Nas semanas que se seguiram não encontrei nenhum sinal do garoto misterioso, mas por sorte acabei fazendo uma amiga, o nome dela é Jaqueline, mas ela insiste em ser chamada de Jac, a propósito é a mesma menina que teve a infelicidade de trombar comigo no primeiro dia de aula do Ensino Médio.

Ao contrário da outra escola, o Euphly é adorável, existe respeito entre os alunos e entre os professores, tirando algumas eventuais brigas, tudo é perfeitamente normal, não que eu tenha me tornado popular ou algo parecido, até por que prefiro ficar quietinha no meu lugar, do que me tornar o centro de atenções, fazendo coisas que não gosto para agradar as pessoas, mas o que quero dizer é que por anos essa é a primeira vez que estou em paz de verdade.

As pessoas não me chamam de louca e nem me agridem, elas apenas me ignoram, o que é um bom sinal, como eu disse a única amiga que eu fiz possui ligeiramente o mesmo pensamento que eu, deve ser por isso que nos damos tão bem, quando não estamos em aula, estamos na biblioteca, tal como eu, ela também é uma devoradora de livros, o que me deixou tão feliz e radiante, como eu sempre quis.

Agora eu posso conversar sobre meus personagens preferidos, livros e até inventamos um final diferente para as histórias que não gostamos.

Tudo parece estranhamente perfeito e dentro de ordem, exceto pelo nervosismo e a sensibilidade no estômago que se repete todas as manhãs que entro na escola, e só para após a vasculhar completamente com o olhar e não encontrá-lo, depois de várias semanas assim, acabei por achar que ele era algo somente da minha cabeça, talvez algum trauma da minha antiga vida.

Pela primeira vez em semanas, quando cheguei ao colégio na segunda-feira, fui diretamente para minha sala de aula, mas antes que eu pudesse chegar à porta, alguém me chamou.

— Julie, é você mesma?

Ao virar em direção àquela voz um frio imenso percorreu a minha espinha, nunca imaginaria que voltaria a ver aquela pessoa, não quando já havia esquecido todos os anos dolorosos no Prata.

— O que você está fazendo aqui? – minha voz pareceu mais uma acusação do que uma simples pergunta.

— Fui transferida de escola e aqui é tão grande que já estava me sentindo perdida, foi ai que vi você passar e resolvi te seguir, me desculpa se te assustei – respondeu Laura quase engasgando em suas próprias palavras.

— Tudo bem, eu posso te ajudar em algo? – foi quase doloroso fazer a pergunta, mas os meus bons modos não me abandonaram.

A partir disso, meus dias nunca mais foram os mesmos, como Laura não conhecia ninguém na nova escola, me senti obrigada a andar com ela, e por incrível que pareça, ela era melhor do que eu poderia imaginar, a única coisa que me chateava era o fato de Jac não querer mais andar comigo, ainda que o motivo fosse desconhecido por mim.

Claro que eu e Jac ainda éramos amigas, ela continuava me visitando em casa e vice-versa, ela só evitava estar comigo sempre que eu estava com Laura... Ou seja, todos os dias no colégio. E já que Laura não desgrudava de mim, achei que seria correto aceitar a oportunidade de conhecê-la melhor.

Olhando superficialmente, Laura era uma pessoa um tanto fútil. Ia para o colégio com o rosto escondido em toneladas de M.A.C. e óculos de descanso Armani, para passar um ar intelectual. Vestia o uniforme branco do colégio (apenas por ser obrigatório) e mesmo assim enfeitou-o com broches, sempre usava um lenço no pescoço em forma de gravata e short-saia de babado ou renda. E como se não bastasse, ia desfilando de Oxford com uma autentica Louis Vuitton.

Confesso que após analisa-la por fora, não tive a menor vontade de conhecê-la por dentro. Mas na primeira semana dela no Euphly, acabei descobrindo algumas coisas interessantes sobre ela... Como sua paixão por Monet, piano, músicas clássicas e peças teatrais.

Mesmo ela possuindo alguns gostos em comum comigo, era esquisito estar acompanhada de Laura. Ela em si, ainda não havia feito nada contra mim, mas a presença dela me trazia uma sensação ruim e algumas vezes durante aquela semana, cheguei a pensar que fosse algum pressentimento.

Todos no colégio estavam tentando se aproximar de Laura, pois além dela ser a garota nova, ela era bela, culta, elegante e pertencia aos Pompéia Fontão, as duas famílias mais bem sucedidas de Jales. Alguns alunos queriam-na em seu grupo, enquanto outros queriam apenas dizer “oi” para garota nova.

O que me incomodava nisso não era o assédio sobre Laura, mas o fato de eu ser assediada por estar com ela, por ela insistir em estar comigo. Pessoas que nunca haviam me cumprimentado agora se diziam meus amigos e pediam para que eu falasse delas à Laura, como se eu fosse uma espécie de ponte para que pudessem chegar até ela.

No entanto ela não parecia estar dando atenção a nada disso. Ela respondia aos comprimentos, mas evitava bajulações, parecia ser realmente outra pessoa daquela que eu conhecera um dia...