Desligamento escrita por Lena Rico, Ana Valentina


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindas(os) de volta :D
Boa leitura a todas(0s).
Beijinhos
♥ Lena Rico e Ana Valentino ♥



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— Chegamos – disse Gabriel

— Nossa! Você mora longe heein pai?! – não pude deixar de reclamar um pouquinho – seria muito mais difícil chegar á cidade.

Estávamos bem afastados de tudo, era um bairro pacato, com muitas árvores, campos, muito verde, estávamos bem onde Judas perdeu as botas, como se estivéssemos bem longe de Jales, era o JACB, na parte mais afastada da cidade. Com tantos lugares na cidade como ele acabou se mudando para cá???? Meu plano de escape se tornou mais difícil, era muitos quilômetros para percorrer até em casa, e de muleta, aposto que gastaria o dia inteiro e a noite, se duvidar.

Descemos do carro, a casa era muito bonita por fora, tinha portão largo branco, pintada de um tom violeta vivo, por um momento me deu vontade de entrar e conhecer todos os cômodos, mas não, eu não queria encontrar aquela pessoa lá.

— Jac, precisamos sair daqui – disse baixinho, segurando o braço dela.

— Você tá louca? Estamos muito longe da cidade, como vamos fazer pra ir embora? Com você desse jeito? – disse dando uma olhadela na minha muleta.

— Podemos caminhar, eu consigo – disse mais para mim do que para ela.

— Definitivamente não Julie, você não pode fugir de todas as coisas que não gosta. A vida não é assim, você precisa ficar e enfrentar tudo de cara, lembre-se que eu estou aqui com você, confie em mim – disse, e por um momento não pude discutir com ela, Jac tinha toda a razão, talvez estivesse sendo infantil, não precisava olhar para a cara da fulaninha.

— Vamos entrar meninas – Gabriel calou a nossa conversa particular

Jac segurou a minha mão, ela sabia como eu me sentia em relação a isso, e estava comigo, me apoiava, eu poderia contar com ela sempre que necessário, me deu um aperto no coração quando constatei, ela era minha melhor amiga, nunca havia achado alguém que se importasse tanto comigo quanto ela, a não ser o Ál…

— É um prazer recebê-las em casa, Julie, Jaqueline, sintam-se em casa – disse enquanto entrávamos na sala.

Era uma sala muito bonita, com um jogo de sofá de couro preto, tapete felpudo entre eles, na parede ao lado da porta havia uma estante baixa e uma TV grande em cima, uma TV imensa por sinal, devia ter umas quarenta e duas polegadas, na parede de frente para a porta havia alguns puffs, vários retratos na parede decorava o lugar, entre elas algumas de quando eu era criança, uma quando ele me ensinou a andar de bicicleta, devia ter uns seis anos, na minha formatura do pré, quando fomos no parque aquático, as outras eram dele e dos meus avós. Depois de analisar o local, não pensei duas vezes, me afundei no sofá e coloquei a muleta do chão, Jac veio sentar ao meu lado.

— Tudo bem então, acho que depois vocês conhecem o resto da casa – disse, pegando o controle remoto e jogando para nós.

— Obrigada pai, mas acho que aqui tá bom para esperarmos a mamãe – disse, deixando bem clara as minhas intenções.

— Você podia tentar ser mais gentil né – Jac me cutucou.

Mas ele não estava mais lá para escutar, pegou o corredor que ficava ao lado dos puffs e saiu para os fundos, fiquei imaginando aonde ele iria, mas decidi que não importava, estava contando as horas para sair daquele lugar.

— E ai amor, como ela está? – disse uma voz feminina, vindo de algum lugar na casa, foi o suficiente para meu coração disparar, havia mesmo a “talzinha” naquela casa.

Não pude escutar mais nada, já que nesta mesma hora Jac ligou a televisão e o barulho abafou todas as vozes da casa, estava muito nervosa para prestar atenção em qualquer coisa da televisão, então apenas encarei-a, fingindo prestar atenção, enquanto minha cabeça dava voltas e voltas.

— Meninas! Quero apresentar uma pessoa, esta é a Margareth – disse com tanta empolgação na voz que me recusei olhar para onde eles estavam. Percebi quando Jac levantou do sofá e caminhou em direção a eles.

— Oi Margareth, eu sou a Jaqueline, mas pode me chamar de Jac – disse minha amiga, e precisei respirar duas vezes para lembrar que ela só queria ser gentil, era não era falsa e cobra como Laura, que costumava fazer as coisas para me irritar.

— Julie, vai dar um oi para a mulher – Jac disse baixinho, já se ajeitando ao meu lado.

— Não amor, tá tudo bem – aquele sotaquezinho me irritava.

— Não, não está tudo bem – disse meu pai, com voz grossa e zangada.

Em um minuto ele estava na minha frente, segurou meus braços e me puxou do sofá, a pressão de seus dedos em meus pulsos me machucou e quando ele tirou as mãos, pude ver que estava vermelhão, mas logo ele estava segurando o meu braço e me puxando em direção àquela figura.

— Julie, você não é mais criança, você precisa entender de uma vez por todas que a Margo agora faz parte da família e você tem que aceitar isso. – disse parando de repente e levantando minha cabeça já que eu me recusava a olhar para a maldita.

—- VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO PAAI – gritei tentando tirar sua mão de meu rosto, tentando me desvencilhar e correr, mas ele me segurava fortemente, e logo meus olhos encontraram aquela figura.

A mulher que meus olhos encontraram era muito diferente do que imaginei, era alta, loira, com cabelos longos e levemente ondulados, pele creme, meio rosada, olhos castanhos esverdeados que me encaravam preocupados, rosto perfeito, não era magra e nem gorda, suas medidas eram todas proporcionais, parecia uma modelo de tão bonita que era, ou uma daquelas atrizes da globo.

Por um momento fiquei ali congelada, apenas contemplando tamanha beleza, ela também estava parada, só que logo percebi o rubor da sua pele, e imediatamente percebi que ela estava com vergonha, vergonha de mim??? Porque a sirigaita que roubou meu pai teria vergonha????? Porque não teve vergonha ANTES???

Milhões de perguntas inundavam minha cabeça, e nenhuma delas eram gentis, ainda sentia os dedos de meu pai cravados em meu braço e em meu rosto, e me perguntava por que ele fazia tanta questão que eu me relacionasse com ela.

Mas apesar de toda aquela cena, havia uma coisa que me incomodava muito, a ponto de fazer meu coração doer em cada batida, algo que eu precisava confirmar, que era terrivelmente pior do que ver meu velho pai feliz com uma mulher bonita, ver meu pai seguindo sua vida longe de minha mãe e eu. Não poderia aguentar mais um segundo nesse suspense, algo precisava ser feito.

Em uma manobra, totalmente desconhecida por meu corpo, que geralmente era frágil e desajeitado, me livrei de meu pai, deixando-o com cara de bobo, e corri para ela, não que eu estivesse muito longe, uns dois passos no máximo, logo minhas mãos estavam em seus ombros, apertando-os, minha respiração estava acelerada, meu coração estava batendo mais do que o permitido, e meus olhos estavam mais abertos do que nunca, ardendo, a ponto de trasbordar de lágrimas, minha garganta estava apertada, parecia que havia vários nós, mas minha determinação era muito mais forte do que qualquer coisa, minha determinação vinha de todo o amor que tinha pela minha mãe.

- Vo-cê é é a mã-e da Lau-ra ???? – forcei as palavras por entre os dentes, meus dedos estavam cravados na pele dela, meus olhos inflamados de uma surpresa raivosa. Como poderia??? Em um momento estava admirando aquela beleza, no outro, minhas memórias estavam gritando pra mim.

Laura só me levou uma vez, em sua casa, em uma tarde de domingo, tínhamos que fazer um trabalho de artes, para ser bem exata, era uma peça. E ela insistiu que deveríamos pedir uns conselhos para sua mãe, já que era uma atriz consagrada, bonita, inteligente e brilhante. Toda a cena veio invadir meu cérebro.

— Laura não precisamos incomodar sua mãe, podemos fazer sozinhas, é só mais um trabalho, não é nada sério – insisti.

— Tudo bem Julie, não vamos incomodá-la ela vai adorar ser nossa professora por um dia – disse antes de se virar para a escada que levava ao segundo andar e gritar – MÃAAAAAE... Precisamos de você aqui embaixo. – estava com vergonha, mas ela disse que tava tudo bem e ficamos esperando ela descer.

Não demorou muito até que aquela figura deslumbrante descesse as escadas e passasse a tarde toda tentando por coisas em nossas cabeças, eu me lembro bem de todos os detalhes, era foi dócil comigo, me convidou para jantar e depois me levou em casa. Como eu poderia imaginar que aquela carinha linda e delicada escondia uma cobra venenosa????

Voltei à realidade com os braços do meu pai envoltos em minha cintura, me arrastando para longe do rosto assustado de Margo, claro, agora era oficial, eu era mesmo insana, aquela criancinha maluca que brincava com um amigo imaginário, que tinha passado por poucas e boas, a mesma que cresceu, virou adolescente e não aceitou a separação dos pais, a mesma que teve ataques suicidas e que ainda a pouco tentou matar a madrasta. É claro que tudo que eu fiz passou bem longe de um homicídio, mas pelo modo como ele me arrastou da sala, me levando para o carro, era isso que ele achava, sim, se antes eu achava que minha vida era ruim o suficiente, agora acabou de ficar pior, tinha uma mãe que passava muito tempo trabalhando para me manter bem, tinha uma amiga que tentara me matar, muitas criaturas que passaram a vida me infernizando e agora, um pai que traiu nossa confiança com a mãe… a MÃE, daquela que considerava minha amiga, a mesma que tentou me matar.

Mas a pior parte, era saber que a única pessoa que poderia me acalmar não estava mais aqui, nunca mais estaria…… Ál, como sentia sua falta.


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