Akuma Hunters escrita por Najayra


Capítulo 8
Capítulo 8 - Memórias do Trio Caos




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Todos dormiam em seus respectivos mundos. Shelley se deitara com Luka, Karin com Allyan e Vinny dormia em seu castelo, no submundo. A casa da família real era ampla demais, porém pouco povoada. Só moravam lá Vinny, os empregados e o Rei Demônio. Enquanto Allyan e Luka estavam no seu profundo sono, mal sabiam que os três irmãos se conectavam, involuntariamente, através de pesadelos, lembranças do passado, memórias da época em que viviam juntos.

 

[Flashback On] 

 

Ambos os irmãos eram pequenos. Crianças que brincavam pelos corredores do castelo. Um protegia o outro e se amavam profundamente. A mãe deles, a Rainha, estava recebendo a visita de sua irmã, Miriam. Ela tinha o poder de ver o futuro das pessoas, ou melhor, a personalidade delas no futuro. Em meio à conversa, a Rainha perguntou sobre seus filhos. Miriam falou um pouco sobre cada um.

 

— Vinny é autoritário. Gosta de mandar e ser obedecido. E castiga severamente quem não o fizer.

 

— Ai, meu filho. Com tanta coisa para você herdar de seu pai, você ficou logo com isso? – dizia a Rainha admirando o pequenino brincar com as irmãs. – E quanto à Shelley?

 

— Ela é bonita, gosta de sua aparência.

 

— Realmente, ela passa horas brincando na frente do espelho. – dizia a Rainha com um sorriso.

 

— Mas ela é problemática.

 

— Miriam!

 

— Falo sério. Ela é audaciosa e aventureira. Não gosta de receber ordens e faz sempre o que quer e quando bem entende. Normalmente, considera o errado como certo e está sempre se metendo em encrenca. Mas ela se dá bem em qualquer coisa que faça.

 

— Pelo menos, bem sucedida ela será.

 

— Aqueles olhos são o problema.

 

— Como?

 

— Ela guarda dentro de si um olhar mais do que assustador. Quando ela lançar esse olhar para alguém, essa criatura pode começar a contar os segundos que lhe restam.

 

— Que horrível, Miriam! Por favor, diga que a Karin tem salvação?

 

— Ela tem.

 

— Ahn?

 

Miriam se levantou e foi saindo de perto da Rainha.

 

— Miriam! Só isso?

 

— Você quer ouvir a verdade ou não?

 

— Ai, ok, fala. – disse a Rainha em voz baixa.

 

— Karin é a pior. Ela é frágil e sonha com a coroa. Tem uma forte ligação com seus irmãos, principalmente com Vinny. Mas por causa de certos erros que a mãe dela cometeu, ela irá pagar caro. – Miriam lançou um olhar assustador para a Rainha.

 

— Pare com isso. Não me torture ainda mais.

 

— Essa forte ligação que eles têm será quebrada. Essa quebra irá desestabilizar todo o equilíbrio. Ela é altamente perigosa quando quer.

 

— Por que tanta desgraça?!

 

— Já pesquisou sobre nossos antepassados? Eles não viveram felizes para sempre. Somos demônios e é assim que vivemos.

 

— Eu pensei que pelo menos eles pudessem fugir disso.

 

— Cada um deles representa um desequilíbrio entre as Instituições. Vinny é o desequilíbrio da Realeza, dentro dos limites deste castelo. Shelley é o desequilíbrio do Além-Mundo, os problemas aparecerão para os humanos. E Karin é o desequilíbrio do Submundo, ela trará medo e horror para os outros de nossa espécie.

 

— O Trio do Caos.

 

— Que nome é esse?! – reclamou Miriam.

 

— Foi só uma brincadeira. – disse a Rainha.

 

— Eu não consigo entender como nosso irmão escolheu você para esposa.

 

Ao longe, o Rei Demônio chamava Vinny para conversar.

 

— Sim, papai?

 

— Meu filho, logo você deverá escolher uma noiva para você.

 

— Uma noiva?

 

— Sim, você já tem alguma ideia?

 

— Hum... Que tal a Karin?

 

Seu pai fechou a cara e olhou para a pequena ruiva que se destacava entre os cabelos quase alvos de todos.

 

— Quando você for maior... Quem sabe. – e o Rei se retirou, deixando Vinny confuso.

 

Ouviu-se um choro e gritos de histeria. Era a pequenina Shelley que havia caído e se machucado. A Rainha e Vinny correram para ajudá-la.

 

— Mamãe, Shel-chan se machucou muito. – disse Karin.

 

— Shel, vai passar, calma. – tentava Vinny.

 

A loirinha apenas chorava e gritava. Sua mãe pegou seu rosto entre as mãos e sorriu gentilmente.

 

— Não chore. Fazer tudo isso não adianta, a dor não irá passar. – Shelley parou e olhou para os olhos calmos da mãe. – Se acalme, minha filha. Logo irá sarar.

 

Ela apenas assentiu com a cabeça e viu que a dor amenizara aos poucos.

 

— Viu? Não se sente melhor? – perguntou Vinny.

 

Shelley sorriu para o irmão e a pequena Karin e logo os abraçou, já estavam brincando novamente.

 

[Alguns (vários) anos depois]

 

Vinny já tinha seus 18 anos, Shelley 15 e Karin 12. Eles ouviram os gritos e o choro de sua mãe. Correram para o quarto dos pais, onde o Rei a maltratava, batia nela.

 

— Pai, o que o senhor está fazendo?! – Vinny perguntava desesperado.

 

— Solte-a! Pare com isso! – gritava Shelley.

 

— Não a machuque, pai! – disse Karin.

 

— Eu não sou seu pai! – ele gritou para Karin.

 

— Como assim? – Vinny se pronunciou confuso.

 

— Sua mãe se envolveu com o tio de vocês e dessa barbaridade nasceu você, Karin!

 

Karin caiu de joelhos sem reação. Shelley correu para ampará-la e abraçá-la. Vinny abaixou o rosto e ficou calado, pensativo.

 

— Ninguém nunca se perguntou o por quê do cabelo dela ser tão diferente dos nossos e igual ao do seu tio?

 

— Isso não quer dizer nada! – retrucou Shelley.

 

 Ouviu-se então abafadas risadas que não estavam de acordo com o momento. Elas vinham de Vinny.

 

— Agora eu entendi tudo. Não se pode mesmo confiar na família. Uma bastarda? Quem diria, Karin!

 

— Vinny... Como você pode? – reclamou Shelley.

 

Karin não conseguia acreditar, estava completamente sem fala, sem reação, sem acreditar no que acontecia.

 

— Agora já me decidi pai! Não quero encher de impurezas o sangue de nossa família. Vou me casar com Shelley.

 

— Shelley... Por que com ela? – Karin finalmente se pronunciou em voz baixa.

 

— Ahn? Só pode estar louco. Não vou me casar com você.

 

— Shelley, são regras que você deve cumprir. – disse o Rei.

 

— Não me interessa! Jamais me juntarei a ele.

 

Shelley lançava a Vinny um olhar desafiador e cheio de coragem. Ele não gostou. Foi se aproximando dela e a apertou pelo braço.

 

— Venha conversar comigo, irmãzinha.

 

— Vinny, você não pode... – dizia o Rei.

 

— Eu sei, pai. Não se preocupe. Vou mostrar de outra maneira como o casamento será algo maravilhoso.

 

— Vinny, me solta!

 

E assim começou. Toda a tortura de Shelley, a loucura de Vinny e a decepção de Karin. Tudo começou a ruir neste momento. O Rei havia matado a Rainha por traição. Todos os dias, Vinny tentava obrigar Shelley a se casar com ele e ela acabava sendo torturada.

Em um desses dias, Karin estava atrás da porta do quarto, ouvindo à discussão dos dois irmãos. Há muito tempo não se ouvia mais os gritos de Shelley. Quando Vinny abriu a porta do quarto e deu de cara com Karin, ele a empurrou e seguiu seu caminho.

 

— Saia da frente.

 

Karin amava o irmão, ela queria ter sido a escolhida.

 

— Se Shelley não existisse, eu teria sido escolhida. Se ela não fosse teimosa, ela não precisaria apanhar. Se ele não ficasse nervoso com ela, eu não seria desprezada e maltratada desse jeito. Ele não vai ser feliz com ela...

 

— E você pensa que uma pirralha como você poderia fazer melhor o papel de noiva? – Shelley perguntou rispidamente.

 

A loira estava toda marcada, segurava o ombro quebrado, encostada à porta e falava com Karin.

 

— Saia daqui, pirralha. Você não poderia ter essa vida.

 

Karin saiu correndo com lágrimas de ódio escorrendo por sua face. A expressão de Shelley mudou depois que sua irmã foi embora. Ela não queria menosprezá-la, apenas não queria que sua irmã passasse pelo que ela estava passando.

 

— Por favor, não queira essa vida...

 

[Um belo dia]

 

Shelley já estava recuperada, andando pelos corredores do castelo, quando Vinny a chama. Ela vira para trás esperando o irmão.

 

— O que foi?

 

— O Rei tem um pedido para você. – ele dizia entregando uma carta.

 

— Pedido? De quê?

 

— Assassinato. É de um informante que está causando problemas para nós. Vá e mate-o.

 

— Ok. – ela fechou a carta após ler e já ia seguindo quando ele a puxou pelo pulso.

 

— Quando você voltar, vamos ver se finalmente você aceita o casamento.

 

Shelley se encolheu com a ideia e foi se preparar para a “caça”.

 

[No campo de batalha]

 

O informante já estava por um fio. Shelley tinha acabado com ele. Ela estava pronta para balançar suas espadas pela última vez quando ele lhe fez uma proposta.

 

— Por favor, poupe minha vida. Eu irei fazer o que você quiser.

 

— O que você teria a me oferecer, seu inútil?

 

— Um portal. Para o Além-Mundo.

 

Shelley arregalou os olhos, encantada com a ideia. Pensou por alguns segundos e respondeu, fazendo as espadas voltarem a ser brincos.

 

— Mostre-me o portal.

 

O demônio informante estava super contente por ter sua vida salva.

 

[No castelo]

 

— Ela está demorando muito. Ela pode matar mais rápido que isso. – dizia Vinny.

 

Karin apareceu com um sorriso diabólico.

 

— Olá, onii-chan.

 

— O que foi agora, Karin?

 

— Sabe... Eu não sinto a aura da nossa irmã neste mundo.

 

Karin podia sentir a aura das pessoas e dizer sua localização, seu estado de espírito, sua capacidade de lutar, etc. Vinny ficou preenchido por ódio e mandou imediatamente que toda a guarda real desse um jeito de encontrar Shelley. O resto aconteceu como já foi contado até agora. Shelley foi para a agência, se juntou aos dois amigos para caçar outros demônios, etc.

 

[Flashback Off]

 

No castelo do Submundo, Vinny acordou de seu pesadelo, muito nervoso, se sentou na cama e apoiou um dos braços sobre o joelho da perna que havia dobrado. Uma jovem morena que estava nua ao lado dele o envolveu com os braços e sussurrava em seu ouvido:

 

— Por que se levantou? Vamos voltar a dormir. A menos... que você deseje fazer outra coisa...

 

Vinny não podia violar a irmã antes do casamento, mas nada o impedia de ter relações com outras mulheres. Mas... Ele já estava cansado dessas “outras”. Ele estendeu a mão para afagar o rosto da morena, desceu um pouco mais até pegá-la pelo pescoço. Apertou, cada vez com mais força, até perfurar a garganta com as garras e jogar o corpo da mulher para fora da cama.

 

— Estou cansado de esperar por você, Shelley. – ele dizia para si mesmo.

 

No outro mundo, Karin acordava assustada. Ela se deitava sobre o colo de Allyan e sua movimentação rápida o fez acordar.

 

— O que houve, Karin?

 

— Pesadelo... Eu acho.

 

— Não se preocupe. Não foi nada demais, volte a dormir.

 

Ela o abraçou pela cintura e deitou a cabeça sobre seu peito, voltando a fechar os olhos.

No outro quarto, Shelley acordou tranquilamente. Apenas abriu os olhos e deu um pesado suspiro. Ela estava deitada com Luka, ambos estavam de costas um para o outro. Ainda meio sonolenta, ela se virou na cama e passou o braço pela cintura de Luka, abraçando-o por trás. Por um breve segundo, ela se deu conta e retirou o braço, se encolhendo em seu canto.

 

— Por que fez isso? – dizia Luka baixinho.

 

— Idiota, você está acordado?

 

— Você me acordou.

 

— Eu não... – ela foi interrompida por Luka.

 

Ele pegou a mão dela e passou seu braço novamente sobre a cintura dele, dessa vez colocando o braço dele sobre o dela, sem soltar sua mão.

 

— O que você...

 

— Shh. Fica quieta e volte a dormir.

 

Shelley realmente estava com sono. Após o comando, ela fechou os olhos e, instintivamente, aproximou mais seu corpo do dele e recostou o rosto em suas costas. Do outro lado, Luka abria um sorriso satisfeito.


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