Desligamento escrita por Lena Rico, Ana Valentina


Capítulo 18
Capítulo 17




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Meu pai me levou para casa e no caminho gritou muito, disse que eu não tinha o direito de estragar a felicidade dele, que eu era louca, que precisava de ajuda urgentemente. Disse isso e outras coisas horríveis... No começo eu gritava de volta, interpretando direitinho o papel de doida, mas logo eu entendi que isso não era o jeito certo e me acalmei um pouco a ponto de ficar só ouvindo. Ouvindo o caminho todo, não que eu estivesse prestando atenção de fato, mas eu não estava mais ali, é claro que estava né, no banco traseiro, o mais longe possível dele, mas minha mente estava vagando, vagando até o meu mundinho perfeito, um mundinho onde Álvaro estava comigo, me abraçava e dizia que ia ficar tudo bem, que eu ia superar aquilo também, dizendo que estava comigo, sempre.

Quando chegamos em casa ele voltou, imaginei que ele ia buscar a Jac e levá-la para casa também, por um momento fiquei com vergonha, com vergonha dela, ela era muito legal, não merecia ter presenciado toda a cena, fiz uma anotação mentalmente em ligar para ela e me desculpar depois.

Agora eu estava sozinha em casa, era uma hora da tarde e eu nem havia almoçado, ficamos um bom tempo no hospital, mas depois de todo o episódio de histeria, perdi o apetite. Também estava muito nervosa para dormir ou ver televisão ou até mesmo ligar o meu note, então aproveitei o momento para estudar minhas possibilidades.

Embora toda a situação me deixasse enjoada, eu precisava descobrir toda a verdade, a verdade que minha mãe não me contou para me proteger, a verdade que meu pai não teve coragem suficiente de contar, a verdade escondida atrás daquele rostinho bonito, não que isso fosse tão importante, mas eu queria descobrir como a mãe da Laura entrou na vida de meu pai e como ele teve coragem de trair minha mãe e eu.

E além do mais, que tipo de mulher era ela? Ela também tinha uma família, seu marido, Laura... Será que Laura sabia dessa história? Até onde me lembrava, ela não tinha comentado nada sobre separação dos pais, nem que havia algum problema entre eles.

Pensando bem, eu precisava ter uma longa conversa particular com a tal Margo, era o mínimo que ela podia fazer depois de tudo o que aconteceu, mas meu pai nunca poderá saber disso, deverá ser algo só entre nós duas...

Comecei a bolar um plano miraculoso, mas Danita veio toda sorridente para me abraçar e começou a me interrogar:

— Oie Julie! Você já tá melhor né?! Como foi no hospital? Será que você já pode jogar vôlei comigo??? – perguntou ela toda animada.

— Então Dani, foi tudo bem... A médica só retirou o gesso depois tiraram um raio-X da minha perna e me indicaram para ir à algum fisioterapeuta... Então ainda não poderei me exercitar muito. – expliquei rapidamente omitindo que na verdade eu odiava praticar esportes.

— Há que pena você ainda não ter melhorado completamente... Assim que você sarar a gente joga... Mas ao menos tem uma coisa boa...

— Oque há de bom em não estar recuperada ainda??? – perguntei alarmada.

— Enquanto você precisar de mim, estarei aqui com você.

— Dani, mas mesmo que eu sare você pode continuar aqui... Foi o acor... – Uff! Por pouco, quase ia abrindo todo o jogo e contando o acordo feito entre a mãe dela e a minha. — Bem, somos amigas! Praticamente irmãs. – disse abraçando-a novamente, ela era um doce e eu precisava dela tanto quanto ela precisava de nós, ela não podia sair daqui.

Ao abraça-la, senti algumas lágrimas escorrerem de seus olhos para meus ombros. Afastei-a um pouco e vi seus olhinhos brilharem molhados.

— Oque houve? – perguntei.

— É que eu nunca tive ninguém que me tratasse bem... Nem ao menos meus pais... É que... Há você os conhece, nem preciso dizer nada, né? Vocês são as primeiras pessoas que me deram uma oportunidade, vocês são tão boas comigo que eu gostaria mesmo de ser sua irmã... De ser filha da Evelyn. – ouvindo aquilo fiquei tão emocionada que uma lágrima fugiu de meus olhos então antes que outras continuassem a fuga e contasse logo que Teolinda havia permitido que ela ficasse aqui, decidi trocar de assunto.

— Que tal a gente parar de chorar “atoa” e ir chorar vendo um filme, hein?!

— Ah, que legal! Sim, sim vamos. Eu posso escolher??? – ela disse interrompendo o choro repentinamente e enxugando o rosto com as costas das mãos.

— Sim. Qual você quer ver? Escolhe rapidinho que eu coloco pra baixar aqui... – disse pegando sem levantar do sofá, o notebook que estava próximo a nós, fechado sobre a mesa no centro da sala.

— Ain!... Eu ouvi umas meninas falando no colégio sobre um filme...  Acho que se chama “Meu primeiro Amor”... Pelo que ouvi elas dizerem a história era muito linda e emocionante!

— Há! E se eu te disser que eu já tenho esse no note?! Eu já assisti trilhões de vezes e sempre choro... Senta aqui, vou por o notebook na mesa aí a gente vê aqui mesmo como se fosse na TV.

Como uma colega doidinha lá do colégio a Mari diria, “choramos feito duas vacas velhas...”. Num sei se vaca chora, mas que a expressão é engraçada é.  O fato é que depois de toda aquela choradeira por causa do filme esqueci tudo o que eu já havia planejado para arrancar a verdade e descobrir como meu pai havia ido parar nos braços daquele manequim ambulante.


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