-Chove, chove, chove, chove, chove. –Daren repetia, olhando fixamente a janela do outro lado da sala- Chove, chove, chove.

-Quer parar com a macumba aí atrás? –Naehe se virou para ele.

-Não é macumba, é ritual da chuva. –ele desviou o olhar por uns instantes para a garota.

-Tanto faz.

Alec chegou na sala com uma cara de tédio e foi até Naehe e Daren, ao ouvir o ‘ritual’ que ele fazia para a janela.

-Por que o Daren ta baixando o santo na sala? –Alec apontou o garoto.

-Seus sem cultura, ninguém aqui sabe o que é um ritual? –Daren reclamou.

-Afinal, pra que essa musica de chuva aí? –Idan olhou para eles.

-É, está começando a irritar. –Sarae assentiu.

-E a dar uma danada duma vontade de ir ao banheiro. -Naehe brincou.

-Se chover não terá aula de educação física na quadra aberta! –Daren sorriu- E o professor me obriga a tirar a capa na aula na quadra aberta.

-Sim, da última vez você saiu correndo e se escondeu na enfermaria. –Alec riu.

-Isso não vem ao caso. –Daren tossiu- Mas se tivermos aula na quadra fechada não vai ter problema, já que é só o Sol que me atrapalha.

-Que egoísmo, Daren. –Sarae brincou.

-Enfim, se não forem mais me atrapalhar... –ele tossiu de novo- Chove, chove, chove, chove, chove...

Um trovão fez todos da sala ficarem quietos e assustados. Uns segundos de silêncio absoluto então, uma forte e grossa chuva.

-Consegui! –Daren comemorou com uma dançinha tosca.

-Parabéns, deus do tempo. –Idan riu.

-E não é que a macumba deu certo? –Naehe olhou a chuva encharcar o pátio da frente todo.

Não demorou muito para estarem todos na quadra, com a roupa de educação física. O professor devia ter uns quarenta anos, tinha uma brilhante careca e um corpo forte. Fez a chamada e, ao ver todos sentados esperando a aula começar, pegou uma bola vermelha de dentro de uma bolsa.

-Hoje vamos jogar queimado. –ele disse, jogando a bola nos mãos de Alec- Você vai ser o capitão de um time. Preciso de outro capitão.

-Eu vou. –Naehe se levantou e foi com Alec até o lado do professor.

Depois de escolher os times, foi cada um para um lado da quadra.

-Animação, Idan. –Naehe dava tapinhas nas costas do garoto- Queimado não é um jogo mortal. Só umas boladinhas no máximo te fazem desmaiar.

-Acho que não está ajudando, Naê. –Sarae disse, deixando a pelúcia na arquibancada e voltando para o campo do lado de Naehe e Idan.

-Haha, vamos acabar com vocês rapidinho! –Alec riu, dando um empurrãozinho em Daren- Né, Daren?

-Ahn... Ah, claro. –Daren olhava a expressão de Idan.

O professor apitou e o jogo começou. Não demorou muito para Idan levar uma bolada no rosto e cair no chão.

-Ih, morreu. –Alec riu.

-Idan, está tudo bem? –Sarae e Meyr ajudaram-no a levantar.

-Eh, acho que... Não. –ele disse tonto, com a mão no rosto.

O jogo continuou quando Idan voltou da enfermaria com um pano com gelo encostado na bochecha. Ele se sentou na arquibancada e ficou assistindo o jogo com o bicho de pelúcia de Sarae no colo.

Durante o jogo várias pessoas foram queimadas, claro. No final sobrou só Alec e Daren contra Naehe e Meyr. Quase todos já tinham descido para se trocar ou ir à enfermaria – coitada da enfermeira, teve bastante trabalho. Idan e alguns outros alunos estavam assistindo ao jogo.

Meyr pegou a bola e preparou uma jogada. Naehe olhou rapidamente para a platéia e viu Idan torcendo por Daren.

-Idan, é para torcer pelo nosso time!

-Desculpe. –ele riu.

Daren olhou para Idan e sorriu, distraindo-se. Por causa disso, acabou levanto uma bolada de Meyr no estômago. Soltou um ‘ugh’ e não conseguiu segurar a bola. Daren foi, com as mãos no estômago, até o outro lado da quadra. Tentou queimar Naehe, mas errou feio.

-Daren, você está bem? –Idan perguntou, ao vê-lo vindo até a arquibancada.

-Sim, tô ótimo. –ele forçou um sorriso.

Alec pegou a bola que Meyr jogou que foi parar do lado dele. Jogou-a e acertou o ombro da representante.

-Ai! Jogou forte, hein? –ela disse, tentando pegar a bola para queimá-lo do outro lado.

-Essa foi pelo Daren. –ele riu.

Alec desviou da bola com facilidade. Naehe pegou-a quando esta caiu em seu campo e jogou. Alec pegou-a sem problemas e lançou rapidamente em Naehe, acertando a garota na perna.

-Viva, venci! –Alec colocou as mãos na cintura e sorriu glorioso.

Naehe saltava numa perna só, olhando a perna em que levara a bolada. Ficara com uma marca vermelha.

-Ah, obrigada hein, Alec? –ela apoiou devagar o pé no chão de novo.

-Quer uma ajudinha até a enfermaria? –Sarae se aproximou, segurando a pelúcia e um pano molhado. Seu braço esquerdo estava com uma marca levemente vermelha.

-Mais uma vítima do Alec?

-Fazer o que, né. –ela cutucou o machucado e sorriu sem graça.

Idan desceu da arquibancada com a bochecha ainda um pouco inchada. Daren desceu também, agora já melhor da bolada.

-Ok, nunca mais faço o ritual da chuva. –ele disse, pegando a capa e colocando-a antes de sair da quadra com os outros- Vou ficar o ano todo me escondendo na aula de educação física. É mau para meu boletim, mas o melhor para o meu bom estado físico.

-Aproveito para matar aula com você, não gosto de educação física. –Alec assentiu.

-Sério? Você me parecia bem feliz esmagando os outros com a bola de queimado. –Naehe brincou.