The Mirror escrita por Koneko-chan


Capítulo 3
Suicídio.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é ótimo, revela quem a Toshi-chan realmente é e... Bem, deixa quem lê ainda mais curioso para saber o que vai acontecer.



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Ikebukuro é o tipo de cidade onde tudo e todos se encontram à noite. Mesmo se você sair sozinho, acaba voltando acompanhado ou por alguém que conhece, ou por alguém que conheceu.

No caso de Miyazaki Toshiyuka e Orihara Izaya, seria a segunda observação. Entretanto, não é aos dois que me refiro fazendo essa alusão, mas sim ao fato de que, enquanto conversavam e passeavam pela cidade, outra pessoa caminhava usando um vestido preto justo. Alguém que havia sido procurada em bate-papos na internet e agora recebia torpedos de outra pessoa – não que tivesse a intenção de responder.

From: Celty Sturluson.

For: Sonohara Anri.

Subject: -

Message: Anri-chan, onde você está?

Sonohara Anri suspirou longamente, pensando se respondia ou não a mensagem. Parou e colocou a mão num poste de iluminação, sem avançar mais caminhando. Logo, sentiu o celular vibrar novamente.

From: Celty Sturluson.

For: Sonohara Anri.

Subject: -

Message: Estou preocupada com você. Desde ontem está agindo estranho nas conversas que temos.

Ela mordeu o lábio e ajeitou os óculos no rosto. Apertou o celular nos dedos, pensando numa resposta. Mentir e dizer que estava tudo bem enquanto estava preocupada? Ou contar a verdade? Ela sabia que podia confiar em Celty, mas até que ponto teria coragem de envolvê-la em algo em que não tinha nada a ver?

From: Celty Sturluson.

For: Sonohara Anri.

Subject: -

Message: Por que não me responde? Quem sabe eu possa ajudar.

REPLY

From: Sonohara Anri.

For: Celty Sturluson.

Subject: …

Message: Está tudo bem, não se preocupe, Celty-san. Não é algo que você possa ajudar.

Ela parou de digitar nesse ponto, olhando e relendo a mensagem. Então apagou a última frase antes de clicar em enviar. Falar desse jeito provavelmente mostraria a Celty que havia realmente algo de errado, e não era essa a intenção de Anri.

From: Sonohara Anri.

For: Celty Sturluson.

Subject: ...

Message: Está tudo bem, não se preocupe, Celty-san.

SEND

O celular foi guardado em seu bolso e a garota passou uma mecha de seu cabelo escuro curto para trás da orelha, olhando para o céu. Havia horas que estava caminhando sem rumo pelo centro da cidade. Já passara duas vezes pela frente do prédio de Miyazaki Toshiyuka, mas não se atrevera a chegar perto demais. Sabia que teria que enfrentá-la mais cedo ou mais tarde, mas tinha medo. Não era comum uma pessoa ser como ela. Realmente, não era normal uma pessoa conseguir manipular as outras tão facilmente e ela conhecia Toshiyuka desde a última vez em que ela estivera em Ikebukuro, foi quando seu colega de sala, Inoue Eiko, se suicidou. Ele se suicidou graças a...

Anri balançou a cabeça. Droga, não queria pensar sobre isso. Quando chegasse a hora de enfrentar Miyazaki Toshiyuka ela provavelmente o faria, como fizera várias outras vezes.

Entretanto, em nenhuma das outras vezes, ela conseguiu cumprir a promessa de acabar com ela.

– Hey! Anri-chan! – ela ouviu uma voz familiar vinda do outro lado da rua.

Quando levantou o olhar, seu coração parou. Não, não podia ser. Orihara Izaya sorria animadamente enquanto acenava de modo exagerado para ela. E ao seu lado estava ela. Ninguém menos que Miyazaki Toshiyuka. Isso não podia ficar pior.

Por que os dois estão juntos?, pensouAnri. Isso não está certo. As coisas estão indo mais rápido do que imaginei.

– Anri-chaan! – continuou chamando Izaya. – Não tente fugir, eu sei que você me ouviu.

As pessoas na rua começavam a olhar para Anri, como se pedindo para ela atravessar logo a rua e acalmar aquele idiota antes que alguém chamasse a polícia. Ela, entretanto, achava que chamar alguém do hospício era melhor. Ainda sim, olhou para o lado e esperou um carro passar, atravessando a rua e parando bem em frente a eles com o rosto inexpressivo.

Miyazaki Toshiyuka, entretanto, olhava Izaya com um rabo de olho e um ar seriamente desconfiado. Será que ele sabia o envolvimento dela com Sonohara Anri? Era pouco provável, não era algo conhecido graças a seus cuidados minuciosos. A conversa estivera indo bem até ele avistar Anri do outro lado da rua. Isso estava soando estranho.

Izaya, no entanto, avaliando as expressões de ambas, viu que conseguiu o que queria. Elas se conheciam, isso era evidente. Agora ele só tinha que saber qual era o envolvimento das duas. Começou com seu teatrinho, não conseguindo deixar de soltar um sorriso malicioso.

– Toshi-chan, esta é Sonohara Anri-chan, uma velha conhecida. Anri-chan, esta é Miyazaki Toshiyuka, eu a conheci por estes dias, mas imagino que o sobrenome lhe soe familiar.

– Praz... – começou a dizer Toshiyuka, mas foi interrompida por um comentário inesperado da garota.

– Já nos conhecemos – admitiu seriamente, mas num tom hesitante.

Izaya fingiu espanto.

– Oh, é mesmo? De onde?

Dessa vez, Anri fez questão de olhar sugestivamente para Toshyuka, a fim de incitá-la a responder. Notando, Izaya olha para ela também.

Toshiyuka, entretanto, limita-se por um momento a lançar um olhar de censura a Anri. Então, ela toma uma decisão e sorri maliciosamente, mudando sua expressão perceptivelmente.

– É uma longa história, Izzy-chan – diz, embora ainda esteja olhando para Anri.

A garota percebe o olhar de Toshiyuka e fica na defensiva, tentando prever o que ela fará em seguida.

– Sabe, eu posso te contar mais tarde se quiser – ela olha para Izaya e se dependura em seu braço de modo infantil. – Antes, quero te mostrar um lugar.

Izaya ergue uma sobrancelha e posta em sua face um sorriso curioso e excêntrico. Revira os olhos por um instante.

– Ok, Toshi-chan, mas duvido que eu desconheça qualquer lugar nessa cidade.

– Sei que provavelmente o conhece. Ainda sim, quero levá-lo lá, será mais fácil o entendimento – ela se vira para Sonohara. – Anri-chan, gostaria de te ver amanhã, tudo bem? Para discutirmos algumas coisas.

Anri parece querer objetar, mas fecha a boca e apenas assente. Quando Miyazaki começou a puxar Orihara pela calçada, um relincho de cavalo ecoou pela avenida e ao lado do trio, chega derrapando uma moto preta com um, ou melhor, uma ocupante que usava seu capacete amarelo com orelhas de gato.

Sonohara Anri não pareceu surpresa, mas Izaya ergueu uma sobrancelha.

– Ora, ora, ora, Celty, o que está fazendo aqui?

A motoqueira olhou de Izaya para Miyazaki Toshiyuka e em seguida para Anri. Puxou seu celular do bolso e começou a digitar.

Eu é que pergunto. Você dispensa apresentações?

– Ahh, perdoe-me – ele sorriu maliciosamente. – Celty-san, esta é Miyazaki Toshiyuka.

A Dullahan pareceu levemente surpresa. Toshiyuka a olhou de cima abaixo e sorriu.

– É um prazer conhecê-la... Motoqueira Sem-Cabeça.

A outra ia digitar algo no celular, mas resolveu deixar a observação sem resposta. Virou-se para Anri e digitou:

Anri-chan, finalmente a encontrei. Posso perguntar como está supostamente tudo bem se você está com Orihara Izaya-san?

Anri suspirou. Izaya se esticou para ler a tela e fez-se de ofendido.

– Ohh, assim você me magoa!

– Eu os encontrei por acaso – disse a garota.

– Hmm. Izzy-chan, acho que as duas querem conversar. Vamos indo? Tenho um lugar para te mostrar, se esqueceu?

– Claro, Toshi-chan! Sei que você conta os minutos para ficar a sós comigo.

– Em seus sonhos, querido – disse ela com ironia.

Eles se despediram de Anri e Celty e começaram a andar. Izaya, com um sorriso no rosto. Como sempre, as coisas caminhavam na direção que ele esperava. Isso, pelo menos, na opinião dele. Mal sabia o que lhe aguardava.

– Celty-san – dizia Anri pouco depois que foram deixadas a sós. – Posso lhe pedir uma coisa?

Claro.

– Eu fico feliz que você se preocupe comigo. De verdade – prosseguiu baixando o olhar. – Mas, por favor, não aja como se eu fosse sua responsabilidade. Você não é minha mãe.

Celty apenas observou Anri enquanto a garota se distanciava, então se levantou da moto e tocou seu ombro antes que estivesse longe demais. Voltou sua atenção para o celular quando ela se virou e digitou.

Mikado também está preocupado.

Anri suspirou tristemente ao ler.

***

Orihara Izaya começou a ficar sério durante a conversa depois de alguns minutos. Ele reparava o caminho para o qual Miyazaki Toshiyuka o levava, e esperava que seu palpite não estivesse certo. Entretanto, ela ficava mais animada a cada minuto que eles levavam para chegar ao prédio. Quando ela passou pela porta, dirigindo-se ao elevador, ele baixou o olhar, parou e sorriu levemente, enfiando as mãos nos bolsos.

– O que pretende fazer neste prédio específico, Toshi-chan? – lançou.

Ela sorriu encantadoramente e abriu a porta do elevador.

– Vai ver. Entre.

Ele a encarou e riu ironicamente, entrando no elevador. Ela o seguiu, cantarolando.

– Não pretende me matar, não é mesmo? – Izaya perguntou quando ela apertou o botão do último andar.

– Não. Ainda – Toshiyuka lhe lançou um olhar penetrante.

Ele apenas soltou uma risada cética.

O ar no último andar estava fresco e frio, as estrelas brilhavam lindamente e a brisa corria uivando por entre os prédios naquele ponto alto de Ikebukuro. Miyazaki sentiu um arrepio e se abraçou, praguejando por ter esquecido o casaco, mas sem alterar bravamente seu humor. Ela desceu as escadas como um coelho pulando os degraus e chegou à beirada do prédio do lado direito, dependurando-se na grade e olhando para baixo enquanto sentia Izaya aproximar-se por trás.

Ambos ficaram olhando por longos minutos para a mancha de sangue seco esparramada lá em baixo, enquanto pensavam longamente.

– Fiquei sabendo – disse Miyazaki Toshiyuka. – Que você quase fez com que uma garota pulasse daqui uma vez. Na verdade, que ela pulou, mas que a Dullahan a salvou.

– Suas fontes são bem informadas – admitiu Izaya. – Conseguiu descobrir tudo sobre mim sem fazer uma pergunta.

Ela riu.

– Não foi fácil. Kin-chan quase me matou graças ao trabalho que você deu, mas consegui reunir informações suficientes em tempo recorde. Não sei tudo sobre você.

– Não? O que você não sabe?

– Qual sua cor favorita?

– Por que isso é relevante?

Toshiyuka sorriu.

– Sabe, é bem inconveniente quando uma pessoa conhece a outra e, mesmo sabendo milhares de coisas sobre ela, não faz a mínima ideia de qual seja sua cor preferida.

– Verdade... Bem, minha cor preferida é o preto. E a sua?

– Vermelho. É o que você mais vai ver no meu armário – ela indicou o próprio suéter, desviou o olhar para o térreo novamente e soltou um sorriso indescritível em meio a uma lembrança curiosa. – E também é a cor do sangue lá embaixo.

Orihara Izaya mostrou-se levemente intrigado, mas não queria perguntar diretamente o que ela sabia sobre aquela mancha. Tinha medo de descobrir, já que ele próprio pouco sabia. Há muitos segredos quando o que aconteceu foi um suicídio.

– Sabe – disse Miyazaki a Izaya. – Eu que sou a culpada por aquele sangue estar lá.

Ele arregalou as sobrancelhas e sorriu maliciosamente.

– Agora estou ficando com medo, não vai me matar mesmo?

Ela o ignorou.

– Foi assim também que eu conheci a Anri-chan – comentou.

Izaya parou de sorrir e aprumou os ouvidos, interessado.

– Como aconteceu?

– Eu já estive em Ikebukuro, vários anos atrás. Nessa época, conheci a Anri-chan e um colega dela, Inoue Eiko. Claro, sei que Anri não é amiga de ninguém realmente, aquela parasita. Ela reclama de mim, mas não é diferente – ela baixou levemente a voz, pensativa. Seus olhos fora de foco por ela estar perdida nos próprios pensamentos. – Ainda mais com a Saika.

Então, pensou Izaya. Toshi-chan sabe da Saika. Por que estou surpreso? Ele riu internamente.

– Anri e eu acabamos formando logo uma ligação – ela olhou para ele. – Porque eu sou a única pessoa que ela conhece que é imune ao que ela pode fazer com a Saika. Perto de mim aquela kataná é apenas mais uma faca de cozinha, morta, inútil e afiada... Bem, não é esse o ponto. O negócio é que o Eiko-chan também ficou por perto. Ele criou uma espécie de paixão platônica por mim e não desgrudava do meu pé.

– De fato, não é difícil alguém se encantar com você. É preciso muita sagacidade para escapar dos seus pequenos truques.

Ela fechou os olhos e baixou o rosto com um sorriso, depois de alguns segundos erguendo-o novamente.

– Sagacidade essa que você tem, Izzy-chan?

Ele sorriu maliciosamente.

– Não.

Izaya tirou o casaco e entregou-o a Toshiyuka. Sem dizer nada, ela o pegou e o vestiu, sentindo-se bem melhor já que o agasalho já estava aquecido. Ela notou meio a contragosto que a veste tinha um perfume atraente. Sorriu marotamente e voltou a se debruçar para olhar de longe a mancha de sangue.

– Por fim, numa determinada noite, quando ficou sabendo que eu ia voltar para Tóquio, Eiko-chan me chamou para vir aqui em cima. Ele disse aquelas coisas que vivia dizendo, sobre como me amava, e etc., etc. Eu disse a ele, pela milésima vez, que não era recíproco, mas ele não queria aceitar. Disse que se eu fosse embora mesmo, ele ia pular daqui.

– E o que você fez?

Depois de alguns segundos, ela olhou para Izaya. Seu rosto sem expressão, como se ele acabasse de cantá-la perguntando sobre o tempo.

– Eu disse que eu não iria junto com ele.

– E então, ele pulou.

– Isso.

– Seu coração é feito de pedra, Toshi-chan.

– Eu sei.

Ficaram se encarando por alguns longos segundos. Toshiyuka já não pensava mais no assunto da conversa, embora sua expressão estivesse inalterada, e agora estava observando, quase soltando um sorriso malicioso, como Izaya ficava sem o casaco. Ele, ao contrário, não pôde deixar de notar o quão atrativo o rosto dela ficava mesmo que não estivesse contando com emoção alguma. E Toshiyuka ficava muito bem com seu próprio casaco, ele pensou.

Nenhum dos dois, entretanto, revelou seus pensamentos, pois fazer isso seria erguer a bandeira branca. Ikebukuro e as pessoas que viviam lá “pertenciam” a Izaya, e caso ele cedesse, Toshiyuka o dominaria e acabaria tomando conta de seus próprios joguinhos. Ele jamais se deixaria levar com tanta facilidade. Miyazaki, no entanto, apesar de ter em vista aquilo que era o temor do oponente, via nele um potencial aliado, mas também sabia que não poderia tê-lo dessa forma. Não porque ele não aceitaria, também, mas principalmente, porque ela suspeitava querer mais do que isso.

E quando Miyazaki Toshiyuka queria alguma coisa, ela conseguia.


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