Capítulo 3-Quem é quem?

Departamento de Crianças Superdotadas da secreta KGB. Moscou, Rússia.

Olhou novamente a tela do computador em branco. Já era a terceira vez em uma hora. E Percy ainda não tinha idéia do que escrever sobre ela.

Teria de mandar o relatório daqui a uma semana, sem deixar que seja interceptado pela KGB. O que já podia prever que seria um grande inferno.

Quando aceitou a missão, esperava um pouco mais de emoção, perseguições e tiros, coisas típicas de agentes secretos. Não ter que observar durante um ano uma adolescente de 17 anos, o que faz ou deixa de fazer.

E foi aí que a idéia veio a sua mente. Pegou um revólver por precaução e colocou na parte de trás da calça, e saiu do quarto com passos leves.

Caminhou entre os corredores, tentando ser discreto, porém com passos apressados. Podia ver de canto de olho as garotas se derretendo quando perto delas. Por que com Annabeth não fora assim?

Ela o desafiara com o olhar, como quem quer mostrar que é melhor. O encara com olhos firmes e determinados, disposta a descobrir cada mínimo detalhe. E por último blefara, tentando mostrar algum tipo de charme.

Negava a si mesmo que ela não era o que esperava, mas no fundo sabia que estava errado. Fria, calculista e imprevisível. Não media a conseqüência dos próprios golpes, só os que se voltavam contra si. Uma máquina, para ser exato.

Seguiu como no mapa que Quíron o mostrara antes de vir para a Rússia e abriu a porta da sala onde guardavam o material de limpeza. Na última porta dos armários, estava a tal escada subterrânea e lá embaixo com certeza, os arquivos.

Continuou andando em silêncio. Os poucos guardas no local o davam sinal verde para passar.

Cada vez que mais adentrava no subterrâneo lembrava- se do seu país. E dos poucos amigos que tinha lá. Sentiria falta deles, ou talvez até mesmo da ex-namorada grudenta Rachel. Mas o que mais deixava saudade era Quíron.

Ele era para ele, sem dúvida, o pai e mãe que nunca teve. O criara dentro de um quartel militar e sentira orgulhoso disso. Ele era único.

_E então?_ perguntava Christie insistentemente_ Quem é Percy Jackson?

Annabeth retardara com medo aquela pergunta por três longos dias. Poderia ter milhares de motivos, mas o principal era que nem a própria sabia.

Não porque era incapaz de descobrir. De maneira alguma. O problema é que pela primeira vez na vida sentia medo. Ele era diferente de todas que já passaram por sua vida. E o novo poderia ser simplesmente apavorante.

_Ele... Parece ser um cara legal_ Droga. Rápido demais.

Sua colega deu uma risada, baixa e fina. Ela ainda não entendia o que uma garota tão delicada fazia ali.

_Você mente muito mal Annie_ disse ainda sorrindo, se retirando do quarto com Annabeth no seu encalço.

Elas andavam em silêncio, ambas absorvidas no seu próprio mundo de pensamentos confusos. E era nessa base que essa amizade se mantém em segurança. Algo silencioso e sem nenhuma intromissão na privacidade.

Dirigiam-se ao pátio, onde fora convocada uma reunião. O local estava lotado com os alunos, todos extremamente confusos. Tudo fora organizado de última hora, e ninguém via sentido algum de estar ali.

Continuaram procurando, até achar um lugar para dois logo na frente da arquibancada. Estava bem cheio ali, e ambas tinham medo de não agüentar tanta gente num lugar só.

Os “chefões” estavam logo à frente, uniformizados de farda formalmente. Acredite, não era nada agradável ver 10 homens gigantes de farda na sua frente.

Logo um deles começou a discursar algo, que os ouvidos de Annabeth se negavam a escutar, por mais que tentasse prestar atenção.

Seus olhos insistiam a vagar pelo cômodo, inquietos e agitados, passando pelo rosto de todos ali presentes. E a cada um que olhava... Nada. Sabia que ele não estaria ali, mas não custava nada procurar.

Percy era diferente, ela podia sentir de longe. Só o vira duas vezes na KGB, o que era muito estranho, já que raramente deixavam alguém entrando e saindo. Mas isto estava no topo da sua lista de coisas improváveis.

Continuava sua revisão até que viu o que não esperava. Próxima a porta, uma menina que deveria ter mais ou menos sua idade a encarava. Os cabelos negros eram espetados e um pouco acima do ombro. Uma franja caía na frente de uns dos olhos azuis elétricos. Porém isso não a atrapalhava de encara Annabeth como se fosse perfurar sua alma.

E talvez o mais apavorante fosse os dois homens ao seu lado, com a insígnia que fora criada aprendendo a odiar, gravado ao lado esquerdo. CIA era o que estava escrito.

Um calafrio subiu pela sua espinha até a nuca, fazendo os pelos se arrepiarem. E por mais que pura coincidência eram os mesmos homens que haviam levado Luke. Luke.

E naquele momento o impulso de fugir foi maior que qualquer coisa. Levantou-se num ímpeto, e correu sem dali, sem olhar para trás.

Os tapas e pontapés que dava em aqueles que entravam no seu caminho pouco importavam. Estava indo mais rápido que seu fôlego permitia. Parecia um labirinto sem fim.

Entrou no pequeno corredor que levava aos banheiros, e sentou arfando no chão, aos poucos recuperando a razão de seus pensamentos. Mas que droga estava fazendo?

Antes que pudesse pensar em qualquer coisa a mais, o coração parecia que iria pular para fora do peito novamente. Sentiu um cano quente sendo pressionado contra sua cintura, e cheiro de pólvora invadindo o ar que respirava.

Tentou dar uma cotovelada, ainda sem olhar para o lado, mas só ganhou seu cotovelo sendo segurado com força. Fechou os olhos com força, com medo do que poderia ver. Foi em tão que ouviu uma voz que já esperava há um tempo.

_Vamos_ disse numa voz dura, porém aveludada em seu ouvido.

Percy se levantou, lhe estendo a mão. Fingiu não ver e cambaleou ao se por de pé, ainda tonta com os inúmeros acontecimentos do dia.

Mesmo percebendo o quanto a garota evitava seu toque, ele a puxou pelo pulso, e juntos dispararam pelo corredor.