A chuva estava ficando cada vez mais fraca. Os cinco estavam dentro de uma das barracas, jogando cartas.

-Ainda bem que você trouxe isso, Naehe. –Idan disse, olhando as cartas em sua mão.

-Sabia que seria útil. –ela sorriu.

A chuva parou meia hora depois e todos foram saindo aos poucos das barracas. O chão estava um lamaçal, quase vira areia movediça. Uns garotos começaram uma guerrinha de lama, mas o professor acabou com a felicidade dos coitados.

-É não foi um começo muito bom de excursão, mas não vamos desistir ok? –o professor disse, com um sorriso confiante.

-Droga, perdi uma das minhas botas! –um aluno reclamou, tentando puxar a bota da lama.

-Meu caderno está molhado... –Meyr segurava triste seu caderno.

-Quando sai a janta? –uma garota perguntou, com cara de fome.

-Ah, sim. O jantar! –George olhou na prancheta- Venham, vamos nos organizar!

Todos se juntaram, cada um reclamando de uma coisa diferente. George começou a falar o que cada um iria fazer, lendo na prancheta.

-Muito bem, podem ir. –ele disse, escrevendo alguma coisa na folha.

-Pescar? –Daren pegou a vara e seguiu o grupo que ia pescar.

-Fique feliz, pelo menos não ficamos no grupo de ir catar lenha. –Alec riu.

-E é melhor comer peixe do que aquelas comidas enlatadas de acampamento. –Idan carregava um balde cheio de minhocas.

-E é melhor vocês pararem de conversar e pescarem alguma coisa, ou vão jantar as minhocas! –Jones ameaçou.

Ah, Jones, tão gentil. Ele é da turma também, estava responsável pelo grupo de pesca. Idan ficou assustado e tentou não falar nada.

-Ah, vai te catar, Jones. –Daren disse impaciente.

O grupo parou em frente ao lago e Jones virou para Daren, irritado.

-Como é que é, vampiro?

-Vai. Te. Catar. –ele disse, devagar para o outro entender.

Jones começou a dizer umas coisas para o outro, tentando irritá-lo. Por fim Daren deu-lhe um chute do estômago, fazendo o garoto cair no lago. O grupo ficou espantado, mas logo começou a rir.

-E saia logo daí, ouvi dizer que tem piranhas no lago. –Daren disse.

Jones começou a dar um chilique e nadou cachorrinho até a beira. Saiu depressa, assustado. Olhou para os lados, mas não viu piranha alguma.

-Brincadeirinha. –Daren sorriu.

Uns garotos do grupo tiveram de segurar Jones para que ele não atacasse o outro.

-Você está morto, Daren. –Idan forçou um sorriso.

-Eu sei. –ele riu.

O grupo conseguiu se acalmar um tempo depois. Pescaram vários peixes e levaram tudo com um pouco de dificuldade até a clareira. Chegaram e viram Meyr organizando o grupo da fogueira e comida terminando de colocar fogo na grande fogueira. Sarae estava nesse grupo, e jogava alguns gravetos na fogueira, alimentando o fogo.

Naehe era do grupo de pegar lenha. Estava deitada do lado da fogueira, descansando. Bocejou e se sentou, vendo o grupo de pesca chegar.

-O que é isso, Jones? –Naehe riu- Aproveitou para dar uma nadada?

-Cala a boca. –ele rosnou, sentando-se perto da fogueira para se aquecer.

-Como foi a pesca, pessoal? –Sarae disse, pegando os baldes de peixes- Que bom, acho que da pra todo mundo.

O jantar não demorou muito para sair. Logo já estavam todos envolta da fogueira, cada qual com um peixe espetado num graveto. E, claro, aconteciam alguns acidentes.

-Ahh! Meu peixe ta pegando fogo! –Idan balançou o peixe em chamas, que desgrudou o graveto e quase acerta Naehe.

-Ei! Olha pra onde joga o peixe! –ela reclamou.

-Que demais, peixe voador! –um garoto riu.

-Toma Idan. –Daren deu o peixe dele para o loiro- Não estou com fome, pode ficar com o meu.

-Obrigado. –ele pegou e sorriu.

Todos terminaram de comer e o professor abriu dois pacotes de marshmallow e foi passando pelos alunos.

-Agora, para isso ser realmente um acampamento, que tal histórias de terror? –Sarae disse, ligando uma lanterna abaixo do queixo.

-Boa idéia! –Alec sorriu- Quem começa?

-Eu! –Naehe disse, engolindo um marshmallow- Em uma noite escura...

-Tem que começar com noite escura? –Idan disse, fazendo bico.

-Sim, medroso. –ela passou o pacote para ele- Enfim. Em uma noite escura, numa excursão-acampamento parecido com esse, rolava solta a história de que durante a noite, quando todos estão dormindo, um lobisomem aparecia e devorava um por um dos garotos.

-Que coisa besta. –Jones reclamou.

-Cala a boca e ouve a história. –Naehe jogou um marshmallow na testa dele- Diziam que ele não devorava as garotas, matava-as e jogava seus corpos no rio que desce a floresta. Contam que ele abria o corpo das vítimas com as garras e...

-Ok, ok, entendemos. –o professor censurou- Pare de falar antes que Meyr vomite aqui.

Meyr assentiu com uma cara de nojo.

-Okay, seus medrosos. –Naehe riu e comeu mais um marshmallow.

Alguns alunos ainda ficaram assustados com a história, mas não queriam admitir. Não tiveram outras histórias tão assustadoras, só umas e outras pra dar medinho. Depois cessarem os contos, o professor mandou todos irem dormir. Ele ficou com Meyr e outros dois garotos para arrumar o que aquele pessoal todo tinha desorganizado.

O sol brilhava alto no céu bem cedo. Alec estava do lado de fora, cutucando as cinzas do que restou da fogueira com um graveto.

-Bom dia, Alec. –bocejou Sarae, sentando ao lado dele.

-Bom dia! Que horas são?

-Nove horas... –ela olhou no relógio- Achei que todo mundo já teria acordado.

-Também.

Ficaram conversando até o professor sair da barraca dele com uma folha de programação. George parecia bem animado, lendo. Ele foi abrindo barraca pro barraca e chamando todos.

Quando já estava a turma toda – com cara de defunto e em pé sabe-se Deus como – junta perto do professor, ele começou a falar a programação do dia. Ninguém estava com muita disposição para sair dali, muito menos para estudar.

-Agora se arrumem e vamos fazer uma caminhada até a cachoeira. –George disse, por fim.

-Desculpe professor, mas a minha mente só começa a funcionar ás onze. –Naehe disse, com os olhos fechados.

-Vamos logo, sem demora! –ele disse, tentando animá-la.

Foi uma caminhada calma. Pelo menos mais agradável do que a de chegada. Parecia que o som da cachoeira acalmava todo mundo, pois ninguém reclamou do musgo das pedras, que fazia alguns escorregarem. Quando chegaram o professor ficou falando sobre os peixes, a água, as plantas. Mas quase ninguém prestou atenção, então tanto faz.

Depois de umas duas horas ali, seguiram o curso do rio um pouco até uma foz, que dava num laguinho e depois continuava. Não desceram o rio, ficaram por ali mesmo. O professor falou um pouco sobre a foz, o lago e a vegetação local. Depois ele liberou para os alunos que quisessem entrassem no lago.

-Olha a bomba!! –Alec disse, se jogando no lago.

-De barriga! –Naehe se jogou junto.

Idan ficou na beira, molhando os pés. Uma brisa fria soprava e fazia muitos alunos desistirem de entrar. Sarae, Daren e George estavam sentados na sombra fresca de uma árvore, aproveitando o vento e a paisagem.

-Não vai entrar Meyr? –Naehe foi até a beira e chamou a garota.

-Não... Está frio demais. –ela disse, olhando para os outros.

-Meyr, vem cá. –Alec foi até a beira com Naehe- Quero te contar uma coisa!

A garota se aproximou e agachou na frente dele.

-O que foi? –Meyr

-A água está ótima. -dizendo isso, ele a puxou para dentro do lago.

Quando se viu com o tronco fora da água, olhou para Alec.

-Alec! Eu não queria entrar! –ela reclamou.

Alec, Naehe e Idan riam alegremente da cara de Meyr.

-Desculpe. –Alec sorriu- mas a água não está ótima?

Meyr riu e jogou água na cara de Alec e este revidou. Eles começaram uma guerra d’água que logo a turma toda estava participando.