Shelley se escondeu atrás do que sobrou de um muro, sua respiração era ofegante enquanto ela pensava, olhando ao redor. Luka e Allyan apareceram dois segundos depois ao lado dela, um à direita e o outro à esquerda.

- Shelley! O que você pensa que está fazendo?! – disse Allyan.

- Calculando. – ela dizia ofegante e com os olhos hiperativos, olhando para todos os lados.

- Calculando o quê?!

- A energia que eu vou precisar para acabar com tudo isso aqui.

- Há! Quando você acabar de calcular, você nem vai precisar usar essa energia! – disse Luka.

- Era para você dar apoio, Luka.

Ela o olhou com uma expressão indignada. Entregou cada uma de suas espadas para os companheiros ao seu lado, seus olhos, do mais profundo azul-ciano, ficaram vermelhos e seus caninos começaram a apontar.

– Luka e Al, não abram os olhos.

Ela lhes deu o aviso e saltou sobre o pedaço de muro, em direção ao Diuras. Os dois apenas a obedeceram e fecharam os olhos encostando a cabeça ao muro. Ela detestava que a vissem em sua forma demoníaca. Enquanto esperavam, os dois jovens podiam ouvir o som de carne sendo rasgada, os ruídos inumanos vindo das criaturas, as unhas de Shelley perfurando o crânio daqueles infelizes. Depois de tanto tempo nesse trabalho, sabiam exatamente o ruído de cada ato feroz de Shelley. Após alguns minutos, fez-se o silêncio, mas eles sabiam que isso não significava que estava tudo seguro. Então, ouviram passos, calmos e leves indo em direção a eles. Isso sim, dizia para eles: “Está tudo bem, saiam agora”. Os dois abriram os olhos e se levantaram, ao virarem os corpos em direção à Shelley, viram a linda garota de cabelos loiros, quase brancos, perfeitamente translúcidos. Seus olhos voltaram ao sereno ciano e o que era mais perceptível, era seu negro vestido rasgado, deixando seus ferimentos à mostra. Os jovens a olharam sem alterar muito a expressão, já estavam acostumados com aquilo. Allyan assovio fazendo piada e Shelley apenas o olhou abrindo um sorriso com o canto da boca.

- Vamos logo. – ela dizia autoritária, dando meia-volta e partindo.

- Calma, madame. – disse Luka a seguindo.

Allyan apenas se obrigou a mexer as pernas em direção aos dois, seguindo-os de má vontade.

Na casa dos caçadores

Shelley entrou primeiro e foi logo tirando a roupa. Os dois garotos estavam acostumados, ela normalmente tomava banho com eles. Ela dizia que, sendo um demônio, seria ridículo o fato de ela se apaixonar por meros mortais como eles. Ela não sentia atração por eles, logo eles também não deveriam sentir por ela. Os dois moravam juntos por causa do trabalho deles, em uma agência de modelos. Foi quando conheceram Shelley. Uma das “descobridoras de talentos” viu Shelley passeando pela rua e se encantou por seus olhos incomuns. Shelley foi arrastada até a agência e a convenceram a se tornar modelo. Na noite daquele dia, ela, simplesmente, invadiu a casa dos dois pela janela, quando foi atacada pelos Diuras. Então, sabendo do segredo dela, ela foi morar com eles e eles passaram a ajudá-la com os demônios. Hoje em dia, ela é a modelo mais importante da agência e, graças a sua ascensão, ela levou Luka e Allyan com ela, quando os escolheu como fotógrafos pessoais.

- Pode tomar banho primeiro. – disse Luka guardando sua espada.

- Não virão comigo? – ela perguntou.

- Fique a vontade, madame. – disse Allyan, sarcasticamente.

- Tanto faz... – ela guardou sua espada dupla e foi para o banho.

Os dois se jogaram no sofá e deram um suspiro pesado.

- Dizem que modelos dão trabalho... – disse Allyan.

- Pena que não sabem o trabalho que dá cuidar de uma modelo... – completou Luka.

- Que é um demônio. Literalmente, falando. – concluiu Allyan.