Capítulo 2-O mar calmo e a tempestade agitada.

Base Secreta da KGB subterrâneo de Moscou, Rússia. Duas semanas atrás antes.

Annabeth nunca sairia da BSCD (Base de Crianças Super Dotadas). E se algum dia já tivesse se imaginado fora daqueles muros, nunca imaginaria que seria por tal motivo.

Bem, tecnicamente não estava “fora daqueles muros”. Pra falar a verdade estava embaixo. Isso mesmo, a sede da tão importante KGB localizava-se abaixo do suposto “internato”.

Pela hora, já era de se esperar que os corredores estivessem tão vazios e frios quanto se encontravam. As paredes eram frias e úmidas, com a coloração bege desgastada e suja, além do evidente cheiro de mofo.

A garota fungou e olhou para seu lado. E lá estava ele, por enquanto.

Luke Castellan sorriu, tentando transmitir-lhe uma mínima confiança de que tudo ficaria bem, algo que nem o próprio possuía no momento.

Os cabelos cor de areia caíam em volta do rosto, alguns colando na testa com o suor. Os olhos no mesmo tom estavam e constante estado de alerta, circulando por todas as portas das salas. Passou um braço em volta de Annabeth, e esta não recusou o toque como na maioria das vezes. Ela sabia tão bem quanto ele que aquela poderia ser a última vez.

De repente, aquele instinto de proteção veio à tona nos dois. Quando os pelos da nuca se eriçam e você sente que tem alguma coisa errada. Eles foram criados para guiá-los, e não é agora que iam o abandonar.

Apressaram o passo chegando a uma escada estreita de ferro, o corrimão com a aparência horrível mente enferrujada. Subiram com certa dificuldade. Como estava na frente, Luke empurrou a tampa que imitava a de um bueiro e puxou Annabeth para fora.

Eram duas horas da manhã, e fazia-se uma típica madrugada de inverno em Moscou. O ar era gelado e tudo em volta parecia coberto por gelo. Ela gostava daquilo. Era um perfeito exemplo do estado do seu coração desde que se conhecera por gente. Frio, paralisado e escurecido.

Um senhor barbudo na média de seus cinqüenta anos do esperava por eles sorridente. Logo atrás, estava um helicóptero e mais dois homens completamente armados. E no peito esquerdo do coletes à prova de balas a escrito: CIA.

Um calafrio percorreu todo o corpo antes de avançar eles. Luke a puxou para trás com o braço usando extrema força. A garota caiu de bunda no asfalto molhado.

Dirigiu um olhar confuso ao amigo. Este, apenas a olhou tranquilamente e ajudando-a se levantar disse na língua nativa:

_Tudo bem.

E por mais que fosse sua confiança nele, não acreditou em uma sílaba sequer.

_Ela tem bons instintos_ o senhor a observava no mesmo lugar, com o sorriso ainda mais descarado. Era por causa dele que Luke estava prestes a partir?

_Vamos logo Quíron_ apressou o professor de esgrima de Annabeth, finalmente deixando todo aquele nervosismo guardado transparecendo. Entrou no helicóptero sem ao menos olhar para trás. O remorso do que estava fazendo era grande.

_Nos veremos em breve, Srta. Chase_ agora sério, o homem beijou levemente a mão dela e também se retirou.

Atordoada, observou o helicóptero levantar vôo. Queria dizer que era um sonho, quando tudo acontecera de verdade. E por mais que tivesse medo, não contaria nada a ninguém. Por Luke, memorizou a mentira, Por Luke.

 Departamento de Crianças Superdotadas da secreta KGB. Moscou, Rússia.

Revirou o corpo na cama, ainda a mercê das lembranças dos últimos dias. Tudo acontecera tão rápido que sua cabeça não conseguira acompanhar com a precisão necessitava. Doía só de pensar.

Desistindo de conseguir se acomodar em alguma posição confortável, levantou- se incomodada com algo molhado entre as pernas. Não sabia o que era dormir a um bom tempo, e pelo jeito agora redescobrir seria impossível.

Revirou os lençóis em busca de algo estranho. E encontrou. Uma mancha de sangue espalhava-se redonda e gigante. Respirou fundo e fechou os olhos. Quando os abriu ainda estava lá.

_Inferno_ disse baixinho, com medo de acordar a companheira de quarto, Christie Banks. Não costumava ter uma, mas no verão passado a lotação chegara ao limite e a “privilegiada” ganhara uma amiguinha. Esses entre outros sinais deixavam claro que a hora estava chegando.

Despiu-se assim que chegou ao banheiro sendo tomada pela dor de uma maldita cólica. Lembrete: pegar qualquer remédio que faça passar.

Ligou o chuveiro e deixou a água fria tomar seu corpo, mesmo sendo uma madrugada de temperatura relativamente baixa. Deixou a mente vagar por ali mesmo.

Estava estressada. A pressão parecia sempre aumentar, a cada mínimo segundo. As pessoas a sua volta esperavam, o que não poderia dar certo. E isso lhe dava raiva, porém demonstrar era algo impossível. Eles eram perigosos e não podia dar mole.

Escutou Christie se levantar e abafar um grito quando viu a mancha, enquanto desligava a ducha. Gostava da garota, era gente boa e completamente na dela. Mas estressada demais.

_Annabeth o que foi aquilo?_ perguntou, caçando os óculos de grau nas gavetas bagunçadas. O cabelo castanho e fino estava preso num rabo de cavalo desajeitado e o corpo pequeno e magro agachado.

-Nada demais_ respondeu Annabeth, agora também mexendo nos armários.

Não sabia muito sobre Percy Jackson, e já eram quase nove horas! As poucas informações que tinha: bonito, habilidoso e misterioso.

Mais que qualquer coisa. A maneira como estudava seus movimentos e os olhos verdes como lâminas afiadas atravessando seu corpo.

Aproveitou-se de sua distração e lançou o florete em direção ao seu ombro esquerdo, fazendo Annabeth perder o equilíbrio e cair de costas no chão.

A garota tirou a máscara protetora e o encarou como fez a aula inteira. Olhos cinza como uma tempestade e frios tomavam os seus tentando descobrir qualquer coisa. Mas o soldado também era esperto e a fitou do mesmo jeito. Era recíproco.

Ela se levantou recusando uma mão estendida e soltou o cabelo do coque malfeito. Se o olhar era como nuvens carregadas, os cabelos claros eram os relâmpagos balançando a sua volta.

_Então, você já trabalhou para a CIA não?_ perguntou Annabeth como a intenção de descobrir alguma coisa, enquanto levava a arma ao local em que deveria ser guardado.

Ele assentiu com um sorriso soturno nos lábios. Só?

_Por quê?_ agora  a adolescente se aproximava, enrolando um dos cachos nos dedos.

_Longa história._ e o idiota continuava com a mesma expressão. Ele já ia se retirando quando ela o puxou pelo braço, fazendo os olhos verde-mar e a tempestade cinzenta de cruzarem causando um choque em ambos.

_Eu tenho todo o tempo do mundo._ Sussurrou. Mas ele apensas lhe deu as costas. Ao cruzar a porta, uma gargalhada gostosa escapou-lhe os lábios. Porém o pensamento de que ela era mais esperta do que pensava logo o invadiu.

Sala de interrogatórios à prova de som da CIA, Washington D.C., EUA 10 dias antes

_Então, é tudo senhor Castellan?_ Quíron tirou os olhos das anotações e voltou a encarar o jovem. Este estremeceu com o olhar, mas negou com a cabeça.

Antes de se deixar levar, sabia das conseqüências impostas. Pensava estar preparado para a pressão que sofreria, porém não imaginava que o homem fosse tão persistente.

Ele se sentou a sua frente e largou a prancheta de lado, esfregando o rosto e soltando um bocejo. Já tinha uma idade avançada. E parecera tão duro que não deixara transparecer o cansaço.

_Sabe Luke,_ estranhou estar usando seu primeiro nome_ todo dia é a mesma coisa. Eu interrogo tantas pessoas e todas dizem a mesma coisa quando faço essa pergunta. Nada, quando existe sempre algo mais para ser contado. E no final eu sempre descubro quando elas mentem.

Debruçou- se sobre a mesa sem perder o contato visual com ele. Pigarreou antes de prosseguir.

_Estou lhe dando uma segunda chance. É pegar ou largar.

Não, não posso deixar que aconteça com Thalia. Ela tem que ficar no lugar de Annabeth porque é melhor, e é assim que vai ser.

_Já disse tudo senhor.