Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 49
Você Será Eternamente Minha


Notas iniciais do capítulo

Bill's POV



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Kate Bush - This Woman's Work

— Você vai entrar também? – a enfermeira me perguntou logo após ter terminado de ajudar Carol a se vestir. Eu levei um susto e mal consegui falar.
— Eu p-posso? - perguntei gaguejando.
— Claro. – ela disse e entregou uma bata verde para mim também. Parecida com a que Carol já estava vestida. Esperei que ela saísse, mas ela ficou parada me observando então eu fui tirando minha roupa na frente dela mesmo. – Não, você não precisa tirar a roupa, só coloque por cima. – ela disse ríspida.
— Ah, sim. Tudo bem... – falei sem jeito e voltei a vestir a roupa todo atrapalhado. Carol só ria de mim, olhei para a cara dela e aí ela riu mais ainda. – Pronto. – disse ao terminar de amarrar a bata.
— As botinhas e a touca também. – a enfermeira disse apontando para as coisas em cima da poltrona.
— Ah, claro. – eu peguei as coisas e rapidamente terminei de me vestir e pudemos sair de lá.
Ela foi empurrada pela enfermeira em uma cadeira de rodas até o centro cirúrgico. Ou elas estavam rápido demais ou eu estava tropeçando demais, por que eu não conseguia alcançá-las. O que elas queriam? Que eu ficasse no meu estado normal depois de saber que ia ver minha filha nascendo? A mãe elas levavam numa cadeira de rodas, mas o pai tinha que sair correndo atrás.
Entramos no centro cirúrgico e eu fiquei meio perdido enquanto eles a preparavam para a cirurgia. Só sei que se fosse em mim que eles enfiassem aquela agulha enorme, eu desmaiava.
A obstetra entrou, animada como sempre.
— E aí, preparados? – ela perguntou olhando para Carol e para mim. Ela fez que sim com a cabeça e eu não tão certo assim segui seu movimento. – Então vamos começar.
Ela saiu e foi colocar suas luvas. Eles começaram colocando um pano acima do peito da minha mulher e ela pareceu ter ficado realmente revoltada com isso. Bom, se ela não podia ver, eu podia. Se eu conseguisse, claro.
Eles passaram um líquido marrom em toda barriga dela e Dra. Jane fez um risco onde ela iria cortar. Ela pegou o bisturi e pressionou a pele dela. Eu esperava ver a Julie saindo logo, mas só havia camadas de coisas nojentas por baixo da pele dela. Meu estômago embrulhou vendo aquilo e eu tive que me dobrar para não vomitar. Eu definitivamente não conseguiria ver aquilo. Voltei para o lado da Carol e me sentei em um banquinho que estava lá. Ela parecia nervosa, eu segurei sua mão e ela sorriu para mim. Às vezes eu desviava minha atenção de seu olhar para sua barriga, mas eu quase vomitava toda vez que fazia isso.
— Eu me sinto um pouco estranha. – Carol disse para o anestesista que estava ao seu lado. Eu olhei para ela com os olhos arregalados, tudo estava indo tão bem... ela não podia passar mal agora. Apertei sua mão mais forte ainda.
O anestesista checou os aparelhos ligados a ela. – Isso é normal, é efeito da anestesia, sua pressão subiu um pouco, mas não se preocupe. Tudo está indo bem. – isso deveria ter me acalmado, mas eu não me senti tão seguro assim. Eu não deixaria nada acontecer a ela.
— Tá... – ela falou e olhou para mim. – V-você ouviu. – ela disse com muita dificuldade. – É normal. – fiz que sim com a cabeça, mesmo não estando tão certo assim e dei um beijo em sua testa.
A movimentação lá na frente aumentou e quando eu olhei tinham dois pezinhos sendo puxados de sua barriga. Meus lábios formaram um sorriso enorme instantaneamente. Carol me olhou, como se quisesse que eu fosse lá. Soltei a mão dela e fui lá para frente.
— Oh meu Deus! – eles tinham tirado Julie, e ela era tão pequena. Todo aquele sentimento de preocupação que eu tinha com Carol havia dobrado agora, ali estava mais uma pessoa que eu nunca deixaria ninguém no mundo machucar. Levei minha mão à boca e senti meus olhos marejados, olhei para minha mulher e ela também estava com um sorriso enorme estampado no rosto. Ouvi o choro de um bebê e aquilo com certeza era melhor do que qualquer música.
— Eu q-quero ela. – Carol disse quase sem voz e Dra. Jane rapidamente atendeu seu pedido e embrulhou Julie em uma toalha, colocando-a em seu colo.
Ela parecia tão feliz e orgulhosa, realizada segurando Julie em seu colo. As lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ela examinava cada pequeno pedaço da bebê.
— Ela é perfeita. – eu disse e Carol olhou para mim, sorrindo. Eu a beijei e também dei um leve beijo na cabecinha de Julie, morrendo de medo de machucá-la.
— Oi Julie. – Carol disse. – Você é tão linda. – ela era, linda e perfeita. E eu já a amava incondicionalmente. – Oi – ela disse de novo e a bebê parou de chorar. Peguei meu celular e tirei uma foto das duas, eu queria lembrar desse momento para sempre. Logo uma enfermeira veio e tomou o celular das minhas mãos me olhando com cara feia.
— Jane! – Carol chamou alto e fez uma careta de dor. – Te-tem algo errado com ela.
Olhei para Julie e ela estava roxa. Meu coração começou a bater como louco. E eu procurei Jane pela sala, ela se aproximou e gritou: - Eu preciso de um aspirador aqui. – depois se voltou para Carol e falou – Está tudo bem, só vamos aspirar as vias aéreas e vai ficar tudo bem. E você está sentindo alguma coisa?
— Estranha, minha cabe-beça está estranha. E ela? Está bem? O q-que ela tem?
Oh meu Deus... Julie estava roxa, Carol estava se sentindo mal. Isso era demais para mim, eu comecei a ficar desnorteado, como se a minha cabeça pesasse toneladas.
Jane olhou para o aparelho apitando e gritou novamente. – EU PRECISO DO DR. CARLTON AQUI AGORA! – e voltou a falar baixo com Carol – Se acalme querida, eu vou levar ela agora. O Dr. Carlton já está vindo. – ela pegou a bebê no colo e foi saindo da sala.
— O que está acontecendo? – eu consegui reunir forças para perguntar.
— Está aqui doutora. – uma enfermeira chegou com um aparelho em cima de um carrinho onde eles colocaram a Julie. – E você vai ter que esperar lá fora. – ela disse para mim.
— Por quê? O que está acontecendo? – perguntei quase gritando, eu já estava totalmente desesperado.
— O Doutor só precisa examiná-la. Mas você tem que esperar lá fora. – Jane me disse, tentando me acalmar.
— Eu não vou... – não sem as duas.
— Vai Bill... – Carol disse fracamente e segurou minha mão. Eu olhei para ela, por alguns longos segundos. Eu não queria sair dali, não queria deixá-la ali. Mas eu precisava. Depositei um longo beijo em seus lábios e me afastei. – Tchau.
— Tchau, amor. – eu disse e com muita relutância saí da sala, deixando meu coração lá dentro.
Saí de lá e a enfermeira me ajudou a tirar minhas roupas e me guiou para fora do centro cirúrgico. Eu apenas andava por que ela me empurrava, eu não tinha a mínima consciência do que fazia. Eu queria estar lá dentro com elas, mas ao mesmo tempo eu tinha medo de estar lá e ver que as coisas não estavam indo bem. Por que tudo tinha mudado tão repentinamente? Há poucos minutos eu estava observando Carol e Julie felizes olhando uma para a outra e agora eu estava aqui sem saber se qualquer uma das duas estava bem.
— O senhor pode ficar aqui esperando que nós lhe traremos notícias. – a enfermeira disse e saiu. Eu olhei para a sala que ela havia apontado e todos estavam lá sentados. O pai dela, os irmãos dela e o meu irmão. Assim que eu entrei eles me olharam com olhos arregalados.
Sr. Ford se levantou e veio até mim. – Ocorreu tudo bem?
— Eu não sei... eu não sei... – Carol estava bem, Julie nasceu, chorando muito e ela é tão... perfeita. – disse permitindo-me sorrir ao lembrar dela. – Mas aí tudo ficou confuso, um aparelho começou a apitar loucamente, Julie mudou de cor e parecia não respirar direito, Carol disse que estava estranha e então eles me fizeram sair de lá... eu não sei o que está acontecendo... eu não sei... – disse confuso. Tom percebeu como eu estava e se levantou também, me pegou pelos ombros e me fez sentar no sofá.
— Vai ficar tudo bem, Bill. – Tom disse ainda com seus braços ao redor dos meus ombros. Sr. Ford permaneceu em pé olhando para onde eu estava antes. Eu entendia o que ele estava sentindo, a filha dele estava lá, assim como a minha.
Como um filme todas as coisas que eu tinha vivido com Carol começaram a passar pela minha cabeça. O dia que nos conhecemos e que ela sem me conhecer me ajudou. Ela poderia ter simplesmente seguido em frente, sem se importar. Ou até ligar para o resgate já era ajuda o suficiente. Mas não, ela parou e me colocou para dentro do carro dela por que estava frio. Eu sorri ao pensar nisso. Ela não era o tipo de pessoa bondosa que ajudava as pessoas por onde passava. Ainda bem que nesse dia ela estava fora de si, porque eu não sei onde eu estaria agora se isso nunca tivesse acontecido.
A primeira vez que ela disse “Eu te amo”. Embaixo da chuva naquele beco apertado.
Quando ela disse que se casaria comigo.
O dia em que descobri que ia ser pai.
O dia em que ela terminou comigo e foi embora... droga, eu fiquei acabado. Isso não poderia acontecer de novo. Eu preciso de mais tempo, eu preciso dela para sempre, e mais um dia. Se algo acontecesse eu simplesmente não suportaria. Nós passamos tanto tempo juntos, como eu poderei viver sozinho de agora em diante? Como eu poderia ficar sem a minha filha?
— Não... – me recusei a pensar nisso e sacudi minha cabeça. Logo ela sairia dali, pegaria Julie no colo e a amamentaria e eu ia leva-las para casa. Logo elas iriam me acompanhar nas turnês e eu ia andar com Julie no colo orgulhoso, mostrando ela para todo mundo e dizendo como ela era linda, que havia puxado ao pai. – É, isso aí.
— O quê? – Tom me perguntou.
— Nós vamos leva-la na próxima turnê. – eu disse sorrindo e ele fez que sim.

Algumas horas depois, ouvi a porta do centro cirúrgico sendo aberta e Dr. Carlton saiu de lá. Eu levantei e fiquei petrificado. Ele ainda estava de touca e com a máscara, eu não conseguia ver sua expressão, mas ele provavelmente estava sorrindo. Ele parou diante de mim e tirou a máscara. – O tumor dela estourou e isso fez com que a pressão intracraniana subisse demais.
Ele falava, mas eu não entendia uma palavra, só esperava ele dizer que ela estava bem e que eu poderia ir vê-la. – Você já resolveu tudo?
Ele olhou em meus olhos e fez que não com a cabeça. Eu parei de respirar. – Não, me desculpe. Nós tentamos de tudo, mas não conseguimos salvá-la.
— Eu quero falar com ela. – disse.
— Bill, você não pode.
— Mas eu quero falar com ela! – gritei sentindo meu coração disparado. - Onde ela está?
— Bill... – Tom apareceu em minha frente e segurou meu rosto em suas mãos. – Ela morreu.
— Não, Tom. – eu sacudi minha cabeça decididamente. Ela não tinha morrido e eu tinha certeza disso. A única coisa que eu precisava era vê-la. – Ela não morreu e eu vou falar com ela.
— Tudo bem... – Dr. Carlton falou e eu imediatamente olhei para ele. – Eu vou levar você para vê-la.
Eu dei um sorriso torto e olhei para Tom, provando que eu estava certo e ele errado. O médico me guiou até uma sala em um corredor, abriu a porta e deixou que eu entrasse sozinho.
Era uma sala praticamente vazia. Só havia uma mesa, um armário e a maca onde ela estava. Eu senti um aperto em meu peito ao vê-la ali imóvel, parcialmente coberta por um lençol. Eu fiquei encostado na porta, não consegui me soltar de lá. Eu tinha medo de ir até ela e ver que eles estavam certos. – Carol... – sussurrei e ela não respondeu. – Carol... – falei mais alto na esperança de que ela respondesse. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Não podia ser verdade.
Soltei lentamente a maçaneta e fui andando em direção a ela. – Amor? – eu fiquei sem respirar, de tanta dor, ao ver seu rosto pálido, sem vida. As lágrimas começaram a rolar, dolorosas.
— Amor, você não pode me deixar... – eu passei meus dedos pelo seu rosto, frio. – Eu não posso te deixar...
Abaixei o lençol e vi um corte em formato de ípsilon em seu peito. – Seu coração vai bater em outra pessoa, como você queria. – sequei uma lágrima que escorria. – Mas eu não sei se o meu vai continuar batendo.


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