebastian. – Dissera Daniel no dia em que Sebastian lhe mostrara seu trabalho, dois anos após sua chegada - Está um pouco cru, devo admitir. Temo que não tenhas tempo em vida suficiente para aprimorá-la meu caro amigo, o que não deixa de ser uma lástima.

- Sei que não tive tempo de me aprofundar no assunto Daniel, mas tenho somente 22 anos, será que viverei tão pouco tempo? – Gracejara Sebastian com seu melhor tom de gozação.

- Pode parecer um estapafúrdio para vós, mas a vida mortal é relativamente curta se comparada a dos célebres imortais como Platão e Aristóteles. Infelizmente, tua pesquisa é tão primordiosa e complexa que pode mudar completamente com o passar dos anos de acordo com a tua observação sobre os diferentes estilos de vida entre épocas e gerações é claro. – Explicara Daniel com seu estilo didático tão presente em seu tom de voz e no movimento das mãos... Com certeza ele já ensinara a muitos e muitas vezes.

Sebastian se lembrava do divertimento que virá nos olhos de Daniel, uma mescla de júbilo e excitação, “A expressão dos fanáticos por suas causas”, costumava classificar Daniel.

- Não queira colocar a carroça na frente dos bois jovem Sebastian, tenha paciência e um dia serás recompensado meu caro. – Brincara aquele filósofo que ele tanto admirava.

- Mas eu não havia reparado nesta terrível verdade. Minha pesquisa é inútil, jamais viverei tempo suficiente para dar-lhe um desfecho apropriado... –Lamentara Sebastian.

- Haha! Mal começou a vida como filósofo e já pensas em desistir? Não me desaponte garoto, tenho fé em tuas habilidades... Não me forces a lhe dar tua última lição antes mesmo de me candidatar a teu professor.

A seriedade e o fanatismo daqueles olhos junto com aquele sorriso que parecia mostrar dentes demais... Naquele momento Sebastian viu a devoção que Daniel nutria pela filosofia. Se ele pudesse se tornar metade do filósofo que aquele homem era, poderia morrer em paz.

- Durante o tempo em que permanecer aqui, irá aprender o modo religioso de vida dos monges durante o dia, quando tenho de me tornar recluso por motivos que um dia lhe confiarei. Durante a noite, terás permissão de vir até meus aposentos, onde lhe ensinarei sobre tudo o que sei e me ajudará em minhas teses. – Explicara Daniel.

- Mas Daniel... Você mesmo disse... – Começara a balbuciar Sebastian.

- Eu não aceitarei um não de uma criança como vós Sebastian, ainda mais uma criança que não tem argumentos. Aprenda desde já, se não tens argumentos ou ideias a acrescentar ou para discordar de teu rival, mantenha-se calado. – Interrompera Daniel. Mesmo dando sermões e com a expressão séria de alguém que ensina algo óbvio a uma criança, Sebastian pôde ver o brilho ininterrupto daqueles olhos tão determinados, um brilho que ele jamais esqueceria. E assim ele se tornara aprendiz de Daniel, até o dia em que teve de fugir.

 

~~~

 

Antes mesmo que Sebastian desse conta, estava parado na entrada em arco da cozinha. Não sabia quanto tempo estivera ali, mas pelo olhar de dúvida e espanto que as empregadas que se encontravam no cômodo lhe dispensavam, poderia muito bem ter se passado uma eternidade até Sebastian ter tomado conhecimento de onde estava.

Um pouco abalado com a descoberta, Sebastian cruzou o arco e adentrou na cozinha. Era um cômodo de pedra bastante amplo, limpo e de teto baixo, com cerca de três fornos de pedra e cinco bancadas onde eram preparadas as comidas para os servos e visitantes mortais. Sobre as cabeças das empregadas que ali trabalhavam (sete no total), pendiam facas, colheres e panelas penduradas ao teto. Ao lado de cada forno, havia uma pequena pilha de madeira seca. O aposento em geral tinha o cheiro de lenha recém queimada com diversos tipos de assados e temperos. Ao que parecia, hoje haveria pato grelhado para o jantar. O cheiro era tão delicioso e suculento que Sebastian teve vontade de amaldiçoar sua atual condição. Mais ao fundo, encostados em uma parede haviam sacos com os mais diversos tipos de grãos e dois armários com as mais diversas taças e pratos. Entre os dois armários, haviam duas portas de aparência antigas e gastas. Uma delas levava a um cômodo muito menor do que seu anterior mas de mesma estatura,onde eram guardados os temperos e as carnes cheias de sal para durarem mais. A outra, que sempre permanecia fechada e trancada por uma enorme fechadura, levava a uma “adega” privada, onde somente Sebastian tinha permissão de pisar. O cômodo guardava junto com os mais diversos vinhos, uma boa quantidade de sangue animal e humano. Não se faz necessário descrever o comodo, pois ele já é sombrio por si só sem mencionar as altas prateleiras que constituíam um labirinto interminável de garrafas e tonéis empoeirados envoltos na total escuridão que irradiava de seu teto quase sem fim aparente, além da estranha umidade que o cômodo transpirava, o que fazia quem entra-se pela primeira vez no cômodo, pensar estar em uma sala secreta embaixo de uma lago.

Tirando uma pesada e enferrujada chave de dentro do manto, Sebastian abriu a porta da “adega”. Não demorou muito para o cheiro de pato assado ser substituído pelo cheiro de decomposição, umidade e idade que aquele cômodo irradiava. Sebastian adentrou na “adega”, acendeu as velas de um candelabro que permanecia apoiado a uma mesa próxima a entrada, trancou a porta e se pôs a procurar. Após dez minutos de busca, Sebastian encontrou o que procurava. Uma garrafa do sangue que tanto agradava sua senhora ao despertar. Saindo da “adega”, Sebastian pegou uma taça em um dos armários, encheu-a e equilibrou-a em uma bandeja de prata junto com a garrafa. Após trancar a “adega” Sebastian se retirou sem trocar palavra com qualquer das empregadas que trabalhavam apressadas na cozinha.

Enquanto subia as escadas do hall em direção ao corredor que levava aos cômodos de Catherine, Sebastian olhava para o líquido rubro que oscilava levemente dentro da bela taça de vidro com base em ouro. A noite estava ótima para se ter lembranças, pois enquanto olhava o sangue, Sebastian se lembrou de como havia sido seu abraço e como tudo que ocorreu após ele fora terrível.

 

~~~

 

Sem ter sido capturado ou dado como morto, ainda haviam recompensas por sua cabeça. Um dos monges não só o denunciara como também entregara o maior segredo que os monges mais antigos do monastério guardavam, a existência de Daniel. Sebastian ainda se lembrava de como estava aparentemente nervoso naquele dia. Passara toda a tarde como as outras de sua vida no monastério, estudando com os monges e dedicando ao corpo seus exercícios diários a fim de drenar parte da ansiosidade. Naquele dia Daniel lhe contaria, como havia prometido há tantos anos atrás, o segredo em relação a sua tendência de só se mostrar a noite. Além disso, de acordo com Daniel, esse segredo talvez permiti-se ao próprio Sebastian ver sua tese concluída.

Ao cair da noite, Sebastian se locomovera a uma velocidade até então impossível para ele até o quarto de Daniel. Chegara ao cumulo de vislumbrar Daniel se levantando em seu quarto sem janelas, fato até então inédito, pois sempre que Sebastian adentrara no quarto de Daniel, este já se encontrava desperto.

- Ah… Parece que estás tão impaciente… Nem sequer esperou que eu MUAAAHHH!!! Me levanta-se… - Respondera Daniel enquanto se espreguiçava ao ver Sebastian irromper em seu quarto tão repentinamente e tão cansado e sem fôlego.

- Peço que me perdoe Daniel, mas não aguentava mais esperar. Sei que é uma atitude muito infantil de minha parte, mas não pude me conter. – Dissera Sebastian. Ainda hoje, ele se sentia uma criança quando se lembrava do episódio, pois onde já se vira, um estudioso calmo e cauteloso como ele, invadir um quarto por ansiedade? A juventude é algo belo e tolo, muito tolo.

- Não há com que se preocupar meu caro, até os mais sábios cometem enganos ou fazem suposições errôneas. – Respondera Daniel - A noite será longa para ti, então quanto mais cedo começarmos, melhor.

Sebastian sentira um terrível calafrio lhe percorrer a espinha e um certo terror ao ver Daniel se levantar. Nunca tivera medo do professor, mas naquela vez, o vulto que se levantou e fechara a porta lembrava tudo, menos Daniel. A expressão que vira em seu rosto, o jeito como seus olhos encararam os de Sebastian… Tudo só fez piorar quando ele ouvira o CLICK da porta sendo trancada. Naquele momento, Sebastian soube que não importava o que ocorre-se ali, não haveria volta. Sabia que permaneceria de costas até Daniel acabar o que tinha a dizer, não por desrespeito, mas porque suas pernas e seu corpo não obedeceriam a sua ordem de se virar.

- O que irei lhe contar Sebastian, é um segredo guardado não só por mim, mas por talvez milhares de outros iguais a mim. É um segredo tão antigo e terrível que sua simples menção ou relato sempre prediz a morte daquele que o conta ou daquele que o ouve. – Dissera Daniel com um tom gélido e sério, muito diferente do seu tom professoral. A cada sílaba que Sebastian ouvira vindo de suas costas naquela noite, um calafrio maior e mais terrível que seu antecessor era sentido em suas costas, fato que perdura até hoje com a lembrança.

- Como eu lhe disse, não saio durante o dia por motivos pessoais. Isso é uma mentira, uma de muitas criadas para proteger a existência de criaturas como eu. A verdade é que não posso sair deste recinto ou de qualquer outro que seja totalmente envolto em sombras enquanto a luz do dia perdurar. Também não necessito de frutas, água, carne ou outro tipo de alimento, a não ser o doce néctar rubro que pulsa em tuas veias Sebastian.

Sebastian sentira todo o sangue gelar e o coração parar a menção da última frase. O que antes não passara de uma ideia tola e infantil se tornou realidade. Sebastian não conseguia sentir suas pernas. Elas estavam lá, mas não era possível movê-las. Sentira o ar gelar ao seu redor apesar do abafo que sempre fora o quarto de Daniel.

- Não tenhas medo meu amigo. Se tu passas por isto é porque confio em demasia em nossa amizade. Como já deves ter notado, sou aquilo que os tolos nomeiam como vampiro e os antigos cainitas. Vivo a mais de 500 anos e conheci muitas criaturas, algumas tão terríveis e perversas que tornam a minha existência algo não mais do que trivial, outras tão sábias e de tamanha honra que levo delas as mais belas lembranças. Aprendi e ensinei o suficiente para preencher grande parte da própria Alexandria.  Nunca mais tive ou terei o prazer de poder ver o Sol e nem mesmo saberei o deleite que deve ser o de morrer junto daqueles que um dia amei, pois o tempo passa e a todos leva, menos a nós amaldiçoados. A fome me consome a alma noite após noite, me forçando a atacar aqueles ao meu redor. Minha mente, meus sentidos e minha aparência se conservarão até o dia de minha derradeira morte e ainda viverei muito até o dia em que me cansarei desta existência. – Dissera Daniel enquanto seus passos ecoavam e sua voz se tornava mais próxima - Nunca terei a audácia de fazer algo de mal a tua pessoa, por isso lhe entrego aqui a decisão, partilhará desta existência imortal porém amaldiçoada comigo ou preferes que eu lhe dê o sono eterno? – Sussurrara Daniel ao ouvido de Sebastian.

Sentindo a morte lhe abraçar caridosamente enquanto roçava delicadamente o frio fio da lâmina afiada de sua foice em seu pescoço, Sebastian se viu encurralado. Permitir o abraço de tão terrível criatura sabendo das consequências e das vantagens que lhe renderiam ou simplesmente desistir de tudo?

Decidido, Sebastian reunira toda a força de vontade que ainda lhe restava e empurrara o corpo na direção da voz de Daniel até sentir seus frios lábios encostarem de leve em seu pescoço.

- Se é essa a existência que terei de suportar para ter minha tese e os segredos que ela conterá vistos por todos quando finalmente estiver concluída, nada mais tenho a fazer senão abraçá-la de corpo e alma.

 

~~~

 

“Como fui tolo”, pensou Sebastian enquanto atravessava o corredor em direção aos aposentos de Catherine que ficavam exatamente no fim. “Se eu não tivesse tomado tanto tempo de Daniel, se não tivesse me deixado levar pelo momento, talvez ele tivesse percebido tudo… Mas o que ocorreria?” Ele talvez nunca chega-se a conhecer Alexander. Talvez nunca tivesse descoberto a verdade sobre Daniel e Gabriel. Ou pior, talvez nunca tivesse conhecido Christian e aquela criança loira de olhos espantosamente verdes, que com o tempo se tornaria a mais bela dama que ele jamais virá e que na certa lhe roubaria o …

O que mais ocorreria jamais chegaria a passar pela cabeça de Sebastian, pois na metade do corredor ele ouviu. Vinha do quarto de sua senhora, o som de um terrível grito de pavor. O grito de Catherine. Sem pensar duas vezes, Sebastian largou a bandeja e correu em direção à porta enquanto a o sangue escorria pela taça despedaçada em direção ao chão de madeira.


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Notas finais do capítulo

Bem, o que dizer deste capítulo? Sempre gostei do Sebastian, devo admitir, então não aguentei ficar muito tempo sem citá-lo, afinal ele sempre esteve atrelado a Catherine, mas porque? Qual a história dele? Quanto a escrita, acho que melhorei um pouco, mais diálogos, ganchos para flashbacks (realmente amo esse jogo de passado e presente, só espero não tropeçar nos verbos 'x') e mais descrição. Enfim, um bom e longo capítulo para alguém que não sabe escrever muito "P.
Resumo sem enrolação do capítulo: "Blábláblá blábláblá Whiscas Sache. Blábláblá blábláblá, Daniel, Gabriel, Alexander e Christian."
 
Nota:
Senhor é aquele que a quem o vampiro serve, genitor, aquele que lhe abraça e mentor, aquele que lhe toma como protegido. Sem mais delongas (Amém) e com muito sono, "That's all Folks".



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