Angie escrita por telljesusthebitchisback


Capítulo 2
A sorte me evita




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- Ora, ora. – disse o homem alto e meio grisalho na sala, se levantando da poltrona em que estava sentado. Ele vestia um terno preto e tinha olhos elétricos como o de Tiago e Aghata. Os pais dos gêmeos estavam sentados em poltronas em frente ao homem. – Quem é vivo sempre aparece. Bom dia, garotos.

 

Os dois caminharam até eles, receosos.

 

- Vô!- Amanda fingiu surpresa perfeitamente, abraçando o homem.

 

- Você está linda, como sempre. – ele pegou sua mão e a rodopiou, analisando seu lindo vestido verde até a metade da coxa. – Muito curto. – ele franziu o cenho.

 

Amanda soltou um risinho e agitou a mão, fazendo uma poltrona aparecer ao lado da do avô.

 

Aghata olhava atentamente a expressão do pai, feliz de saber que ele tinha um carinho pelos filhos que não tivera com ela.

 

- Oi, vô. – Tiago cumprimentou.

 

- Bela camisa, Tiago. – apontou para a camisa social preta com as mangas arregaçadas e alguns botões soltos.

 

- Obrigada. – ele retribuiu o sorriso maroto.

 

Tiago conjurou uma cadeira ao lado de Amanda e se sentou quando Zeus também o fez.

 

- E então, garotos? Fiquei sabendo que os seus pais os obrigaram a ir para o Acampamento Meio-sangue, hein? Meus filhos são mesmo muito mandões. – ele riu, olhando para o casal a sua frente.

 

- Pai!- os dois reclamaram. Aos gêmeos parecia estranho que os pais fossem meio-irmãos, mas o incesto era um tipo de hobby em toda sua família.

 

 - Eu estou apenas falando a verdade. – O deus dos deuses assumiu uma máscara de seriedade, que ele usava sempre, menos quando se tratava dos netos. Apolo e Aghata, tão acostumados com a frieza paterna, relaxaram.

 

- Realmente, certas vezes eles nos dão momentos difíceis. – Tiago comentou, sorrindo para os pais.

 

- E eu não sei?- Zeus bufou, dando um olhar significativo a Aghata. – Sua mãe me dava muito trabalho, mais trabalho que qualquer outro filho que eu tive.

 

Aghata deu um sorriso fraco.

 

- Mas você não teve que me proteger o tempo inteiro.

 

- Isso é verdade. Você conquistou muitos deuses quando mortal. – ele lançou o mesmo olhar ao filho. – Principalmente Atena. Eu nunca a vi protegendo tanto um herói, nem mesmo seus filhos.

 

- Atena é demais. – Aghata abaixou a cabeça, sorrindo para o anel de formatura em seu dedo. – Ela acreditava em mim quando ninguém mais acreditava. Era como se eu fosse uma filha dela.

 

- Ela só te protegeu porque você é inteligente. Excepcionalmente inteligente. – Apolo pegou sua mão, sorrindo docemente para a esposa. Ela olhou dentro de seus olhos dourados, sentindo o coração parar de bater com aquela beleza.

 

Os gêmeos suspiraram, soltando os ombros e olhando para os lados.

 

- Eles vão ficar assim por um tempo. – Amanda inclinou-se de lado para o avô, com um tom monótono.

 

- Eles fazem isso o tempo todo. – o irmão concordou. – É uma droga.

Zeus riu.

 

- Garotos, garotos. Vocês ainda não provaram do amor, não sabem como é.

 

- E eu pelo jeito nunca vou provar. – Amanda falou com amargura. – Afrodite nunca aprovou a minha criação com as amazonas.

 

Tiago afundou na poltrona, torturando-se com sua própria tristeza.

 

- Ela vai superar. – Zeus deu batidinhas em sua mão pousada no braço do assento. – Sua mãe e ela sempre foram amigas, talvez ela te ajude um dia.

 

- Espero que não. – Tiago franziu o cenho, bravo. – Esses garotos não prestam, vão sempre te magoar.

 

- Isso é verdade!- A voz de Apolo fez Amanda pular. – Mantenha-se longe dos meninos no acampamento.

 

- OH, MEUS DEUSES! O ACAMPAMENTO. – Aghata se sobressaltou, batendo a mão na testa. – Eu havia me esquecido. Quíron vai me matar, já era pra vocês estarem lá.

 

- Mãe, relaxa!

 

- Relaxa nada, o acampamento é sério. E vocês têm de levar a sério. Vocês têm aula daqui a pouco.

 

- Nós vamos assistir a aulas? Depois de todo o sofrimento nas mãos de Ares, durante anos?- Tiago ficou boquiaberto.

 

- Não assistir aula, dar aula. – Apolo respondeu.

 

- Quíron vai lhes explicar. Agora vamos. – Aghata se levantou abruptamente, batendo as mãos nos braços da poltrona.

 

Amanda começou a resmungar baixinho, mas Tiago deu uma cotovelada nela, apontando para a mãe com a cabeça e Amanda logo se calou.

 

- Anda, anda, anda. Levantem. – Aghata puxou com uma mão o braço de Amanda e com o outro o de Tiago. Conseguiu levantar a filha facilmente, mas o corpo pesado do filho continuava inerte. Ela soltou o braço de Amanda e passou seus braços pelo tronco de Tiago, o puxando para cima.

 

- Eu me sinto impotente assim. – ela riu em seu ouvido, quando seus esforços apenas jogaram o corpo de Tiago para frente. – Anda, Tiago!- ela disse com um tom divertido, empinando a coluna e colocando as mãos na cintura.

 

O garoto se levantou em um pulo, esticou as mãos e começou a puxar as bochechas macias da mãe, fazendo sons como se estivesse brincando com um bebê. Aghata não pode conter o riso.

 

- VAI, TIAGO!

 

- Ti glacinha do titi. – ele apertou mais uma vez as bochechas dela, quando viu que ela tentava não rir, agarrou sua cintura e a jogou sobre o ombro.

 

- TIAGO!- ela se debatia sobre ele. – me coloca no chão!

 

Mas o garoto a ignorou, virando-se para o pai. A deusa reclamou da vertigem que aquilo lhe causou.

 

- Vamos no seu carro?

 

- Aham. – Apolo respondeu, rindo das ameaças que Aghata agora fazia.

 

Os cinco caminharam para fora do palácio, com Tiago ainda carregando a mãe. Quando eles chegaram ao Maserati vermelho, ele a colocou sobre o banco do passageiro e pulou para o banco de trás, sem abrir a porta.

 

- VOCÊ É UM PALHAÇO MESMO, HEIN, TIAGO?- Aghata bateu a cabeça no apoio, tentando parecer zangada, mas seu incrível senso de humor não deixava.

 

- Já me disseram isso outras vezes. – Tiago deu um meio sorriso charmoso. – E que eu herdei isso do meu pai.

 

- Somos demais. – Apolo ergueu a palma da mão, apoiando-se com o cotovelo na lateral do carro.

 

Tiago bateu na palma dele, e eles dois jogaram a cabeça para trás, rindo.

 

- Se vocês cansaram de esbanjar charme, acho melhor nós irmos. Quíron vai realmente ficar bravo, ele odeia minha falta de pontualidade.

 

Os dois levantaram as mãos, em sinal de rendição. Aghata virou sua cabeça para trás, para olhar para o filho.

 

- Se você quiser dirigir, está tudo bem por mim. – sussurrou para que o marido, o dono do carro do sol, não ouvisse. – Seu pai me deixou dirigir essa beleza quando eu era mortal, e foi meio desastroso, mas muito divertido. Então eu meio que vou entender se realmente quiser.

 

Tiago escancarou o queixo.

 

- Você. É. Demais. – disse sem emitir som.

 

Aghata sorriu.

 

- Sim, eu sei. Mas espere até nós decolarmos, tudo bem? Seu pai não gostaria muito disso.

 

Ele concordou freneticamente com a cabeça, e ela se virou para os outros fora do carro.

 

- Pai, eu já volto. Vou deixar os garotos e já venho. Tenho que conversar algumas coisas com Quíron e matar a saudade do lugar. Mas eu também tenho assuntos a tratar com você, então me espere para ir ao Olimpo.

 

Zeus suspirou.

 

- Será que você nunca vai me chamar de senhor?

 

Aghata deu um sorriso travesso.

 

- Entre, Amanda.

 

A garota virou-se para o pai e lhe deu um abraço forte, sufocando seu rosto no vão de seu ombro.

 

- Se cuide, pequena. – Apolo envolveu suas costas com um braço, com a outra mão afagou seus cabelos e lhe deu um beijo na cabeça.

 

-Eu te amo, pai. – ela foi se esquivando do abraço.

 

- Eu também. E vê se se cuida. Evite mentir.

 

Amanda e Tiago deram um riso irônico.

 

- Como se isso fosse possível.

 

- E você!- Apolo apontou um dedo para o filho no carro. – Se divirta. E não deixe nenhum garoto se aproximar de sua irmã.

 

Tiago fez um aceno de “sim, senhor” usado pelos militares.

 

- E, uma dica,- Apolo se inclinou sobre o carro e falou baixinho para ele, mas olhando para a esposa. – as semideusas são as melhores. Principalmente as de Zeus. E procure as loiras. Espero que o chalé 1 seja o seu preferido.

 

Os dois viram uma covinha na bochecha da garota que ele acabara de descrever.

 

- Evite as de Apolo.

 

- Concordo!- o próprio disse. – Elas também são minhas filhas.

 

Amanda deu um abraço no avô e entrou no carro ao lado de Tiago.

 

Aghata pulou para o banco do motorista e girou a chave na ignição. A temperatura e a luminosidade ao redor e dentro do carro se tornaram insuportáveis para Zeus, e ele se afastou depressa. Mas a família de loiros já estava acostumada, era até aconchegante a sensação de estar dentro de uma lareira. Ela puxou o volante para trás e pisou fundo no acelerador. O carro disparou pelo ar, se fundindo no céu com a luz solar.

 

Após alguns minutos navegando estavelmente pelo céu, Aghata olhou para o filho no banco de trás.

 

- Está pronto?

 

Ele confirmou com a cabeça, mordendo o lábio de insegurança, mas seus olhos estavam excitados.

 

- Pronto para que?- Amanda perguntou, olhando da mãe para o irmão, procurando respostas em seus rostos.

 

- Eu vou dirigir. – ele respondeu baixinho.

 

Os olhos de Amanda se arregalaram, e ela passou os sóis em chamas para a mãe.

 

- O QUE? TIAGO VAI DIRIGIR? VOCÊ SABE QUE ISSO NÃO VAI DAR CERTO!

 

Mas Aghata continuava impassível.                                                    

 

- Você já teve a sua chance, não pense que pode me enganar. Eu sei que o seu pai já deixou.

 

- Mas eu sou a deusa da sorte! É claro que tudo ia acabar bem. Eu não matei ninguém.

 

- Tiago não vai matar ninguém, nós somos imortais.

 

- É, mas nós adquirimos cicatrizes!

 

- Amanda, fique tranqüila.

 

- Papai estava me ajudando na hora!

 

- Eu estou aqui para guiá-lo.

 

- Isso não é justo!

 

- A vida não é justa.

 

- Mãe, você sabe que isso é loucura!

 

Um sorriso torto brotou na boca da mulher, e sua voz estava carregada de excitação.

 

- Eu estou precisando cometer uma loucura, ser imortal é tedioso.

 

Amanda bateu as costas no banco, cruzando os braços e olhando para o lado, para as cidades abaixo deles.

 

- Amanda, você poderia me ajudar, não poderia?- Tiago sussurrou para ela. Ela olhou nos olhos elétricos brilhantes do irmão e sentiu pena de seu tom de voz, era como uma criança insegura e desesperada diante da expectativa de fazer algo divertido, mas perigoso. – Eu sei que eu posso estragar tudo a qualquer momento, mas eu realmente quero fazer isso. Você vai me ajudar?

 

Ela suspirou, tirando os olhos do rosto perfeito do irmão.

 

- Sim, Tiago, eu vou te ajudar.

 

Um sorriso brotou nos lábios grossos dele.

 

- Obrigado, você é a melhor.

 

- Eu sei.

 

- Tiago, pode vir. Só vou estacionar...  espere, pronto! Pode vir.

 

Eles pousaram em um círculo de grama, envolto por neve. Tiago se levantou e esticou uma perna, colocando-a no banco da frente. O movimento fez com que a bunda dele ficasse perto do rosto de Amanda.

 

- AH, TIAGO, VÁ À MERDA!- ela franziu o nariz e deu um tapa no bolso traseiro do jeans preto dele.

 

Aghata e Tiago deram uma gargalhada.

 

- Ah, eu também te amo, maninha.

 

Ele se jogou no banco da frente, caindo no estofado com um silvo.

 

- Se o seu pai te vir colocando o pé no couro do carro dele... – Aghata olhou para o tênis.

 

- Ainda bem que ele não vai ver. Mas você não anda ligando muito para o que o papai odeia, né, mãe?

 

Ela virou o rosto para o retrovisor, olhando seu reflexo e arrumando o cabelo.

 

- Seu pai está precisando aprender algumas coisas. – disse com um tom misterioso.

 

Eles inverteram de lugar rápido. Tiago colocou as mãos no volante e estufou o peito, olhando para os botões no painel.

 

- Certo. O que eu faço agora?

 

- Abre a porta, sai do carro e deixa a mamãe dirigir. – respondeu Amanda, mal humorada.

 

- Cinto. – Aghata contrapôs, lançando um olhar elétrico para a filha.

 

- Confere. – respondeu Tiago.

 

- Agora pisa no acelerador.

 

- Só isso?

 

- Alta tecnologia.

 

Tiago levantou o pé.

 

- ESPERA!

 

- O que foi, Amanda?- ele suspirou.

 

Amanda se reclinou sobre o banco de Tiago, colocou a mão em seu ombro e sussurrou:

 

- Kalí tychi 

 

Tiago se iluminou. Receber um ‘boa sorte’ da deusa da sorte era muito mais que usar um trevo de quatro folhas, era muito mais que tomar uma poção da sorte ou usar qualquer amuleto. Era ter sucesso garantido. Ele se inclinou e plantou um beijo na bochecha gordinha da irmã.

 

- Obrigado.

 

Ele afundou o pé no acelerador, e o carro investiu contra o horizonte.

 

- Tudo bem, até aqui está tudo bem. – o motorista respirou fundo, nervoso.

 

- Olhe! A colina está ali! – Aghata apontou para um campo cheio de morangos, com várias casinhas ao lado. As pessoas pareciam miniatura àquela distância.

 

Tiago virou a cabeça para olhar, inclinando o pescoço para fora do carro.

 

- Uau! É lindo!

 

- TIAGO! CUIDADO!

 

Foi tudo muito rápido. Ele olhou para frente apreensivo e de primeira não viu nada, mas depois enxergou a pequena figura mergulhando no ar em direção ao pára-brisa do carro. Enfiou o pé no freio para evitar a colisão, mas o falcão chegou perto demais do carro, explodindo em mil pedacinhos com o calor.

 

- PISA NO ACELERADOR!- Ordenou Aghata desesperada, enquanto o carro despencava em direção ao chão. Mas o vento fazia o cabelo entrar em sua boca, de modo que soou mais como um “piça do celiradu”.

 

Tiago, em um ato desesperado, pisou no acelerador de uma vez, mas o carro estava com a traseira inclinada para cima, de modo que eles despencaram cada vez mais rápidos em direção ao acampamento.

 

- NÃO SE PREOCUPEM, NÓS SOMOS IMORTAIS. – Aghata gritou, perdendo o ar com o vento batendo rápida e abundantemente em seu rosto.

 

- MÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAE!

 

Amanda jogou o braço sobre os olhos quando a colisão estava prestes a acontecer, Tiago não precisou, os cabelos já tampavam os seus. A frente do carro bateu com tudo no solo, fazendo os corpos dos passageiros se balançarem por causa da inércia. O peito de Tiago bateu no volante, tirando-lhe o ar. 

 


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