The World Behind My Wall escrita por The Escapist


Capítulo 2
02




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Júlia passou a se dedicar bastante aos estudos porque estava muito perto das provas do vestibular. Nos últimos meses Alexandre nem andava implicando com a “mania de internet” da filha, pois percebia que ela estava se esforçado bastante, e por isso merecia um voto de confiança.

Em novembro, Júlia e os três irmãos foram pra são Paulo assistir ao GP Brasil de Fórmula 1, e viram seu piloto favorito, Kimi Raikkonen ser campeão mundial.

E depois disso, não houve mais moleza, faltava apenas um mês para o vestibular, e muita matéria para revisar. Eduardo estava sumido, deixava um scrap de vez em quando, mas quase nunca entrava online no MSN, de modo que Júlia nem pode ficar sabendo o local onde ele faria as provas.

Júlia teve quatro dias de provas e todos foram exaustivos. No último dia quando saiu ficou no ponto de ônibus esperando pelo pai que vinha lhe buscar; tinha pouco movimento apesar de ser hora de almoço. Um garoto se aproximou dela. Ele era alto, de cabelos castanhos bem claros, na altura dos ombros, e tinha os olhos verdes, embora usasse óculos, era mesmo um gatinho, Júlia pensou, mas de qualquer forma, ele era um estranho! Um estranho que veio andando e sentou ao seu lado.

— Você sabe se o ônibus vai demorar? — perguntou o garoto.

— Não sei.

— Você não está esperando o ônibus?

— Não. — Júlia tirou o exemplar do Conde de Monte Cristo da bolsa e fingiu que estava lendo, para que o estranho não tentasse puxar conversa com ela, não estava a fim de conversar com ninguém; as provas não tinham sido muito boas, e a esperança de conhecer Eduardo pessoalmente tinha acabado, porque eles não se falavam fazia quase um mês, ele deveria ter esquecido ela e conhecido uma garota de verdade. Mas não adiantou.

— Desculpa te incomodar, mas você sabe se passa algum ônibus aqui que vá para São Miguel?

— Não faço ideia!

— Acho que eu estou perdido, sabe? Eu nunca vim para esse lado sozinho...

— Pega o ônibus para o centro, de lá passa pra todos os bairros.

— Você não vai pegar um ônibus?

— Não, meu pai vem me buscar. — Júlia meio que se arrependeu de falar; Alexandre devia ter razão e ela confiava demais em qualquer estranho. — Você fez a prova?

— Fiz. Foi bem mais difícil do que eu imaginava.

— É, para mim também. — Júlia relaxou mais, afinal se ia ficar ali esperando a boa vontade do pai vir buscá-la, qual o problema em ficar conversando sobre as provas do vestibular com esse garoto?

Passaram mais de vinte minutos e ela nem se importava com a demora do pai, afinal, o estranho, que ela não tinha se preocupado em perguntar o nome, estava dizendo que procurava um lugar para morar, caso passasse no vestibular.

— É que eu moro bem longe, sabe?

— Sei, o meu na... Amigo, também está procurando um lugar para morar, eu acho.

— Você não quer me dar o telefone dele? Talvez a gente possa dividir um apê...

— Bom, eu, na verdade não, ele não gosta que se dê o telefone para estranhos, sabe?

— Entendo. Mas, posso te dar o meu telefone? Quer dizer, se você ficar sabendo de alguém que queira dividir um apartamento você me liga.

— Você está bem confiante que vai passar! Quer dizer, a prova acabou há poucas horas, e...

— Pensamento positivo é o segredo!

— Tem razão. — O carro de Alexandre apareceu, e Júlia se despediu do estranho antes que ele lhe desse o telefone — Bom, minha carona chegou, tchau. — Júlia entrou no carro do pai. — Oi, demorou, hein?

— Desculpe, eu precisei atender um paciente de última hora. Como foi a prova?

— Péssima. Você vai me odiar se eu não passar?

— Claro que não, Juh; o Bruno não entrou no ano passado também. Mas não seja tão negativa, você é muito inteligente, filha. Mas quem era aquele garoto que estava com você? — Júlia olhou admirada para o pai, ele tinha reparado que havia um garoto conversando com ela!

— Ninguém, quer dizer, não sei; ele só estava perguntando se tinha ônibus para são Miguel. Onde é são Miguel?

— Hum? São Miguel? É um bairro na periferia; fica muito longe, lá onde Judas perdeu as botas! — Júlia riu com a brincadeira do pai.

O resto do dia Júlia passou conversando com o irmão e o primo sobre as provas; à noite estava ansiosa para falar com Eduardo, mas ele não estava online. Só no dia seguinte eles se “encontraram”.

— Como foi a prova?

— Ótima, quer dizer, foi mais difícil do que eu esperava, mas, acabei gabaritando.

— Fala sério! Você gabaritou a prova?

— Acho que sim.

— Putz, você é muito gênio. Meu primo detestou... Ele fez ciências da computação também.

— Foi um pouco difícil mesmo; e você o que achou?

— Muito difícil, mas acho que dá pra entrar, eu não vou gabaritar, como você, mas... Onde você fez a prova?

— No campus central, faculdade de tecnologia...

— Eu fiz na faculdade de ciências econômicas... Conheci um gatinho hoje, sabia? J

— É mesmo? Tenho concorrência?

— Não, eu só conversei com ele, mesmo, só que ele era muito bonitinho, sabe?

— Hum...

— Que?

— Isso é concorrência desleal sabia?

— Bobo! Então, agora que você com certeza vai passar no vestibular, que tal deixar eu te ver?

— Tsc, tsc, tsc...

— Ah, vai, é uma troca justa! Eu deixo você me ver, se você deixar eu te ver.

— E o seu pai?

— Ele não precisa saber!

— Você está tentando me aliciar?

— Para, Eduardo!

— Está bem, você venceu... Mas, não se anima, eu não sou grande coisa, tá?

— Sério?

— Eu já disse que não sou bonito...

— Não... Sério que você vai me deixar te ver?

— Não é o que você quer?

— Quero, quero muito...

— Então tá, lá vai hein? — Júlia aceitou a opção pra iniciar a exibição de vídeo; uma segunda janela apareceu na tela do computador; mas ao invés de ver uma pessoa, um ursinho de pelúcia era balançado de um lado pra outro na frente da câmera.

— Ah, não achei engraçado, nem um pouco. — Eduardo não respondeu; depois de uns segundos a imagem da câmera desapareceu da tela do computador de Júlia; ele ficou dez minutos ausente e depois voltou a falar.

— Desculpa, a Giovanna está brincando aqui, e reiniciou o PC. J Eu vou mandar o convite da webcam de novo, ok?

— Para de brincadeira.

Agora é sério, eu só vou tirar os óculos, espera um pouco antes de aceitar, tá? — Júlia esperou um instante. — Pronto, pode aceitar. — A janelinha de exibição de vídeo voltou a aparecer na tela. — Bom, oi J. — Eduardo acenou na câmera e Júlia estava de boca aberta; apesar da imagem não ser grande coisa, ele era mesmo lindo, não era apenas gato, era muito gato! — Júlia?

— É você!

— Claro que sou eu. Eu sei, eu avisei pra você não criar expectativas...

— Não! Não é assim! Você estava na universidade ontem, foi você que eu vi...

— Claro que não...

— Claro que sim, você me perguntou pelo ônibus de são Miguel, depois você disse que estava perdido, e eu não quis dar atenção e fingi que estava lendo O conde de monte cristo pra despistar, mas você começou a falar da prova, e, nós ficamos conversando até meu pai chegar...

— Pqp! Era você! — Eduardo começou a ter uma crise de riso na tela, e Júlia fez o mesmo. — Deve ser uma brincadeira, né?

— Acho que sim. Que coisa doida...

— Júlia? — a voz de Alexandre meio que estragou o momento.

— Que?

— O Sérgio está aí, quer falar com você.

— Tá, pai, eu já vou, pede para o Sérgio esperar só um instante. — Na telinha Júlia viu Eduardo colocar os óculos.

Desculpa, mas eu não vejo nada sem eles.

— Ah, sem problemas; eu estou com visitas, preciso ir, mas eu volto logo, você me espera?

— Você vai fugir só por que eu não sou bonito?

— Não seja bobo, meu primo está aqui, não some hein, eu vou despachar o Sérgio em dois minutos, aposto que ele vai me pedir pra cuidar do Diogo, de novo. — Júlia desceu para falar com o primo e ficou conversando com ele por cerca de vinte minutos; como ela previa, ele veio pedir para ela cuidar de Diogo no próximo fim de semana, quando ele e a esposa iam para a casa dos pais dela. Assim que se viu livre de Sérgio, correu de volta pra frente do computador; Eduardo continuava online, mas a imagem da câmera tinha desaparecido.

— Que você estava fazendo?

— Esperando você, né?

— O que você acha que é isso?

— Isso o que?

— Isso, a gente ter se conhecido por pura coincidência...

— Não sei.

— Será que é um sinal? O destino?

— Se você parar pra pensar, não foi exatamente uma coincidência, Júlia; a gente já tinha até pensando em se conhecer no dia do vestibular, só não combinamos por que não deu; J

— Você não acha que foi um sinal? L

— Sinal de que você quer ser minha namorada de verdade?

— Pode ser.

— Hum...

— Deixa eu ver você de novo?

— Não, eu tenho vergonha...

— Você não é meu namorado de verdade?

— Só quando você topar sair comigo e eu puder te beijar.

— Fiquei vermelha.

— A ideia é tão ruim?

— Não, mas...

— Mas o que? Ah, você me achou muito horrível, não foi?

— Meu pai, acho que eu preciso conversar com ele sobre isso.

— Sei. Tudo bem, eu espero. J

— Você é um amor, sabia?

— Juh?

— Que?

— Você já... Já teve um namorado?

— Ahm... Bem, não exatamente.

— Como é não exatamente?

— Eu só fiquei, você sabe, não foi sério.

— Muitas vezes, quer dizer, você sabe?

— Bom, três é muito?

— É relativo; pra alguém como eu, isso é muuuuuuuuuito!

— O que você quer dizer com isso?

— Você sabe...

— Sei?

— Sabe, eu nunca fiquei com ninguém.

— Oh, my god! É sério?

— Agora EU fiquei vermelho… é sério, sim.

— Isso é tão estranho. Por que isso?

— Por que eu sou esquisito?

— Eu não disse que você é esquisito...

— Ok, por alguns motivos, primeiro por que eu não sou nem um pouco bonitinho, e vocês garotas são muito exigentes; segundo por que eu sou nerd, e ninguém gosta de nerd, e terceiro, por que eu não tenho muito tempo pra me dedicar a paquerar.

— Eu tenho que contrariar você em duas questões. Primeiro eu gosto de nerds; e segundo, quem disse que você não é bonitinho?

— Eu sei; eu sou meio cego, e os meus óculos são bastante ridículos, mas eu tenho que usar.

— Eu acho você bem gato, se você quer saber.

— Você só diz isso por que é educada.

— É nada. Você é gato sim. Nossa, quando eu vi você lá na facu eu fiquei até nervosa de ver um cara tão lindo.

— Para, Júlia, eu não sou nada lindo...

— Se você tá dizendo... Então, vamos marcar um encontro?

— Você não tem que conversar com o seu pai?

— Sim, mas...

— “Mas” é a sua palavra preferida, não é?

— Não... Mas... J

Júlia e Eduardo só voltaram a se encontrar no ano seguinte. Depois do resultado do vestibular, os dois entraram na faculdade, mas Júlia viajou para passar as férias em São Paulo na casa da mãe, e continuou falando com Eduardo apenas pela internet.

Enquanto o dia de se encontrarem não chegava ela tentava encontrar uma forma de falar com o pai. Dizer a Alexandre que estava namorando já seria uma missão complicada, dizer que estava namorando uma pessoa que ele não conhecia, seria ainda pior, ainda mais depois de ter prometido que tentaria levar uma vida “normal”.

— Como foram as férias, Juh?

— Boas.

— Boas, só boas?

— Ah, pai, você sabe, São Paulo não é tão divertido quando não se conhece a cidade direito e tal; mas foi bom, eu saí algumas vezes, fui ao teatro, vi miss Saigon, oh musical lindo, jantei fora, fiz compras, essas coisas de...

— De mãe e filha? Tudo bem, Júlia. E como está a sua mãe?

— Bem, ótima.

— Que bom que você se divertiu, querida. Mas, agora, está animada para começar a faculdade?

— Oh! — Só de pensar que eu vou ver o Eduardo todo dia. — Claro, muito animada. Ahm, pai... Eh...

— O que você está tentando me dizer, Júlia?

— Eu?

— Você acha que eu não te conheço? Você está aí dando voltas e voltas, você tem algo a dizer, então, diga de uma vez.

— Colocando nesses termos... Podemos dizer que eu tenho uma coisa para falar; tudo depende de como o senhor pretende lidar com a situação.

— Assim você me deixa preocupado.

— Bom, lembra do Eduardo, o meu amigo...

— Seu amigo imaginário?

— Ele não é imaginário, e não é... Er, apenas meu amigo...

— Júlia, eu não acredito...

— Por favor, me deixa terminar. Obrigada. Então, pai, eu sei que parece estranho, nossa, é estranho para mim também, mas, é forte demais o que acontece entre a gente.

— Não! Júlia, você está completamente louca. Você nem conhece esse garoto, você nem sabe se ele é mesmo um garoto.

— Pai, pai, a gente se conhece sim, a gente se conhece há quase dois anos...

— Isso não é conhecer uma pessoa!

—... E a gente já se viu pessoalmente...

— Você! Você não teve coragem de fazer isso! Eu te proibi, Júlia!

— Ah, se o senhor me deixasse explicar, seria mesmo bom!

Explicar?!

— A gente se conheceu, pessoalmente, digamos que acidentalmente; bom, eu nunca tinha visto o rosto do Eduardo, nem nenhuma outra parte do corpo dele, e não fazia ideia de como era a aparência dele, nem ele a minha. No dia da última prova do vestibular, quando eu esperava pela sua carona, ele foi falar comigo...

— Você disse que não sabia quem era aquele garoto!

— E não sabia mesmo; nós conversamos, sem nem imaginar que ele era o Eduardo e eu... Enfim; quando eu falei com ele no MSN depois, ele deixou eu ver o rosto dele, e então eu descobri que ele era o mesmo que eu tinha conhecido na universidade. E, bom, a gente está namorando sério, há alguns meses, mas, a gente não se encontrou nenhuma vez desde aquele dia; mas como nós vamos estudar na mesma universidade e vamos nos ver todos os dias, eu achei que o senhor deveria saber, logo.

— Sabe o que eu penso disso, não sabe Júlia? Historinha mal contada. Para cima de mim, não, mocinha!

—Pai...

— Quando você vai parar de ser tão infantil?

— Quando você vai parar de me tratar desse jeito infantil? Pai, eu já tenho dezoito anos...

— Mas age como se tivesse cinco! É boba demais, ou estúpida demais. — Alexandre estava nervoso demais e Júlia estava quase chorando.

— Eu não quero brigar, só queria conversar, não pode ser não?

— Você está cansada de saber que eu não aceito, eu não permito essa loucura!

— Eu sinto muito, pai, mas, com ou sem a sua permissão, eu vou continuar namorando o Eduardo, eu espero que o senhor use o seu bom senso, se é que te resta algum, e dê a ele o benefício da dúvida; tenta ser menos autoritarista e saber alguma coisa sobre ele antes de condená-lo à fogueira. — Júlia saiu correndo direto para o quarto; claro que não queria ter falado com o pai daquele jeito, mas ele também poderia fazer um esforço para entender.

Aquele era um péssimo momento de começar uma briga, praticamente às vésperas do início das aulas, do dia de encontrar Eduardo. De noite, quando estavam jantando, Júlia se desculpou com o pai.

— Desculpe, pelo jeito como eu falei hoje cedo.

— Você estava de cabeça quente. Eu só quero que você entenda que eu quero o seu bem, Júlia.

— Eu sei, mas o senhor poderia fazer um pequeno esforço para entender o meu lado também.

— Você não pode namorar uma pessoa sem saber nada sobre ela...

— O que o senhor que saber sobre o Eduardo? Qualquer coisa, pode perguntar. Eu sei bastante coisas sobre ele. Sei que ele tem dezesseis anos, vai estudar ciências da computação. Ele passou em primeiro lugar no vestibular, mais que isso, gabaritou a prova! Mora com o pai e a irmã; a mãe dele morreu quando ele tinha doze anos; ah, ele é alto, loiro, de olhos verdes, usa óculos; adora cálculo; a banda preferida dele é The Off Spring, o esporte preferido dele é vôlei e Fórmula 1, ele não gosta de futebol...

— Chega, Júlia! Chega. Por favor. Eu não vou ficar discutindo com você por causa desse assunto, ok? Se você insiste nessa insanidade, o que eu posso fazer? Afinal, você é maior de idade, pode fazer o que bem entender da sua vida, não é assim? Você quer que eu entenda o seu ponto de vista, ok, eu entendo; você pode estar certa, você pode até ter razão sobre o Eduardo; mas você não pode ter certeza. Se ele é mesmo o que você quer, eu não tenho a intenção de ver você sofrer, mas por favor, não me peça para achar isso natural, legal, normal, por que não é, e você sabe muito bem disso!

Alexandre resolveu dar uma chance à filha; primeiro por que sabia que proibir não resolveria o problema, ao contrário, só iria piorar. Depois, porque, apesar de tudo, confiava na educação e no bom senso da filha. E por último, porque tinha consciência de que, parte da preocupação era ciúme; Júlia nunca tinha tido um namorado antes, e ter que lidar com isso era no mínimo difícil para ele.

Júlia e Eduardo combinaram de se encontrar no primeiro dia de aula na universidade e assim fizeram. Marcaram no pátio, em frente à faculdade de ciências da computação. Júlia fugiu do trote e foi até lá. Eduardo estava sentado, com um livro; ele ergueu os olhos, ajeitou os óculos — num gesto que Júlia já poderia reconhecer como mania.

— Oi.

— Oi... Coisa estranha né?

— O que?

— A gente, nós, aqui, se vendo, em carne e osso! — Eduardo mostrou os braços.

— Eu sou estranho?

— Ai, seu bobo, você sabe o que eu quero dizer!

— Mas é legal, não é? Eu não acho estranho, para mim a gente já se conhece há muito tempo.

— Para mim também, e é legal, mas... É estranho também.

— Então, como foi o seu primeiro dia?

— Legal, eu consegui fugir do trote; e você?

— Acho que não tem trote por aqui; sabe, os nerds não parecem curtir isso.

— Que bom. E você já está estudando, no primeiro dia?!

— Er... Nerd, sabe como é... Er...

— Onde você está morando?

— Numa república aqui perto.

— E a sua irmã, com quem ela está ficando agora?

— Ela vai para a escola de manhã, e à tarde fica na casa da vizinha; meu pai tá trabalhando menos também, para voltar para casa mais cedo.

— Você morar perto é muito bom.

— É sim. Então, er... Vou ganhar o meu beijo? — Júlia ficou vermelha.

— Oh... Ahm... Er...

— Tudo bem, se você não quiser...

— Não é que eu não queria, é que... Aquilo que você falou, sobre... Er...

— Nunca ter ficado com ninguém?

— É. Você estava brincando não é?

— Não.

— Mas, você, já, você, beijou alguém não é?

— Não.

— Ah meu Deus!

— Você está me deixando muito sem graça, Júlia.

— Me desculpa, mas, é por que é tão estranho...

— Eu sei que eu sou estranho. Eu só não sabia que esse fato ia te assustar tanto!

— Não, eu não estou assustada, Eduardo. Eu juro.

— Calma, não precisa jurar, Júlia. — O celular de Júlia tocou.

— Meu pai, eu preciso ir; o que você acha de me ligar?

— Acho ótimo. Me dá seu número.

— 87079303 — Júlia não precisou repetir o número, Eduardo já tinha decorado.

— A gente pode marcar de se encontrar à noite.

— É, eu te ligo.


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