Liguei para Laura do meu quarto, era estranho falar com ela após descobrir que era minha meio irmã, mas tudo estava mudando, teria que aceitar e com o tempo iria me acostumar. Combinamos de passar um tempo como irmãs, ou pelo menos tentar, Laura ia à uma festa dos parentes de seu pai Robert e me chamou para ir. Eu queira de todo o meu coração recusar, já que era um baile de quinze anos de uma filha de uma prima por parte de pai dela, algo assim, mas ela insistiu tanto e me lembrou que fui eu que liguei para combinar de fazermos algo juntas… Engraçado, pela primeira vez ela usou o cérebro para alguma coisa, mesmo que tenha sido para o mal – me chantagear.

Talvez não fosse assim tão ruim ir a uma festa com Laura, ela não era apenas uma garota super vaidosa, superficial e narcisista, era minha irmã, mas minha intuição me dizia para não ir aquela festa. Para começar, eu não tinha nenhuma roupa compatível com a ocasião, nenhuma zinha, nem para remediar. Calma, as coisas tendem a piorar, porque tipo, era sábado, cinco da tarde, nenhuma loja aberta, a festa começaria daqui a três horas, talvez se eu tivesse uma madrinha como a Cinderela desse certo, mas estávamos em pleno século XXI, no Brasil, em uma cidadezinha esquecida no mapa, em comparação com as grandes capitais, O.K. talvez eu estivesse em pânico, totalmente em pânico.

Peguei meu celular e liguei novamente para Laura, não poderia pensar em mais ninguém.

– Laura??? Preciso de sua ajuda – disse assim que ouvi sua voz do outro lado da linha.

– Ajuda Julie? O que foi? – sua voz estava bem aguda, talvez estivesse ocupada.

– Eu não tenho nenhuma roupa para festa, você poderia me ajudar? – torcia todos os meus dedos para que Laura me ajudasse.

– Claro, irmãzinha, venha para minha casa, vou te transformar em uma verdadeira princesa – disse dando um risinho antes de desligar o celular na minha cara.

Por um momento fiquei morrendo de medo, ela de repente parecia assustadora, mas eu não tinha opções, peguei minha bolsa e sai correndo em direção à casa dela.

Laura trabalhou em mim por um longo tempo, ela mesma estava quase pronta quando cheguei, ela me arrumou um vestido lindo, parecia mesmo de uma princesa, era bege, tomara que caia, a parte de cima parecia ser composta por cetim, com bordados de pedrinhas delicadas, em baixo o tecido era seda, cheio de babados, criando um pequeno volume. Na parte entre o corpete e a saia do vestido havia um cinto de cetim um tom mais escuro de bege, com um lacinho de metal no meio, totalmente romântico e lindo, embora não fosse assim tão grande. Ficava um palmo e meio antes do joelho.

O vestido combinava perfeitamente com o meu cabelo castanho, que agora estava solto com as pontas onduladas, Laura colocou uma pequena e delicada tiara em minha cabeça, em formato de coroa, me deu um bracelete combinando com o vestido e sandálias pretas, com altura mediana. Minha maquilagem estava muito boa, uma perfeita mistura de cobre com preto, batom e blush rosa, fazia minha pele ficar tão delicada que parecia mesmo ser de uma princesa. Olhando no espelho da parede do quarto de minha irmã, prendi o fôlego, eu estava muito bonita, nunca havia estado assim antes.

Laura não ficava para trás, vestia um vestido longo, rosa pink, tomara que caia com o corpete modelo trespassado e um lindo enfeite de prata onde os tecidos começavam o trespasse, na altura o umbigo. A saia do vestido era bem parecida com a minha, provavelmente seda também, como se fosse vários babados que criavam um volume delicado, não conseguia ver suas sandálias, pois o vestido dela era longo, mas sabia que eram rosa também, daquelas que enroscam nas pernas. Seu cabelo louro estava solto, extremamente liso, e sua maquiagem era também rosa, tão delicada que parecia estar na frente de um anjo. Ela estava incrivelmente linda.

Era sete e meia quando ficamos totalmente prontas, a festa começaria as oito, Robert, o pai da Laura, ia nos levar até o salão, não era muito longe, mas Laura queria chegar cedo porque

prometera ajudar sua amiga Flavinha, a aniversariante, a ajustar os últimos detalhes.

Ao chegar no salão, fomos para uma sala que parecia mais um camarim e lá estavam cinco pessoas, os pais e a irmã de Flavinha, um rapaz, que deveria ser o namorado dela, além, é claro, da própria Flavinha.

Laura começou a nos apresentar, só faltava o rapaz, que parecia perdido em um canto com a cabeça baixa, mas ao aproximarmos dele, ele deve ter sentido os passos, pois logo se virou para nós.

Minhas pernas congelaram no lugar, um tremor percorreu minha espinha e minha respiração ficou lenta e irregular, meu coração parecia que estava querendo sair pela boca de tanto que batia, após tanto tempo, eu poderia imaginar ter alguma dificuldade em reconhece-lo, mas naquele momento eu tive certeza. A certeza de estar novamente na frente de Ál, aquele lindo garoto de olhos verdes que sorria para mim, parecendo conhecer todos os meus segredos.

Minha visão embaçou e eu caio de encontro ao chão…