Filth In The Beauty escrita por gaara do deserto


Capítulo 2
On a Cage - Part II


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai a segunda parte sobre o Ruki-kun.



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Chapter 02: On a Cage – Part II

 

DURANTE ANOS ESTIVE PRESO EM UMA GAIOLA.

Só recentemente percebi que...

Eu não sou um corvo.

Mas um rato QUE TE PUXA PARA A PODRIDÃO.

Esperando que entendam no que eu me transformei.

CORVO. RATO.

- 1000 ienes. – atirei-lhe o dinheiro sem nem contar direito – Grato pela preferência. – e me entregou a sacola plástica com um sorriso insosso de loja de conveniência.

Na volta pra casa passei pela Floricultura Hanazuki onde o movimento era esparso e um pequeno cartaz na parede chama, por poucos instantes, a atenção dos transeuntes.

“VOCÊ VIU ESSA GAROTA?” impresso em letras cinza e garrafais e abaixo uma foto de uma garota de cabelos compridos, olhos expressivos, naturais e bondosos acompanhados por um sorriso cativante. “HONDA HIMIKO, 22 ANOS. LIGUE PARA...”. Sorri, puxando um cigarro da carteira e prossegui.

Para reforçar meu teatro, almocei em casa e depois de um banho, resolvi o que sabia dos exercícios propostos e li um dos últimos capítulos d’O Corvo e no meio da tarde tornei a sair, sem esquecer a sacola da loja de conveniência. Peguei o metrô para a periferia da cidade e senti-me esperançoso como sempre ao ir para aquele lugar. Ao sair da estação, uma fina camada de chuva iniciou-se, bem-vinda e fria. Apressei meus passos na direção de uma alameda de prédios malcuidados, suspeitos e de ar cinzento. Latas de lixos estavam dispostas de forma desordenada na frente do 2054, uma estrutura desgastada e ocidental de cinco andares com um modesto quadro néon apagado em que se lia “Diária: 2000 ienes”.

Passei rápido pela recepção e o recepcionista de cara de rato ergueu um polegar para mim e retribui o gesto automaticamente. A sacola plástica escorregava por meus dedos e segurei-a com firmeza conforme subia as escadas até o quinto andar. Desemboquei em um corredor iluminado por luzes azuis que lançavam sombras fantasmagóricas nas portas dispostas dos dois lados. Puxei um molho de chaves e parei na frente do 5-E no fim do corredor. Um completo silêncio. Duas semanas de silêncio.

A chave girou e adentrei. As cortinas cerradas deixavam tudo mais escuro e a luz do corredor extinguiu-se quando tranquei a porta. O cheiro de umidade me dava um pouco de náusea, mas ergui a sacola contra o corpo, avançando.

- Himi-chan? – chamei na escuridão, andando até o centro da pequena sala. A resposta foi rápida, um arquejar abafado, algo farejando o ar.

Honda Himiko estava acordada.

***

A primeira vez em que eu vira Himiko resultou de um impulso cerebral sem nome, um Vício de Momento baseado em vadiar por aí sem motivo aparente. E Então estacara na frente da floricultura e entrara a fim de desviar de um grupo de veteranos. Puro instinto de autopreservação.

- Ano... Sumimase, eu posso ajudá-lo, senhor?

Tirei os olhos da rua e virei-me para saber quem falara comigo.

Foi quando eu a vi, a expressão de comedida dúvida, mas nenhuma nota de desagrado ou desprezo. Recuei surpreso. Nenhum “SAIA JÁ DAQUI”.

 - Senhor, está tudo bem? – perguntou, aproximando-se.

- Qual o seu nome? – disparei, sem pensar.

- H-Honda Himiko – respondeu, gaguejando, as mãos juntas em frente ao coração.

Tomada a informação, corri porta afora, a pulsação acelerada, desnorteado. Mais tarde descobri que estava irremediavelmente encantado por aquele rosto e a voz doce de...

- Honda Himiko – repeti, nem a primeira nem a última vez nos próximos meses. E isso se tornaria uma obsessão desenfreada.

***

Entrei no pequeno aposento forrado de papel de jornal e infiltrações no teto. Havia um abajur em cima de uma mesinha de cabeceira, só que não havia cama alguma no quarto. No lugar, eu colocara uma cadeira acolchoada. Era o suficiente por enquanto para conter uma possível fuga.

- Desculpe o atraso – disse, me aproximando da cadeira – Trouxe seu almoço.

A figura sentada na cadeira continuou de cabeça baixa, os braços no encosto, amarrados por cordas grossas, assim como seus tornozelos. Agachei-me, largando a sacola no chão.

- Himi-chan? Você não me ouviu? Está dormindo?

Ela começou a se agitar e sacudir de um lado para o outro, enlouquecida, as unhas arranhando os braços da cadeira, grunhindo ao invés de gritar, pois a mordaça a impedia de falar. Preferi deixar que ela se cansasse.

Por quê? Porque eu sou um canalha doente. Um RATO. E aquela era a toca onde eu escondi minha presa. E agora a presa se cansara. Arfava com esforço e eu observava, esperando pacientemente.

- Mais calma? – perguntei quando sua respiração tranqüilizou-se – Posso te soltar? Não quero ser malvado com você, Himi-chan.

As unhas pararam de arranhar e Himiko levantou o rosto, os olhos procurando os meus, cheios de algo bem diferente do que eu me acostumara. Era ressentimento e um medo desesperador. Mas logo ela se conformaria e soube que não gritaria.

- Isso, meu bem. Agora fique quietinha. – dei a volta na cadeira e desamarrei a mordaça. Nenhum som escapou de seus lábios – Ótimo, Himi-chan, agora vamos ao seu almoço.

Abri a sacola e retirei uma garrafa de água e uma marmita com hashis. Tirei o lacre da marmita e uma refeição que incluía porções de sushi, sashimi com wasabi e kinpira e shoyu apareceu. Os olhos de Himiko devoraram a comida e fiquei contente. Como não podia solta-la, peguei os hashis para dar-lhe comida na boca.

- Antes de comer, agradeça, Himi-chan – lembrei-lhe, pois seria talvez a única oportunidade de ouvir sua voz.

- I... Itadakimasu. – murmurou, fraca.

Levei um pedaço de sashimi até a boca dela, que engoliu de bom grado. Era muito obediente quando queria e isso facilitava as coisas para mim. Não gostava de machucá-la (como tive que fazer usando clorofórmio) ou mesmo gritar com ela. Seria perigoso.

Quando metade da comida havia sido ingerida, ela pediu água e atendi-a, preocupado com seus lábios ressecados. Tinha diversas preocupações com sua saúde e seu silêncio, mas naquela segunda semana de cárcere ela não estava tão rebelde, o que me fazia pensar que podia ficar doente.

E minha devoção não seria suficiente para salvá-la.

 

***

O tique-taque do relógio estava me enlouquecendo. Me revirava na cama sem sono algum. A imagem de Himiko agarrada àquele desconhecido sorrateiro estava grudada em minha retina e não conseguia apagá-la ou forçar-me a fechar os olhos.

Acabei apelando para as aspirinas, que me tinham sido muito úteis nos últimos dias.

O dia seguinte passou em um borrão confuso e dei pouca atenção aos xingamentos diários ou pernas esticadas propositalmente. Eu queria aspirinas. Eu queria dormir. E queria ainda mais Honda Himiko.

Mas o Corvo estava tombado no fundo da gaiola, esperando ser enterrado. Apenas seu espírito continuava inquieto, querendo o que não podia ter.

Um laivo de raiva pura se misturava a isso.

- Boochan, está tudo bem?

- Vá pro inferno – minha boca acabava respondendo coisas diferentes das habituais mentiras, mas o horror não me atingiu, ignorei a cara ofendida de Rika-san.

Esperei a tarde toda por alguma resolução, uma luz, qualquer coisa.

VÁ PROCURÁ-LA, IDIOTA.

Obedeci ao impulso, correndo porta afora. Quase colidi com otou-san na entrada (O QUE DEU NESSE GAROTO?!), desviei e continuei até conseguir um táxi que me levasse para a Floricultura Hanazuki.

E lá estava ela, fechando a loja. Nem sinal do outro.

- Honda-san? – chamei, o interior revolvido, mas a voz calma.

Ela se virou sorrindo (esperando-o, talvez?). O sorriso desapareceu ao ver-me parado ali.

- Boa-noite – cumprimentei, estranhamente feliz com sua decepção.

- Ah... Gomenasai, já fechamos por hoje, senhor.

- Daijoubu, só queria comprar alguns lírios.

Seus olhos arregalaram-se de espanto e me analisaram mais de perto.

- Você! – exclamou – É o “garoto-dos-lírios”, não é? Nunca mais apareceu!

- Estive um pouco ocupado – superfície branda, raiva sob controle. Corpo mutilado, espírito louco.

- Imagino que sim, você parece ser bem estudioso.

Mas seu comentário me dizia que estava assustada. SER ESTRANHO A MENOS DE UM METRO.

Eu não tinha tempo para isso.

- Gostaria de sair comigo, Honda-san? – eu só precisava de uma confirmação para A PRIMEIRA PÁ DE TERRA.

- Eu...? – ela girou o chaveiro nos dedos, evitando me encarar – Eu lamento, mas não posso aceitar. Nem sei quem é você.

- Sabe mais que a maioria – argumentei, sem pensar – Basta eu ser o “garoto-dos-lírios”.

- Olha, você é legal, mas a resposta ainda é “não” – Himiko recuou um, dois, três passos, alerta – Além do mais, você é novo demais e eu tenho namorado.

(E VOCÊ ME DÁ ARREPIOS). Só faltou a dose certa de sinceridade.

- Eu gosto de você, Honda-san. – eu nem sabia mais o que dizia, mas não fiquei nervoso como pensei que ficaria ao admitir aquilo em voz alta – Isso não muda nada?

- Onegai, não quero ser mal-educada com você – mais um passo, MAIS UMA PÁ DE TERRA – Sugiro que arranje uma garota da sua idade.  Tenho que ir agora.

Esperei ela sumir de vista e certificar-me de que não retornaria. Olhei meu reflexo na porta de vidro atrás do gradil de ferro. Meus olhos permaneciam entre o louco e a catatonia.

O CORVO FORA ENTERRADO.

 

***

A marmita vazia voltara para dentro da sacola junto com a garrafa de água. Himiko continuava calada, a cabeça pendida para o lado, o olhar vago de um autista. Completamente imóvel.

- Ainda está com fome, Himi-chan? – perguntei, sentado a sua frente em outra cadeira.

Ela não respondeu. Me peguei pensando em como isso era errado, forçado e criminoso, apesar de não ligar para o último quesito. Seqüestra-la não a fizera falar ou sorrir mais. Nem os lírios a fariam ceder. Nada a faria me amar.

Fiquei desanimado. E se eu a soltasse? Claro que me denunciaria.

Era óbvio que eu seria preso. ENCARCERADO OU MORTO.

- Por que está fazendo isso?

Himiko deixara a letargia de lado e me observava séria. Era a primeira vez em duas semanas que seu desagrado acentuado dava lugar a algo mais ameno. Ajeitei-me na cadeira, clareando a cabeça.

- Por quê? Porque gosto de você, já lhe disse.

- E... Essa é a sua maneira de demonstrar? – e indicou as cordas que a prendiam.

Pensei a respeito. O convencional não funcionava comigo.

- Sim, foi a última coisa que me restou.

Sua boca entreabriu-se, mas nenhum som escapou. As pernas mexeram-se e as cordas rangeram com o movimento. E quando pensei que ela desistira de conversar, sua voz tornou a erguer-se.

- Qual o seu nome, “garoto-dos-lírios”?

- Me chame de... – e remoí minhas idéias até achar algo – Ruki.

- Ruki – repetiu, em dúvida – É seu nome de verdade?

- Não.

Ela franziu a testa e continuou.

- E quantos anos tem? – seu tímido interrogatório me dava um prazer ao qual não podia me permiti. Era ilusório.

- Dezessete – respondi, seguido por um bip do relógio de pulso – Isso é verdade.

Olhei o relógio e percebi o quão tarde era. Tinha que ir embora. Levantei da cadeira, repondo-a no canto do quarto.

- Você já vai? – as cordas rangeram de novo.

- Gomenasai, eu volto amanhã – prometi-lhe, erguendo a mordaça para tornar a calá-la.

- Ruki-kun, posso lhe perguntar mais uma coisa? – acenei que sim e ela prosseguiu – Você pretende me soltar um dia?

Eu realmente não pensara o bastante para assegurar-lhe.

- Não sei lhe responder – voltei a amarrar a mordaça, mas deixei-a mais frouxa de propósito – Boa noite, Himi-chan. I wish you had sweet dreams. – Himiko lançou-me um olhar confuso e deu de ombros.

Eu quase ri dessa manifestação de sarcasmo.

 

***

Eu me lembrava bem do dia em que conhecera Shimura Yahiko. Sangue escorria de minha boca, mas eu quase não sentia mais nada de tanto que já apanhara.

A rodinha de garotos me cercava e chutava, empurrando-me para chão, atrás do ginásio. Os gritos morriam antes de saírem de mim.

- Sua garotinha! Chora, CHORA, sua bicha! SEU ANORMAL!

- Parem com isso! – no meio de tantos xingamentos foi bem incomum ouvir aquele protesto. Mas estranho ainda foi perceber que os chutes cessaram de verdade.

- Vai encarar, Shimura? – um dos garotos da rodinha se pronunciou.

- Encaro vocês todos, Okashima – rosnou o recém-chegado e pensei ter ouvido tinidos de metal – E aí? Quem vai ser o primeiro?

Nenhum deles foi. Todos se mandaram, resmungando baixo. Uma sombra se agachou ao meu lado e senti dedos passando pelos meus cabelos.

- Qual o teu nome, moleque? – sua voz estava mais calma, serena, surreal para meus ouvidos acostumados a deboche e palavrões. Abri um pouco os olhos, que estavam pesados de dor, e enxerguei um garoto de cabelos negros e espetados e rosto comprido, quase adulto.

- Ma-matsumoto... Taka... nori – forcei-me a falar, mal acreditando que aquilo era verdade – O... O q-que...

- Shh, Matsumoto-kun – ele sorriu pela primeira vez e suas feições tornaram-se mais suaves – Quieto. Vou cuidar de você.

VOU CUIDAR DE VOCÊ. 

- Gostei da casa, Takanori – nunca trouxera amigos em minha casa (nunca tivera nenhum), mas em menos de um mês, Yahiko e eu éramos inseparáveis. Claro que o fato de ele ter sido ex-membro de gangue ajudava a manter meus agressores de sempre longe, mas eu ligava mais para o bem-estar que sentia ao estar ao lado dele e percebia que ele era mais do que parecia.

Sua amizade me fazia tão bem que ás vezes eu achava que estava me aproveitando.

Fora da escola ficávamos na minha casa jogando video game e conversando todo tipo de coisa. Foi assim que fiquei sabendo da estória da gangue e de como ele odiava a própria família, inclusive o pai, que pagava a escola mais cara possível só para calar a boca de sua mãe, pois ela era A OUTRA e Yahiko, O BASTARDO. E como tudo piorara quando a irmã morrera, dois anos antes, atropelada por um motorista bêbado.

- Mas e você, Takanori? – era início das férias depois da conclusão do primeiro ano e nos víamos quase que diariamente – Nunca me falou porque se veste com roupas tão chamativas ou usa maquiagem.

- Me sinto bem desse jeito. Algo como estilo próprio ou sei lá. Eu sou assim desde que comecei a comprar minhas próprias roupas.

- Sério? – ele apagou o cigarro no fim, jogando-o no cinzeiro – Não te ocorreu que talvez seja por isso que te perseguem tanto?

- Pode até ser, mas se eu mudasse por causa deles estaria traindo a mim mesmo – aceitei o cigarro que ele me passava com receio, nada acostumado – E eu só tenho a mim. Se perdesse a confiança, o que me restaria?

Yahiko limitou-se a sorrir.

- Tem razão, Takanori.

- hide-san desistiria? – insisti, contente pela compreensão.

- Cara, o hide tá morto – ele riu baixo – Isso não é lá um bom exemplo.

Dei de ombros. hide era hide, morto ou não.

Nesse período comecei a me interessar por pintura. Claro que eu não era um fanático pelas artes, mas me dedicava o suficiente para apreciar o meu trabalho. Era influenciado basicamente pelas bandas que ouvia, tantos japonesas quanto estrangeiras, e o horror naturalmente se infiltrou nos pincéis para a tela. E eu gostava disso.

Yahiko me apoiava. Se ninguém mais ligava, ele pelo menos se importava. Aceitava meu estilo, me ajudou a furar as orelhas, não se envergonhava em andar comigo e me defender dos outros.

- Por que me protege tanto, Yahiko? – perguntei, tímido de estar parecendo um maldito ingrato.

- Porque você é meu amigo, baka – respondia ele, soprando fumaça da boca – É como se você fosse...  meu irmãozinho problemático.

Engraçado como aquelas palavras aqueciam meu coração.

Eu quase conseguia sorrir.

O Corvo e a porta aberta.

VOU CUIDAR DE VOCÊ.

 

***

Cantarolava uma música a algum tempo, de boca fechada. Não lembrava mais a letra, mas gostava do ritmo. O ruído macia de mastigação de Himiko era a única coisa que me acompanhava no canto semi-mudo.

Os hashis que ela segurava atacavam a comida em intervalos pequenos e senti a pontada costumeira de culpa por talvez não estar alimentando-a direito e a visão dos vergões que as cordas deixaram em seus pulsos me deixou ainda mais culpado. Voltei a me concentrar no cantarolar.

- Polly wants a cracker, she’s as bored as me... – subitamente lembrei que era Polly, do Nirvana, que estivera cantando. A letra saiu num impulso, mas continuei murmurando a canção.

O som dos hashis contra o plástico da marmita parou e eu também. Himiko me olhava fixamente.

- Nani wa, Himi-chan? – perguntei, sem conseguir evitar ruborizar.

- Você... Você canta bem, Ruki-kun – elogiou ela e havia um brilho em seus olhos que me fez corar mais. Baixei o rosto, sem graça e com o coração batendo num ritmo que fazia meu estômago doer.

- Arigatô, Himi-chan – e mais para me livrar do rubor do que qualquer coisa tirei a garrafa de água que sempre comprava com a marmita e lhe entreguei, nervoso. Ah, seu baka, tem que agir como um fracote agora?!

Himiko pegou a garrafa, os dedos encostando nos meus e corei de novo. Acho que ela viu, porque riu baixinho (para minha incredulidade) antes de abrir a garrafa e murmurar um agradecimento.

- Por que uma garota seqüestrada ri? – perguntei, em dúvida.

- Porque talvez o seqüestrador não seja um pervertido como ela imaginou que fosse – ela respondeu, por Kamisama, sorrindo.

- Pervertido? – repeti, confuso – O que achou que eu ia fazer?

- O de sempre, sabe? – não, não sei – Seqüestro, estupro e assassinato. O que se vê na televisão. O crime triplo, Ruki-kun.

- Espero que tenha percebido que não vou fazer os últimos dois.

- Sim, já percebi – ela entregou-me a garrafa – Você é... Diferente dos outro.

- É, sei que sou estranho – juntei as vasilhas vazias e levantei da cadeira, pois já começava a escurecer.

- Você já vai? – e com uma súbita pontada de orgulho notei que ela queria que eu ficasse.

- Volto amanhã – mas eu queria ficar e ouvir mais.

- Ruki-kun, você tem uma família? – sua pergunta pegou-me de surpresa, completamente diferente do que eu esperava ouvir.

- Tá mais pra fachada – respondi, sem entender aonde ela queria chegar.

- Bem, eu sinto por você, mas tenho uma família. Pai, mãe e cinco irmãos.

- E daí? – eram os sintomas do RATO se manifestando.

- Só queria que você soubesse. Boa noite, Ruki-kun.

Suspirei, vencido por suas palavras.

- Boa noite, Himi-chan. – e ao chegar na porta do quarto, acrescentei – Vou deixar suas mãos soltas.

- Arigatô, Ruki-kun.

Mais uma semana, menos convicção eu tinha em mantê-la presa. Estava sendo idiota se achava que ela se apaixonaria por mim. Talvez um pequeno e rápido surto de Stockolmo, mas nada de mais. As mãos soltas e a falta da mordaça eram apenas concessões minhas que tinham esperanças de que a ajudassem a se soltar sozinha. Fora o fato de achar que eu estava sendo seguido há pelo menos cinco dias. Entretanto, não mudaria meu trajeto.

EU SÓ QUERO QUE ISSO ACABE. PORQUE O RATO É SUPERFICIAL.

ELE SE DEBATE FEITO LOUCO, SEM CHANCES.

- Takanori?

Derrapei no meio da corrida e voltei-me para meu pai.

- Onde está indo? – ele estava sentado numa poltrona alta, lendo um livro. Nem fazia idéia do porque de ele estar em casa em um horário tão improvável.

- Vou pra casa de um amigo jog...

- Tome cuidado – e ele já nem estava mais ouvindo. Balancei a cabeça, saí de casa e fiz o meu trajeto, mais um dia daquela agonia. Só que a sombra que eu vislumbrara em meu encalço não estava me seguindo dessa vez.

Entrei no prédio, a sacola plástica na mão. Subi as escadas, mas uma estranha sensação percorria minhas entranhas.

CUIDADO, RATO.

Antes que eu pudesse abrir a porta do 5-E, os canos das armas me deram boas-vindas, todos apontados para meu coração.

- Você está preso, Matsumoto Takanori-san – anunciaram os policiais.

 

 

Honda Himiko-chan

Honda Himiko-chan >.<

 


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Notas finais do capítulo

Deu muuuuuuuuuuiiiiiiiitttttttttooooooooo trabalho achar a foto dessa guria.
Obrigada por lerem.
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