Ocultos escrita por mitsukichan


Capítulo 3
Capítulo 2 – Pormenores


Notas iniciais do capítulo

*Se arrastando como Samara de O chamado*
...
*Recebe cutucada do irmão mais novo*
—Ei! Se continuar sem postar o povo vai esquecer dessa budega sabia?
*levanta num pulo*
—NAO!! >.< PERDAO!! É...É...É culpa da universidade >.< SORRY!! Mas tá acabando o período! Prometo me dedicar mais u.u.



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- Hiro?!

- Como eu esperava, meu nome continua bem melhor dito por você do que qualquer outra pessoa. – Ele diz em tom galante.

- O que você faz num lugar assim? – Ana perguntando, desviando o olhar.

Ótimo! Dez anos depois e ele ainda a fazia corar como uma colegial. Deveria estar, no mínimo, aborrecida com ele. O mais constrangedor era o fato de que ela, Anastácia, adulta, independente e promissora Chaser, ainda guardava o bilhetinho daquela época. Agora ele era um papel velho com uma anotação lateral do significado de “hime” que Kira tinha conseguido para ela depois de muita insistência.

“Princesa”. Depois de anos sem vê-lo aquele título quase lhe caía ironicamente bem, segundo Maeve. A proprietária lhe dizia que ela era e não era uma princesa. Às vezes estava mais para príncipe com aquele jeito protetor, que ela insistia em esconder, e tudo aquilo de lutar contra “monstros”. No entanto, tal qual uma princesa tinha isolado a si e a seu lado mais frágil numa torre, a espera de um príncipe que talvez não voltasse mais.

Só que ele estava bem na sua frente, com um sorriso que mais provocava novas indagações do que respondia as anteriores. Falando em respostas, ela ainda não tinha ouvido a dele quanto a seu questionamento sobre o que ele fazia num bar tão... Singular, quanto aquele.

- Vim te procurar. – Ele disse simplesmente, fazendo o coração dela dar um mortal para trás.

- Não se considera um pouco atrasado, depois de quase dez anos, não?

Ela ironizou, tomando um longo gole da bebida. Precisaria de toda coragem, por mais falsa que fosse, que pudesse arranjar para não ceder. Nem ao impulso de jogar-se nos braços dele, nem ao de jogá-lo por cima do balcão e mandá-lo para toda a sorte de lugares que boas garotas não deveriam falar em público.

- Aconteceram algumas coisas... – Ele disse, dando de ombros. – Mas, ouch. Alguém esteve contando... E esteve contando bem brava, não? – Ele ri. – Nossa, imagino se você vai se deixar levar pela vontade de me bater que seu olhar está gritando para mim. Em especial depois que eu disser que vim aqui a trabalho.

- Eu não causaria baderna n’A Tumba. Poderia sair do meu salário, sabe? Além do mais, depois de tanto tempo, não imaginei mesmo que quisesse apenas me ver.

- Bem, então posso ir direto ao assunto, já que não vou ferir sua sensibilidade com isso. Como você, eu também faço um trabalho, digamos, um tanto alternativo. E meus chefes andam precisando de alguém com sua experiência com assombrações para um projeto. Gostaria de se juntar a nós? – Ele disse com um sorriso que seria quase cativante, se não fosse forçado.

- Como já deve ter sido informado, eu já tenho um emprego e pretendo continuar nele, se não se importa. – Ela disse, evitando olhar diretamente para Hiro.

- É assim que se fala, querida Annie. – Era Maeve quem interrompia, olhando ferozmente para o nipônico. – Se eu tivesse imaginado que era você, eu jamais teria deixado Anastácia sozinha a sua mercê. O que pretende com minha vendedora, McQuinn?

- Não tenho intenção de fazer qualquer mal a sua afilhada, Sra. MacCaughtney. Pode se acalmar. – Hiroshi falava calmamente e com familiaridade. – Além do mais, somos amigos de longa data, não há nada de mal em nos falarmos.

- Afilhada? Amigos? – Anastácia arqueou a sobrancelha. – Obviamente alguém está bem confuso quanto às relações aqui, mas não tem problema, visto que já estava de saída, não é, Hiroshi?

Maeve se remexeu desconfortavelmente, desviando o olhar e cerrando os punhos ao lado do corpo. Hiroshi não deixou passar essa leitura corporal e gargalhou. A dona do estabelecimento o fuzilou com os olhos, enquanto Anastácia apenas procurava entender o que se passava ali.

Mesmo não dando o braço a torcer a ponto de perguntar qualquer coisa, podia sentir coisas fora do lugar. O fato de que os dois divisores de águas da sua vida se conhecessem já era estranho o suficiente. Mas aquela comunicação de entrelinhas a deixava tensa.

- Realmente hilário... Esse mundo é tão pequeno, sabe? No entanto, cada singelo encontro pode trazer milhares de segredos e significados. Esses pormenores tornam a vida tão mais interessante. – O rapaz se levantava fazendo menção de ir embora. – Passar bem, senhoras. Como Anastácia, - Frisou bem o nome dela. – bem sugeriu, estou de saída.

- Não ouse trazer seu mundo baixo para perto de Anastácia! Ela não é alguém que vocês possam ter. – Maeve disse por entre os dentes, segurando o pulso dele. – Por favor...

Hiroshi, com gentileza, inesperada de aparentes inimigos, soltou os dedos dela de si. Depois levou a mão da ruiva aos lábios e lhe lançou um sorriso triste. A escocesa continha as lágrimas.

- O que foi acontecer com você, meu rapaz... – Ela murmurou. Recompondo-se ela sacudiu a cabeleira vermelha. – Não importa. Mesmo que seja você, eu não vou ceder. Fiquem longe dos meus estabelecimentos e, principalmente, longe dos meus funcionários.

                - Não posso fazer isso, sabe... De qualquer maneira, as coisas vão começar a esquentar... Eu sendo você, não a manteria no escuro por muito mais tempo. Só uma dica.

                Com um novo aceno de cabeça, Hiroshi se despediu. O final daquela conversa só tinha deixado Anastácia mais confusa e irritada. O que afinal se passava ali?

                Aturdida, Maeve fitava o caminho pelo qual o rapaz tinha desaparecido. A massa de pessoas se espremendo ao som da batida frenética, pela primeira vez em anos, a fez sentir-se meio doente. Ao menos era isso que tratava de se convencer ao se jogar pálida num dos bancos.

                - Mae, eu sinto forçar a barra, mas acredito que você possa me dar algumas respostas.

                A escocesa, sempre tão animada, exalou um longo e pesado suspiro. Se pudesse, manteria a jovem a sua frente na mais completa ignorância, no entanto, isso não mais seria viável. Como o rapaz bem tinha alertado, tempos turbulentos estavam por vir e seria injusto que ela deixasse Anastácia a mercê deles.

                - Annie... Vou te responder, mas antes preciso saber o quanto você realmente conhece sobre sua família.

                - Eu pensei que o acordo era “nada de passado”, Mae. – Anastácia, ficou na defensiva.

                - Eu sei. Eu também não queria tocar nesse assunto, mas é totalmente pertinente minha insistência, nesse caso. – Maeve se adianta e segura a mão da jovem. – Eu jamais quebraria um acordo com você se não fosse importante.

                - Hun... Certo. – A chaser ainda parecia incomodada. – Mas antes, vamos sair daqui. Esse local está muito cheio.

Maeve concordou. Ali não era mesmo o local para terem aquela conversa. A mais velha sugeriu que o fizessem em seu escritório, no primeiro andar da loja. Deixou instruções de que não queria ser incomodada com sua gerente, pedindo a mesma que tomasse conta de tudo por ali enquanto estivesse fora.

O escritório da escocesa era o local mais incomum dos dois estabelecimentos, talvez pelo fato de realmente parecer um escritório. A mesa era de carvalho pesado e sólido, do tipo que dura por gerações, com o menor cuidado que se tenha. Atrás desta, uma cadeira executiva de couro e, à frente, duas cadeiras para eventuais visitantes. Havia também uma estante de livros e um armário, onde ficavam os registros. O mais curioso era o fato de que Maeve, mesmo vestida, num rodado e colorido, vestido de algodão, não parecia nem um pouco deslocada num ambiente daqueles. Ali ela era Maeve MacCaughtney, a empresária de dois sólidos empreendimentos.

- Quem diria... – Anastácia acabou murmurando, ao sentar-se numa das cadeiras.

- Hun... É. Diferente do normal, ein? – Maeve comenta rindo um pouco.

- Sim.

O clima era pesado, apesar da tentativa de humor. Ambas tinham a impressão de que seria uma longa conversa.

- Então... – A MacCaughtney estimulou.

- Então... – Ana repetiu, apoiando as mãos abaixo do queixo, antes de começar. – Bem, acho que já devo ter comentado que eu tinha problemas com minha família. Não quero recair no conto da “pobre menina rica”, mas aquilo lá era um saco, por isso saí. Em resumo é isso.

- Só? É só isso que sabe? Ele... Seu pai não te contou nada? – A outra questionou, visivelmente ansiosa.

A maneira como ela falou a palavra pai pareceu acender algo em Anastácia. Se Maeve tivesse gesticulado aspas com as mãos ao dizê-la, ainda assim, não ficaria tão obvia a sugestão de que Ana era adotada, quanto ficara com aquele tom. Ela olhava para o nada e continuava sem dar qualquer ênfase maior em suas palavras.

- Bem... Aconteceram algumas coisas... Digo, eu descobri um podre ou outro antes de deixar lá, mas tudo bem. Fazia sentido. – Anastácia, que até então falava sem encontrar seus olhos com os da mentora, decidiu encará-la. – O que não está fazendo o menor sentido é parecer que você faz uma boa idéia do que rolou antes de eu me mandar daquele lugar.

A ruiva hesitou, procurando ganhar algum tempo ao fingir buscar algo nas gavetas. Estava mais do que claro que ela não poderia mais protelar aquele assunto. Mas isso não queria dizer que Maeve não tentaria. E Anastácia percebeu isso de pronto.

- Sabe... – Disse Ana, fechando uma das gavetas ao se postar do lado da irlandesa. – Essa enrolação não vai durar para sempre. – Apoiando o quadril na ponta esquerda da mesa, ela impedia a outra de continuar a brincar com as gavetas daquele lado.

- Hun... Você tem razão. – Maeve suspirou e passou a mão pelos fartos cabelos. – Bem, acho que devo começar dizendo que eu os conheci. Seus pais, os de verdade, digo.
                Aquela informação era um grande começo, considerando que Anastácia nada tinha dito sobre sua família quando começou a trabalhar para a ruiva. O silêncio que se abateu na sala foi intenso. As engrenagens de Anastácia quase podiam ser ouvidas, ecoando em frenesi de dentro da cabeça dela. Tentando processar essa informação, mas sem saber o que dizer, a jovem apenas assentiu. Maeve tomou isso como um indicativo para continuar.

- Primeiro foi sua mãe. Foi... De um jeito bem inusitado. – Ela deu um riso de canto de boca, trazido por alguma lembrança. – Ela era uma figura e tanto. Só por ser que ela era, ela acabou por ser chutada pra fora da tribo.

- Tribo?

- Ah, claro! – A ruiva bate na própria testa. – Como pude deixar de mencionar? Bem, sua mãe, Ana, era uma Oculta. – Ela tornou a rir quando viu o queixo da pupila cair. – Pois é... Surpreendente, não?

- Para dizer no mínimo... – Ana ainda conseguiu articular, com o rosto levemente pálido.

Maeve quis apertar a mão da jovem e dizer-lhe que tudo ficaria bem, mas a política entre as duas era de abafar e esconder. Mentir não. Esse era o motivo pelo qual ela não pôde fugir quando a garota lhe perguntou. Bem como a razão dela não poder dizer, tão facilmente, que tudo ficaria bem.

A criança sem informações dos pais dentro de Ana, por outro lado, bem que gostaria de ouvir alguma palavra que tranqüilizasse o bum-bum-bum frenético do se coração. Nem precisava ser verdade, sério, desde que aquela sensação, de que o ar da sala tinha resolvido sumir, passasse.

- Certo. Considerando que você tivesse palavras, acho que sua próxima pergunta poderia ser “o que ela era”, não? – Maeve se obrigou a continuar. – Ela era o que nós chamamos de Doppelganger...

- Doppel, o que?!

- Doppelganger, entidades que têm a capacidade de assumir a identidade e vida de outras pessoas. É tipo assim: eles se transformam na pessoa, pegam algumas imagens mentais e lembranças, matam o dito cujo e prontinho! Fulano deixa de ser fulano para ser um “doppelano”.  – Silêncio tenso na sala. – Ehr... Ok, o trocadilho foi horrível, mas você entendeu! – Ela joga as mãos para cima, em exaspero.

- Eu, realmente, vou ignorar a tentativa de humor bizarro e mórbido, e passemos adiante, sim? – Anastácia falou pausadamente, enquanto deixava o lado da ruiva para sentar-se na cadeira, a frente da mesma.

- Hun, certo. Desculpe. Continuando. – Ela disse em tom de criança que foi pega fazendo travessuras. – Sua mãe, pelo que me consta, sempre foi meio... Diferente. Entenda bem, para um doppel, que são por consenso criaturas que vivem do luxo alheio, ela querer algo só seu já era, por si só, algo extremamente incomum. Além disso, ela era total e enfaticamente contra matar o dono real da identidade. Ela só assumia uma aparência totalmente randômica, mas humana, e ficava entre nós, o que era o segundo ponto estranho nela, já que os que não tomam posse de identidades preferem viver em comunidades distantes dos humanos.

- Sei...

- E foi assim que a conheci. Tendo que mudar de identidade sempre que parecia demais com alguém, ou começavam muitas perguntas, simplesmente chegou o dia que ela era eu.

- Espera... Como? – Ana era a mais pura expressão da confusão.

- Ela ficou idêntica a mim. – Ela riu mais abertamente. – Imagine o choque que não foi quando olhei para frente para ver uma versão alternativa de mim.

Maeve agora falava com uma nota de carinho, que fazia com que sua expressão oscilasse entre sonhadora e divertida. Ela tinha as mãos cruzadas apoiando o queixo e não mais olhava diretamente para Ana, parecendo perdida nas memórias de um tempo distante demais.

 - Ela tinha vindo procurar emprego na boate do meu pai, na administração, claro. Dizia que queria ser aprendiz. Era muito engraçado aquele jeito sério dela. De certo modo, vocês se parecem bastante.  – Ela lançou um olhar breve para a jovem a sua frente e voltou a fitar o nada. – Meu pai a tinha deixado esperando no escritório, quando eu entrei para mostrar a ele um artigo que tinha encontrado para decoração do bar. Quando nos olhamos e ambas nos demos conta de que éramos fisicamente iguais, eu soltei uma bola de cristal decorativa no meu próprio pé, ao passo que ela tentou sair correndo, mas acabou prendendo o salto numa fenda do chão de madeira.  – A ruiva riu, parecendo bem mais jovem. – Com o susto ela acabou tropeçando e trocando para a forma real dela.

- E...?

- Ah! Eu me lembro de ter achado muito linda. – Maeve soltou um suspiro e um risinho. – Os doppelgangers que são trazidos nos livretos eram sempre meio feinhos, mas ela não. Mesmo a tonalidade da pele, meio acinzentada, não pareceu estranho. Ela parecia... Etérea.

Percebendo que divagava novamente, ela pigarreou e direcionou um sorriso de desculpas a Anastácia. A jovem, ouvindo tudo aquilo, parecia, a cada momento, mais entorpecida, ao ponto de mal notar a narrativa da irlandesa, a qual ela sempre reclamava de ser muito desleixada.

- Eu a ajudei a se levantar e fiz a pergunta crítica.

- Você... Você vai me matar?

A expressão que ela fez teria sido engraçada, se não estivéssemos num momento tão sério, juro. Ela tinha um quê de ultraje e surpresa tão palpáveis que era quase como se eu estivesse perguntando se ela acreditava numa baleia atravessando o céu em velocidade mach3.[B1]

- Não! – Ela falou com um tom firme e só com essa palavra eu relaxei.

Por algum motivo, parecia natural acreditar nela. Seguro. Mesmo com a fama de mentirosos que alguns ocultos têm, eu soube que podia confiar naquela oculta.

- E agora... O que acontece então?

- Acontece que vou sair correndo por aquela porta, antes que seu pai, pelo que entendi, volte com dezenas de perguntas sobre o porquê de eu parecer tanto com a filha dele.

Nessa hora eu me dei conta. Meu pai! Claro que ele tinha ouvido falar dos ocultos, ele quem tinha me ensinado tudo. Ele não faria perguntas, provavelmente. E aí residia o problema. Se o que eu sabia da raça da moça a minha frente era que eles não eram muito confiáveis (e eu tinha aprendido isso com ele), qual teria sido a reação do meu pai ao notar a aparência dela?

Como que respondendo a uma invocação, meu pai entrou no escritório. O olhar dele passou de mim para a jovem levemente luminosa no chão, ainda brigando com o sapato, e riu. Simplesmente aquela velha raposa riu! Bem na nossa frente.

                - Então já conheceu minha assistente, mini-Mae?

                - Ai, pai! Não me chama assim na frente dos outros. – Eu gemi, incomodado com o apelido. – E já conheci a... Você tem nome? – Eu virei para ela.

                - Alice Lich, segundo a identidade falsa. – Meu pai disse, ainda parecendo se divertir demais naquela situação.

                - Kashil Ny- ... Hun... Só Kashil, eu acho… - Ambos olhamos surpresos para ela – Digo... Já que me descobriram, senti que devia dizer meu nome real.

                - É élfico, menina? – Meu pai perguntou, livrando num puxão o sapato dela e ajudando-a a se levantar depois. Ela acenou que sim com a cabeça.

                - “Dádiva do destino”, hã?

                - Isso... – Ela confirmou novamente, parecendo cada vez mais surpresa e confusa.

                - Pai? – Eu falei atraindo a atenção dele. – Sem querer parecer rude, mas... Ela é o que penso que é?

                - Uma Doppel? Sim, algum problema?

                - Acho que... Não?

                - Olha... Não que eu me incomode, mas... Se vocês parecem ter ouvido falar da minha raça, então por que não estão... Vocês sabem... Tendo uma dessas reações humanas normais e bem exageradas?

                A risada do meu pai retumbou nas paredes do escritório. Ele foi até a porta e deu uma espiada do lado de fora, depois, com toda calma do mundo, sentou-se na cadeira atrás do birô.

                - Primeiro, menina, não somos exatamente “normais” sob diversos aspectos. Não é miniMae? – Me contorci novamente pelo apelido e porque meus colegas de classe bem concordariam que eu estava longe de ser normal. – Segundo, por que eu temeria um doppel atrapalhado o suficiente para sequer ter verificado a identidade do alvo e que foi direto de cabeça para um território cheio e com uma pessoa que claramente identificaria a diferença, além do mais adotando uma identidade falsa das mais mal-feitas?

                Seu orgulho racial deve ter se manifestado em alguma instância, já que ela pareceu um pouco amuada com meu pai apontando todos os defeitos da elaboração dela até então.

                - O rapaz disse que era das boas... E não era como se eu realmente quisesse ser alguém que já existia. – Ela resmungava.

                - Admito que fiquei confuso, mesmo assim. Seu povo não tem as melhores referências entre nós, sabe? Mas chegar aqui e encontrar você e Maeve naquela situação tragicômica me convenceu que meu instinto não tinha errado. Se fosse para você ser a vilã, menina, você teria pego a minha Mae.

                - Eu... Eu não quero viver assim... Eu gosto do seu povo, de suas coisas... Todo Doppel gosta... Só que... Eu queria que fosse algo meu mesmo, sem ser usurpado. Queria tanto que até... – Uma lágrima brilhante escorreu. – Eu até fui expulsa do grupo que eu andava e... – As lágrimas se multiplicavam. – E eu nem sei porque diabos to contando tudo isso a vocês, saco...

                - Destino. – Eu falei meio que sem pensar naquela hora. – Foi o destino que te trouxe aqui, Kashil.

                - Ora, ora... Minha MiniMae agora ficou ainda mais parecida com a querida mãe, que o Senhor a tenha. Mas é verdade... Ele trouxe você aqui, para nós. – Ele levantou-se, apoiando as mãos na mesa – Sabe? Sempre quis ter outra filha, mas minha doce esposa era frágil e só pôde me abençoar com uma. O que acha Alice Kashil? Que tal ficar um tempo conosco?”

                -Espera... Seu pai... Ele a adotou? Vocês foram irmãs?! – Anastácia levantou da cadeira, quase derrubando a mesma.

                - Sim. – Maeve respondeu, prevendo que algo não ia bem naquela reação.

                - Isso fazia de você minha tia, não?

                - É, pode-se dizer que sim.

                - E Hiroshi?

                - Que tem ele? – A ruiva perguntou, confusa.

                - O que ele disse sobre...

                - Eu ser sua madrinha? Eu acho que eventualmente chegaria nesse ponto da história... Sente-se e eu...

                - Não, não tem como sentar. Espera. – Ela parou, fitando o nada de cenho franzido. – Só me diz uma coisa: Se eu tinha parentes, por que diabos fui parar num orfanato para adoção?

                - Perdão? – Maeve pareceu realmente surpresa. – O que você quis dizer, Anastácia?

                - Isso mesmo que ouviu, titia. Eu fui jogada num orfanato por não ter mais pais nem qualquer parente que me quisesse. – Ela frisou bastante a última palavra.

                - Não pode ser, Annie. Acho que algo está errado nessa história.

                - Mesmo? Também inúmeras razões para achar o mesmo, só que duvido que sejam idênticas as suas. Então, diga-me, por que você acha que tem algo errado?

                A tempestade parecia está formada pelo tom altamente ácido e sarcástico da morena. No entanto, os olhos verdes de Maeve se estreitaram e ela disse com firmeza.

                - Simples, sobrinha. Porque fui eu mesma quem a deixou sob os cuidados de Louis Le Lieur, irmão de seu pai.

-x-x-x-

[B1]Velocidade supersônica, acima da barreira do som.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem *-*~ e deixem reviews mesmo se nao gostarem pra eu saber o pq ok?



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