Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 51
Em Uma Batida de Coração




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Taylor Swift - Eyes Open

Eu estava sentado com os braços envolta dela enquanto olhávamos o epitáfio em nossa frente. Já fazia seis anos, mas ainda parecia ontem. 
— Você acha que eu posso sentir falta de alguém que eu nem conheci? – Ela olhou para mim com aqueles grandes olhos ridiculamente azuis e familiares. Eu apenas fiz que sim com a cabeça por que sabia que era exatamente isso que ela sentia. – Eu sinto falta da mamãe. 
— Eu também.– mais do que eu poderia imaginar. Eu esperava a cada ano que doesse menos. Em certa parte se tornou suportável, mas nunca doía menos. Ela se levantou, com os cabelos loiros escuros sendo levados pelo vento e colocou o buquê de flores em cima da elevação de grama. 
— Te amo, mamãe. 



Era aniversário dela, mas ela havia decidido que não queria comemorar isso. Acho que Julie compreendeu mesmo sem eu explicar que essa data nunca seria completamente feliz. Sempre traria lembranças ruins para mim e para todo mundo. Ela disse que se pudesse ir ver o vô ela já ficava satisfeita. E era isso que íamos fazer. Eu também tinha algo guardado que estava apenas esperando por esse dia, por que eu precisava do avô dela pra isso. 
Ao chegarmos em casa, ela foi logo atrás dos cachorros, para brincar com eles.
— Julie, vai logo arrumar sua mala. Nós já estamos atrasados. – ela se levantou e revirou os olhos. 
— Tá bom! – e entrou em casa bufando. Não sei de onde ela tinha puxado esse temperamento. 
— Tio? Você está fazendo xixi na Gina? – ouvi Julie falando e entrei logo em casa. Tom e Gina estavam se agarrando no sofá. 
— Tom! – gritei e tampeis os olhos da criança. – O que vocês estão fazendo? 
— Nós... eu só... nós... é... – Tom se cobriu com suas roupas e se sentou no sofá. – Não Julie... eu não estava fazendo xixi nela eu só... 
— Cala a boca, Tom. – eu disse e me voltei para Gina. Eu não esperava isso dela. Todo esse tempo insistindo que eles eram só amigos para estar sendo desfrutada em pleno sofá de uma casa de família? 
— Desculpa, Bill... – Gina disse envergonhada, se vestindo. 
— Gina? – Julie chamou. 
— Oi, meu amor! – ela foi até ela e a abraçou. 
— Você quer ir me ajudar a arrumar as malas? 
— Claro, vamos lá. – Gina disse e deu um sorrisinho amarelo enquanto seguia minha filha saltitante. 
— Quando eu realmente acredito que vocês dois não iam passar da amizade eu vejo isso! – perguntei pra ele baixo. – Desde quando vocês tão nessa, Tom? 
— Depende... mentalmente ou fisicamente? – ele deu um sorriso safado. Eu nunca tinha tido certeza do que se passava entre eles dois, acho que nem eles sabiam. Só sei que fazia bem ao meu irmão, e muitissamamente bem a minha filha. Eu já apoiava o romance deles só por isso. 
— Seu perturbado. Mas da próxima vez que for fazer isso lembre-se que tem uma criança nessa casa. E obrigado por finalmente escolher uma garota decente. – ele sorriu em confirmação.
— Nós vamos ir ver o vovô! – ouvi Julie gritando ao subir as escadas correndo. 


Eu estava cantarolando uma música dentro do carro, enquanto íamos para Dearborn, quando Julie se virou para mim e perguntou: - Mamãe também cantava? 
— Não. – eu disse e ri da possibilidade. – Eu sou o cantor Julie. Ela dançava. 
— Eu sei. Minha professora vive dizendo isso, que eu tenho que me esforçar mais, que eu sou capaz, por que sou filha da minha mãe. 
— Meu amor... eu já disse que você não precisa fazer balé se não quiser. 
— Mas eu quero, eu gosto. Só não gosto que a minha professora fale isso. – ela falou e abraçou os joelhos, puxando as pernas para cima do banco. – Se a mamãe estivesse aqui ela mesma ia me ensinar né? 
Ela me olhou com aqueles olhos, com os quais eu tinha uma relação de amor e ódio, fazendo meu coração apertar. Ela sempre falava “e se a mamãe estivesse aqui” e eu perdia um pedaço de mim cada vez que isso acontecia. Se a Carol estivesse aqui tudo seria tão perfeito. – Ela ia. – respondi com a voz embargada. – E jamais deixaria você fazer isso. – apontei para os pés dela em cima do banco e dei um sorriso fraco. – Mas eu deixo. – ela apenas esboçou um sorriso e continuou abraçada as suas perninhas. 
Chegamos na casa do William e Julie já começou a ficar empolgada. E eu apavorado. Estava com aquele envelope em mãos há dois dias e ainda não tinha tido coragem de abri-lo. Eu precisava da ajuda dele para isso. 
— Oi vovô! – mal chegamos e ela desceu do carro correndo em direção ao avô que nos esperando na porta. – O J.J. tá aí? 
— Sim meu anjo, ele está lá dentro, – ele colocou ela no chão, que saiu correndo lá para dentro e me observou. – Com o que exatamente você estava tão preocupado? 
— Eu recebi o resultado do exame dela, e não tive coragem de abrir. – entreguei o envelope a ele, que me convidou para entrar. – Como você conseguiu aguentar tudo isso? 
Eu admirava o que ele havia feito, tinha perdido a mulher, criado cinco filhos e ainda sabia que a filha iria seguir o caminho da mãe. Ele respirou fundo e se encostou para trás na cadeira. 
— Bom, eu não sei. No começo eu realmente achava que não ia conseguir. Que o mundo sem ela não tinha lógica alguma. Mas eles me fizeram pensar diferente, acho que eu só consegui por causa dos meus filhos. 
— É... Se não fosse a Julie, eu não sei... Se o exame der alguma coisa... eu... – nem conseguia terminar de falar só de pensar na possibilidade. – Não vou conseguir fazer o que você fez.
— Você diz, querer prender minha filha e não deixar ela fazer nada que ela quisesse só pelo medo de ela se machucar mais do que ela já iria de qualquer maneira?
Dei um sorriso torto, por que agora eu entendia tudo que tinha acontecido. Eu acho que faria muito pior com a minha filha.
— Vamos ver. – ele disse e abriu o envelope, os poucos minutos que ele levou para ler o laudo pareciam longas horas de tortura. Então ele largou o papel sobre a mesa e sorriu. – Ela é completamente saudável. 
Fui tomado por uma completa sensação de alívio, quase beirando a felicidade, só não chegava a isso por que desejava com toda a minha alma ter ouvido isso sobre ela também. 
— E você, como está? 
— Ainda continuo com a sensação de estar apenas sobrevivendo. Essa... dor horrível nunca vai embora? 
— Não. – ele disse com pesar. – Mas com o passar do tempo ela fica suportável. Eu tenho uma coisa para você. Espere um minuto. 
Sr. Ford se levantou, e eu fiquei lendo o laudo do exame, imaginando que pelo menos minha filha ia poder ficar comigo para sempre. Não importava o que fosse, eu sempre ia ter um pedaço dela comigo. Agora eu tinha esperança de que quando a dor se tornasse suportável eu ia conseguir viver novamente. Sem esse pânico de que essa maldita doença fosse levar minha filha também.
William voltou e me estendeu um envelope.
— Ela disse para eu lhe dar isto quando eu achasse que você estivesse realmente precisando, mas que já estivesse pronto para poder entender. – ele me entregou um envelope, e eu senti um arrepio percorrendo meu corpo ao perceber o que era aquilo. – Eu acho que agora é o momento certo. – me entregou e saiu.
Peguei o envelope e o fiquei observando, meu coração mudou seu ritmo, num estado que eu não sabia diferenciar se era alívio ou agonia. O dobrei e coloquei no bolso da calça. Levantei e fui até a sala, onde Julie estava brincando com J.J. Na verdade eles estavam meio que brigando. Ela não sabia o jogo direito e ele estava com raiva por que ela não queria que ele ajudasse. Ela ficava gritando "eu sei fazer sozinha!". Esse era o tipo de lembrete constante que eu tinha, Julie não podia ser mais parecida com a mãe. No começo eu odiava isso, por que eu queria esquecê-la, tirar Carol da minha cabeça. Mas agora... eu quero poder ter ela para sempre em mim.
— Vem cá, meu amor. – disse e Julie veio correndo em minha direção e me deu um abraço tão apertado que parecia saber do que eu precisava. A abracei de volta e sorri deixando a agonia ir completamente embora e ficando somente com o alívio crescente.


Eu já estava de volta a Los Angeles, mas agora estava em um lugar ao qual eu não vinha há muito tempo. Era o primeiro show que fazíamos desde que tudo isso tinha acontecido. Como as músicas já estavam quase todas prontas nós havíamos lançado o CD e até feito um clip, mas eu ainda não tinha tido forças suficientes para enfrentar o público. Eu estava na sacada do camarim, sentindo o pânico me dominar e ainda encarando aquele envelope fechado. 
Aquelas eram as últimas palavras dela e eu queria preservar aquilo o máximo de tempo possível, apesar da ânsia de ler correndo. 
Aproximei-o do rosto e inalei profundamente, sentindo o fraco cheiro de Jasmim que ele ainda possuía. Descolei a aba e retirei o papel dobrado de dentro, sentindo meu coração acelerar num frenesi inexplicável. A caligrafia dela estava trêmula e falha, e havia pequenas manchas ao longo do texto, como gotas d'água. Ela tinha chorado. Um nó em minha garganta já se formava, e eu ergui meus olhos para o céu, antes de começar a lê-la. 

Bill, me desculpe por ter te feito sofrer. Eu não sou uma pessoa perfeita. Eu nunca quis fazer aquelas coisas pra você. Mas eu fiz, e tudo foi devido as minhas inúteis tentativas de impedir que você sofresse, tentei de afastar porque achava que perto de mim você só sofreria. Mas você sabe que sempre foi por que eu te amava de mais né? 
Mas agora eu entendo que você me ama mais do que tudo também. Eu sempre duvidava, nunca entendia como alguém como você podia amar alguém como eu. Tão ranzinza e orgulhosa. Mas agora eu acredito e entendo que você me amava e sem razão alguma. Você nunca precisou de uma razão para me amar. E muito obrigada por isso, ter você foi a melhor realização da minha vida. Até porque eu sempre tinha certeza que não fazia nada que prestava além de dançar, mas aí você me permitiu que eu fizesse a Julie... eu finalmente me senti com alguma utilidade. 
Eu sinto muito ter que te magoar, ainda mais dessa vez. Mas eu não estou nada compassiva hoje, aliás, estou completamente egoísta. Por isso, agradeço profundamente ter te conhecido, ter te amado. Eu sei que sou um monstro por te deixar e ainda estar feliz com isso (confesso que no começo eu não estava) mas, Bill, você realmente mudou a minha vida e foi tudo para mim. Eu só queria que você soubesse o quão importante foi para mim, já que eu sempre fui idiota o suficiente pra não dizer isso na sua cara, eu acho que você sempre soube mas eu precisava te dizer. Que eu sou extremamente grata por você aparecer na minha vida. Por você ter me tornado uma pessoa mil vezes melhor. Obrigada por me amar. Por mais que tenha sido pouco tempo, foi bom, não foi? Então, por todos os momentos felizes que nós vivemos, eu sei que vai ser o suficiente. O suficiente para você seguir a sua vida. Nunca se esqueça deles, nunca se esqueça de mim. Mas siga sua vida. Se você for feliz, tudo bem, você não precisa se sentir culpado. Se você se apaixonar de novo ou só quiser ficar com alguém, tudo bem, você não vai estar me traindo. Só não case com a Natalie, por favor. Ela não te merece. E eu estou falando sério, não é pra ficar rindo. MUITO MENOS A MANDY, BILL! Faça-me o favor né. 
Agora sério. Não se preocupe. Você vai ser um ótimo pai para a Julie, eu tenho plena certeza disso. Sempre diga pra ela que eu a amo, que ela me deu força nos momentos mais difíceis e que salvou minha vida mais de uma vez. Diga a ela que eu sempre vou estar com ela. E com você também. Eu nunca ficarei longe. Vai ficar tudo bem, acredite em mim. Vocês serão felizes. 
Sempre que precisar eu estarei aí em uma batida de coração.



As lágrimas começaram a escorrer, fortes como já não eram há algum tempo, mas não tão dolorosas como eu imaginava. Eu senti um tipo de paz. 
— Eu sinto tanto a sua falta! Sinto falta de cada pedaço seu... Sinto falta de como eu era com você. – falei como se ela pudesse me escutar, eu sempre fazia isso, eu precisava pelo menos sonhar que isso era possível. – Eu queria que você estivesse aqui comigo, que pudesse ver a Julie crescendo. – respirei fundo e sem perceber eu sorri. – Mas sim... Valeu a pena, cada minuto. Eu te amo. - disse e sorri. Acho que esse foi o momento em que 'tudo se tornou suportável'. Eu me senti obrigado a ser feliz por ela, e mesmo que fosse difícil, eu ia conseguir.
— Bill, vamos? – meu irmão colocou a cabeça para fora e me chamou, e não estranhou o meu estado. Ele já devia esperar que isso acontecesse. 
— Eu vou cantar aquela música, Tom. - disse confiante. 
— Você tem certeza? - ele me olhou preocupado, mas não perguntou como se eu achasse que eu não fosse capaz, do modo como me olhou eu sabia, que ele sabia que agora eu era.
— Tenho. 


Subi ao palco, ainda com as luzes apagadas. Ouvi as fãs gritarem. Isso me deu um novo fôlego, como se tivesse acendido algo dentro de mim. Era louco saber que todo mundo estava ali, ao meu lado, por mim.
Minhas mãos estavam geladas e meu coração desesperadamente acelerado. Soaram os primeiros riffs da guitarra e eu comecei a cantar a música que tinha composto para ela. E que agora ela merecia mais do que nunca.

Oi pra você, 
Aonde você foi, 
Você me deixou aqui tão inesperado, 
Você mudou minha vida 
Eu espero que você saiba 
Pois agora estou perdido 
Tão desprotegido. 

Em um piscar de olhos 
Eu nunca pude dizer adeus. 

Como uma estrela cadente 
Atravessando a sala 
Tão rápido, tão longe 
Você se foi muito cedo 
Você é uma parte de mim 
E eu nunca serei 
O mesmo aqui sem você 
Você se foi muito cedo 

Você estava sempre lá 
Como uma luz brilhante 
Em meu dias mais escuros 
Você estava lá para me guiar. 

Eu sinto sua falta agora 
Eu gostaria que você pudesse ver 
O quanto sua memória 
Será sempre importante para mim, 
Num piscar de olhos 
Eu nunca pude dizer adeus. 

Como uma estrela cadente 
Atravessando a sala, 
Tão rápido, tão longe 
Você se foi cedo demais 
Você era parte de mim 
E eu nunca serei 
O mesmo aqui sem você 
Você se foi muito cedo. 

Brilhe! Brilhe! 
Em um lugar melhor 
Brilhe! Brilhe! 
Nunca será o mesmo. 

Como uma estrela cadente 
Atravessando a sala, 
Tão rápido, tão longe 
Você se foi cedo demais 
Você era parte de mim 
E eu nunca serei 
O mesmo aqui sem você 
Você se foi muito cedo. 

Brilhe! Brilhe! 
Você se foi tão cedo 
Brilhe! Brilhe! 
Você se foi tão cedo 
Brilhe! Brilhe! 
Você se foi tão cedo 

Simple Plan - Gone Too Soon



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Notas finais do capítulo

Eu gostaria de agradecer imensamente as pessoas que estão a anos comigo nessa. Por incontáveis vezes essa fic foi a minha fuga, onde eu podia esquecer das coisas que me aconteciam e até ter alguma esperança quando tinha problemas parecidos com os que a Carol passava. Eu sei que muita gente (talvez não muita, nunca se sabe) acompanha desde a primeira temporada, isso significa que já estão há anos me acompanhando, mesmo quando eu não fazia a mínima ideia do que era escrever. Obrigada por isso.
E principalmente obrigada ao Tokio Hotel por me permitir tê-los em minha vida e me dar coisas tão incríveis como amigos e esta longa estória.
Me desculpem por este final ter ficado longe do que deveria ser, eu acho que inconscientemente não queria me despedir da fic e nunca achava nada à altura. E eu tinha que publicá-lo em algum momento, espero que gostem e novamente, obrigada por terem se juntado a mim nessa aventura!



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