[Flashback on]

Depois que Shelley invadiu e destruiu parte da casa de Luka e Allyan. Ela se mostrou ainda mais ousada ao discutir com eles.

- Agora que vocês sabem o que eu sou... O que devo fazer com vocês?

- Ai! Ela vai matar a gente! – Allyan disse se escondendo atrás de Luka.

- É uma boa ideia... – ela respondia observando o loiro medroso.

- Olhe o tamanho dela, Al. Você vai ter mesmo medo dessa coisinha? – disse Luka.

Shelley apoiava uma das mãos na cintura. Ela olhou para Luka com uma expressão de deboche e superioridade. Allyan parou de se esconder e decidiu enfrentá-la cara a cara.

- Tem razão, Luka. Essa baixinha está se achando. – ele estufou o peito se aproximando dela.

Shelley o olhou fixamente e colocou a língua para fora. O problema é que ela a transformou para assustar Allyan. Então, o que saiu da boca da pequena garota loira foi uma língua similar a de uma cobra. Bifurcada e comprida. Allyan viu naquilo a visão do inferno e saltou para trás de Luka novamente. Shelley riu da situação mostrando maravilhosos dentes. E depois, deu língua para Allyan, dessa vez era normal.

- Vocês são engraçados. E talvez... Até sejam úteis. Ok, vocês se safaram.

- Graças a Deus. Não iremos mais morrer. – Allyan sussurrava aliviado.

Shelley olhou ferozmente para ele ao ouvir a palavra divina.

- Foi mal... – ele se encolhia.

Luka que até agora estava apenas observando, deu um suspiro de desistência e perguntou para a garota:

- Onde você pretende se enfiar?

- Bem aqui.

- Ficou louca?

- Não. E eu quero sua cama.

- A do Luka? – Allyan se intrometeu.

- Quando atravessei a janela, percebi que ela parecia mais confortável que a do loirinho ali.

- Durma no sofá! – Luka já estava revoltado.

- Mereço um bom tratamento.

- Não vou dormir com você!

- Então durma no sofá.

- Não!

- Então você quer dormir comigo.

- Apenas não vou ceder minha cama para alguém como você!

Allyan observou, calado, a discussão dos dois. Até que Luka desistiu de argumentar e aceitou a garota demoníaca com ele. Enquanto conversavam um pouco sobre toda aquela bagunça de antes, Allyan perguntou:

- Shelley... Não é?

- Isso.

- Eu vi quando você estava lutando que você tem caninos afiados, iguais aos de um vampiro.

- Não me compare com aquela escória.

- Ué, pensei que todas as garotas normais fossem loucas por um vampiro.

- Al, eu não sou uma garota normal.

- Verdade...

- Mas por que essa revolta? – perguntou Luka.

- É o seguinte: Existem os anjos e os demônios. A diferença básica entre eles é: Anjos, te protegem e te seguem. Conduzem para uma morte tranquila e com direito a ter sua alma salva. Já com os demônios é diferente. Somos parasitários. Aceleramos sua morte e te conduzimos a uma diversidade de desgraças.

- Realmente assustador... – disse Allyan.

- Vampiros são demônios, porém com ligações humanas. Um humano que se tornou besta. Demônios são parasitas de almas. Através de contratos, eles auxiliam aquela alma para que se torne cada vez mais apetitosa, para que na hora da morte, possam gozar de um verdadeiro banquete. Vampiros são a escória. A pior das castas. Não fazem contratos e não se alimentam da essência humana. Resumem-se a tirar o “caldo” que tempera, até a última gota. O que sobra é apenas a carcaça, cuja alma já perdeu seu brilho e sabor. Eles só existem para destruir o nosso trabalho.

- Vendo por esse ângulo, a vida de um demônio é algo tão poético... – disse Allyan.

- Besteira. Isso tudo é ridículo. – disse Luka.

- Fala sério! – reclamou Allyan.

- Ela irá matar um bando de gente!

- Na verdade, esse não é o meu trabalho.

- E qual seria seu trabalho? – perguntou Luka de forma sarcástica.

- Eu caço demônios. Alimento-me da alma deles, mantendo, assim, o máximo da pureza de meu sangue. Sou um nível superior. Do menos para o mais importante temos: os Diuras, os Mid-Villains, os Opast e o Demônio Rei. Existem também os Zess, que é o clã braço direito do Rei, e os Ashura, o clã braço esquerdo.

- Como funcionam esses “braços”? – Allyan ficou muito interessado.

- Os Zess eliminam os demônios inimigos do Rei, através de guerras declaradas. Os Ashura, trabalham no silêncio, no escuro. São assassinos sutis.

- E você? É um Zess ou Ashura? – dessa vez, o interessado era Luka.

Ela pensou um pouco antes de responder.

- Apenas Opast. Ninguém especial.

- Isso é tão legal! – Allyan estava animado.

- Você irão me ajudar.

- Como? – Luka perguntou.

- Vou treinar vocês.

- Treinar? – perguntou Allyan.

Ela entregou dois artefatos para eles. Um piercing de orelha com uma safira e um anel com um topázio amarelo. Os jovens observaram que ela usava brincos com rubis.

- Isso é uma arma? – Luka perguntou pegando o piercing.

- Não tem como botar fé nisso aqui. – reclamou Allyan pegando o anel.

Shelley retirou um brinco e logo ele se transformou em uma espada comprida, prata e com o rubi no cabo da arma. Ela apontou a espada para o pescoço de Allyan e o olhou com indiferença.

- Ok, já entendi, Shelley.

Ela colocou o brinco de volta na orelha.

- Então... Vamos tomar banho. Vocês começam amanhã.

- Ah, ninguém merece! – reclamou Luka seguindo para o banheiro.

Allyan o seguiu também. Logo em seguida, foi Shelley.

- Ei! Onde você pensa que está indo? – indagou Luka.

- Tomar banho com vocês.

- Você tá loucaa??!! – os dois perguntaram.

- São dois idiotas. – ela passou direto por eles, sem se alterar.

- Ei, ei, ei! Você não esqueceu de consertar a nossa casa, não?

- Ah, isso? Amanhã vai estar tudo no seu devido lugar.

- De que maneira? – disse Allyan.

- Não interessa. – ouviu-se o barulho dela entrando na água da banheira.

- Tomara que nossas almas sejam salvas... – disse Luka.

- Depois de todo esse sacrifício, é o mínimo! – completou Allyan.

[Flashback Off]