Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 50
Reaprendendo a Viver




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Ayumi Hamasaki - Heaven

— O senhor quer ir ver sua filha agora? – uma enfermeira entrou na sala e perguntou. Eu levei uma pontada no meu coração já machucado. Isso era demais pra uma pessoa enfrentar. Eu estava ali vendo minha mulher sem vida e agora teria que ir ver minha filha do mesmo modo.
— Eu já vou. – disse e ela saiu da sala. Eu olhei uma última vez para Carol e as lágrimas voltaram a cair. Eu não queria ir embora dali sabendo que eu nunca mais iria vê-la. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Segurei sua mão fria e entrelacei meus dedos com os seus. – Tchau, amor. – me abaixei e selei pela última vez nossos lábios.
Saí da sala sem olhar pra trás, se eu fizesse isso jamais conseguiria sair de lá. A enfermeira estava do lado de fora me esperando, ela foi andando e eu a segui. Paramos em frente a uma parede com uma enorme abertura de vidro. Eu olhei para a enfermeira sem entender. – Ela está aqui? Ela está... viva?
— Sim, e ela está bem. Está com o respirador ligado, mas respira quase o tempo todo sozinha. É um bebê bem inquieto. – ela sorriu para mim e continuou. – O senhor quer pegá-la?
Alguma coisa indescritível começou a crescer dentro de mim. Julie estava viva, mas eu não estava exatamente feliz com isso. Por que ela estava viva? E por que Carol não estava? Isso não era justo. Eu não era capaz de fazer isso, eu não conseguiria viver sem minha mulher e agora eu teria de criar minha filha sozinho? E se ela se parecesse com a mãe? Como eu poderia viver com uma lembrança constante de que a mulher que eu mais amava não estava mais comigo? – Não, eu não quero.
Saí de lá o mais rápido possível. Eu só queria ir pra casa, dormir e só acordar quando tudo isso tivesse passado. Passei em frente à sala onde eu estava antes e parei em frente à porta. A dor foi crescendo novamente e as lágrimas voltaram a rolar pelo meu rosto. Encostei-me a porta e me deixei escorregar até o chão. Abracei meus joelhos e chorei, chorei com toda a força que podia só para tirar aquilo de dentro de mim. Aquela dor sufocante, aquela imagem que não sumia da minha mente, minha mulher pálida e fria naquela cama. Eu já sentia tanta falta dela... eu queria ela ali abraçada a mim, como eu queria.
— Bill. – ouvi a voz de Tom e ergui a cabeça. – Vamos pra casa? – fiz que sim com a cabeça e ele me ajudou a levantar. Meu irmão passou os braços em volta dos meus ombros e eu finalmente pude sentir algum conforto. Mesmo que isso não tirasse nem um pingo da dor que eu sentia eu pelo menos podia respirar agora.
Quando chegamos ao lado de fora do hospital eu senti como se anos tivessem se passado desde que eu havia estado aqui fora pela última vez. Respirei fundo e ainda senti meu peito pesado. Tom foi buscar o carro e eu fiquei ali esperando. Olhando para aquele lugar me lembrei do dia em que os paparazzi a atacaram e tudo que eu senti foi vontade de acabar com eles para protegê-la. Eu não tinha tido sucesso nenhum nisso.
Meu irmão chegou e eu entrei no carro. O caminho todo eu fiquei olhando para fora da janela tentando me concentrar em qualquer coisa que aparecesse, eu só precisava desviar minha mente. Eu não aguentava mais nenhuma lembrança. Eu só queria esquecer.
Chegamos em casa e mamãe veio falar comigo, mas eu simplesmente subi direto para o meu quarto, bati a porta e me joguei na cama. O travesseiro tinha o cheiro dela. Eu me abracei a ele e voltei a chorar. – Volta pra mim...


Meus olhos ardiam por causa das lágrimas que havia secado ao redor dos meus olhos, tantas que eu já nem me dava o trabalho de enxugar. Meu celular finalmente tinha descarregado, ele não havia parado de tocar um segundo durante toda à tarde. Eu nem sequer olhei, não importava quem fosse eu não estava a fim de falar. Na primeira vez que ele tocou eu o atirei longe e desde então ele estava no chão tocando estridentemente vez após vez.
Eu olhei pela janela e a lua estava incrivelmente grande. Como se estivesse perto demais de mim. Ela estava tão bonita e eu odiei aquilo. Eu sabia exatamente o que Carol diria se estivesse ali, mas ela não estava ali para dizer. Eu levantei e fechei a janela e as lágrimas voltaram a escorrer, mesmo eu achando que já não havia mais nenhuma dentro de mim.
— Por favor, Carol... faça-me te esquecer.


— Bill. – mamãe disse entrando no quarto. Eu abri meus olhos e olhei para ela. Eu não havia dormido uma hora sequer, apenas havia ficado deitado com os olhos fechados o tempo todo tentando não pensar em nada além do nada.
— Isso é real mesmo? – perguntei para ela, que se sentou ao meu lado.
— É, meu amor. – ela disse acariciando meus cabelos. Eu fechei meus olhos, a dor machucando meu peito novamente. Eu queria ter dormido e ao acordar descobrir que tudo isso não passava de um péssimo sonho. Mas pelo visto isso nunca iria acontecer. – William ligou e disse que eles precisam de uma roupa para Carol. Você pode pegar alguma coisa para eu levar?
Eu abri meus olhos e fitei o teto. – Eu não sei, mãe.
— Vamos, eu vou com você. É importante que você faça isso. – ela se levantou puxando minhas mãos.
Nós fomos até o closet, até onde seus vestidos estavam guardados. Puxei a porta de correr e ao abri-lo aquele cheiro invadiu minhas narinas. Eu respirei fundo inalando ao máximo aquele perfume de Jasmim que ela tinha. Era tão intenso que ela parecia estar do meu lado.
Passei a mão pelos seus vestidos, sentindo o toque deles e fechei os olhos. Por um momento imaginei que ela vestisse ali, perguntando se sua roupa estava boa o suficiente para sair comigo. Eu soltei um sorriso, mas ao abrir os olhos e ver que ela não estava ali ele se desfez imediatamente. – Você escolhe, mãe. Eu não posso fazer isso.
Saí de lá e me joguei na cama novamente. Eu não ia aguentar isso. Não fazia nem um dia e eu já sentia uma falta enorme dela e isso era tudo que eu conseguia pensar. Eu não ia conseguir esquecê-la de maneira alguma. Eu precisava dela.
— Você não vai ir mesmo, Bill? – minha mãe me perguntou de volta ao quarto. Eu só balancei minha cabeça negativamente.
— Tá bom... Então eu vou indo.
— Onde está o Tom?
— Ele está no hospital, eles ligaram pedindo que você fosse para lá resolver umas coisas da Julie, mas ele disse que eu não precisava te aborrecer com isso e foi no seu lugar. Mas depois ele vai ir para lá também. Quer que eu peça para ele vir te pegar?
— Não, mãe. Eu não vou.
— Okay... – ela se aproximou e deu um beijo em minha cabeça. – Não faça nada estúpido.
— Eu não tenho forças nem para isso, não se preocupe.
Ela saiu e eu estava me sentindo sozinho.
Lembrei-me do meu celular jogado no chão e rapidamente me levantei para pegá-lo.Um frenesi percorreu meu corpo. Ele estava descarregado. Fui correndo até a cômoda e peguei o carregador, mal havia o conectado a tomada já pressionava o botão pra liga-lo. Fui até a última foto tirada e a abri. Meu coração quase parou de bater e as lágrimas voltaram a escorrer pelo meu rosto. Carol estava segurando Julie no colo e estava com um sorriso enorme no rosto.
Eu precisava ir.
Levantei-me e apenas troquei de roupa. Chamei um táxi e em pouquíssimos minutos ele estava ali. Pedi para que ele me levasse até o cemitério. Procurei evitar pensar no que encontraria lá, eu só sabia que eu tinha que ir.
Assim que chegamos, vi uma multidão, mais gente do que eu poderia imaginar. Todos parados junto aos carros, e então uma limusine chegou. O Sr. Ford desceu de lá. Eu prendi a respiração e juntei toda a coragem que tinha para ir até lá. Ele me deu um abraço e um olhar de quem entendia. Levou-me até o fundo, onde eles – Jeremy, Jared, Christopher e Benjamin – estavam saindo com o caixão.
Eu não olhei para dentro dele, apenas peguei a alça da frente e enquanto o carregava levei minha mente para algum lugar longe dali. Eu e Carol com um por do sol alaranjado e as ondas quebrando sobre nossos pés.
Um pastor fazia um discurso longo demais, do qual eu não ouvi uma palavra. Eu ainda continuava na praia, abraçado a ela. Quando ele terminou uns homens vieram com as pás. Meus olhos finalmente se focaram no que estava a minha frente e meu cérebro pareceu entender, enviando sinais nervosos para o meu corpo, fazendo meu coração diminuir de tamanho, como se uma força sobrenatural o estivesse esmagando impedindo-o de bater apropriadamente. Aquilo era demais pra eu suportar. Levantei-me e saí dali, sem saber pra onde, só andei o mais longe que pude dali.
— Bill! Biill! – ouvi meu irmão gritando. Eu parei de andar e me virei pra ele. Assim que ele se aproximou me abraçou. Eu enfiei minha cabeça em seus ombros e as lágrimas voltaram a escorrer.
— Tudo bem... eu estou aqui com você.
— Eu já estou sentindo falta dela, Tom... Como eu vou conseguir aguentar?
— Não sei, Bill. Mas eu vou descobrir com você. – eu me senti um pouco menos desconfortável com isso, como se tivesse dividido minha dor com ele. – A Julie vai sair hoje do hospital, você vai ir buscar ela?
— Não...
— Mas vo... – Tom começou a falar e eu me afastei dele.
— Eu não tenho condições de ser pai agora, Tom. Eu não tenho como dar amor nenhum pra ela... Eu não tenho como ser responsável por ela, e nem quero. – ele me lançou um olhar desgostoso, mas depois fez que sim com a cabeça.
— Então vamos pra casa.


Eu estava na sacada do quarto, olhando para o céu. Que estava mais escuro que o normal, quase não havia nenhuma estrela e a lua estava pequena e não brilhava. Ele parecia estar tendo compaixão ou até mesmo pena de mim, e por isso não estava mostrando sua beleza habitual.
— Eu sei que você está em algum lugar longe, mas se puder me ouvir, eu quero você de volta. Você é tudo que eu tenho. – disse e não recebi resposta nenhuma. - Sabe, você não tinha o direito de fazer isso comigo. Ir embora e me deixar aqui, com o coração despadaçado e sem saber o que fazer. 
Suspirei fundo e me encostei para trás na cadeira, abraçando meu corpo, protegendo-o do vento frio que soprava. Eu queria dormir, eu estava exausto, completamente acabado. Mas cada vez que eu fechava os olhos eu vai um lembrete de que ela não estava mais ali.
Estava frio demais então eu entrei e voltei para a cama. Liguei o som e coloquei umas músicas calmas, eu precisava dormir. Fechei meus olhos, mas não deixei minha mente divagar, fiquei cantando e repassando a letra em minha mente para mantê-la ocupada. Quando eu estava começando a ficar com sono ouvi um choro vindo do quarto ao lado.
— MÃE, A CRIANÇA TÁ CHORANDO! – gritei. Aquilo estava me deixando agoniado. Eu já não conseguia dormir e ela ainda tinha de ficar chorando. Eu descobri que o cheiro dela tinha um efeito horrível sobre mim.
O choro só aumentou e ninguém dava sinal nenhum de estar se levantando. – MÃÃEE!!!
Aumentei o volume da música e coloquei o travesseiro sobre a cabeça. E nada, o choro só parecia aumentar. – ALGUÉM FAZ ESSA CRIANÇA PARAR DE CHORAR! – berrei ainda mais alto, mas de nada adiantou.
Levantei e fui até o quarto de onde o choro vinha. Eu parei na porta, o quarto estava escuro, mas havia um pequeno abajur ao lado do berço. Eu não sei o que exatamente eu tinha vindo fazer ali, gritar com ela ou algo do tipo. Mas eu não tenho certeza se isso adiantaria com um recém-nascido. Aproximei-me do berço e olhei para ela, chorando e sacudindo os bracinhos e me senti mal. Coloquei minha mão dentro do berço e esperei que ela segurasse meu dedo e tudo se resolvesse. Mas ela continuou chorando, mesmo tendo me visto ali.
— Você sente falta dela também, não é? – perguntei e fiquei a observando ali. Ela não merecia que eu fizesse isso, ela também estava sem Carol. – Eu não sei como fazer isso direito, sua mãe saberia. Tenho certeza que se fosse ela aqui nesse momento você já estaria dormindo de novo. – respirei fundo, tentando parar de pensar em qualquer coisa do tipo "se ela estivesse aqui". Desajeitadamente a tirei de dentro do berço e peguei-a no colo. Tentei segurá-la de um jeito que fosse confortável para nós dois, mas mesmo do melhor jeito ainda parecia errado. Ela olhou para mim e diminuiu o choro, mas logo o recomeçou. – O que você quer que eu faça?
Comecei a me agoniar de novo. Eu não era capaz de fazer isso realmente. Fui com ela para o meu quarto e procurei alguma coisa para entretê-la, mas era óbvio que não tinha nada lá. Eu não tinha preparado nada para ela. E então eu me lembrei, havia uma coisa que eu tinha preparado para ela. Mas talvez eu não estivesse pronto ainda.
Ela continuou chorando em meu colo e voltou a agitar os braços, fazendo os meus se cansarem. – Tá bom, eu vou te mostrar.
Fui até a cômoda e peguei a câmera dentro da gaveta. Com dificuldade, consegui liga-la a TV usando apenas um braço. Tive de respirar fundo só de olhar para a miniatura do vídeo. Respirei mais uma vez e dei o play.
— Pronto, já liguei a câmera. — eu apareci falando e me sentei ao lado dela na cama. Meus olhos não conseguiram se desviar dela. Era surreal vê-la ali.
— Ai, Bill... Eu não sei o que fazer. — ela falou envergonhada e eu me peguei sorrindo imediatamente.
— Deixa comigo. — falei para ela e me virei para a câmera. — Oi Julie, eu sou o papai Bill. — Carol começou a rir de mim e se jogou na cama e eu sorri junto agora, e as lágrimas começaram a rolar, calmas. – E essa é a mamãe boba Carol. Levanta daí. — eu resmunguei para ela. Que se levantou rapidamente.
— Oi bebê! — eu olhei para Julie em meu colo, e podia ser coisa da minha cabeça, mas eu jurava que ela estava olhando para a televisão.
— Quando ela estiver vendo isso não vai mais ser bebê, amor. — eu disse pra ela, que revirou os olhos. Eu sentia falta até disso.
— Oi, filha! — disse se virando para mim. – Tá bom assim?
— Você não tem jeito! — reclamei com ela e voltei a falar com a câmera. Julie agora tinha se acalmado em meu colo, nem chorava mais. – Agora a mamãe está grávida de seis meses de você...
— Não parece, mas eu estou. – Carol apontou para a sua barriga.
— É, e agora você já chuta. 
— E se mexe muito! — ela fez uma cara de dor. – Seja uma boa menina, por favor.
— Ah, e hoje a mamãe e o Tio Georg cortaram o cabelo! — era ridículo eu estar tão feliz há apenas alguns dias atrás e estar sem alma agora. – Isso foi incrível, por que sua mãe nunca tinha cortado o cabelo desde que nasceu.
— Já o seu pai... muda o cabelo toda a semana! Não seja igual ele, Julie.
Eu dei um tapa no braço dela. — Isso está sendo muito instrutivo para ela.
— Foi você que começou com isso, não coloque a culpa em mim. – ela deu um tapa em meu braço também. – Mas você tem razão, eu e o seu pai estamos muito felizes por ter você, de verdade. Você já mudou nossas vidas, mesmo estando aqui dentro ainda. — no vídeo eu olhava para ela feito um retardado, como se a tivesse visto pela primeira vez. Eu nunca me cansaria de olhar para ela daquele jeito se eu pudesse. –Eu espero sim, que você seja igual a ele. E eu vou fazer de tudo para que você possa crescer sempre feliz como ele é.
Eu desliguei a TV e olhei para Julie. Eu estava me sentindo mal por ter ficado com raiva dela, por não ter ficado com ela desde o primeiro momento. Agora, com ela aqui eu tinha voltado a sentir o que senti assim que a vi pela primeira vez. Um amor incondicional. – Eu estou feliz de ter você, pequeno pedaço de felicidade.


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