The World Behind My Wall escrita por The Escapist


Capítulo 7
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Júlia estava certa de que não teria sofrido tanto se Eduardo a tivesse traído do que estava sofrendo por causa do fim por um motivo que ela nem sabia qual era. Num dia eles estavam bem, pretendendo se casar, e no outro Eduardo veio com aquela conversa de dar um tempo. Júlia nunca tinha estado tão triste como ficou depois do fim do namoro com Eduardo, e até Alexandre, que inicialmente tinha ficado contente com o fim da ideia absurda de casamento, teve que reconhecer que ela estava sofrendo. Mal saía do quarto, faltava aula, não fazia nenhuma tarefa de casa, enfim, agia como se já tivesse mais nada no que pensar na vida.

— Júlia, você não pode ficar assim para sempre...

— Não se preocupe, eu não vou ficar assim para sempre!

— Você deveria voltar a frequentar as aulas...

— Eu vou para São Paulo...

— Você não pode viajar assim no meio do semestre...

— ... Morar com a minha mãe.

— Como é que é?

— Você ouviu.

— Você não pode ir embora, Júlia.

— Quem disse que eu não posso?

— Você não pode fazer isso por causa dele, Júlia, será que você não entende que o Eduardo não merece que você sofra por ele.

— Me faz um favor, pai, se você não quer piorar as coisas, não fala do Eduardo, tá legal? Eu já resolvi, eu vou para São Paulo, na semana que vem.

— E a faculdade?

— Eu posso fazer faculdade em São Paulo.

— Você não gosta de São Paulo.

— Vou aprender a gostar.

— Júlia, o que eu posso fazer para você mudar de ideia?

— Nada, eu não vou mudar, eu não quero mudar de ideia. Será que você não entende? Eu não posso ficar aqui e ver o Eduardo, e viver como se nada tivesse acontecido entre nós...

— Tudo bem, se é isso que você quer, eu não posso impedir que você vá.

***

Ninguém sabia o motivo do fim do relacionamento de Júlia e Eduardo. Os irmãos, logo acharam que a culpa era do garoto e sempre que o encontravam na faculdade, olhavam torto.

— Como a Júlia está? — Eduardo perguntou a Bruno, preocupado de verdade, pois ela tinha faltado vários dias de aula.

— Como você acha que ela está? — Bruno respondeu bruscamente.

— Desculpa, eu só queria saber se ela está legal, foi mal.

— Qual é, cara, tu magoou a Júlia, e agora vem com esse papo de querer saber se está legal.

— Olha só, você não sabe nada sobre o que aconteceu entre eu e a Júlia, tá legal? Eu não queria que ela ficasse magoada, droga, dá licença. — Eduardo preferiu não discutir com o irmão de Júlia e foi embora.

Eduardo estava em casa, “curtindo uma fossa” quando foi trazido de volta à realidade pelo toque insistente da campainha, a última coisa que ele precisava naquele momento era de uma visita, por isso estava resolvido a despachar a pessoa, fosse quem fosse, o mais rápido possível. Quando ele abriu a porta, com expressão de poucos amigos, deu de cara com Alexandre, o pai de Júlia.

— Será que nós podemos conversar?

— Com todo respeito, senhor, o que o senhor pode querer conversar comigo?

— A minha filha está num estado mórbido, por sua causa.

— Por minha causa? Acho que não é por minha causa.

— Você a magoou, você a fez sofrer; você iludiu a Júlia; você disse que a amava, ela acreditou que ia se casar com você, e você simplesmente saiu à francesa da vida dela, sem nenhuma explicação e deixou a minha filha, num estado de depressão. Era esse o amor que você sentia por ela? — Eduardo fitou Alexandre com verdadeiro nojo.

— Quer saber por que eu deixei a Júlia? Não foi por que eu não goste dela, não foi por que não queria me casar com ela, foi por sua causa. Porque você é uma pessoa tão egoísta, e acha que é dono da sua filha, a ponto de pedir que ela escolhesse entre mim e a família. Você sabe que ela escolheu a mim, não sabe? Mas isso estava deixando a Júlia triste, porque, mesmo que você seja essa pessoa horrorosa que é, ela te ama, e eu sei que não seria bom para ela ficar longe do pai. Foi por isso que eu terminei, porque eu não poderia pedir que ela escolhesse entre mim e o pai dela; ficar com a Júlia seria a maior felicidade da minha vida, mas eu não quero ser feliz à custa da tristeza de outra pessoa, mesmo que essa outra pessoa seja alguém como o senhor, Dr. Alexandre. — Alexandre não conseguiu dizer nenhuma palavra; queria responder a Eduardo, mas na verdade não pôde encontrar argumentos contra suas palavras. Ficou por alguns instantes encarando o rapaz, que ainda parecia um garoto, fisicamente, mas tinha a mentalidade bastante madura.

— Você não pode entender... Eu só desejo a felicidade da minha filha.

— Eu não duvido das suas intenções, senhor.

— Se eu, se eu, concordasse, voltasse atrás, simplesmente não me metesse entre vocês, você poderia reconsiderar a sua decisão? — Eduardo sentiu um misto de orgulho e pena. Orgulho por vê Alexandre praticamente implorando que ele voltasse a namorar sua filha; pena, exatamente por vê-lo nessa condição, aquilo parecia estar sendo demasiadamente duro para o pai de Júlia.

— Eu voltaria para Júlia assim que ela quisesse, e estivesse feliz comigo.

— Então, volte, volte, por favor, mas, não deixa a Júlia ir embora; ela quer ir para São Paulo, Eduardo, mas ela não vai ser feliz lá; eu não posso impedir que ela vá, mas você pode, você é a única pessoa a quem a Júlia vai ouvir. Se você convencer a Júlia a ficar, eu juro que não me meto mais na vida de vocês dois.

— Eu não sei se eu posso convencer a Júlia de alguma coisa, senhor, ela é muito teimosa, como o senhor deve saber.

— Mas ela ainda ama você, e vai te ouvir.

A conversa com Alexandre deixou Eduardo confuso. Poderia ser assim, ele simplesmente mudava de opinião e as coisas voltariam ao normal? Talvez. Ou talvez Júlia estivesse magoada de verdade e não quisesse voltar. De qualquer forma, Alexandre tinha razão quando dizia que Júlia não seria feliz em São Paulo, primeiro porque ela não gostava da cidade, não gostava do padrasto, sentiria falta dos irmãos, e do pai, claro, das amigas, da casa, do quarto, de toda a sua vida.

Telefonou, ainda em dúvida, para Júlia; ela atendeu sem nenhuma empolgação — claro que Eduardo não esperava que Júlia voltasse correndo, mas aquela falta de interesse deixou-o desmotivado. Mesmo assim, convidou Júlia para conversar. Ela aceitou, e os dois se encontraram no shopping.

— Você tá com raiva de mim, Júlia?

— Você acha que eu estou?

— Não, quer dizer, não sei.

— Por que você me chamou aqui, Eduardo?

— Eu fiquei sabendo que você tá pensando em ir para São Paulo.

— É, eu vou.

— Você não deveria ir.

— Não me diga o que eu devo fazer, Eduardo.

— Você nem gosta de São Paulo, Júlia.

— E o que é que você tem a ver com isso? Por acaso você se importa?

— Claro que me importo.

— Por quê?

— Por que eu gosto de você, você é especial para mim.

— Eu não sou especial para você, nem para ninguém.

— Você não deveria dizer isso, claro que você é especial para mim, Júlia. Você me ensinou a beijar, lembra? — Eduardo ficou satisfeito com o sorriso dela.

— Foi você quem terminou comigo, Eduardo, qual é agora?

— Eu ainda gosto de você, Júh, muito; só que, eu acho que não aguentei a pressão, sabe? Aquela história de você brigar com seu pai, me deixou muito mal. Eu não queria que as coisas fossem assim, você entende? Você estava mal por causa do seu pai, e, você não sabe como é ruim ver você sofrendo.

— Eu tô sofrendo sem você, Eduardo.

— Eu sei. Por isso eu vim aqui pedir para você não ir para São Paulo.

— E se eu ficar...

— Se você me quiser de volta, Júlia...

— Claro que eu quero você de volta, Eduardo.

— Você ainda quer se casar comigo?

— Você ainda quer se casar comigo?

— Quero.

— E o meu pai?

— Alguma coisa me diz que ele vai mudar de ideia.

Eduardo não explicou por que pensava assim, nem Júlia quis uma explicação, o fato é que eles voltaram a ficar juntos, e quando Alexandre ficou sabendo, não se posicionou contra. Júlia também desistiu da viagem para São Paulo, e no fim do semestre da faculdade, os dois voltaram a fazer planos para o casamento.


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