Angie escrita por telljesusthebitchisback


Capítulo 1
Tudo fica bem quando nossa mãe blefa


Notas iniciais do capítulo

Se vocês gostarem, por favor, deixem review. sério.



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- Tiago, dá pra você andar logo? - a garota sussurrou feroz, empurrando as largas costas do irmão com as mãos. 

 

- Amanda, e se mamãe nos ver?- ele tentou plantar seus pés no chão, mas a irmã tinha a força da mãe.

 

- Tiago, cala a boca!- ela olhou para os lados, verificando. - Toda coisa ruim que você fala acontece! Será que não percebeu isso ainda?

 

- Faz parte da minha natureza ser pessimista. Vai você primeiro. - Tiago empurrou Amanda para sua frente. 

 

- Como você é corajoso!- ela bufou e tomou a frente, mas fazia questão de que seus ombros encostassem-se ao peito duro do irmão, dava certa sensação de segurança.

 

A garota correu seus olhos dourados pelos corredores do palácio.

 

- Será que não tem nenhuma ninfa aqui? Ou nenhuma Musa?- Tiago sussurrou em seu ouvido, e ela instantaneamente ficou arrepiada. Odiava ter herdado a sensibilidade da mãe no pescoço para cima.

 

- Francamente, você não sabe controlar seu nível de testosterona, Filho de Apolo?- Amanda rolou os olhos, enquanto o irmão empurrava seus ombros.

 

Eles passaram pelo longo corredor sem fazer um ruído, olhando para todos os lados para certificar que ninguém os estivesse observando, até que chegaram ao portal de ouro que dava para o hall.

 

- Tem certeza de que pegou as chaves do carro do papai?- A menina sussurrou. Os olhos elétricos do irmão a fuzilaram no escuro. – Desculpa, só queria ter certeza.

 

- AMANDA!- o gêmeo pegou a fina cintura da irmã e a jogou para trás das suas costas, para protegê-la.

 

Houve um enorme estrondo atrás da porta, e ela irrompeu em pequenos pedaços de ouro quente. Tiago abriu o escudo de fogo e empunhou sua espada, Amanda preparou a flecha coberta de eletricidade sob seu queixo. Eles saíram para a noite escura às cegas, com apenas a luminosidade do escudo do garoto. Quando avistaram duas silhuetas - uma iluminada por eletricidade e a outra como se fosse o próprio sol se apagando- altas e esguias no escuro, eles ofegaram.

 

- EU TE AVISEI, TIAGO!- A irmã gritou.

 

- Ah, não culpe o seu irmão, Amanda. – a mulher de no máximo 20 anos saiu do anonimato. Ela tinha cabelos loiros que caiam em pesados cachos sob seus ombros, como os de Amanda, olhos azul-elétrico como os de Tiago e era bronzeada como seu marido. Os cabelos cor de ouro do rapaz eram como os de Tiago, apesar de seus olhos serem igualmente amarelos aos de Amanda.

 

O casal parecia dois ou três anos mais velho que os gêmeos.

 

- Nós sabíamos que vocês fariam isso, estava no olhar de Tiago o tempo inteiro. – Apolo completou.

 

- Mãe, pai, nos desculpe, mas nós realmente não podemos ir para aquele lugar. – Amanda fez beicinho, amolecendo na hora o coração de seu pai.

 

- Apolo, não! Pare de tratá-la como princesa! Não! Sem ‘mas, amor’!- a mãe franziu o cenho para o marido. – E Amanda, você sabe que o seu pai é fraco, não faz isso.

 

- FRACO?

 

- Sim, amor, sim. – ela passou a mão pelo braço de Apolo carinhosamente, e ele logo se acalmou. – Sabe, Amanda, sendo você a deusa da mentira, é de se esperar. – ela deu de ombros, olhando a filha. – Mas você, Tiago? Esperava mais responsabilidade. E obrigada por ser o deus da verdade, nos contou tudo com seus olhos. Lindos olhos, a propósito. – ela deu um sorriso estonteante, fazendo seus olhos faiscarem.

 

- Aghata Helena, você mesma me mandou para as Amazonas para ser treinada por 5 anos. E, modéstia parte, eu fui bem treinada. – ela estufou o peito. – e se tem alguém que precisa de treinamento aqui, é Tiago. – ela empurrou o irmão para frente e se escondeu atrás dele.

 

- Eu pensei que nós estávamos nessa juntos!- Tiago sussurrou baixinho sobre seu ombro, mal podendo acreditar na traição da irmã.

 

- Estávamos. Irmãos, irmãos; castigos aparte. – ela sussurrou em resposta.

 

- O ditado não é assim, filha. – Aghata riu musicalmente, fazendo o coração de seu marido disparar. 100 anos com aquela beleza e ainda não havia se acostumado. – Anda, Tiago, vai contando a verdade.

 

- Mãe! Você não pode simplesmente sair exigindo a...

 

- Desembucha, Tiago. – ela disse em um tom impaciente. Aghata era Filha de Zeus, era quase impossível desobedecê-la.

 

- Mãe, Amanda foi uma amazona, eu fui treinado por Ares, você realmente acha que nós precisamos de acampamento de mestiços?- ele ergueu uma sobrancelha loira para a mãe.

 

A única coisa que mostrava que Amanda e Tiago eram gêmeos era o loiro dos cabelos. Não fossem a beleza estonteante, os olhos, o excelente físico e os brilhantes fios claros, os quatro mal pareceriam uma família, e sim amigos.

 

- Eu já expliquei que vocês não estão indo por falta de treinamento, mas por causa do enorme ego de vocês. – A mulher fechou os olhos impaciente.

 

- Ah, como se fossemos só nós que tivéssemos egos enormes!- Amanda bufou.

 

- Isso é verdade, mãe. Nossos egos juntos mal cabem nesse palácio. – Tiago confirmou com a cabeça.

 

- Os argumentos de vocês só pioram. – Apolo acenou negativamente com a cabeça.

 

- Não sei se vocês se lembram, - Aghata fez sua voz ecoar, fazendo todos a olharem, presos por sua aura de autoridade. – mas eu vivi quase 10 anos da minha vida treinando naquele acampamento.

 

- Mas você era semideusa.

 

- Vocês não têm disciplina!- Ela retrucou, calando Amanda na hora. – E isso pode ser erro meu, mas é gene do seu pai!

 

- EU? POR QUÊ?- Apolo virou boquiaberto para ela, apontando um dedo para o peito malhado.

 

- Ora, Apolo, todo mundo sabe que você é indomável. – ela fez soar como um elogio, para que o marido se acalmasse. E então se virou novamente para os adolescentes. – Quando eu tinha 15 anos era mais prudente que vocês!

 

- Quando você tinha 15 anos você bebeu e estuprou o meu pai!- Amanda abafou um riso.

 

- Cala a boca, não perguntei. – respondeu ela autoritariamente, mas corada. – E de qualquer jeito, para onde vocês iam?

 

- Sei lá, - respondeu Tiago, dando de ombros. – viver entre os mortais. Conhecer um pouco sobre eles.

 

- Ou no Olimpo. – a gêmea completou.

 

- Muito inteligentes vocês, nem parecem meus filhos!- Aghata semicerrou os olhos. – Iam viver entre os imortais, no reino do meu pai! Ou então entre os mortais, FAZENDO FILHOS QUE VOCÊS NÃO PODEM CUIDAR, NÃO É MESMO?

 

Os gêmeos estremeceram.

 

- Mas, mãe, você nos disse que era normal deuses terem filhos com mortais, por isso existia aquele acampamento.

 

- E, – Tiago ergueu o queixo firme. – você tem filhos com mortais.

 

Apolo bufou, parecendo levemente irritado e enciumado.

 

- Você também!- Amanda deu um sorriso triunfante para o pai.

 

- Mas nós temos responsabilidade para cuidar deles!- respondeu, não tão corado quanto a esposa. – E, além do mais, nós somos mais velhos.

 

- Minha mãe só tem 15 anos a mais que a gente!- Tiago protestou.

 

Amanda assentiu firmemente com a cabeça, jogando sua franja loira nos olhos.

 

- Mas, - ela passou a mão pelos cabelos, como os quatro faziam sempre. – nós não somos ninfomaníacos, não vamos sair por ai agarrando mortais. Bom, talvez Tiago vá, mas... Ah, Tiago, não faz essa cara, você sabe que vai.

 

- O caso é que – Aghata interrompeu. – vocês vão ficar no acampamento o tempo que for preciso. E, olha, se eu pudesse, eu voltaria para lá. Foram os melhores verões da minha vida.

 

- Então nós vamos ficar só durante o verão?- Os olhos de Amanda faiscaram de esperança.

 

- Fico muito feliz que esteja usando o futuro, filha. – ela sorriu e implodiu em faíscas de eletricidade. Simplesmente.

 

- Eu odeio quando ela faz isso. – Tiago revirou os olhos.

 

- Pai, você tem que nos ajudar com isso! – Amanda correu e abraçou o pai. Sabia o quanto o pai a mimava.

 

- Filha, vocês têm que ir ou sua mãe me mata. E, além do mais, lá é divertido. – ele passou a mão pelos cabelos da filha.

 

- Você nunca foi para lá. – ela choramingou no peito extraordinariamente quente dele.

 

- É... mas, pelas histórias que a sua mãe conta...

 

- Eu não acredito. – ela impôs.

 

- Estamos todos imprensados. Sua mãe faz isso com tanta facilidade. E, felizmente, vocês herdaram isso dela. São sagazes, vão sobreviver ao acampamento.

 

Mas os gêmeos franziram os narizes finos e angulares, inseguros.

 

 

- NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAO!-Tiago protestou, impedindo que suas pálpebras se abrissem, e puxando o travesseiro das mãos do, que no momento ele considerava, o inimigo.

 

Mas a mulher continuava a bater o travesseiro na bunda – coberta apenas por uma cueca branca- dele.

 

- Galeia, me ajude aqui. – ela chamou a ninfa que observava a cena dando risinhos, escorada na porta. Ela correu com passos curtos pelo quarto mal-iluminado. – Vá o acordando. Eu tenho que fazer uma coisa.

 

A ninfa começou a fazer cócegas no abdômen forte e bronzeado de Tiago, que começou a saltar deitado, rindo. Ele abriu os olhos e passou as mãos pela cintura da ninfa, fazendo-a parar. As bochechas de Galeia adquiriram um tom esverdeado, enquanto ela ria mais ainda, o corpo pressionado contra o corpo másculo do garoto.

 

Enquanto isso, Aghata andou até a parede leste, a que havia um enorme sol pintado. Não era um sol ilustrativo, mas como se a própria estrela estivesse ali, com sua luz e calor diminuídos milhões de vezes, fixado no concreto. Havia uma parede dessas em cada cômodo do palácio, menos no quarto da filha. Ela colocou as mãos na parede e se concentrou.

 

- Controle-se, Tiago. – advertiu. O filho e a ninfa pararam com os risinhos na hora. Ele jogou o travesseiro no rosto de novo e resmungou algo abafado.

 

O sol na parede ficou mais luminoso, como se a estrela estivesse mais perto. Aghata, na condição de deusa da energia e luz, conseguia fazer isso.

 

- AAAAAAAAAAAAAH NÃO, MÃE!- Tiago reclamou da claridade, apertando ainda mais o travesseiro contra o rosto.

 

Aghata ignorou, passando direto por ele com o queixo erguido. Andou, tão graciosamente que parecia uma dança, até a porta. Quando ela desapareceu soleira afora, Tiago acenou com a mão e o sol apagou.

 

- Talvez, - A cabeça de Aghata apareceu na soleira da porta de novo. – você gostaria de saber que daqui a pouco eu vou ao Olimpo, fazer uma visita ao meu pai. Quer mandar algum recado?- sua voz era extremamente cínica e falsa.

 

Tiago deu um pulo, caindo de barriga no chão.

 

Aghata deu um riso triunfante e saiu pelo corredor, com Galeia a seguindo. Virou na porta do lado oposto do corredor. Escancarou a porta. Ao contrário do quarto do garoto, esse quarto era iluminado por uma enorme e fascinante bola de energia no teto. Parecia que um mini Big Bang estava prestes a acontecer. Mas agora a bola transmitia uma luz fraca, tranqüilizante.

 

A deusa olhou fixo para a bola, e ela logo se tornou insuportavelmente luminosa a olhos humanos. Se controlar a luz solar era fácil para ela – dom que ganhara do marido -, controlar a energia era mais ainda. Era seu dom por natureza, por genética. Uma herança de seu pai.

 

- EU SABIA QUE VOCÊ VIRIA!- Amanda resmungou. Ela se encolheu mais ainda debaixo do cobertor, se aninhando na cama.

 

- Então já devia estar acordada. Vocês têm de ir logo. – Ela passou a mão carinhosamente nos cabelos sedosos de Amanda, se sentando ao lado do corpo longo e curvilíneo da filha.

 

- Nãaaaaao, mamãe. – ela murmurou. – Eu não quero ir ao acampamento.

 

- Então talvez você devesse ao menos cumprimentar a visita. – seu tom de voz mudou de repente. Passando de maternal para totalmente cínico.

 

Amanda reconheceu o tom de voz da mãe, usava-o com freqüência também. Ela estava blefando.

 

- Diga-lhe que sou mal educada. – ela se aninhou no cobertor.

 

Os olhos azuis elétricos de Aghata faiscaram.

 

- Não, você não é.

 

Amanda deu um grito e saiu debaixo do cobertor com um salto. Aghata sorriu satisfeita ao ver a filha de pé, totalmente acordada. O cobertor estava coberto de eletricidade, e isso fez bem à pele da mãe que estava em contato com ele.

 

- Talvez você ficasse muito interessada em saber quem é a visita. – Ela se levantou e começou a sair do quarto. – Mas não acho que eu precise dizer. Conhecendo vocês do jeito que eu conheço, presumo que seu irmão já vem te dar uma pista.

 

Amanda franziu o cenho, desgostando da idéia de não saber.

 

Como Aghata suspeitou, Tiago veio correndo até o quarto da irmã, derrapando no chão para parar à porta da irmã. Ele estava abotoando um jeans surrado, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo, sem camisa. Amanda não podia deixar de ficar impressionada com a beleza dele.

 

- Late. – ela disse tensa.

 

- Zeus está aqui. – ele respondeu paralisado, olhando atentamente o rosto da irmã, esperando que ela compartilhasse de seu desespero.

 

- O QUE? Co-como você sabe que é ele?

 

- Mamãe disse que ela o veria mais tarde, está na hora de ir ao acampamento e nós ainda não decidimos que vamos para aquele fim de mundo. Ela não é estúpida, eu sou. Eu devia saber que ela teria uma carta na manga. Aghata Helena, filha do próprio Zeus, sempre ai para atrasar e melhorar nossas vidas. – ele acrescentou com um suspiro cansado.

 

- Ma-mas, o que ela pode fazer?- ela começou a caminhar de um lado para o outro no quarto.

 

- Você também é estúpida, não é? – sarcasmo pesado, coisa incomum para o deus da verdade.

 

- Ela vai contar a ele. – ela sussurrou para si, com os olhos desfocados, fincando os calcanhares no chão.

 

- É claro que ela vai. – ele murmurou, semicerrando os olhos para a pilha de livros de Amanda.  – Ela é tão esperta. Já sabia que nós não iríamos querer ir, por isso tomou uma providência, um plano B. Atena devia dar um prêmio a ela.

 

- Atena sempre tem um plano. – Amanda concordou, lembrando do que lhes foi ensinado desde pequenos.

 

- MAS!- ele içou um dedo. – Nós ainda temos esperança.

 

- COMO NÓS PODEMOS TER UMA ESPERANÇA, TIAGO?- A irmã gritou, perdendo a paciência. Era estranho que agora a deusa da sorte estivesse sendo pessimista e o do azar esperançoso.

 

- Eu ainda não sei! Mas nós vamos pensar em algo, eu sei que vamos. Nós herdamos a sagacidade da nossa mãe, mesmo que em escala menor.

 

  - Você acha que Zeus vai ficar tão bravo quando descobrir que fomos nós?- Amanda perguntou baixinho. No momento, ela parecia uma garotinha pequena assustada.

 

- Não quando, se. – Tiago corrigiu. Quando viu que a irmã estava assustada, andou até ela e a puxou para o seu peito nu, apoiando o queixo em sua cabeça. – Olha, Amanda, nós vamos dar um jeito, tudo bem? Nós vamos conseguir nos livrar disso.

 

- Tiago, ele vai nos punir. Ele está calmo agora, porque Atena conseguiu acalmá-lo, mas quando ele descobrir que fomos nós... – ela soluçou, aninhando-se no peito quente do irmão. – Nós vamos passar a eternidade com uma águia comendo nosso fígado. O-ou rolando uma pedra sobre uma montanha, sem nunca conseguir chegar ao topo.

 

- Amanda, fica calma. – ele afagou a cabeça da irmã. – Mamãe não nos entregaria, tudo bem? Ela pode ser uma ótima jogadora, mas você sabe que ela nos ama mais que tudo. Ela sabe que nós seríamos severamente punidos, ela não faria isso. Ela é mãe. A melhor que existe.

 

- Isso significa que nós temos mesmo que ir para o acampamento, não é?- ela se acalmou, piscando para afastar as lágrimas que começavam a brotar em seus olhos.

 

- Acho que sim. Nós temos que agradá-la.

 

- Eu só queria uma mãe burra!

 

Tiago riu, fazendo a cabeça de Amanda quicar.

 

- Eu também.

 


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