Os contos de mil e uma noites salvam a jovem sultana da decapitação e tornam-na importante demais para morrer, tanto para o sultão, seu marido e algoz, quanto para a literatura. Perdura há mais de séculos o nome de Sherazade, evocando uma história de sobrevivência e amores maravilhosos que jamais será esquecida.
Cartas por si só tem a reputação de serem itens de ansiedade: trocas entre dois correspondentes distantes, esperas longas e angustiantes... Respostas que demoram demais e não aplacam as saudades... Se elas contivessem uma história que não termina, obrigariam o destinatário a esperar a próxima, desejando sempre mais... E se o remetente não precisasse de uma resposta imediata, quanto mais esperar, melhor. Terá mais chance de sucesso se assim for... Mandar 1001 cartas pareceu-lhe então uma boa ideia. Escrevê-las demandaria disciplina e dedicação, mas principalmente tempo e paciência. E qual é a melhor hora para começar uma tarefa dispendiosa, angustiante, sôfrega e praticamente impossível senão agora?
E se lhe contasse uma história de amor? Uma das boas? Bem, não pode ser conhecida, tem que ser original para que ela não tenha onde procurar além das cartas. Precisa ser intrigante, mas não fastigiosa. Nem curta, nem longa... Princesas são sempre legais, mas é clichê que fiquem com o Príncipe Encantado. Pior ainda se ficarem a história toda esperando por ele. Não. Precisa ser interessante e maluca o suficiente para prender a atenção... Pode ter vários núcleos que se encavalam, ou ainda terminam e começam outras... Sim.
Para escrever tal história, precisaria ser como Sherazade, a personagem que encapsulou as várias vozes do Oriente e seus contos maravilhosos. É lindo. Como um fantasma de vários séculos a narrar uma história infinita, seduzindo seus curiosos ouvintes. Seria bem legal... Contudo, 1001?! Só um louco toparia. Mas é assim que as pessoas normais se referem aos apaixonados...