O primeiro dia na nova escola se deu em fevereiro, apesar de ser pública era um colégio sofisticado, com um jardim bem cuidado e bonito, ao chegar à porta de entrada fiquei surpresa com a estrutura, havia uma quadra de futsal bem no meio da escola que ficava um andar abaixo do pátio principal, havia dois jogos de escada de cada lado do pátio, as escadas do lado esquerdo levavam a um segundo e terceiro andar que tinham bancadas para a proteção do transito nos corredores dos mesmos, o que me deixou surpresa ao verificar que havia vários alunos sentados lá, no último andar, e balançando as pernas, se por qualquer descuido alguém caísse iria esborrachar diretamente na quadra.

A escada à direita era muito maior do que a outra e levava a apenas um andar, que por sinal, também havia vários alunos na bancada de proteção.

Apesar da similaridade com o lado oposto alguém em meio à multidão de alunos e burburinhos de conversas me chamou a atenção.

Havia um garoto sentado no final do corredor com as costas apoiadas na parede oposta de onde eu estava. Apesar da distância que nos encontrávamos pude perceber um brilho familiar no seu olhar, e por mais incrível que pareça àqueles olhos estavam virados na minha direção e quando nossos olhares se cruzaram ele sorriu, foi um sorriso breve, mas por um momento todo o nervosismo que se agitava no meu estômago, típico de um 1º dia numa escola com pessoas que nunca havia visto na vida, se esvaiu e meu coração começou a bater mais rápido a ponto de me dar a sensação de quase sair pela minha boca e eu perdi a respiração.

Fui atingida por um ímpeto de sair correndo pelo pátio, subir as escadas, percorrer todo o corredor e abraçar aquele estranho e se não fosse por uma menina desajeitada que trombou em mim nesse exato momento o teria feito.

Eu me virei para a garota, era uma menina pequena, magra, com a pele clara, cabelos louros e cacheados, soltos no meio da costa alcançando a metade de sua cintura fina, mas foram seus olhos que me chamaram a atenção, de um tom intenso de azul, muito profundos com um tom de arrependimento e desculpas, nunca havia visto olhos mais lindos do que esse a não ser….

A não ser pelo meu antigo amigo imaginário, que depois de chegar a Jales fui obrigada a me desprender de todas as memórias que levavam a ele, e apesar de minhas insistentes negativas de concordar com isso, depois de alguns meses, fui esquecendo ele aos poucos até esquecê-lo completamente.

Fazia muitos anos desde que pensei nele pela última vez e logo que me lembrei disso achei muito estranho o fato daquela menininha amedrontada ter acordado minhas antigas memórias.

Logo fui interrompida de meus devaneios com um pedido de desculpas baixinho, e antes que eu pudesse ter qualquer reação ela já estava subindo a escada esquerda e sumindo entre a multidão de alunos, o que instantaneamente me fez virar o rosto para encarar novamente o estranho.

Para minha surpresa ele não estava mais lá, então percorri a escola com o olhar e não o encontrei mais. Foi aí que escutei umas vozes atrás de mim e me dei conta que estava fazendo papel de retardada novamente e antes que as críticas virassem agressões me apressei até o mural de distribuição de aulas que ficava ao pé da escada que dava para o 2º e 3º andar.