A Melodia do Princípio escrita por Ton D


Capítulo 10
Capítulo 9 - Movimentação no Tabuleiro


Notas iniciais do capítulo

Pronto! Já revisto, e arrumado. Divirtam-se nobres almas que ainda leem essa história... se não for pedir muito, deixem reviews, querendo ou não, é uma forma de saber o que pensam da história, dar sugestões, críticas e sugestões e ajuda a animar um pouquinho o ego deste que lhes escreve =D.



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- Ora, ora, ora… O que o jovem mestre faz fora de seus aposentos a está hora? Não é muito cedo para alguém de sua estirpe estar acordado meu jovem… Ahn… Dave não é?

O sorriso que brotava lentamente nos lábios de Carlos era falso. Tão falso quanto a vida que ele fingia levar. Tão falso quanto seu nome e tão falso quanto suas ambições, pensamentos e aliados. Apenas uma grande peça onde ele era o único ator, diretor e escritor, muito obrigado e volte sempre.

O garoto parara. Isso era bom. Após o momento de surpresa que se instalara em ambos  no primeiro vislumbre, o garoto havia caminhado em sua direção com um brilho e tenacidade no olhar digno de um cavaleiro santo. Mas que ousadia! Quem este garoto pensava ser para tratá-lo assim? Logo ele, homem fiel as suas ambições e seus desejos, senhor das mentiras temido por tudo e por todos?

Sim,  parte daquilo era culpa dele. O garoto o assustara, realmente o assustara. O brilho dos olhos, a estatura, o jeito de andar, a determinação, a expressão vazia de quem está sempre com uma ou outra ideia na cabeça, não uma ideia levada de garotos entre cinco e treze anos, mas uma ideia digna de pensadores. Tudo. Tudo no garoto lembrava Gabriel. Eram quase idênticos, cópias um do outro.

Mas o garoto não era Gabriel. Era Dave. Sim, era este seu nome, filho de Lord Pennington, o tolo. Este pensamento o aliviou por dentro, como que retirando uma enorme e mutante criatura de seu estomago, que se debatia,  arranhava e mordia, lhe incomodando e o impedindo de se concentrar. Permitiu que ele retoma-se o controle da situação. Sim, controle era essencial neste momento.

- Sinto muito se lhe assustei jovem mestre, mas não esperava me deparar com alguém a esta hora da noite… Me chamo Carlos, Carlos Mondego. Estou aqui a mando da Condessa Hardigan.

Ele se moveu, caminhando lentamente em direção ao garoto, passo após passo, como em uma marcha lenta e monótona. Sua mão subiu instintivamente em um gesto de paz e cumprimento. Um gesto muito útil ao qual ele já se habituara a usar automaticamente em momentos como aquele, assim como o sorriso convidativo.

O garoto deu um passo para trás ao reparar em sua movimentação. O sorriso no rosto de Carlos esmoreceu.

Ele sabe. Ele vê as mentiras. Não, é mais do que isso. O ar estava ficando pesado, carregado tanto de silêncio e compreensão mútua como de energia. O garoto era especial. O homem era perigoso. O mesmo pensamento passou pela cabeça do garoto e do mago, a mesma sensação gélida e lenta percorreu a espinha dos dois, se alastrando e eriçando cada simples pelo do corpo, como em um sinal de reconhecimento do perigo. Estou em perigo. Esse foi o pensamento que aquele silêncio e imobilidade transmitiam. O garoto encarava o mago com obstinação e coragem nos olhos. O mago via o garoto com ódio enquanto seu rosto demonstrava um falso e inocente divertimento.

Passos. Passos ecoando no corredor. O garoto pensou “Estou salvo” e o mago pensou “Tenho que controlar a situação”.

- Nenhuma palavra deve chegar ao ouvido dos moradores desta casa se você presa a vida de seus pais Dave Pennington. Este será nosso pequeno segredinho. – Disse o mago enquanto dava ao garoto seu melhor sorriso “Tudo irá ficar bem agora” e uma leve e marota piscadela de olho. Sua voz era gélida e cortante, como o fio da navalha de um executor pronto a dar a sentença de morte a um prisioneiro.

O garoto se limitou a encarar o mago. Caso ele avança-se ou tenta-se qualquer coisa ele atacaria. O homem sorria de um modo tão frio e cruel que deformava as feições de seu modesto rosto, puxando e esticando a pele de suas bochechas e olhos, como se o rosto dele não fosse feito para aquele sorriso. "Aquele não é o rosto dele, mas o sorrido o é!",  pensou Dave.

Quase que como os libertando da irrealidade e atemporalidade daquela cena e movendo-os de volta ao nosso mundo e ao nosso tempo, uma emprega apressada trazendo um cesto com lençóis brancos se chocou com as costas do homem, caindo sobre as nádegas no chão frio de pedra.

-Oh, me perdoe senhorita. Eu não deveria ficar parado em corredores mesmo que seja para ter tão ótimas conversas. – Disse o homem enquanto ele se virava para a mulher caída ao chão e se agachava para recolher os lençóis que estavam espalhados no sujo chão após saltarem da cesta que a mulher soltou ao cair.

Dave pode ver um ultimo resquício de sorriso e aura antes do homem  se virar, assim lhe negando a visão do rosto enquanto sua aura desapareceu quase que instantaneamente, assim como tinha surgido.

- Oh não. Me perdoe senhor, a culpa é minha. Por favor não pegue os lençóis, essa é minha função,deixe que eu os recolho… - Disse a jovem empregada enquanto corava ao ver aquele jovem cavalheiro nobre se agachar como um simples servo para pegar os lençóis.

- Mas não, me perdoe senhorita,  A culpa foi toda minha. É meu dever lhe auxiliar depois do fiasco que provoquei. Gostaria de me ajudar jovem Dave?

O homem sorria descaradamente, do mesmo modo que Jonas Pennington sorria quando queria flertar com alguma donzela. Dave, sem saber o que fazer, apenas permaneceu em seu lugar no corredor enquanto o homem continuava a cata dos lençóis. Terminado o serviço, ele se levantou, carregando a cesta de vime nas mãos e a estendeu em direção a criada.

- Se me dão licença, preciso me dirigir a meus aposentos. Mas uma vez peço desculpas pelo acidente minha cara.

Se virando novamente para Dave e sustentando um sorriso calmo e contido, o homem veio caminhando na direção do garoto, tendo uma empregada arfante e apaixonada a suas costas. Lentamente, o homem passou por Dave, o envolvendo naquela aura negra, só que desta vez, a aura rodopiava e apertava loucamente Dave, como se tenta-se sufocá-lo.

~~~

Sozinho em seu quarto, enterrado em suas cobertas e sentado em posição fetal e nu, Dave chorava, deixando as lágrimas escorrerem lenta e preguiçosamente por entre suas faces. Seu corpo tremia. Sua cabeça doía. As roupas aparentemente limpas mas repletas daquela imundice que fora penetrar naquela aura jaziam jogadas e esquecidas na dura pedra do chão. O frio era intenso e parecia estar não somente no quarto como também em volta de todo o mundo. As coisas e as pessoas não passavam de objetos sem vida, cinzas e inanimadas.

Olhar e tocar a aura daquele homem que se dizia chamar Carlos fora algo além de qualquer experiência que Dave um dia teve ou tivera durante sua vida. Ele pode sentir o frio, a imundice daquilo, era gosmento, pegajoso, e se impregnava em tudo em que tocava. A sensação daquilo invadindo seu espaço, tocando-o quase que delicadamente enquanto se enrolava nele, abrindo sua boca e invadindo seu interior... Foi como mergulhar em um lago negro, frio, escuro e infinito. Ele pode ver dor, sofrimento e tragédia. Um mau tão grande que era como se aquele homem apenas existisse para trazer a discórdia ao mundo. A simples presença dele, amigos antigos e queridos se matariam sem sequer pestanejar, colheitas apodreceriam e o campo se tornaria infértil. Ele não podia ser igual a Senhorita Catherine ou a Sebastian, tinha de ser de uma espécie diferente, uma espécie nefasta, antiga, cruel e maligna.

Ele pode ver a morte, e ela o cercara e o abraçara, como se estivesse pronta a enterrar sua foice em seu peito, enquanto aproximava sua mão esquelética do rosto de Dave, como se quisesse beijá-lo. Sim, ele pode ver a morte, a sua própria morte, refletida na aura daquele monstro. E o pior é que ele sabia que não havia saída.

~~~

Ele sorria. O garoto tinha potencial. Era perigoso. Mas não passava de um garoto. Ele queria matá-lo, ele imaginou o melhor jeito de acabar com o garoto. O modo mais doloroso e terrível que alguém pudesse morrer. Oh, ele iria matá-lo, e como iria. Mas antes iria quebrá-lo, mexer com sua cabeça, fazê-lo desejar estar morto. Iria brincar com ele, deixar que ele visse coisas como o que o garoto virá em sua aura. Manipulá-lo para seus planos, guiá-lo como se guia uma ovelha para a armadilha final do caçador. Pois afinal, era assim que ele trabalhava e sempre trabalharia. Esse era o modo como Randall Folk coloca as coisas em sua devida ordem. A sua própria ordem.

~~~

Seu nome era Jhon. Apenas Jhon o marinheiro. Nascera em um pequeno vilarejo a beira mar nas terras galesas. Ganhava a vida como marujo, carregando mercadorias e levando pessoas além mar.

Ele estava cansado. A viagem havia sido longa. Fora um árduo caminho desde as terras santas até Londres. Por pouco não haviam naufragado enquanto tentavam fugir das disputas que ocorriam na terra do menino Jesus.

Ele estava aliviado por finalmente poder aportar em seu destino. Os marinheiros, no qual ele se incluía, estavam todos assustados. A viagem fora terrível. Era como se o possível naufrágio seguido de uma mais provável pilhagem que eles quase sofreram próximos a costa londrina e uma óbvia vida escrava para os sobreviventes fosse um aviso dos mares.

Não haviam sido pegos por monstros marinhos ou sereias, o que era uma grande sorte naqueles mares pouco explorados. Haviam sido tragados em uma única tempestade durante o trajeto, e esta era pequena. Não havia faltado comida, e mesmo que faltasse, o mar estava carregado de alimento. Poucos marinheiros haviam morrido durante a viagem, muito menos do que se esperaria para a época em que as doenças mais ganhavam vidas humanas.

Não, nada disso havia apavorado Jhon ou os marinheiros, mas mesmo assim, todos, em especial Jhon, não viam à hora de sair do navio. A preocupação de Jhon estava além de assuntos banais. A preocupação de Jhon eram três caixas grandes de madeira pesada no porão do navio.

Elas haviam embarcado no começo da viagem, pois eles não haviam feito paradas. Mal haviam aportado no cais daquele fim de mundo em que estavam quando o capitão havia lhes informado. Um nobre receoso de perder seus tesouros recém adquiridos na guerra, provavelmente frutos de mortes e sangue derramado, havia lhes pago uma enorme quantidade de ouro para transportar o mais rápido possível, três enormes e pesadas caixas, que dizia ele conter seus pertences.

Todos foram enganados pelo ouro, agora Jhon sabia. A viagem havia sido muito longa e cansativa. Era somente nisso que Jhon pensava. Uma viagem longa e cansativa em direção ao fim da linha, ao inferno por todos os pecados cometidos em vida. É… o inferno. Até que não era ruim, era até gostoso. Semelhante a uma trepada bem dada com uma daquelas concubinas mouras. Só que era bem melhor. Ele até podia sentir o pau enrijecer sobre o tecido de sua calça. "Só que o seu pau não pode estar enrijecendo meu amigo", havia lhe dito uma voz em sua cabeça. Ele perguntou por quê. Para fascinação de Jhon, a voz respondia! Sim, ela lhe respondeu! Foram simples quatro palavras, as últimas palavras que Jhon ouviu antes de morrer feliz em êxtase, pensando estar tendo uma ereção. "Porque você está morto."

~~~

Ele largou o corpo displicentemente, sem ligar para o barulho oco que a cabeça do pobre coitado que ousará tentar abrir a caixa do caixão onde ele descansava fazia ao se chocar com a madeira do barco.

- Não deveria tê-lo matado Andrew. Isso pode causar perguntas embaraçosas.

Ao ouvir a voz que vinha de suas costas, Andrew se virou, reconhecendo Christian que se erguia de dentro de seu próprio caixão.

- Sei perfeitamente bem Christian, mas ele acabou de espiar no caixão. Além disso, descobri que finalmente chegamos a Londres.

Andrew era um homem jovem, não mais de 30 anos. Cabelos rebeldes e despenteados, de um castanho claro bem parecido com aquele da tábua na qual a cabeça de apenas Jhon o marinheiro acabará de colidir. Estava bem vestido, com uma rouba nobre. Enredado em seu cabelo e roupas, havia pequenos fiapos de palha, os quais ele se esforçava no momento para retirar e jogar de volta ao caixão.

- Devemos jogar o corpo ao mar antes de sairmos e fecharmos as caixas. Os marinheiros já estão muito receosos, não podemos deixar corpos jogados por ai. A carruagem já estará a nos esperar Christian?

Era uma voz forte e rouca. Vinha de um canto um pouco mais afastado do galpão do navio. O dono da voz se chamava Viktor Van’Oloff. Vestia-se formalmente e falava um perfeito inglês, o que desmentia sua origem eslava. Tinha um nariz e queixo salientes, que contrastavam muito bem com seus longos cabelos negros e oleosos. A exemplo de Andrew, tinha palha em seus cabelos e roupas, o que contribuiria para uma cena hilária para qualquer um que olhasse seus cabelos com aquele número absurdo de fiapos que um cabelo oleoso pode comportar, isso é claro, se Viktor não tivesse algo perto de dois metros de altura, ombros largos e uma expressão de que não tem muitos amigos e não faz questão de manter os que já possui.

- Não se preocupem, a carruagem os estará esperando no porto. Sebastian sempre é muito pontual em seus afazeres. Devem ir conversar diretamente com Catherine. Diga-lhe que não me demoro muito. Irei antes ter com Alexandre e ver o que ele deseja de mim.

Os outros dois se mantiveram passivos aquele nome. Alexander. Príncipe de Londres. Senhor dos vampiros daquela região. Provavelmente o vampiro mais antigo que se tem notícias, mesmo que ele não admita. Temido por aqueles que não o conhecem, amado por aqueles de seu circulo íntimo.

Tentando não tropeçar e se juntar a apenas Jhon o marinheiro na inigualável arte de se observar a madeira do navio, Andrew saltou para fora da enorme caixa que lhe serviu de casa durante a exaustiva viagem, com exceção nos momentos onde ele e seus colegas se revezavam na saída para alimentação com direito a pratos requintados como marujos de todas as etnias. Andrew espanou com as mãos os restos de fiapos que se uniram a sua calça, enquanto Viktor e Christian faziam o mesmo.

- Bem eu o matei então irei me livrar do corpo.

- Sim. Esperarei alguns minutos após sua partida e então partirei a pé para a residência de Alexander. Logo em seguida, sai você Viktor.

Olhando para trás, Christian pode ver que ele já se encaminhava para apenas Jhon o marinheiro e se preparava para retirar as vestes de nosso amigo marujo, enquanto desabotoava a sua própria capa. Em menos de cinco minutos, apenas Jhon o marinheiro estava nu e morto sobre o assoalho de madeira do barco onde trabalhou os últimos anos de sua miserável vida, enquanto Viktor jazia em pé a seu lado com suas antigas roupas um tato quanto apertadas, pois havia uma diferença de quase 40 centímetros entre a estatura de apenas Jhon o marinheiro e Viktor, observando minuciosamente seu corpo. Pobre e desafortunado apenas Jhon o marinheiro, agora além de jazer morto sobre os pés de três marinheiros, também estava nu.

- Pode levá-lo Andrew, já vi tudo o que precisava. – Disse Viktor.

Colocando o corpo por sobre os ombros, Andrew deu uma última olhada para seus companheiros, antes de desaparecer diante dos olhos de Viktor e Christian carregando o corpo de apenas Jhon o marinheiro.

Enquanto esperava os últimos minutos, Christian pensava em Catherine e em como ambos se conheceram. Dando um último suspiro, Christian se virou para Viktor, que agora era uma cópia exata de apenas Jhon o marinheiro.

- Lhe vejo na mansão velho amigo.

Encaminhando-se para a saída do galpão, Christian se lançou na noite de Londres, indo em direção a Alexander, Príncipe de Londres.


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Notas finais do capítulo

O quê?! Milagre de Natal? Inspiração durante a madrugada? Noite mau dormida? Felicidade explosiva mediante novo relacionamento? Pesadelo? Vontade de passar a Petra em palavras? Dorgas? Excesso de cafeina no sangue? Tá, um pouco de tudo...
SIM! Um capítulo novo!
Estou de férias, logo, voltei a escrever, o que foi bom, pois para minha surpresa, o capítulo saiu tão naturalmente quanto o sono que agora as 5:13 a.m. me ataca...
Sem mais delongas ao meu sono e a sua paciência, Voilà!
Leiam, comentem, me xinguem, me amem, me ignorem, mas me deixem dormir --'...



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