Akuma Hunters escrita por Najayra
Todos dormiam em seus respectivos mundos. Shelley se deitara com Luka, Karin com Allyan e Vinny dormia em seu castelo, no submundo. A casa da família real era ampla demais, porém pouco povoada. Só moravam lá Vinny, os empregados e o Rei Demônio. Enquanto Allyan e Luka estavam no seu profundo sono, mal sabiam que os três irmãos se conectavam, involuntariamente, através de pesadelos, lembranças do passado, memórias da época em que viviam juntos.
[Flashback On]
Ambos os irmãos eram pequenos. Crianças que brincavam pelos corredores do castelo. Um protegia o outro e se amavam profundamente. A mãe deles, a Rainha, estava recebendo a visita de sua irmã, Miriam. Ela tinha o poder de ver o futuro das pessoas, ou melhor, a personalidade delas no futuro. Em meio à conversa, a Rainha perguntou sobre seus filhos. Miriam falou um pouco sobre cada um.
— Vinny é autoritário. Gosta de mandar e ser obedecido. E castiga severamente quem não o fizer.
— Ai, meu filho. Com tanta coisa para você herdar de seu pai, você ficou logo com isso? – dizia a Rainha admirando o pequenino brincar com as irmãs. – E quanto à Shelley?
— Ela é bonita, gosta de sua aparência.
— Realmente, ela passa horas brincando na frente do espelho. – dizia a Rainha com um sorriso.
— Mas ela é problemática.
— Miriam!
— Falo sério. Ela é audaciosa e aventureira. Não gosta de receber ordens e faz sempre o que quer e quando bem entende. Normalmente, considera o errado como certo e está sempre se metendo em encrenca. Mas ela se dá bem em qualquer coisa que faça.
— Pelo menos, bem sucedida ela será.
— Aqueles olhos são o problema.
— Como?
— Ela guarda dentro de si um olhar mais do que assustador. Quando ela lançar esse olhar para alguém, essa criatura pode começar a contar os segundos que lhe restam.
— Que horrível, Miriam! Por favor, diga que a Karin tem salvação?
— Ela tem.
— Ahn?
Miriam se levantou e foi saindo de perto da Rainha.
— Miriam! Só isso?
— Você quer ouvir a verdade ou não?
— Ai, ok, fala. – disse a Rainha em voz baixa.
— Karin é a pior. Ela é frágil e sonha com a coroa. Tem uma forte ligação com seus irmãos, principalmente com Vinny. Mas por causa de certos erros que a mãe dela cometeu, ela irá pagar caro. – Miriam lançou um olhar assustador para a Rainha.
— Pare com isso. Não me torture ainda mais.
— Essa forte ligação que eles têm será quebrada. Essa quebra irá desestabilizar todo o equilíbrio. Ela é altamente perigosa quando quer.
— Por que tanta desgraça?!
— Já pesquisou sobre nossos antepassados? Eles não viveram felizes para sempre. Somos demônios e é assim que vivemos.
— Eu pensei que pelo menos eles pudessem fugir disso.
— Cada um deles representa um desequilíbrio entre as Instituições. Vinny é o desequilíbrio da Realeza, dentro dos limites deste castelo. Shelley é o desequilíbrio do Além-Mundo, os problemas aparecerão para os humanos. E Karin é o desequilíbrio do Submundo, ela trará medo e horror para os outros de nossa espécie.
— O Trio do Caos.
— Que nome é esse?! – reclamou Miriam.
— Foi só uma brincadeira. – disse a Rainha.
— Eu não consigo entender como nosso irmão escolheu você para esposa.
Ao longe, o Rei Demônio chamava Vinny para conversar.
— Sim, papai?
— Meu filho, logo você deverá escolher uma noiva para você.
— Uma noiva?
— Sim, você já tem alguma ideia?
— Hum... Que tal a Karin?
Seu pai fechou a cara e olhou para a pequena ruiva que se destacava entre os cabelos quase alvos de todos.
— Quando você for maior... Quem sabe. – e o Rei se retirou, deixando Vinny confuso.
Ouviu-se um choro e gritos de histeria. Era a pequenina Shelley que havia caído e se machucado. A Rainha e Vinny correram para ajudá-la.
— Mamãe, Shel-chan se machucou muito. – disse Karin.
— Shel, vai passar, calma. – tentava Vinny.
A loirinha apenas chorava e gritava. Sua mãe pegou seu rosto entre as mãos e sorriu gentilmente.
— Não chore. Fazer tudo isso não adianta, a dor não irá passar. – Shelley parou e olhou para os olhos calmos da mãe. – Se acalme, minha filha. Logo irá sarar.
Ela apenas assentiu com a cabeça e viu que a dor amenizara aos poucos.
— Viu? Não se sente melhor? – perguntou Vinny.
Shelley sorriu para o irmão e a pequena Karin e logo os abraçou, já estavam brincando novamente.
[Alguns (vários) anos depois]
Vinny já tinha seus 18 anos, Shelley 15 e Karin 12. Eles ouviram os gritos e o choro de sua mãe. Correram para o quarto dos pais, onde o Rei a maltratava, batia nela.
— Pai, o que o senhor está fazendo?! – Vinny perguntava desesperado.
— Solte-a! Pare com isso! – gritava Shelley.
— Não a machuque, pai! – disse Karin.
— Eu não sou seu pai! – ele gritou para Karin.
— Como assim? – Vinny se pronunciou confuso.
— Sua mãe se envolveu com o tio de vocês e dessa barbaridade nasceu você, Karin!
Karin caiu de joelhos sem reação. Shelley correu para ampará-la e abraçá-la. Vinny abaixou o rosto e ficou calado, pensativo.
— Ninguém nunca se perguntou o por quê do cabelo dela ser tão diferente dos nossos e igual ao do seu tio?
— Isso não quer dizer nada! – retrucou Shelley.
Ouviu-se então abafadas risadas que não estavam de acordo com o momento. Elas vinham de Vinny.
— Agora eu entendi tudo. Não se pode mesmo confiar na família. Uma bastarda? Quem diria, Karin!
— Vinny... Como você pode? – reclamou Shelley.
Karin não conseguia acreditar, estava completamente sem fala, sem reação, sem acreditar no que acontecia.
— Agora já me decidi pai! Não quero encher de impurezas o sangue de nossa família. Vou me casar com Shelley.
— Shelley... Por que com ela? – Karin finalmente se pronunciou em voz baixa.
— Ahn? Só pode estar louco. Não vou me casar com você.
— Shelley, são regras que você deve cumprir. – disse o Rei.
— Não me interessa! Jamais me juntarei a ele.
Shelley lançava a Vinny um olhar desafiador e cheio de coragem. Ele não gostou. Foi se aproximando dela e a apertou pelo braço.
— Venha conversar comigo, irmãzinha.
— Vinny, você não pode... – dizia o Rei.
— Eu sei, pai. Não se preocupe. Vou mostrar de outra maneira como o casamento será algo maravilhoso.
— Vinny, me solta!
E assim começou. Toda a tortura de Shelley, a loucura de Vinny e a decepção de Karin. Tudo começou a ruir neste momento. O Rei havia matado a Rainha por traição. Todos os dias, Vinny tentava obrigar Shelley a se casar com ele e ela acabava sendo torturada.
Em um desses dias, Karin estava atrás da porta do quarto, ouvindo à discussão dos dois irmãos. Há muito tempo não se ouvia mais os gritos de Shelley. Quando Vinny abriu a porta do quarto e deu de cara com Karin, ele a empurrou e seguiu seu caminho.
— Saia da frente.
Karin amava o irmão, ela queria ter sido a escolhida.
— Se Shelley não existisse, eu teria sido escolhida. Se ela não fosse teimosa, ela não precisaria apanhar. Se ele não ficasse nervoso com ela, eu não seria desprezada e maltratada desse jeito. Ele não vai ser feliz com ela...
— E você pensa que uma pirralha como você poderia fazer melhor o papel de noiva? – Shelley perguntou rispidamente.
A loira estava toda marcada, segurava o ombro quebrado, encostada à porta e falava com Karin.
— Saia daqui, pirralha. Você não poderia ter essa vida.
Karin saiu correndo com lágrimas de ódio escorrendo por sua face. A expressão de Shelley mudou depois que sua irmã foi embora. Ela não queria menosprezá-la, apenas não queria que sua irmã passasse pelo que ela estava passando.
— Por favor, não queira essa vida...
[Um belo dia]
Shelley já estava recuperada, andando pelos corredores do castelo, quando Vinny a chama. Ela vira para trás esperando o irmão.
— O que foi?
— O Rei tem um pedido para você. – ele dizia entregando uma carta.
— Pedido? De quê?
— Assassinato. É de um informante que está causando problemas para nós. Vá e mate-o.
— Ok. – ela fechou a carta após ler e já ia seguindo quando ele a puxou pelo pulso.
— Quando você voltar, vamos ver se finalmente você aceita o casamento.
Shelley se encolheu com a ideia e foi se preparar para a “caça”.
[No campo de batalha]
O informante já estava por um fio. Shelley tinha acabado com ele. Ela estava pronta para balançar suas espadas pela última vez quando ele lhe fez uma proposta.
— Por favor, poupe minha vida. Eu irei fazer o que você quiser.
— O que você teria a me oferecer, seu inútil?
— Um portal. Para o Além-Mundo.
Shelley arregalou os olhos, encantada com a ideia. Pensou por alguns segundos e respondeu, fazendo as espadas voltarem a ser brincos.
— Mostre-me o portal.
O demônio informante estava super contente por ter sua vida salva.
[No castelo]
— Ela está demorando muito. Ela pode matar mais rápido que isso. – dizia Vinny.
Karin apareceu com um sorriso diabólico.
— Olá, onii-chan.
— O que foi agora, Karin?
— Sabe... Eu não sinto a aura da nossa irmã neste mundo.
Karin podia sentir a aura das pessoas e dizer sua localização, seu estado de espírito, sua capacidade de lutar, etc. Vinny ficou preenchido por ódio e mandou imediatamente que toda a guarda real desse um jeito de encontrar Shelley. O resto aconteceu como já foi contado até agora. Shelley foi para a agência, se juntou aos dois amigos para caçar outros demônios, etc.
[Flashback Off]
No castelo do Submundo, Vinny acordou de seu pesadelo, muito nervoso, se sentou na cama e apoiou um dos braços sobre o joelho da perna que havia dobrado. Uma jovem morena que estava nua ao lado dele o envolveu com os braços e sussurrava em seu ouvido:
— Por que se levantou? Vamos voltar a dormir. A menos... que você deseje fazer outra coisa...
Vinny não podia violar a irmã antes do casamento, mas nada o impedia de ter relações com outras mulheres. Mas... Ele já estava cansado dessas “outras”. Ele estendeu a mão para afagar o rosto da morena, desceu um pouco mais até pegá-la pelo pescoço. Apertou, cada vez com mais força, até perfurar a garganta com as garras e jogar o corpo da mulher para fora da cama.
— Estou cansado de esperar por você, Shelley. – ele dizia para si mesmo.
No outro mundo, Karin acordava assustada. Ela se deitava sobre o colo de Allyan e sua movimentação rápida o fez acordar.
— O que houve, Karin?
— Pesadelo... Eu acho.
— Não se preocupe. Não foi nada demais, volte a dormir.
Ela o abraçou pela cintura e deitou a cabeça sobre seu peito, voltando a fechar os olhos.
No outro quarto, Shelley acordou tranquilamente. Apenas abriu os olhos e deu um pesado suspiro. Ela estava deitada com Luka, ambos estavam de costas um para o outro. Ainda meio sonolenta, ela se virou na cama e passou o braço pela cintura de Luka, abraçando-o por trás. Por um breve segundo, ela se deu conta e retirou o braço, se encolhendo em seu canto.
— Por que fez isso? – dizia Luka baixinho.
— Idiota, você está acordado?
— Você me acordou.
— Eu não... – ela foi interrompida por Luka.
Ele pegou a mão dela e passou seu braço novamente sobre a cintura dele, dessa vez colocando o braço dele sobre o dela, sem soltar sua mão.
— O que você...
— Shh. Fica quieta e volte a dormir.
Shelley realmente estava com sono. Após o comando, ela fechou os olhos e, instintivamente, aproximou mais seu corpo do dele e recostou o rosto em suas costas. Do outro lado, Luka abria um sorriso satisfeito.
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