Já passavam das 20:00 horas quando desembarcamos no Aeroporto Internacional de Bariloche, Argentina. As maçantes 14:00 horas de vôo tinham me deixado na minha melhor cara de mau humor e o reflexo de cansaço em meus olhos não ajudava no contrário. A excitação nos olhos de Alice e Rosalie conseguiam, simplesmente, me matar em doses homeopática. Já tava vendoq ue o fuso horário ia demorar para acompanhar meu relógio biológico.

          Tá bem, era nossa tão sonhada e esperada viagem de formatura. Finalmente estávamos formadas, cada uma em seu respectivo curso, e Alice em Moda (isso lá é curso? Enfim). Grande parte da nossa turma de faculdade tinha combinado de fechar com chave de ouro nossa Graduação com uma viagem à Bariloche. Sim, alguns chegaram até a questionar o porque de não termos escolhido algum lugar, digamos assim, mais atrativo e quente. Eu, sinceramente, não tinha entendido – e nem gostado – de tal decisão até o meio da viagem.

          Era Julho, inverno na América do Sul. Estávamos esperando o transfer que nos levaria até o Hotel enquanto frio cortava minhas bochechas finas e róseas. O verão mal tinha começado em Seattle e eu fui obrigada a deixá-lo e me deslocar mais de 10000km para uma cidadezinha minúscula, coberta de neve e de pessoas que eu mal sabia falar Holá! De novo, meu melhor bico de desgosto.

          Éramos em torno de 20, a 25 pessoas; deste número, um valor máximo de 5 homens no total. Há aqueles que consideram pouco, há aqueles que não conhecem os cinco indivíduos em questão. Aliás, não foram apresentados a um deles em especial.

          - Ah, Edward... – disse, sonhadora. Absurdamente perdida em pensamentos. Acho que o frio estava começando a congelar alguns poucos neurônios.

          - O que? Bella, você disse alguma coisa? – perguntou Rosalie, enquanto desprendia uma fração de segundo sua atenção do mapa que tentava desvendar, sem muito sucesso.

          - Eu acho que estamos perdidas! – disse Alice, quicando seguidas vezes no mesmo lugar, exalando ansiedade, o que não ela deveras incomum.

          - Gente! Pelo amor de Deus, tomem tenência que ninguém aqui vai se perder, ok? – falei. Essas duas me tiravam do prumo algumas vezes.

Com algum custo encontramos o chofer do nosso transfer, Alejandro. Cada um de nós do grupo decidiu por não ficar 100% do tempo junto, então alguns se dividiram nos pequenos e dispersos hotéis da cidade. Cada quarteirão que o táxi percorria para chegar à nossa hospedagem me deixava mais abismada. “O que estamos fazendo nesse fim-de-mundo?” eram praticamente as únicas palavras que ricocheteavam na minha cabeça.

          - Ah não! Não faz essa cara! É bem bonito, vai! Olha só esse lago! – dizia Alice, enchendo-me de cotoveladas cada vez que o taxi contornava uma esquina.

          Depois de intermináveis 35 minutos avistei um letreiro com um dizer familiar. Pulei – literalmente falando - para fora do táxi e me desloquei exclusivamente ao check-in. Pô, eu precisava de um banho e de uma boa noite de sono. Aquele frio realmente devia estar me afetando mentalmente. Apoiada no balcão, enquanto esperava o atendente do hotel com uma pinta de porto-riquenho desligar o telefone, fitei a porta a espera das meninas conseguirem se desenrolar em 3 para carregar todas as malas.

          Sabem toda aquela baboseira de “meu mundo parou” e blá blá blá. Bem, eu acho que dessa vez eu não estava exagerando ao usar essa expressão. Não sei descrever o sentimento que percorreu minha espinha no exato momento em que o vi colocar o primeiro pé dentro daquele hotel. O frio que circulava lá fora e ainda remanescia em minhas extremidades desapareceu. Meu corpo entorpeceu e ondas de calor iam e vinham das minhas bochechas às têmporas, brigando com ondas geladas que iam das minhas mãos à minha barriga. Eu não conseguia focar meu olhar em seu rosto perfeitamente desenhado.

          Precisei de um momento para me recompor e do balcão do hotel para me apoiar, a fim de evitar que eu despencasse sobre meus joelhos. Eu estava em êxtase.

          - Edward, Emmett e Jasper Cullen vão ficar neste hotel? – perguntei me atropelando e entonando cada palavra.

          - Acho que sim – disse Rose enquanto chegava dependurada de frasqueiras, tentando por fim, segurar o riso. Minha cara estava tão engraçada assim? Pois sim, estava. Chegava a estar assustadora, acho eu, a julgar pelos olhares divertidos que eu consegui atrair, principalmente dos três.

          - Olha olha. O que temos aqui? - questionou Emmett ironicamente, enquanto caminhava em nossa direção – as três garotas mais belas da nossa viagem. - disse dando uma piscadela em nossa direção; especialmente na direção de Rosalie. Senti minha amiga ter uma síncope ao meu lado. Acompanhei seu chilique pessoal quando vi aquele ser inumanamente bonito chegando gradativamente mais perto.

          Ele era lindo. Seus cabelos acobreados, proposital e milimetricamente bagunçados, brilhavam a qualquer movimento. Seus olhos eram de um tom profundo de verde que de perto, bem ao centro, podiam-se ver ramificações âmbares.

          - Olá, Bella – ele disse com um sorriso torto, obrigando meus olhos a se encherem com os dele -. Como foram de viagem?

          - Muito bem! Obrigada! - me apressei em responder – Vão ficar hospedados aqui?

          NÃO Isabella, não vão não. Só passaram aqui para te ver. Idiota!

          - Sim. Suíte 802 – Jasper, por fim, resolveu falar alguma coisa. Acho que ele ficou tímido quando viu a cara de boba-alegre que a Alice ficou olhando para ele todo o tempo que ficaram ali.

          Com todo respeito à minha amiga, mas o queridinho da Alice poderia ter ficado na dele. Por que motivo sempre cismam em cortar o assunto entre eu e o meu-sonho-de-consumo-desde-a-4ª-série? Realmente, quem fez a pergunta idiota e merecia uma resposta cretina foi eu, mas enfim.

          - Se quiserem dar uma passadinha no nosso quarto hoje mais tarde – Emmett piscou novamente e Rose quase faleceu, novamente também – serão muito bem vindas.

          Acho que ficamos estarrecidas, já que ninguém pareceu querer responder nada. Eles se viraram e foram em direção ao elevador. Em silêncio, pegamos a chave do nosso quarto (suíte 809, que ironia) e subimos. Acho que não era só eu que estava em estado de choque, ou eu devia estar sentindo o frio ambiente de novo.

          Assim que a porta do nosso quarto foi fechada, pode-se ouvir um grito saindo dele. Alguns poderiam até achar que tinha alguém morrendo, mas posso garantir que era pura e completa excitação. Até que a viagem não estava sendo, ainda, de todo o mal como eu esperava. Aliás, eu sabia, além de sentir completa esperança de que alguma coisa, ali naquela cidade, ia acontecer.