A Melodia do Princípio escrita por Ton D


Capítulo 11
Capítulo 10 - Uma Conversa entre Reis


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma ou duas observações sobre coisas ditas neste capítulo.

1- As pessoas citadas logo no começo como diretamente afetadas são os personagens dos jogadores da crônica da qual eu sou o narrador. Creio que eles não apereceram por aqui, não diretamente, mas achei interessante citá-los.
2- Caso queiram saber mais sobre esse pretenso futuro, procurem aqui mesmo no Nyah as seguintes histórias:

Violette Von Bismarck, escrita por Petra
Vicky. Às Vezes, Vachel., escrita por Li-K

A primeira está mais completa, pois é a mais antiga, apesar de ter alguns pequenos lapsos que a escritora está tentando reconstituir de sessões passadas da mesa. Não digo seja o jeito mais fácil de ver o futuro, pois ambas apresentam apenas o lado do personagem do jogador, logo, tudo é do ponto de vista dele, mas já dá pra aumentar um pouco mais a emoção da coisa.

Sem delongas, bom capítulo ^-^



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A noite estava agradável. O ar naquela noite em Londres estava abafado, ainda carregado com o calor daquele dia que havia sido um dos mais quentes do ano. Se as coisas continuassem assim, logo mais as plantações e o gado morreriam sem nem sequer ter a chance de ver o verde das florestas e dos campos. As ruas estavam vazias. Os guardas que deveriam fazer a ronda na fortaleza estavam entediados com a passividade daquela época, muitos desejando estar na guerra do oriente, assim, deixando qualquer coisa passar despercebido, se é que alguma coisa poderia acontecer de emocionante naquela noite monótona. As pessoas estavam em suas casas, exaustas do dia de labuta. Os impostos somente aumentavam. A comida estava se tornando escassa e de péssima qualidade. Os impostos só subiam com o passar dos dias. Não demoraria muito e o povo logo entraria em fúria mútua. Já havia boatos de uma revolta contra o Rei. O que sustentava a frágil estrutura daquele verão e ajudava a disfarçar os efeitos que a seca causava era a igreja. As orações se tornavam cada vez mais fortes, o padre emprestava seu melhor tom de emoção e inflação aos salmos em latim, enchendo os corações dos fiéis e assim, mantendo a cabeça do Rei por mais uma noite atrelada a seu pescoço.

Foi nesta noite quente, silenciosa e monótona que toda uma sequência de fatos se desenrolou. Com apenas uma única decisão, um momento de fraqueza por parte daquele que reinava quase de um modo onipotente e um pouco de falta de modéstia e confiança excessiva em si mesmo, dois homens, ou melhor, dois vampiros condenaram uma pobre filha bastarda de um nobre alemão, uma garota órfã que reside no que hoje equivale a Florença, um ex-general Húngaro, um pobre rapaz que será pego em meio ao fogo cruzado entre duas pessoas importantes para sua vida futura, uma jovem inglesa e sua irmã mais nova que encontraram o inferno em fogo, um jovem soldado francês que amará e perderá seu amor, um jovem proveniente do Oriente Médio que vivia uma vida tranquila com sua irmã mais nova antes das Guerras Santas, um jovem e bondoso médico espanhol e talvez grande parte da Europa, e porque não dizer o mundo?

Nesta noite, Christian chegou à residência de Alexander.

                                               ~~~                                              

Ele havia andado o caminho todo até aquela residência um pouco mais afastada das outras, encoberta pela floresta real. A noite estava muito abafada, um péssimo sinal para os humanos. As coisas não iam bem. Logo o Rei passaria por maus momentos se Deus não decidisse mandar um pouco de chuva para seus servos. O vento que vinha do mar ajudava um pouco. O som que ele provocava ao ir de encontro aos estranhos e tortos corredores formados entre as árvores poderiam muito bem ser o lamurio das banshees irlandesas. Some-se isso a sensação de olhos lhe observando de todos os cantos, a escuridão e uma floresta silenciosa e pronto. Você tem uma atmosfera que faria qualquer mortal ou imortal pensar duas vezes antes de continuar por este caminho.

Mas Christian adentrou a floresta. Os olhos que o observavam não eram de banshees. Eram olhos de animais inteligentes e domesticados. Guardiões. Lobos, cervos, javalis, pássaros. Todos eles estavam quietos, mudas sentinelas, apenas observando o ser que atravessava seus domínios. Nenhum animal consegue permanecer assim na presença de Membros ou humanos. Vampiros são criaturas anormais, não deveriam existir. Os predadores supremos. Os animais sabem disso, e  por isso, se revoltam diante de tal anormalidade. Mas não aqueles animais. Eles não recuariam, gritariam ou atacariam. Eles eram a comissão de frente de Alexander. Alexander tinha um modo de controlar tudo, impostos, religião, animais, servos, reis, vampiros… O mundo era seu playground, e os seres vivos, seus brinquedos.

Christian caminhava tranquilo entre o arvoredo. Vez ou outra parava para desviar de um toco de árvore a esmo, desprender sua capa de algum galho afiado, se abaixar rente a presença de um galho nodoso pronto a lhe acertar a cabeça. Não havia necessidade de ser furtivo. Aquele era o território de Alexander, ele sabia muito bem quem e quando adentravam seu território sem precisar de algum aviso.

Houve um barulho de galho sendo quebrado. Um leve CRACK que foi ampliado assustadoramente pelo silêncio no qual jazia a floresta. A simples menção do som, os animais e Christian dirigiram as cabeças para a mesma direção. Vindo por detrás de uma moita, um homem corpulento de barba morena, grande e desgrenhada se aproximou de Christian, sendo seguido de perto por um lobo cinzento e grande. O homem vestia peles no lugar de lã ou couro. Era grande e deveria pesar no mínimo uns 150 quilos. Seus braços eram grandes e seus músculos maciços. Carregava nas costas um enorme e pesado machado, que contribuía para sua imagem de bárbaro.

- Alexander lhe espera.

Sem esperar algum sinal de reconhecimento, o homem virou as costas para Christian e adentrou novamente na moita, passando por uma mulher tão selvagem quanto ele, onde antes estivera o lobo. A mulher, seguindo o exemplo de seu companheiro, seguiu na mesma direção.

Seguindo sua escolta, Christian adentrou na mesma direção deles. Era um pouco difícil seguir os dois. Era como se eles e a floresta fossem um só ser. Eles não ficavam com suas roupas presas e nem diminuíam a marcha. Não desviam de olmos, pedras ou galhos. Mau se podia ouvir o barulho de seus passos. Era como se tivessem perfeita noção do terreno naquela total penumbra. Caminharam por cerca de 15 minutos, quando saíram em uma gigantesca clareira circular. Se erguendo á altura dos grandes carvalhos que lhe cercavam e obstruíam a visão além da clareira, havia uma enorme mansão. Não se comparava em tamanho com a de Catherine, mas ainda era bastante espaçosa. Não havia cercas, guardas ou mesmo moitas naquela clareira. Havia apenas a mansão sendo iluminada pela luz da lua, o que lhe conferia uma aparência feérica, mística, um local de intensa magia.

Enquanto Christian apreciava a beleza daquela construção, uma matilha com cerca de 30 lobos se aproximou de suas costas. Era a maior matilha que Christian já vira. Dando-lhe um último olhar, o homem e a mulher se dirigiram até os lobos que os esperavam na orla da clareira, somente seus olhos dourados e suas presas brancas visíveis por entre os carvalhos na escuridão. Gangréis.

Seguindo em frente, Christian se aproximou das grandes portas duplas feitas de carvalho envernizado. Não houve necessidade de bater. As portas de abriram a mera aproximação de Christian. O hall era alto, as pilastras eram do mais puro mármore branco. As pedras do chão e das paredes eram todas lisas, brilhantes e limpas.O esperando na entrada daquele belo aposento com um sorriso no rosto, estava Sebastian.

- Espero que tenha tido uma ótima viagem até aqui velho amigo.

Se aproximando de Sebastian, Christian o abraço fortemente enquanto pousava os lábios em suas bochechas. Quanto tempo não via Sebastian? Quão belo ele continuava! Sempre tão bem arrumado, e aqueles cabelos longos, meu Deus, como podiam ser tão lindos?

- Senti muito sua falta Sebastian. Como está? Como vai Catherine? E o jovem Dave, continua tão incrível como quanto tinha quatro anos?

Havia tantas perguntas, tanta conversa a ser posta em dia. Porque Alexander queria vê-lo justo agora e com tamanha urgência?

- Catherine está ótima, continua bela e graciosa como sempre. Infelizmente vem se mostrando indisposta nestas últimas noites, o que é um grande problema. Recebemos a visita de dois vampiros, sendo que um deve estar partindo hoje. Este se chama Carlos Mondego, é um comerciante que veio fazer negócios conosco e o outro é um velho amigo seu, o Barão de La’ Fontie.

O Barão! Há quanto tempo não o via. Sebastian não pode deixar de dar uma pequena risada da expressão nos olhos de Christian. Sim, fazia muito tempo que não se viam, havia esquecido o quanto Christian podia ser humano sem nem ao menos perceber.

- O Barão está aqui? Mas que surpresa agradável. Gostaria muito de vê-lo, talvez ele se una a nós. Lhe fiz um convite a anos, mas ele ainda era muito jovem para se arriscar tanto. Mas teremos muito tempo para discutir estas coisas mais tarde, caso Alexander não nos amarre aqui em uma de suas conversas. Sempre me perco quando vocês debatem filosofia. Desculpe-me meu amigo, mas não fui feito para as palestras de vocês.

Sebastian riu novamente. Só agora percebera o quanto sentira saudade de Christian. Agora a casa estava completa. Ele, Dave, Catherine e Christian. Talvez Alexander passasse alguns dias com eles na mansão, e então teriam uma grande comemoração.

- Bem, acho que devemos ir em direção ao ateliê de Alexander. Agora que percebi, onde estão as crianças de Alexander? Sempre que me lembro deste local vejo as crianças, meninos e meninas de Alexander. Todas correndo, brincando e aprendendo. O que houve com elas?

Sorrindo, Sebastian respondeu:

- Ora Christian, os mortais crescem, infelizmente. Muitos já abandonaram a presença de Alexander. Você sabe, ele apenas lhes dá suporte até os 16 anos, quando lhes manda para longe, seja para estudar ou fazer fortuna. Logo este local estará cheio delas, apenas dê-nos dois anos e acharemos novos membros. Me dói, mas talvez eu peça para que Dave se junte a Alexander se este permitir, a partir do próximo ano.

Se dirigindo para uma porta que ficava atrás da escada que dá acesso ao andar superior, ambos colocaram a conversa em dia.

~~~

- Mas você não pode fazer isso, é contra as regras!

Ele era tão novo e inocente ainda. Alexander ficava feliz de saber que os anos pelo menos não haviam lhe retirado aquela beleza da inocência infantil. Mas isso o tornava perigoso também. Uma criança com mais de mil e quinhentos anos… Um senso do que é certo e errado distorcido pela visão infantil do mundo de alguém que nunca se desenvolveu completamente. Ele havia amadurecido, era inevitável, mas aquilo o assustava um pouco. Um adulto em corpo de criança.

- Não há nada que me impeça de realizar este movimento e você sabe muito bem disso.

Oh, como ele era belo quando fazia essa cara de emburrado. Seus olhos de estreitavam, as sobrancelhas de uniam e as bochechas se enchiam levemente de ar. Tão maduro mais ainda assim uma criança. Há beleza perfeita com a inteligência de um adulto.

- Você está certo, mas é injusto. Eles não terão chance alguma contra mim ou meus homens. Você não só os está mandando para a morte como está entregando o jogo de uma única vez. Se fosse para fazer um movimento tão suicida, porque não me ceder logo o sangue?

Novamente aquela expressão vazia. Os anos o estavam danificando. Era uma pena. Não havia outra palavra a não ser pena. Alexander não se arrependia de ter cuidado dele, mas gostaria de ter lhe mantido um pouco mais de tempo depois do que havia lhe acontecido na noite em que aprisionaram Malkav. A luta da criança contra o adulto o estava quebrando por dentro. Talvez fosse bom lhe dar o sangue mesmo, antes que ele fosse quebrado de vez e viesse reclamá-lo. Talvez ainda houvesse esperança para ele.

- Porque me olha assim? Não pense em me dar o sangue, eu apenas estava brincando. Se você quer assim, assim será, lhe vencerei nos seus termos, derrotando estes coitados que você coloca em seu lugar.

- Se acha isso tão fácil lhe desafio a tentar. Descobrirá que há muito a temer por parte deles. Seu homem, Carlos, Folk, como quiser chamá-lo, logo irá perceber isso. E se fosse você, tomaria cuidado com ele. Ele é como um cão selvagem. Enquanto você lhe der comida, ele lamberá sua mão e abanará o rabo para você. Mas quando se cansar, não hesitará em lhe morder até a morte.

- Sei disso. Tenho ele sobre total controle. Quando chegar a hora, me livrarei dele. Agora me diga, o que pretende fazer enquanto eu ganho de seus substitutos em nosso jogo?

Ele não pode deixar de sorrir. Ele estava olhando para baixo como uma criança que não quer ver seu amigo partir, mas estava encabulado demais para dizer. Quando foi que o jogo se tornará tão sério a ponto daquele amor entre eles não poder ser expresso e a obsessão havia substituído a diversão?

- Eu pretendo dormir alguns anos. Diferente de você, as vezes é difícil para mim acompanhar o mundo. Depois, abrirei uma nova casa, onde observarei a partida. Se até lá já tiver vencido, não se preocupe, eu me forçarei a acordar para lhe dar o prêmio.

- Bem, se não posso dissuadi-lo, lhe desejo uma boa viagem Alexander. Gostaria de poder continuar o jogo com você, pois sei que duraria muito mais anos ainda. Mas por um lado fico feliz, pois será mais fácil ganhar.

Sim, ganhar. Ele quer o sangue. Alexander pretendia que ele supera-se seus problemas e amadurecesse ao longo dos quinhentos anos no qual eles vinham jogando xadrez com as vidas dos vampiros mais novos, como dois deuses manipulando o mundo. Mas ele somente se agarrará mais e mais a ideia do sangue. Tornara-se desesperado por ele. Pobre criança. Na verdade não fora o jogo que o cansara nem o remorso pela frieza com a qual brincava com a vida dos outros. O que o fez desistir fora ver no que Gabriel se tornara.

- Fico agradecido Gabriel. Eles já chegaram, é melhor você partir se não quiser estragar meu movimento. Devo lhe entregar isto agora?

Abrindo a camiseta, ele retirou um fino colar do mais puro ouro. Preso por uma argola havia um rei do xadrez feito do mais puro ouro. Vendo isto, Gabriel abriu sua própria camiseta e mostrou um colar idêntico, porém feito inteiramente de prata.

- Não. Eu farei questão de lhe tirar o rei quando vencer o jogo.

Se levantando e se dirigindo a porta, Gabriel saiu da sala, deixando Alexander sozinho, perdido em pensamentos enquanto esperava seus convidados.


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Notas finais do capítulo

Sim, mais um capítulo. Originalmente era um único capítulo gigantesco que eu dividi em duas partes e esta é a primeira. estou trabalhando para deixar a segunda parte melhor.
Em suma gostei deste capítulo, pois mostra um pouco mais sobre o quão falsa é a sociedade vampirica, onde a vida dos mais novos não são nada para os mais velhos e o como eles podem ser falsos... Algo bem humano não?
Bem, espere a próxima parte e verão o que eu estou dizendo =P.
Sobre a escrita, bem, sou horrível para me analisar, mas acho que está bem mais interessante, apesar de ainda continuar em ritmo lento, mas espero estar envolvente, pelo menos era essa a intenção. Pelo menos eu leio os primeiros capítulos e sinto uma ótima melhora.
Bem, desisti de esperar reviews, pois parece que é algo muito doloroso escrevê-los, então só aproveitem o capítulo.

That's all folks!



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