Angie escrita por telljesusthebitchisback


Capítulo 4
Descendência


Notas iniciais do capítulo

Desculpa demorar tanto pra postar, mas o nyah estava dando problema. espero que vocês gostem.



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- Tiago é muito engraçadinho, viu?- comentou Amanda, enquanto ela e a mãe andavam até a casa grande. – Ele prometeu ao meu pai que não me deixaria namorar, enquanto ele mesmo já está babando por uma garota que ele nem sabe o nome.

- Sim, ele está dando em cima de uma garota, isso já mostra que ele está bem. – comentou Aghata com calma. Elas riram.

Amanda enfiou uma mão no bolso da calça jeans e com a outra passou a mão nos cabelos, olhando para a colina onde o carro destruído jazia.

- Papai não vai gostar nadinha daquilo.

Aghata nem precisou olhar para saber do que se tratava.

- Ele não precisa saber, eu lhe mandei uma mensagem de Íris. Ele pensa que eu lhe dei um dia de folga enquanto cuidava de iluminar o mundo.

- E ele acreditou?

Aghata levantou um canto da boca, em seu típico sorriso de vigarista.

- Eu sou uma ótima mentirosa, Amanda. Não é a toa que você é a deusa da mentira.

- Eu acho isso mágico, sabia? Eu tenho as suas qualidades e os seus defeitos. Sou sortuda e mentirosa. Enquanto Tiago puxou papai, tão puro e azarado.

Elas riram.

- É mesmo uma coisa engraçada. Mas eu não acho que você tenha herdado meus defeitos.

- Como assim?

- Mentir é um dom, e nós temos esse dom. As pessoas dizem que mentir é feio, mas certas vezes elas desejam vigorosamente que soubessem mentir. Eu digo a verdade sempre que possível, não filtro meus pensamentos, mas quando preciso, até eu mesma acredito nas minhas mentiras.

- E você considera isso uma qualidade?

- Sim, você não?

- Sim. – Amanda admitiu, olhando para baixo.

- Pessoas mentirosas têm controle de suas mentes e expressões e uma criatividade infinita. Bons mentirosos são raridades.

- Você vê mesmo o lado bom em tudo, não é?

- Ah, sim. Eu vejo.

Elas caminharam em silêncio por um momento. Amanda foi absorvendo a vista, e Aghata foi matando a saudade do lugar.

- Meu amigo Percy, filho de Poseidon, fez um trato com o meu pai há quase cem anos, depois de salvar o Olimpo, de que todos os deuses menores tivessem chalé aqui. E eu acho que devo lhe agradecer por isso.

- Eu vou poder ficar no seu chalé, não é? Já que eu ainda não tenho o meu.

- Sim, ou no do seu pai. Mas eu não aconselharia isso. Os meus filhos são mais parecidos com você.

- Ah, sim. Eu sei disso.

- Sabe como eu vou consertar o carro do seu pai?

- Como?- Amanda uniu as sobrancelhas, olhando para a mãe.

Ela deu um sorriso triunfante, olhando sobre o ombro da filha. Apontou para trás dela. Amanda se virou e viu um retângulo de chalés com estátuas no meio. Ela apontava para um chalé de metal com chaminés.

- Chalé de Hefesto. Eles são especialmente habilidosos, consertarão o carro do seu pai em uns minutos.

- Você vai convencê-los a fazer isso?- Amanda não escondeu a descrença em sua voz.

- Caso você não tenha percebido, eu sou meio que uma celebridade aqui. – ela acenou para os campistas que a olhavam boquiabertos. – Eles vão se acotovelar para chegar primeiro ao carro. – ela sorriu, saindo em direção ao chalé, seus quadris dançavam em um ritmo silencioso.

- MAS, MÃE... EU NÃO CONHEÇO NADA DAQUI. – Amanda se postou nas pontas dos pés, gritando para a silhueta alta que se afastava cada vez mais.

- Acho que eu posso te ajudar com isso. – uma voz grave disse atrás dela. Ela girou nas pontas dos pés, fitando um garoto alto, de cabelos castanhos e olhos negros escorado em uma árvore perto. O garoto vestia preto da cabeça aos pés. Ele era lindo, lembrava Tiago de certo modo, com todo o charme galanteador. Amanda entrou na defensiva ao pensar nisso, sabendo que bom sujeito ele não poderia ser.

- Hm... Certo. Obrigada, mas eu acho que eu conheço alguém que pode me mostrar. – ela apontou com o polegar para trás, recuando lentamente.

O garoto olhou por sobre o seu ombro e arrumou a posição, andando lentamente com as mãos nos bolsos da calça preta em direção à Amanda.

- Quem? A sua mãe? Aliás, como ela entrou aqui? Ela não deveria ser mortal?

- Hm, não, ela não é mortal. – ela continuou retrocedendo.

Agora o garoto estava a menos de um metro dela.

- Hm, é mesmo? – disse com um tom interessado, inclinando a cabeça e dando um fraco sorriso torto. – E que deusa ela é?

- Aghata. E ela é casada. – ela advertiu, percebendo a malícia em seus olhos ao observar a silhueta de sua mãe.

- Isso não a impediu de te ter, não é?

Amanda estava pronta para dizer que ela era filha do casamento, mas um alarme soou em sua mente. Se ela lhe dissesse a verdade, ele saberia imediatamente quem ela era. Manteve seu rosto impassível enquanto mentia.

- Não, não impediu.

O garoto inclinou o rosto e semicerrou os olhos, analisando atentamente a expressão de Amanda. Ela gelou. Aquilo era impossível, ninguém -além de sua mãe- jamais desconfiara de suas mentiras.

- Certo. Então você vai ficar no chalé 15. Eu posso te mostrar o caminho. E não rejeite, eu sei que você não tem mais ninguém para guiá-la.

Ele estava tão perto agora que ela podia sentir o cheiro suave e másculo de seu pescoço e seu hálito de menta. Antes que ela pudesse mentir outra vez, ele pegou seu pulso e a puxou, tomando a frente. O coração frio de Amanda de repente parecia feito de manteiga. Ele a guiou até um chalé de prata, coberto de uma fina camada de azul elétrico, como se ele estivesse encapado com energia. A frente do chalé tinha colunas gregas, e no triângulo que se apoiava nelas estava incrustado um puma que parecia sair do metal, e onde seus olhos deveriam estar, havia duas esferas elétricas.

- É um chalé muito bonito. É todo aberto e cheio de paredes de vidro, porque sua mãe é claustrofóbica e gosta do sol, que é o seu padrasto. É a única coisa que estraga, e toda essa luminosidade.

          Amanda mordeu as bochechas para não sorrir. Ele chegou mais perto dela, até que seus seios quase se encostassem ao peito malhado dele. Ela sentiu seu corpo enrijecer com a aproximação, mas um fogo parecia lamber cada parte de seu corpo.

- O meu chalé é logo ali. – ele apontou para um chalé vermelho, que mais parecia uma base militar, com uma cabeça de javali pendurada. – Se você tiver medo do escuro ou algo do tipo, pode me procurar.

A mente de Amanda gritou e seu coração machucava o peito, mas ela se manteve firme até que ele desse uma piscadela e saísse andando com as mãos nos bolsos até o chalé de Ares. Ela abriu a porta de prata e entrou no chalé da mãe, ainda meio aérea.

- Hm, quem é você? – uma voz a fez despertar. Ela olhou o lugar e teve vontade de jogar a cabeça para trás e gargalhar.

O chalé tinha 6 crianças de cabelos platinados e de olhos elétricos, e Amanda se sentiu rodeada de Aghatas e Tiagos em miniatura, de 12 a 16 anos. Por dentro o lugar era ainda mais bonito, todo prateado, e ela se sentiu quase em casa quando viu a bola de energia no teto que iluminava o lugar, mas que agora estava quase apagada por causa da claridade que entrava pelas enormes janelas de vidro. Como aquele chalé era de sua mãe, ela procurou imediatamente por livros, e logo os achou em uma enorme estante no fim do chalé.

Ela percebeu que a garotinha ainda a olhava atentamente, com as mãos na cintura fina. O longo cabelo dela estava trançado e uns fios escapavam do penteado, fazendo curvas em volta dela. Ela era linda, como todos ali, e tinha sardas nas bochechas, coisa que a mãe dela não tinha.

A menina mais velha abaixou o rosto para ela e respondeu em uma voz tranquila:

- Eu sou Amanda.

O rosto da garota passou de coragem à surpresa, seu rosto ficando pálido sobre a pele cor de leite.

- A-amanda? Como a minha meia irmã, Amanda? A deusa da mentira e da sorte?

Amanda olhou para os lados, imaginando se todas as pessoas a receberiam assim aqui no mundo mortal. Não, apenas no mundo mestiço, onde eles mal conheciam um deus pessoalmente.

- Sim, sou eu.

- Não, impossível. Olhe os seus olhos, você é de Apolo, pare de brincar com a minha cara.

Amanda se ajoelhou, de modo a ficar com os olhos à altura dos da menina.

- Sabe, a minha mãe sempre diz que a dedução é um caminho fácil para a sagacidade. Então, se você sabe quem sou eu, sabe quem é o meu pai. Deduza.

- Você é de Apolo, eu estava certa, herdou os olhos dele.

- Isso. Qual é o seu nome?

- Olívia Helena. – ela respondeu, ainda um pouco nervosa.

- É o segundo nome da minha mãe, sabia? Helena.

A garota afirmou com a cabeça, quase sem piscar observando Amanda.

- O meu pai me deu esse nome por causa dela. 

- É estranho ter uma irmã. – A irmã mais velha comentou, fitando os olhos de Olívia e quase se esquecendo que não era própria mãe à sua frente.

- Como ela é?- A voz da garota saiu baixinha e chorosa, fazendo-a parecer ainda mais nova que seus 11 anos.

- Mamãe?

- Sim.

- Inteligente, muito inteligente. E uma mentirosa de primeira mão.

Olívia arfou, arregalando os olhos para ela.

- Foi o que papai sempre me disse: inteligente. Mas ele sempre omitiu a parte das mentiras, mas eu sabia que eu havia herdade esse dom dela.

- Ah, sim. Ela mente, mas só quando necessário.

- E como ela é fisicamente? – seus olhos assumiram o brilho sonhador de antes.

Amanda se levantou, tendo uma ideia.

- Veja você mesma. – ela estendeu a mão para a garota, que logo a apertou. A fria mão da garotinha foi embalada pela mão quente de Amanda. Havia quase se esquecido de como era frio o toque de sua mãe, mas ainda sim confortável.

- Ela está aqui?- a garota abriu um sorriso de orelha a orelha.

- Sim, ela e o meu irmão. Nós vamos passar um tempo aqui. Eu e o meu irmão, quero dizer.

Amanda a conduziu para fora do chalé, entrando de novo no ensolarado retângulo de chalés. Elas atravessaram rapidamente o gramado, parando perto do chalé de metal e chaminés que Aghata havia entrado. Amanda não percebeu, mas um par de olhos negros a observava no chalé ao lado. Ela ficou ali parada na frente do chalé, absorvendo o calor que saía dele, seu corpo esguio e longo parecendo exagerado perto da frágil – mas imponente – garotinha que segurava sua mão com ansiedade. Ela ergueu o punho e bateu na porta de metal entalhada perfeitamente com chamas de bronze.

Elas esperaram a resposta, mas não aconteceu nada. A deusa bateu outra vez e antes que ela acabasse, um garoto alto, másculo e de veias saltadas abriu a porta. Ele vestia um macacão jeans com botas de couro, limpando o suor da testa. Ele não era o tipo de Amanda, todo malhado e grande como um armário, mas ele seria atraente para qualquer outra garota. Ela olhou para Olívia, que observava o garoto com os olhinhos arregalados, a cabeça tombada para poder enxergar seu rosto.

- Posso ajudar?

- Hmm, eu não sei se você tem alguma noção de quem eu sou, mas eu queria falar com Aghata, ela ainda está ai?

- Claro. – ele apontou com o polegar sobre o ombro, desajeitado. – Ela está lá dentro, falando com meus irmãos...

- Eu posso entrar?

O garoto abriu a boca para responder, aturdido com o fato de duas lindas garotas quererem entrar no chalé absurdamente quente no mesmo dia.

- Não.

Olívia apertou os olhos e colocou as delicadas mãos na cintura em reprovação.

- Mas que grosseria!

Amanda girou o corpo com as pontas dos pés.

- Olívia, acho que não foi ele.

A menina, ainda com o olhar de censura intimidador, se virou para o gramado. Atrás da estátua de Hermes segurando um caduceu estava um enorme centauro.

- Quíron! – ela se sobressaltou.

Amanda analisou seus longos cabelos e sua figura imponente.

- Sim, é ele.

- Você deve ser Amanda, a Filha de Aghata.

Ela não precisou se virar para saber que o Filho de Hefesto estava chocado. Ela assentiu, em uma tentativa de parecer sua mãe e toda sua grandeza. Herdara um pouco do carisma da mãe, mas não era nenhuma criança de Zeus como ela.

- Você tem que vir comigo, está atrasada para sua aula.

Olívia esticou seus olhos azuis até eles parecerem fora da órbita.

- E eu como fico? Eu não vou conhecer minha mãe? – ela aumentou o tom de voz.

Amanda olhou para ela, chocada com a vontade de satisfazê-la e fazer mesura que ela causava quando ficava alterada, assim como sua mãe.

- Você vai conhecê-la, sim. – ele disse com condescendia, abaixando o rosto para a pequena figura autoritária. – John, leve-a até sua mãe.

O garoto na porta concordou e pegou a mão da menina de olhos brilhantes, puxando-a para dentro do chalé. Amanda ficou lendo a expressão do centauro, congelada em seu lugar.

- De onde você tirou essa timidez?

Ela olhou para os lados, sentindo as bochechas corarem.

- Me dizem isso sempre.

Quíron assentiu.

- É compreensível. Sua mãe é tão extrovertida e carismática, e seu pai tão extravagante. É admirável que você ainda não esteja fazendo uma piada e um movimento charmoso.

Ela apertou os olhos, sentindo-se posta a prova. Quíron podia falar o quanto quisesse, mas ela era muito mais parecida com a mãe do que ele percebia. Adorava um bom desafio. Tão bom para o ego.

- Você ainda não sabe metade sobre mim. – disse baixinho, colocando o peso do corpo em uma perna nua e esboçando um sorriso torto de lábios fechados e projetados, típico de gente confiante.

- Acho que está certa. – disse com indiferença. Virou-se e começou a trotar para fora do retângulo de chalés. – Me siga.

Eles seguiram em silêncio. Ela intimidada demais por sua figura oponente e ele tentando decifrá-la. Ela mostrara o sorriso-Aghata, como chamavam no Acampamento cem anos atrás. Com certeza era tão auto confiante quanto ela. E tinha um irmão gêmeo. Problema duplo.

- Muito parecidas, não? Olívia e sua mãe, quero dizer. – Ele comentou. – São todos assim. Muitas vezes eu tenho que interferir no chalé 15. Todos egocêntricos e onipotentes. Herdaram muitas qualidades dela, mas herdaram o espírito de liderança de Zeus. E colocar 10 presidentes em uma companhia só é pedir guerra.

Ela riu e virou seus grandes olhos dourados para ele, ciente de como parecia minúscula e frágil andando perto daquele enorme garanhão.

- Nós herdamos o ego dela. Você ficaria surpreso com como confiança transpira daquela casa.

- Eu imagino. Apolo é sempre brincalhão e egocêntrico, assim como sua mãe. Ela me trouxe muitos problemas quando mortal, sabe. Eu fiz questão de treiná-la pessoalmente, por ser de uma linhagem muito antiga de semideuses. Sua família é a mistura perfeita de icor e sangue. Mas acho que ela desfez essa tradição ao se tornar deusa e ter gêmeos imortais.

Ela olhou para ele, surpresa.

- Ela nunca me contou sobre isso. Disse que sua mãe era Filha de Poseidon e sua avó de Atena, mas nunca sobre a antiga linhagem.

- Sim, sua mãe é uma mulher muito misteriosa.

- E sobre Minos. Sim, ela me contou algo sobre Minos...

Quíron a interrompeu, empurrando suas costas.

- Espero que tenha o mesmo carisma de sua mãe. Boa sorte, criança.

Ela uniu as sobrancelhas.

- Sobre o que você está falando?

Mas era tarde, ele já tinha saído trotando para longe dela. Ela ouviu o arfar de várias pessoas atrás de si. Virou-se lentamente, queimando Quíron em seus pensamentos. 13 pares de olhos de cores exóticas a encaravam; azul elétrico, verde mar, verde musgo, cinza, dourados. E um par de olhos negros no fundo.

Ela congelou sob o olhar de desconfiança que aquela escuridão a fornecia. Ele descobrira sobre sua verdadeira descendência, e estava desapontado. Amanda abafou a vontade insana de abraçá-lo e pedir desculpas que a dominava, sob o olhar das outras crianças fascinadas com seu corpo sob os shorts jeans e a blusa branca e leve e os cabelos loiros em cascata nos ombros dourados.

- Hm... E ai? Beleza?


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