— Por que você fingiu que não me conhecia? Por que você não me avisou que havia voltado? Por que você não veio me ver assim que você voltou? -  questionei-o no caminho, enquanto ele me acompanhava até em casa.

— Julie, eu sei que é difícil de entender... Mas eu não posso ficar junto de você! Pelo menos enquanto você está aqui!

— Mas o que você quer dizer com isso? – perguntei brava.

— Olha, você teve um dia difícil hoje... Acho melhor a gente conversar sobre isso outra hora... Certo? – Álvaro disse segurando minha mãos enquanto caminhávamos juntos em direção a minha casa, como se fossemos um casal de namorados com uma vida completamente normal...

Chegamos na minha casa já escurecendo... Álvaro me abraçou fortemente e retribui o abraço, querendo que o momento durasse para sempre.

Era tão incrível a sensação de poder tocar em seu corpo, sentir que ele realmente estava ali, ao meu lado, envolvido em meus braços... De repente ouço um barulho da porta abrindo atrás de mim, afasto-me de Álvaro e ao olhar para trás vejo metade do rosto de Danita aparecer na porta e percebo que ela parecia estar chorando.

— O que houve Dani??? – questionei preocupada.

— Já está tudo bem... Não quero incomodar ainda mais. – respondeu, mergulhando para o interior da casa.

— Como assim incomodar? Do que você está falando? Álvaro pode retornar aqui depois... - disse seguindo-a rapidamente e deixando Ál plantado em frente à porta da minha casa.

Dani estava sentada no sofá com os olhos e o rosto inchados de tanto chorar, seus pulsos e braços estavam com marcas roxas de agressões e sua perna esquerda estava enfaixada com esparadrapo. Minha mãe estava sentada ao lado dela, abraçando-a e dizendo que iria ficar tudo bem.

Pensei em tomar milhares de atitudes, tantas que acabei ficando parada ali, sem conseguir me mover... Era como se meu corpo tivesse entrado em pane e o meu cérebro não conseguisse raciocinar direito... Vê-la daquele jeito, era um choque tão grande, que suprimia toda minha movimentação.

Aquela garota não era como uma irmã para mim, ela “era minha irmãzinha” desde o momento em que minha mãe decidiu fazer algo para que ela pudesse ter uma vida digna e feliz, com uma família de verdade... E agora ela estava assim. Em milésimos de segundos, pensei em várias formas não convencionais e muito menos amistosas para cobrar justiça do que haviam feito a ela. Eu ainda permanecia em pé, olhando para além, meu corpo sem movimentação, meus sentidos estavam vagos, mas mesmo assim eu podia ouvir algumas vozes próximas, mas que pareciam estar bem distantes...

— Julie! Julie querida... Já está tudo bem... O pior já passou. Não precisa ficar assim tão chocada... Por favor se acalme. – dizia minha mãe.

— É. Julie, eu juro que já estou melhor... E, essa não é a primeira vez que isso acontece comigo... Está tudo bem.

— Isso, sente-se querida. Se acalme... – dizia minha mãe enquanto apoiava-me em seus braços e me levava ao sofá, fazendo-me sentar.

Fiquei ali sentada durante alguns minutos, imagino que por uns dez, até conseguir recobrar o controle de mim mesma. Minha mãe trouxera um copo de água para mim, para que oxigenasse melhor meu cérebro, enquanto Danita repousava no sofá maior com as perninhas para cima, preocupada comigo, mesmo estando em pior situação que eu.

Logo que melhorei, não questionei o que havia ocorrido com Dani, sabia o que havia acontecido com ela e apenas que queria que os responsáveis pagassem pelos seus erros da forma mais rígida  possível...

No dia seguinte minha mãe levantou cedo, mas não foi ao trabalho. Ela foi encontrar com seu advogado... Fazia alguns dias que ele havia entrado em contato, dizendo que haviam boas notícias. Boas notícias essas, era que meu pai teria de deixar a casa e os móveis para nós, além de claro, pagar pensão para mim até eu concluir meus estudos.

Mamãe não teve tempo para felicitar a causa ganha, ela queria que Fernando ganhasse mais uma causa – contra os pais de Danita.