Magic And Alchemy escrita por Amatsune


Capítulo 3
Capítulo 2 - M&A




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M&A

— Por favor. — chamou Arthur de forma cortês, a atendente que se aproximava. Era linda. Tinha a cintura fina e seios fartos. Os olhos cor de âmbar brilhavam intensamente, mesmo sob a luz artificial.

— Sim?

Ele apontou o item duvidoso no menu e olhou dentro dos olhos dela intrigado.

— Preciso ver sua identificação, senhor. — disse a garçonete, como se referisse a um adolescente pedindo uma bebida alcoólica. Arthur logo entendeu. Era um meio de prevenir que humanos descobrissem coisas que não deviam. Ele abriu a carteira e retirou um pequeno cartão dourado. As bordas de prata e o centro era de uma solução de ferro e ouro. Não haviam fotos ou digitais. Lá estava escrito:

Nome: Arthur Nightstalk

Classe: Mago                                                  Rank: Special

Registro Mágico: 920.339-12

Filiação: Brendan Bioexpec e Irene Nightstalk

Naturalidade: Londres

A mulher fitou-o chocada, um especial era algo incomum, ainda mais na cidade. O café fornecia informações para ambas as classes, e lidar com um Bruxo tão poderoso era problema. Ele certamente trabalhava para o Mundo Submerso. Ela sussurrou um feitiço de paralisação que surtiu efeito imediato sobre o garoto.

Ele não esperava ser atacado ali, por isso estava de guarda baixa. Será que a garçonete sabia que ele era um desertor, e o café era fachada para prender inimigos dos Submersos?

Arthur não deixou barato. Ele se concentrou num contra-feitiço mentalmente, e logo a moça foi obrigada a se sentar a sua frente. Ela o encarou temerosa. Ele retribuiu com um olhar assustador.

Quando conseguiu se livrar da paralisia ele a obrigou a mostrar a licença a ele. A dela era mais antiga, e também mais arranhada. Ao invés de dourado e prata, era totalmente prata com as bordas vermelhas, o que indicava que ela era nascida — ou ao menos fora criada e registrada — nas terras dos alquimistas, o Mundo Subterrâneo.

Nome: Claire Soultester

Classe: Maga                                                   Rank: B

Registro Mágico: 405.287-59

Filiação: Victor Daves e Blair Soultester

Naturalidade: Leeran

— Mãe maga?

Ela assentiu.

— Por que você me atacou?

— Achei que fosse um federal, um especial contratado. — Com essa resposta ele afrouxou um pouco as cordas invisíveis que a mantinham sob o controle dele. Mas não totalmente.

— Hum… — ele fez uma pequena pausa e então retomou a conversa que pretendia ter com ela antes — Quero saber onde consigo elementos alquímicos para fazer um golem. Preciso de grandes quantidades de ciêntrio.

— Mas… — ela ia começar a falar sobre ele ser um mago, e que magos não faziam alquimia. Só que ele era um especial. E ela não sabia nada sobre os especiais. — Me solte e venha comigo.

Ele desfez o feitiço e a seguiu para fora do café, deixando para trás os clientes abobados que esperavam ser atendidos.

Atrás da cafeteria eles desceram por um alçapão. Por alguns minutos eles seguiram um túnel no breu completo. Quando Arthur ameaçou acender uma chama nas mãos Claire lhe deu um tapa forte.

— O túnel é encantado. Trata-se de um labirinto. Só os funcionários e os clientes de confiança têm o mapa. Se você tentar qualquer feitiço ou transmutação aqui, ele suga sua magia até que você não consiga mais se mover. No caso de chamas químicas, o fogo é apagado com o isolamento das chamas. Sem oxigênio, sem fogo.

Ele ficou em silencio um instante pensando um como iluminar o túnel. Toda magia tinha uma maneira de ser dobrada, e ele certamente queria descobrir qual era.

— Você sabe o tipo de encantamento que usaram aqui? — Arthur perguntou.

— Não.

— Fácil então.

Ele sussurrou alguma coisa que nem mesmo ele conseguiu ouvir. Depois de alguns segundos ele fez um estalo com a língua. O som ecoou por toda a extensão do túnel. Quando voltou ao ouvido de Arthur ele sabia exatamente cada fissura na rocha, cada curva e cada pedregulho solto no chão que estivesse num raio de duzentos metros — podendo variar, já que o túnel não era um circulo aberto e o som seguia muito mais fundo que isso.

— Prontinho! — Sussurrou ele satisfeito.

— O que você fez? — Falou Claire num tom preocupado. O som chegou aos ouvidos de Arthur como um grito.

— Ecolocalização. Melhorei minha própria audição, similar a um morcego. Por sinal, fale mais baixo. Qualquer ruído chega no meu tímpano bastante amplificado.

— Ahn… — ela ficou realmente surpresa. Essa era uma das características dos especiais, sempre arranjavam um jeito de ir contra as leis originais dos feitiços. Exploravam cada brecha que encontravam, era a fonte do poder deles. Às vezes o potencial mágico de um especial era exatamente igual ao de um classe A ou B —em alguns casos, C —, mas os S conseguiam fazer render cada gota de seu poder de maneira muito melhor. — Qual feitiço?

— Sabe que eu não sei. Em geral, não uso palavras. E quando uso, elas simplesmente saem, não penso muito.

— Você é estranho, sabia disso?

— Aham. — Arthur concordou com um riso. Claire riu também.

Eles seguiram em silencio por mais uns quinhentos metros. Eventualmente Arthur estalava a língua para complementar seu mapa mental dos túneis.

Por fim eles chegaram a uma antecâmara iluminada por chamas mágicas. Essas deviam ter sido instaladas antes de lançarem o feitiço de proteção.

— Claire? — Ele chamou

— Sim?

— Aqui são as catacumbas?

— Não, mas o mapa original é baseado nelas, só que estamos pelo menos cem metros abaixo.

— Hum… — Ele concordou pensativo, tomando notas sobre aquilo.

Ela o conduziu até o fim da sala e pediu que ele cancelasse a audição ultrassônica. Assim que ele fez isso ela começou a recitar um feitiço, baixo o suficiente para que ele não ouvisse.

Assim que ela parou de sussurrar a ladainha, o solo estremeceu. Uma rocha abriu no meio revelando uma larga avenida subterrânea. Às margens da rua havia ramificações para os lados, o teto tinha uns vinte e cinco metros de altura e brilhava com uma intensidade até maior que o mundo acima de suas cabeças. Edifícios variados se erguiam. Casas e lojas iam se mostrando imponentes no subsolo parisiense.

Às ruas estavam pessoas de todas as raças e espécies, humanos, químicos e arcanos. Todos conviviam em paz, sem a influência da guerra, todos podiam coexistir.

— Bem vindo à sociedade secreta dos Magos e Alquimistas! — Falou Claire exuberante.

Arthur se pegou admirado, contemplando as ruas. Era do conhecimento de todos que havia lugares que os refugiados da guerra erguiam cidades e esconderijos, mas nunca lhe passara pela cabeça que seriam tão grandes, e que haveria humanos comuns também.

— Ali, virando à esquina, lá você deve encontrar qualquer material para alquimia que procurar. — Disse Claire apontando para uma rua larga, a uns cinco quarteirões da entrada.

— Obrigado!

Ele já ia se afastando. Passados uns dois segundos, Claire correu até ele.

— Me explica uma coisa?

— Diga.

— O que você pretende com os materiais? Quer dizer, você falou que ia fazer um golem, mas feiticeiros não são capazes de criar vida a partir do inanimado.

— Quem foi que disse que eu sou um feiticeiro? — Respondeu ele de maneira misteriosa.

Ela o encarou, sem saber ao certo o que dizer. Ele sorriu com a reação dela.

— Espero vê-la de novo Claire. — Ele disse, se encaminhando na direção que ela havia apontado.

— Eu também. — Respondeu ela baixinho, enquanto voltava aos túneis, e por eles, à cafeteria.

Ele desviava das pessoas e observava como as coisas eram tranquilas por ali. Sim, havia bastante gente, mas as coisas eram calmas. Bares e lojas chamavam a atenção do garoto enquanto ele descia a rua. Mais distante, havia uma enorme mansão, de uns cinco andares. Ela só cabia ali por que o terreno ia descendo, mas o teto não o acompanhava. Ao longe, deveriam ter uns cinquenta metros de altura.

Ele virou à esquina indicada e viu a loja que procurava.

O Alquiloja” um trocadilho verdadeiramente estúpido. A loja era grande e certamente teria o que ele procurava, então ele deu de ombros.

Arthur entrou na casa. As paredes estavam abarrotadas de produtos diversos. Vários corredores de prateleiras expunham os mais diversos produtos. Metais e pedras preciosas e semipreciosas brilhavam sob as fortes luzes do estabelecimento. Imãs de todos os tamanhos e gostos flutuavam dentro de um campo magnético. Mais ao fundo, frascos contendo líquidos e gases de todas as cores eram protegidos em um expositor de vidro.

Um senhor veio atendê-lo. Suas barbas longas e seu rosto esquálido lhe davam um ar de sábio. Devia beirar os duzentos e setenta anos — com os avanços da medicina humana, e com auxilio da magia, a longevidade tinha sido aumentada consideravelmente. Para mortais, chegavam aos cento e cinquenta. Já os arcanos e geneticistas chegavam facilmente aos trezentos, quatrocentos. —, mas seu rosto parecia um pouco mais velho que isso.

— O que procura?

— Ciêntrio, muito ciêntrio.

— Cada grama custa um dobrão. — Disse o atendente em tom alarmante.

O dobrão foi uma moeda usada no Brasil entre 1707 e 1750, mas era usado desde muito antes pelos Bruxos e Químicos. Como no Brasil havia muito mais Magos e Alquimistas que mortais, o rei preferiu adotar o dobrão como moeda oficial, mas o conselho do M&A (o conselho original, não a cidade secreta) aboliu a ideia, por expor a moeda mágica aos mortais, que deveriam viver sem conhecer esse mundo. O preço cobrado era alto, cada dobrão valia cerca de vinte mil euros, devido ao seu peso em ouro e sua raridade. Provavelmente esse preço se devia ao fato de ser uma loja secreta numa cidade escondida. Claro que aquela moeda valia muito para os humanos, mas para os magos era a moeda padrão. Havia três tipos de moedas: o dobrão de ouro o escudo de prata e o espadim de cobre. Cada tipo valia cem vezes mais que o metal inferior.

Quando seus pais eram vivos, trinta dobrões era uma mixaria. Eles tinham milhões de vezes mais ricos que aquilo. Sua mãe era a quinta Feiticeira mais rica do mundo mágico, enquanto seu pai era o segundo mais rico Cientista. Agora, no entanto, ele não tinha acesso a essa fortuna, e o soldo mensal era de vinte dobrões. Arthur já havia gastado um dobrão a toa no hotel. Ele pegou um bom troco, mas o dinheiro se transformou em euros, e euros não valiam nada no mundo mágico.

— Certo, quero quarenta gramas. — Sim, isso era muito ciêntrio, apesar de não parecer pela leveza. Caso o golem não desse certo, ou ele o desfizesse, o ciêntrio e o cristal voltariam para ele, então aquilo era ciêntrio de sobra para vários golens. Para o precioso imã se perder, é necessário que o golem seja destruído por magia, ou com fogo grego.

O vendedor digitou alguma coisa num pequeno painel que ficava na frente do campo magnético e um pó começou a se juntar formando uma esfera. O ciêntrio é mais fácil de controlar quando separado, pois não sofre tanta atração. Uma quantidade daquelas poderia erguer toneladas de ferro do chão. Aos poucos o agrupamento começou a exercer um forte magnetismo sobre os metais da loja. Quando tudo parecia prestes a voar, uma fina camada de anulum — outro elemento de conhecimento exclusivo dos alquimistas e magos. Tem a propriedade de impedir a vazão de cargas. Se algo exerce atração, repulsão ou qualquer reação, quando envolto por anulum fica neutro, como se nem existisse. Nem sequer libera ou absorve calor. Após a remoção do anulum, tudo volta a ser como era, dando continuidade às reações de onde elas pararam. — foi aplicada ao imã. Todos os objetos voltaram para seus devidos lugares nas prateleiras, fazendo um barulho imenso com o choque metal contra metal.

O velinho pegou o invólucro na ponta dos dedos, analisando lentamente se não havia nenhuma falha na proteção magnética. Depois jogou numa cesta próxima ao balcão, como se fosse uma bola de basquete.

— Mais alguma coisa? — Perguntou educadamente, voltando para o menino de olhos vermelhos.

— Eu preciso de gemas de todos os tipos, umas cinco. E um cristal, talvez diamante artificial. — Diamante fabricado. É bem mais barato que o natural e para fins alquímicos tem os mesmos efeitos. — Tamanho grande. — Se puder me vender um pouco de anulum também, seria bastante útil.

— Claro — respondeu o simpático senhor, correndo os dedos entre as caixas e prateleiras, recolhendo o que o menino pedia. Em menos de dez minutos ele tinha coletado tudo que lhe fora pedido.

Dirigiram-se até o balcão e o homem começou a calcular o preço final dos produtos.

— São quarenta e três dobrões, vinte escudos e um espadim.

— Algum desconto? — Perguntou esperançoso.

— Um espadim. — Respondeu brincalhão, causando risos nos dois.

— Tá bem. — Arthur começou a pegar o dinheiro, quando o lojista o repreendeu.

— Documentação, preciso ver sua documentação.

— Mas eu já estou aqui, para quê?

— São regras, nunca vender sem apresentação de documento mágico.

Arthur concordou e lhe entregou a carteira de mago. O homem olhou por um tempo. Fez uma careta e lhe devolveu o cartão. Negou com a cabeça e apontou para o menino e depois para a saída.

— Sinto muito, meu jovem. Não posso vender esse tipo de material para você.


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