“Querido Diário.” A rapariga senta-se na sua cadeira, sorrindo para a camera. São 10 horas da noite, e o quarto está silencioso. Ela continua a falar. “Nada de especial aconteceu hoje. Eu fui à geladaria aqui da rua com a Ana e a Luisa e comemos uns gelados, porque estava mesmo um dia muito quente, e- ”

Um pequeno som de algo a ranger faz-se soar. A rapariga vira-se a tempo de ver a porta do quarto a abrir-se lentamente, revelando o corredor escuro que estava depois dela.

Ela ignora o facto, assumindo ser apenas o vento, e salta da cadeira para a ir fechar. Ao sentar-se novamente, ela continua. “E então encontramos o Quim e os outros. Foi divertido. Fomos para o parque de skate depois disso.”

A porta abre-se novamente.

Franzindo as sobrancelhas a rapariga anda até ela e espreita para o corredor, observando a escuridão. “Rui?” Ela chama, incerta. “Isto não tem graça!”

O escuro permanece. Abismal.

A rapariga suspira. Dá um pontapé na porta fechando-a. Volta para a sua cadeira e recomeça pela terceira vez. “Tive um plenamente a Francês. O Mário diz que eu sou uma ‘nerd’ mas isso é apenas porque ele é mau.” Ela olha novamente, conscientemente, para a porta, como que desafiando-a a abrir – mas ela continuou ali branca e encerada. De repente, inquieta, ela mexe-se para acender a luz. O quarto fica inundado num brilho pálido, um brilho que fazia a noite lá fora ainda mais sombria. Por todo o lado, a escuridão parecia encurralá-la.

Mordendo o seu lábio ela começa a gaguejar, “E-Eu disse-lhe – que ele era estúpido, e-”

A porta abre-se novamente com o mesmo rangido.

“Rui!” Ela grita desesperadamente. “Eu sei que és tu! Isto não tem graça! Por favor pára!”

Ela vai até à porta aberta espreitando. O corredor estava tenebroso e deserto. sombras começaram a preenchê-lo, mandando longos dedos na direcção dela – sombras que pareciam ser feitas de nenhures.

A rapariga fecha a porta com força e encosta-se contra ela, a arfar. Ela corre o quarto com o olhar, os seus olhos assustados, agitados em terror. A escuridão em todo o lado. Escuridão no seu armário… Escuridão debaixo da sua cama… debaixo da secretária… tanta escuridão, parece consumi-la.

 A porta abre-se e a luz apaga-se.

Tudo fica negro.