Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 48
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida




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Kiss - Hyun Bin/ Lee Yeon Hee

Fui acordando, com os pequenos raios de sol adentrando pela janela. Mexi meus dedos lentamente, apenas para ter certeza de que eles ainda se moviam. Virei para o lado, espreguiçando e vi uma cena no mínimo extraordinária. Apoiei-me nos cotovelos com certa dificuldade e com os olhos cerrados observei Bill sentado em cima do criado mudo.
— 'Tá fazendo o que aí, criatura? 
— Estou no lugar das flores. - ele disse com um sorriso inocente, como se aquela não fosse a coisa mais ridícula que eu já tivesse presenciado.
— Quê?! - perguntei incrédula.
— Eu trouxe flores pra você, mas eles disseram que eu não podia entrar com elas, então, cá estou eu, no lugar das flores.
Não aguentei e caí na risada. Podia ser ridículo, mas era a coisa mais fofa do mundo. - Awn, Bill... Eu te amo.
— Eu sei. - ele disse e desceu do seu lugar. Deitou-se na cama comigo e me abraçou, mordendo levemente minha bochecha.
— Billy, eu preciso te contar uma coisa. - disse temerosa.
— O quê?
— Acho que a Julie precisa nascer hoje. – disse cautelosamente, com medo da reação dele. Senti que seu peito parou de se movimentar por uns segundos.
— Hoje? – perguntou num tom triste.
— É... – respondi tentando conter o medo crescente dentro de mim. – Mas a Dra. Jane disse que ela já está quase completamente formada, que assim será melhor pra ela. – fiz uma pauso e olhei para ele. – O que você acha?
Ele se levantou um pouco, ficando apoiado em um cotovelo, me observando e disse calmo. – O Dr. Carlton falou comigo há algum tempo, que isso poderia acontecer. E ele me garantiu que só fariam isso se isso fosse o melhor para vocês duas, e eu confio nele.
— Eu também. – falei recostando minha cabeça em seu peito. Bill colocou a mão em minha quase grande barriga.
— Então é hoje que nós vamos conhecer você, bebê! – disse de um jeito fofo que me fez rir, quase me fazendo esquecer que havia a chance de eu não conseguir chegar a isso. Quase.
— O que foi? – ele perguntou, percebendo minha mudança de humor.
— Nada... – disse como sempre. Como se depois de tanto tempo ele não soubesse que isso significava exatamente o contrário.
— Vamos, confia em mim e me fala o que está passando por aí. – disse apontando pra minha cabeça. 
Desisti de tentar segurar e falei, felizmente e incrivelmente sem gaguejar ou engasgar. - É só que... eu já abri mão de tanta coisa, só não queria abrir mão disso. E eu estou ficando com medo eu só... não sei. – tudo estava ficando tão intenso, tão... trágico e eu estava assustada.
— Não tem problema ter medo, amor. Eu estou aqui com você. – deu um beijo no topo da minha cabeça. – Onde quer que você esteja, e o que quer que custe.
Sorri. Ele sempre sabia o que dizer para me fazer sentir melhor. - Eu sei... Você é meu Band-Aid.
— Quê?! – ele perguntou rindo, exatamente como eu havia feito antes.
— Você sempre me conserta quando eu me despedaço. – nos olhamos por alguns segundos, aquela troca de olhares que significa mais do que qualquer palavra e que é mais forte do que qualquer toque. E eu não ficava mais sem graça com isso, eu não ligava mais que ele lesse toda minha alma, agora ele já me conhecia mais do que ninguém.
— Você quer dançar? – ele perguntou do nada.
— Bill... – eu ri em deboche. – Eu tenho a leve sensação de que por algum motivo eu não vou conseguir fazer isso.
— Consegue sim. – ele disse e rapidamente ficou em pé na minha frente com as mãos estendidas. - Não tenha medo, confia em mim. Vem.
Estirei minhas mãos pra ele, e me sentei, com ajuda dele, claro. Bill colocou meus braços ao redor de seu pescoço e puxou minha cintura para ele. Coloquei meus pés em cima dos dele e lentamente ele foi dando passos para os lados.
— Viu? Estamos dançando.
E mais uma vez aquela troca de olhares. Eu nem precisei dizer nada só isso e o tamanho do meu sorriso já diziam tudo. Ele era o cara mais perfeito que eu já havia sequer ouvido falar e nesse momento eu era eternamente grata a isso.


— Você vai entrar também? – a enfermeira perguntou a Bill. Ele arregalou os olhos, petrificado.
— Eu p-posso? - perguntou gaguejando.
— Claro. – ela disse e entregou uma bata verde a ele também. Parecida com a que eu já estava vestida. Ele foi tirando a roupa, para vesti-la. – Não, você não precisa tirar a roupa, só coloque por cima.
— Ah, sim. Tudo bem... – ele voltou a vestir a roupa todo atrapalhado. Eu fiquei só observando aquilo, rindo de tudo. – Pronto. – ele disse quando tinha amarrado a bata.
— As botinhas e a touca também. – a enfermeira disse apontando para as coisas em cima da poltrona. Meu marido olhou e pegou-as atrapalhado.
— Ah, claro. – ele rapidamente terminou de se vestir e pudemos sair de lá.
Eu fui empurrada pela enfermeira em uma cadeira de rodas até o centro cirúrgico, Bill tentava nos seguir tropeçando em tudo. Eu nunca o tinha visto daquele jeito, ele parecia um retardado desde que tinha percebido que ia a ver nascendo.
Eles me colocaram na mesa de cirurgia, me explicaram tudo que aconteceria, aplicaram a anestesia no meio das minhas costas - o que doeu muito, além de me deixar grogue - e me deitaram novamente.
Dra. Jane entrou quase irreconhecível, com aquela máscara cobrindo todo o seu rosto. Mas pelo seu tom de voz estava muito animada.
— E aí, preparados? – ela perguntou olhando para mim e Bill, em pé ao lado. Fizemos sim com a cabeça, apesar de eu achar que ele não parecia estar tão certo assim. – Então vamos começar.
Eles colocaram um pano na minha frente, me impedindo de ver o que aconteceria na minha barriga. Odiei isso. Bill foi para lá também e isso era muito injusto, eu era a única a não poder a ver nascendo.
Eu comecei a me sentir tonta, aérea. Provavelmente por causa da anestesia. Mas logo esqueci isso e comecei a ficar nervosa de pensar que a Julie logo, logo poderia estar em meu colo. Esse era o momento mais importante da minha vida. Oh Meu Deus, ela vais nascer, ela vai nascer!
Comecei a sentir eles mexendo em minha barriga, mas não doía, era só incômodo. Só percebi que eles já estavam me cortando quando Bill se dobrou sobre seu abdômen quase vomitando. Então ele desistiu de olhar para lá e se sentou ao meu lado, segurando minha mão e de vez em quando olhando a frente do pano para quase vomitar de novo.
O mal estar estava piorando, minha cabeça parecia que ia explodir. – Eu me sinto um pouco estranha. – disse para o anestesista que me observava. Ele checou os aparelhos ligados em mim.
— Isso é normal, é efeito da anestesia, sua pressão subiu um pouco, mas não se preocupe. Tudo está indo bem.
— Tá... – falei e percebi que Bill agora me olhava com os olhos estalados. – V-você ouviu. – eu disse com muita dificuldade. – É normal.
Ele fez que sim com a cabeça e deu um beijo em minha testa.
Senti uma pressão muito grande em minha barriga, muito grande. E vi Bill arregalar os olhos e abrir a boca num sorriso enorme. Eu fiquei atônita, meu coração pareceu ter virado uma bola e batia loucamente. Ela tinha nascido. Mas por que não chorava? Bebês não deviam chorar assim que nasciam se fossem saudáveis? Olhei para Bill quase desesperada e ele apertou minha mão forte e soltou-a em seguida e foi lá para frente.
— Oh meu Deus! – o ouvi exclamar e levar a mão à boca em seguida olhando para mim com os olhos cheios d’água. E ela logo começou a chorar.
— Eu q-quero ela. – disse quase sem voz e Dra. Jane rapidamente atendeu meu pedido e trouxe-a embrulhada em uma toalha. Eles me sentaram um pouco e colocaram-na em meu colo.
Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto segurava aquela bebê chorona em meus braços. Observei cada traço de seu rosto: seus olhos de um tom escuro indefinido, seu nariz pequeninho e a boquinha meio roxeada ainda. Olhei todos os seus dedinhos, e os vinte estavam ali, perfeitos. – Ela é perfeita. – Bill disse e eu olhei para ele. Ele estava do mesmo modo. Com lágrimas escorrendo pelo rosto e aquele sorriso enorme e bobo no rosto. Sorri para ele, que deu um beijo em mim e na cabecinha dela.
— Oi Julie. – disse, mas o som foi abafado por uns bipes vindos de algum aparelho. Mas antes que eu me preocupasse vi que não tinha nenhum aparelho ligado a ela e relaxei. – Você é tão linda. – agora eu sei por que as mães achavam seus bebês recém-nascidos com cara de joelhos lindos. Por que eles realmente eram. Ela apertou meu dedo entre seus dedinhos e olhou em meus olhos. – Oi – eu disse de novo e ela parou de chorar. Olhei novamente seus pezinhos, suas perninhas e quando voltei meu olhar para seu rosto ele parecia estar mais roxa do que antes.
— Jane... – chamei fracamente, ao tentar falar mais alto minha cabeça pareceu explodir, de verdade. Ouvi a médica falar alguma coisa ao longe e chamei-a novamente. – Jane! – Mais uma pontada em minha cabeça, mas ela finalmente me ouviu. – Te-tem algo errado com ela.
— Eu preciso de um aspirador aqui. – ela falou alto com as enfermeiras. – Está tudo bem, só vamos aspirar as vias aéreas e vai ficar tudo bem. – ela examinou Julie com o estetoscópio e não pareceu muito feliz depois disso. E você está sentindo alguma coisa?
— Estranha, minha cabe-beça está estranha. E ela? Está bem? O q-que ela tem?
O bipe se acelerou e Jane olhou para o aparelho que fazia o barulho. – EU PRECISO DO DR. CARLTON AQUI AGORA! – ela gritou e se voltou para mim. – Se acalme querida, eu vou levar ela agora. O Dr. Carlton já está vindo. – ela pegou a bebê do meu colo rapidamente.
— O que está acontecendo? – Bill perguntou olhando para a médica.
— Está aqui doutora. – uma enfermeira chegou com um aparelho em cima de um carrinho onde eles colocaram a Julie. – E você vai ter que esperar lá fora. – ela disse para ele.
— Por quê? O que está acontecendo? – ele perguntou mais alto dessa vez.
— O Dr. Só precisa examiná-la. Mas você tem que esperar lá fora. – Jane disse para o Bill.
— Eu não vou...
— Vai Bill... – disse e consegui segurar sua mão. Ele olhou para mim com os olhos assustados e deu um longo beijo em meus lábios. – Tchau.
— Tchau, amor. – ele disse e saiu da sala. Dra. Jane também saiu levando Julie. Eu mal estava enxergando de tanta dor de cabeça, mas vi Dr. Carlton entrar e falar algo com o anestesista que logo veio aplicar algo em minha veia.
— Nós vamos fazer sua cirurgia agora. – ele disse se aproximando de mim. O remédio que me deram já estava fazendo efeito e eu fui ficando sonolenta.
— Eu não tenho mais medo... Eu a conheci. – foi a última coisa que eu consegui dizer antes de apagar.

Bill's POV
“Eu estava sentado com os braços envolta dela enquanto olhávamos o epitáfio em nossa frente. Já fazia quatro anos, mas ainda parecia ontem.
— Você acha que é possível sentir falta de alguém que nem se conheceu? – Ela olhou para mim com aqueles grandes olhos azuis. Eu apenas fiz que sim com a cabeça por que sabia que era exatamente isso que ela sentia.”


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