Desligamento escrita por Lena Rico, Ana Valentina


Capítulo 33
Capítulo 32




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Voltamos para casa juntas, cantando desafinadamente Legião Urbana, olhando all stars e sapatilhas fofas nas vitrines das lojas e discutindo com quem Naruto deveria ficar: Sakura ou Hinata?

De vez em quando Jac tentava descobrir algo sobre Álvaro, mas eu sempre mudava de assunto... Ela insistia em dizer que eu tinha de apresentar meu namorado novo para ela, mesmo eu continuando a bater os pés e dizendo que não tinha namorado nenhum.

— Eu nunca namorei com ninguém. E ele é só um amigo, tá!?

— Sei, sei... Se fosse só um amigo você não ficaria igual um tomate toda vez que falamos sobre ele! – guinchou ela enquanto esboçava um sorriso malicioso.

— Eu não fico vermelha não... – contestei sentindo minhas bochechas enrijecerem só de pensar que Álvaro poderia estar ouvindo cada detalhe da nossa conversa...

— Vou fingir que essa é a sua cor natural... – zombou Jac, insistindo no assunto — Mas agora me conte. Como é esse seu amigo? Ele é alto ou Baixo? Loiro ou moreno? E o sorriso, dele como é?

Prosseguimos o caminho enquanto eu contava como Álvaro era e Jac deixava escapar comentários e guinchos como: “Huuuummm...”, “Nossa, ele deve ser um gaa-tinho!!!”, “Uhuull... Que fofo!”, “Aí, quando eu vou conhecer esse seu amiiiigo?!”.

Assim que nos aproximamos de casa, me livrei dela dizendo que precisava cuidar de Danita antes que ela fizesse com que eu contasse mais do que devia... Sério, estava morrendo de vontade de contar tudo sobre Álvaro para Jac, mas eu sabia que ela ainda não estava preparada para saber... Ou talvez eu que não estivesse pronta para admitir para minha melhor amiga que amava alguém que até pouco tempo eu mal conseguia tocar.

Jaqueline seguiu sozinha para sua casa, que era logo ali, depois da minha... E eu entrei para minha, sabendo que hoje Danita não estaria ali e que eu teria a casa toda só para mim.

Lembro de mamãe ter dito algo como “Eu e Fernando levaremos Danita conosco para a audiência. Provavelmente só voltaremos a noite... Se cuide. E, juízo!”, enquanto beijava minha testa. Lembro dela ter dito mais alguma coisa, mas nada que eu tenha conseguido armazenar na memória.

Subi as escadas correndo para meu quarto, joguei a mochila sobre o tapete e me esparramei sobre a cama ficando de barriga para cima... Fechei os olhos e comecei a pensar em Álvaro... E como nunca poderíamos nos tornar um só. Deixei uma lágrima escorrer pelos cantos dos olhos, mas antes que ela escorresse pelo meu queixo, um toque suave a impediu.

Abri meus olhos e inclinado sobre mim, estava Ál, com um olhar carinhoso e profundo, enxugando minhas lágrimas. Seu olhar penetrante, encarando fixamente dentro dos meus, chegava até ser perturbador... Tinha a impressão de que ele podia ler cada pensamento que passava pela minha mente e meu primeiro impulso foi tentar encobri-los o mais rápido possível:

— Eu... eu... Só... eerrrhh... Esta-tava... Pensando sobre... – pensei em dizer que estava pensando sobre os acontecimentos recentes com Danita, mas não consegui.

— Eu também te amo. É por isso que ainda estou aqui... – disse ele colocando carinhosamente o dedo indicador em meus lábios.

Podia sentir o dedo dele tocar meus lábios e o calor quase-humano de sua respiração muito próximo a mim... Ao mesmo tempo em que me sentia à vontade, me sentia desconfortável com tamanha proximidade entre nossos corpos... Imagino que Ál deva ter notado, pois logo se afastou, sentando sobre a cama com as pernas cruzadas, e eu imitei-o.

— Você ainda quer saber as respostas daquelas perguntas que você havia me feito? – questionou Álvaro tranquilamente.

Pensei por alguns segundos, mas na verdade eu não sabia se queria ou não saber as respostas... A única coisa que eu queria, estava ali, na minha frente, e eu apenas queria que ele permanecesse comigo...

— Eu sei que tudo isso é muito confuso... E é até difícil para mim explicar tudo isso para você... – continuou ele.

— Mas eu não quero mais saber as respostas Ál. Eu só quero que você não desapareça sem nem dizer o motivo e depois retorne sem ao menos me avisar. Prometa-me que não fará mais isso.

— Julie, nem se eu quisesse eu poderia me afastar de você. Você não entende... Está tudo errado! Eu não posso estar aqui! – disse Álvaro em tom mais ríspido, até então, desconhecido por mim... Não era grosso, porém ele estava com um tom mais sério que o comum. — Eu já tentei atravessar a ponte e seguir para Summerland, mas seus pensamentos sempre me trazem de volta... Eu não poderia ficar vagando entre os planos por toda eternidade... Então decidi materializar-me para que eu pudesse andar entre os humanos sem causar-lhe ainda mais problemas...

Levantei da cama nervosa com tudo o que Álvaro estava me dizendo.

— Do que você está falando? Então você estava mentindo quando prometeu que voltaria para me buscar??? – havia tantas perguntas a se fazer, mas a ideia de Álvaro ter mentido para mim era o que mais me incomodava.

— Claro que eu iria voltar! Eu não prometi isso a você?! O que estou dizendo é que ainda não chegou a hora Julie... Tudo tem o seu tempo. Eu não posso levá-la para Summerland agora! Mas você também não me deixa partir sem ti... O que você quer que eu faça???

— Summerland? Que lugar maluco é esse? E por que você tem que retornar para lá? Por que você não pode ficar aqui comigo? – eu já estava ficando muito irritada com toda aquela conversa...

Porque ele estava querendo complicar as coisas? Ele já não havia se materializado? As outras pessoas podiam vê-lo assim como eu... Isso não era perfeito? Poderíamos andar juntos por aí, conversar em público sem que eu fosse confundida como louca como havia ocorrido durante minha infância... E porque ele queria complicar as coisas? A essa altura da conversa, eu já estava novamente chorando e Ál levantou-se da cama para me abraçar.

— Julie... Lembra que eu havia dito que eu sou um anjo? – sussurrou ele próximo ao meu ouvido.

— Lembro...

— Então, na verdade eu sou e não sou um anjo - fiquei olhando-o com uma cara de interrogação completamente atordoada. O que ele estava querendo dizer com isso? — O que vocês humanos chamam de anjos e demônios, na verdade, são o mesmo povo, os Elohins. Eu sou um Elohim, Julie.

— Está bem, mas se os anjos e demônios são Elohim, você está me dizendo que você é um anjo ou um demônio? – questionei confusa.

— Se anjos e demônio existissem eu seria um anjo... Ah, esquece esse negócio Julie! Vamos começar de novo. – disse ele balançando a cabeça de um lado ao com a expressão de quem estava tentando explicar algo muito difícil de se entender — Você é uma humana e mesmo que você faça coisas boas ou ruins, você ainda continuará sendo uma humana, certo?

— Certo. – concordei.

— Um Elohim é a mesma coisa. Nós não fazemos especificamente o bem nem o mal, nós apenas fazemos o que temos de fazer de acordo com os nossos princípios. Entende?

— Hã-ham... – confirmei que havia entendido balançando a cabeça.

— Nós não podemos acompanhar os humanos por toda a vida... Nós acompanhamos vocês desde o momento que nascem, até seus três ou quatro anos, e então retornamos para Summerland, de onde tentamos fazer contato através de seus sonhos. Temos de deixá-los fazer suas próprias escolhas, apenas os orientando.... E quando chega a hora, somos nós que os guiamos pelo caminho e ajudamos atravessar a ponte para chegar à Summerland. – Ál falava com uma expressão firme e séria, analisando se eu estava mesmo compreendendo o que ele dizia — Depois que o humano passa dos quatro anos, nós nos afastamos para não puxar seus fluídos conosco e evitar que vocês se desmaterializem antes da hora. Mas somos enviados novamente quando vocês estão chegando próximos ao fim, para confortá-los e mostrar que o que vocês chamam de morte é apenas uma viagem para um lugar desconhecido, um lugar melhor, chamado de... Summerland.

— Quer dizer que eu poderei ficar para sempre com você se formos para Summerland??? – perguntei com os olhos brilhando de empolgação, afinal essa era a pergunta mais importante a se fazer.

— Sim, para sempre. – respondeu Álvaro olhando carinhosamente dentro dos meus olhos enquanto eu segurava em seu pescoço.


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