Desligamento escrita por Lena Rico, Ana Valentina


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindas(os) de volta!
Gostaríamos que você respondessem com sinceridade nossa pergunta:
"Vocês gostariam se fizéssemos uma trilogia de Desligamento?"
Deixem a respostas nos reviews, aguardaremos a opinião de todas(os) vocês.
Beijinhos
♥ Lena Rico e Ana Valentina ♥



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Uma garota ruiva de corpo esguio e pele sardenta, olhos azuis brilhantes de alegria e vivacidade entrou no quarto sorridente com o notebook nas mãos. Ela vestia um macaquinho rosa bebê estampado de moranguinhos, tinha no braço uma pulseira de tom azul pastel, feita de couro trançado com um coração e o fecho dourado e usava uma sapatilha da mesma cor da pulseira com biqueira metalizada.

— Oi, a senhorita está melhor? – disse a garota me entregando o notebook o qual ajeitei em meu colo e liguei.

— Sim, me sinto melhor. Foi mais um susto... E quantas vezes eu já disse que não precisa me tratar com todas essas reverências? Me chame de Julie. – disse carinhosamente olhando em seus olhos tal como se ela fosse minha irmã mais nova.

— Várias vezes... senho... Julie. Não a chamarei mais daquele jeito, prometo. – disse me mostrando as mãozinhas abertas para provar que não estava mentindo. Sorri com tamanha a meiguice e pureza de criança a qual Danita conservara mesmo vivendo em um ambiente tão hostil.

— Dani, você esta realmente gostando de ficar aqui?

— Sim, estou. Não há o que reclamar. – ela me respondeu sorrindo timidamente. — Precisa de mais alguma coisa? – perguntou atenciosa tal como uma boa empregada.

— Não, você pode ir assistir TV caso queira... Fique a vontade.

— Obrigada! – disse enquanto saia para sala indo ligar a TV e senta-se no sofá.

Danita tinha onze anos, mas havia se desenvolvido tanto desde que passara a “trabalhar” aqui que parecia ter treze. Antes de minha mãe lhe “oferecer o emprego de diarista”, ela vivia vagando pelas ruas, sujinha e faminta, com roupas curtas de mais para seu tamanho, magra demais e pouco desenvolvida para sua idade.

Ela costumava ficar na praça do jacaré onde tinha mais movimento na cidade durante o dia, às vezes pedia dinheiro para comprar comida, ás vezes só ficava sentada observando as outras pessoas passarem. Quase todos os moradores da cidade conheciam seus pais e sabiam que eram pessoas de má índole. O pai, um bêbado que sustentava o vício através do trabalho da esposa, uma mulher da vida.

No colégio, Danita não ia muito bem. Sempre com fome, ansiava pela hora do lanche dado pela rede pública, assim não conseguia concentrar-se nas aulas e tirava notas vermelhas. Estudava no Dom Arthur, um colégio bom, porém como todo colégio, tinha alunos de mau caráter que se aproximaram dela, já que as outras crianças se afastaram dela julgando-a precocemente.

Certo dia minha mãe estava voltando à noite da casa de uma amiga, quando se depara com Danita dormindo encolhida no chão, em frente a uma loja de brinquedos. Minha mãe se agachou e acordou-a delicadamente, trouxe-a para jantar em casa, tomar banho, deu algumas roupas de quando eu era mais nova e a deixou dormir no quarto de hóspedes, pois ela estava muito sonolenta para ir embora tarde da noite.

No dia seguinte, minha mãe levou-a pela manhã antes de entrar no trabalho, até a casa de seus pais. Minha mãe pediu a Danita que chamasse sua mãe e assim que esta apareceu com muito custo, reclamações e xingos, ela ofereceu uma proposta.

— Oi. – disse asperamente sem se identificar, olhando de mau-humor por ter de acordar tão cedo por causa da filha.

— Oi, sou Evelyn. Eu vim trazer sua filha que dormira em casa, pois a encontrei dormindo na rua a noite passada. – a mulher também ruiva, seios fartos, um pouco gorda, de aproximadamente vinte e cinco anos, olhou com desdém como se Evelyn tivesse feito apenas seu dever, mas Evelyn continuou. — Ela é uma bela menina e pode ter um belo futuro pela frente se receber bons cuidados e incentivo para os estudos, então gostaria de fazer-lhe uma proposta.

— Qual? – perguntou pouco interessada.

— Se você concordar, eu cuidarei de Danita. Darei a ela, o que ela precisar: comida, roupas, materiais escolares e boa educação. A levarei para minha casa, onde ela passará o dia em companhia de minha filha, Julie, até a hora de voltar para casa após o jantar.

 — Ela só vai voltar aqui para dormir? – perguntou a mãe da garota num tom incrédulo.

— Se a senhora aceitar... – disse Evelyn temendo a reação da outra.

— Sim, claro. Se cê tá dizendo que vai passar o dia todo com a garota, vai pagar as coisas pra ela e eu não vou precisar me preocupar com nada disso, claro que eu aceito! Há... Vai ser uma benção só ter essa garota na hora de dormir! – disse a mulher parecendo satisfeita em passar suas responsabilidades maternas à uma desconhecida.

— Muito obrigada, dona... Como você se chama mesmo, não fomos apresentadas.

— Teolinda, mas todos me chamam de Teo. – disse a mulher estendendo a mão para Evelyn, com uma expressão entusiasmada. — E eu que te agradeço! Foi muito bom fazer negócios com você... Há, vou avisar a garota que depois da aula ela pode ir direto pra sua casa. – disse indo para dentro da casa, deixando Evelyn perplexa com a maneira que ela se referia a própria filha, Teo voltou logo em seguida. — A garota é muito esperta. Ela vai estranhar eu manda-la pra sua casa sem alguma desculpa... Vou dizer a ela que eu arrumei um emprego de faxineira pra ela com você! Tudo bem?

— Tu... Tudo. – respondeu Evelyn surpresa sem saber oque dizer.

Algum tempo depois, Teolinda aparece novamente na porta, agora acompanhada de Danita, que estava vestida com as roupas que minha mãe havia lhe dado na noite passada para vestir após o banho e segurava uma bolsa ganhada pelo governo na mão.

— Evelyn, você poderia aproveitar que esta de carro e deixar a Danita no colégio? Assim você já vai explicando a ela no caminho a maneira que você gosta que limpe sua casa... – Teolinda dizia de tal forma, que parecia que ela própria acreditava na desculpa que havia inventado.

Danita entrou no carro e minha mãe foi respondendo suas dúvidas sobre os afazeres domésticos até deixa-la no colégio onde ela estudava e poder seguir em cima da hora para o trabalho.

Após sair do colégio nesse dia, minha mãe estava esperando Danita para leva-la pra nossa casa. Depois de muito pensar, minha mãe achou melhor fingir que ela estava ali para limpar a casa mesmo, do que contar a ela que a mãe praticamente havia lhe dado como um cãozinho. Então guardou a bolsa de Danita no quarto de hóspedes e indicou a vassoura para que ela pudesse começar o serviço.

Assim que cheguei do colégio aquele dia, minha mãe explicou-me rapidamente o que houve sem que Danita percebesse e voltou ao trabalho. Fiquei encarregada de convencer a menina ficar em casa assistindo filmes comigo assim que ela terminasse de varrer a casa e lavar a louça. O que não foi difícil já que ela estava um pouco cansada após acabar de fazer as tarefas. Mesmo com a diferença de idade entre a gente, achei divertido conversar com ela e logo minha mãe voltou do trabalho e anoiteceu sem que percebêssemos.

— Preciso ir embora, minha mãe... – disse ela um pouco indecisa, querendo ficar e achando que precisava ir.

— Minha mãe acabou de fazer o jantar. Come com a gente, depois a gente te leva em casa. – sugeri e ela assentiu.

E assim foram as primeiras semanas, até que aos poucos fui fazendo amizade com ela e repartindo os afazeres de casa, até que ela ficou apenas com as louças para lavar após as refeições e eu com o resto, tal como uma irmã mais velha deveria fazer. Eu e minha mãe a levamos para comprar roupas novas, novos materiais escolares, tudo ao gosto dela, mas dentro de nossas economias, é claro.

Depois disso, ela ficou alguns dias sem aparecer em casa, minha mãe foi falar com Teolinda para saber o que estava acontecendo e esta explicou da seguinte maneira:

— A garota não puxou pra mim! É muito certinha... Esta achando estranho ser tratada tão bem. Tô tentando fazer o possível pra ela voltar lá pra sua casa... Não tenho como trabalhar com essa menina aqui o dia todo! Ela nem quer mais me obecer quando a mando ficar lá na rua para que eu possa receber meus fregueses... Vive dizendo que a Evelyn não ia fazer isso ou fazer aquilo... Mas fica dizendo que não é correto ficar na sua casa, porque você não é a mãe dela. Há vá se... – eu interrompi antes que ela terminasse a frase imunda.

— Tudo bem. Não vamos obrigá-la ficar em minha casa se ela não quer. Mas diga a ela que estarei a disposição sempre que ela precisar. – anotou o número de celular num papel, estendeu a mão e disse. — Entregue pra ela se ela precisar de algo é só ligar.

Assim que houve meu acidente, minha mãe sem saber o que fazer, pensou em procurar alguém para que ficasse comigo enquanto ela estava trabalhando na loja, para me ajudar em tarefas simples e pudesse ligar pra avisar caso eu precisasse ir ao médico. Não tendo outros parentes que morassem aqui na cidade, meu pai estando separado dela e também trabalhando e eu me negando a ficar com a madrasta, resolveu procurar por Danita. Aliás, eram tarefas simples que ela poderia realizar apenas observar se eu precisava de algo ou ligar caso eu passasse mal.

Dani aceitou voltar para cá para ficar comigo o dia todo e só esta voltando pra casa à noite. Ela come tudo o que quer, compra tudo que precisa e está estudando adequadamente. Vamos ver o que vai acontecer assim que eu me recuperar... Espero que ela continue vindo aqui.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de responder nossa pergunta nos reviews ;)



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