Sentei-me com uma xícara de café perto da janela. Não fazia frio, mas estava chovendo. Eu tentei me manter isolada do mundo, em profundo silêncio, para refletir sobre o que escrever para expressar decentemente a razão de recomendar essa história. Eu poderia dizer que a razão é ter sentido cada palavra dela me atravessando, me consumindo, me desfazendo. Cada palavra me dando colo e ferindo ao mesmo tempo. Mostrando que todo o alento e toda a angústia podem coexistir. Eu poderia dizer que a razão é como ela me fez navegar em águas tranquilas, águas que abraçam, no meio da minha tempestade. Eu poderia até dizer que a razão é ela ser tão envolvente, poética e visceral, tão única, mas tão familiar. Mas eu não posso. Eu não sou capaz de dar razão à razão de eu desejar que todos conheçam a imensidão dessa história. Eu não estou apta a traduzir em uma pequena recomendação a força, a grandeza de Saudade. Em tão cotidiana forma, extraordinária. Sim, sim! É isso! Essa é a melhor e mais nobre das palavras para ela: Extraordinária num mundo de tantos cotidianos. Eu a amo e a amaldiçoo por roubar-me as palavras, por arrancar-me o fôlego, por tomar-me o coração tão imprevistamente. Se eu pudesse, recortaria suas frases e encantos e atiraria ao mundo como confetes para que todos se deleitassem com o macchiato, o café puro, os livros e Chopin. Eu lançaria seus parágrafos pelo céu como fogos de artifício para que todos pudessem finalmente compreender o que eu senti, o quanto eu senti, como eu senti. Desde o capítulo "Uma lágrima acolhida", o meu predileto, até o capítulo "Variações de uma Nota", o que mais me comoveu, me libertou, e até mesmo até o capítulo "Meus Fantasmas", o que mais me assustou, me encolheu. Pois aqui estou eu, mais de trezentas palavras depois... E ainda completamente ausente das palavras apropriadas.