Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 46
Eu Posso Enfrentar Qualquer Coisa Por Você


Notas iniciais do capítulo

Oi geeente! Eu sei que demorei, podem brigar comigo. Tá bem tenso as coisas por aqui, minha bisa tão bem doente e isso consome tanto tempo como emoção e eu acabo sem inspiração. Mas ontem eu comecei a escrever e não parei, então pra compensar o capítulo tá gigante!
Eu espero que vocês gostem.
Boa leitura!



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Safe and Sound - Taylor Swift



Um som agudo e repetido, como um bipe, me despertou. Abri meus olhos, mas eles arderam fortemente. Levei a mão até eles, impedindo que os raios de sol os atingissem completamente e pisquei algumas vezes até que eles se acostumassem com a luz. A cortina branca do quarto balançava com o vento que entrava pela janela, que era de onde os raios de sol também entravam no quarto. Estranhei aquelas cortinas brancas e olhei ao redor, no quarto de paredes verdes claras e mobília branca simples. No meu lado direito havia alguns aparelhos, um deles mostrava um ziguezague constante, e era dele que vinha o bipe. Eu estava no hospital. Meu coração acelerou freneticamente quando eu comecei a lembrar do por que de eu estar ali, mas o bipe da máquina não teve alteração alguma. Sentei imediatamente e levei minha mão ao ventre, tentando sentir se ela ainda estava ali. – Julie... – sussurrei fracamente, já sentindo meus olhos marejarem.


- Calma... – a voz de Bill soou fraca e seus braços me enlaçaram. – Ela está bem, está tudo bem. – suas palavras fizeram com que meu coração voltasse a bater normalmente. E eu soltei um suspiro de alívio. – Eu disse que ia ficar tudo bem, não disse? – sorri e fiz que sim com a cabeça. Apontei para o aparelho ao meu lado. – É só precaução, eles querem observar os batimentos dela por 24hs, você teve um pequeno descolamento de placenta, não precisa se preocupar.


O olhei e ele me deu um leve sorriso. Seus cabelos estavam bagunçados e seu rosto meio amassado. Olhei para a poltrona que estava atrás dele, com seu casaco enrolado como se fosse um travesseiro. Ele devia ter passado a noite ali. Ergui meus braços para o rosto dele, porém eles ficaram empacados no meu colo, qualquer esforço que eu fizesse só serviria para deixar meus músculos trêmulos e mais propensos para que Bill percebesse. Desisti de movê-los e apenas guiei meus lábios até os seus.


- Olá. – abri meus olhos e Dra. Jane estava encostada na porta, sorrindo. – Está mais calma? – perguntou entrando e eu fiz que sim com a cabeça. Ela parou alguns segundos a frente do aparelho que apitava, o observando. – Está tudo bem por aqui. – ela sorriu e desligou o fio que estava ligado a minha barriga. Eu suspirei aliviada, não só por saber que Julie estava realmente bem como também pelo cessar do bipe. Aquilo era de enlouquecer. – Os resultados do exame de ontem também foram bons, você teve apenas um pequeno deslocamento de placenta, mas nada que vá prejudicar o bebê. Se você fizer o que precisa.


- E o que eu preciso fazer? – perguntei já me sentindo amedrontada pelo que viria a seguir. Apertei a mão de Bill, que estava escorado na cama ao meu lado.


- Repouso. Bastante repouso.


- Não é como se eu pudesse sair correndo por aí também. – disse num humor ácido, mas acabei rindo no final. Jane também riu, mas eu senti Bill se enrijecer ao meu lado, fazendo com que meu sorriso se transformasse numa careta.


- Isso ajuda, mas isso é sério, você precisa ficar em repouso. Tanto físico como mental. – ela cutucou a minha testa. – Relaxe. E também vou querer que você venha frequentemente aqui para nós monitorarmos o bebê, e se sentir qualquer coisa me ligue e imediatamente venha pra cá. Combinado?


- Uhum.


- Pai, conto com a sua ajuda também?


- Claro. – ele disse numa voz mais feliz. – Não vou deixar ela mover um dedo, vou fazer tudo por ela.


- E você vai amar isso, né? – olhei para ele arqueando a sobrancelha. Jane tombou a cabeça e ficou nos olhando com um sorrisinho fofo. Ela também ia amar isso.


- O que torna tão interessante eu ter de ficar dependente? – perguntei, já cruzando os braços.


- O fato de você se achar tão independente, talvez? – Bill disse irônico, me fazendo revirar os olhos.


- Bom, vou deixar vocês a sós. – ela disse num tom doce. – E o Dr. Carlton pediu para que você venha aqui amanhã que ele quer te ver, certo? – ela acariciou a minha barriga e se dirigiu a porta, voltando-se antes de atravessá-la. – Relaxe. – disse e saiu, fechando a porta.


- Que diabo é isso de “venha amanhã que ele quer te ver”? – Bill disse imitando a voz da médica. – Ninguém em sã consciência sai dizendo isso pra minha mulher, não na minha frente.


Ignorei o chiliquinho dele e o encarei, séria. – Eu quero ficar no hospital.


- Você quer passar a noite para não ter que voltar aqui amanhã para “ver o Dr. Carlton”? – ele perguntou fazendo a vozinha no final da frase de novo. Eu continuei séria do modo como estava, mas desviei meu olhar do dele, olhando para os meus pés balançando.


- Não, Bill. Eu quero ficar no hospital. – ele se sentou ao meu lado na cama, observando também seus pés esticados, tocando o chão. – Eu preciso fazer repouso, e nós dois sabemos que se eu estiver livre eu não vou fazer. – dei uma risada, porém Bill não se deixou contagiar. Arrisquei olhar para ele. Ele agora estava olhando para as mãos entrelaçadas com tanta força que deviam estar doendo. Ele então olhou para mim, seus olhos estavam dolorosamente apagados.


- Tipo, pra sempre?


- Ou enquanto isso durar. – disse dando de ombros, tentando aplacar o aperto em meu peito.


- Enquanto isso durar... – repetiu e pelo seu tom de voz ele entendeu que isso não se tratava do tratamento. Ele engoliu em seco e respirou fundo algumas vezes antes de voltar a falar. – Eu demorei em compreender isso. Mais por que eu não queria do que por realmente não conseguir. Mas agora eu compreendo, apesar de isso ser mais doloroso do que eu pudesse imaginar, eu finalmente entendo que não posso te prender. – ele falou tudo de uma maneira lenta, como se tivesse a necessidade de absorver cada frase dita. Bill voltou seu olhar profundo a mim e aí eu tive a certeza de que nós não estávamos mais falando de tratamentos ou hospitais.


Passamos algum tempo assim, apenas com olhares perdidos e distantes. Mas eu sabia que ele só estava tentando fazer o mesmo que eu: se recuperar da conversa mais importante que já havíamos tido desde então.


- Eu posso ficar aqui com você, pelo menos essa noite? – ele me lançou aquele olhar de cachorro triste e tudo que eu quis foi acabar com a dor dele.


- Claro. – sorri sem dificuldades e felizmente consegui esticar meus braços para ele. Estiquei-me para trás e Bill se aninhou em meu abdômen. Acariciando os cabelos dele e feliz por saber que as duas pessoas que eu mais amava estavam no mesmo lugar eu já não me sentia tão desesperada por acabar tendo de seguir o mesmo caminho da minha mãe.








- Você precisa ir agora, Billy. – falei demoradamente, ele finalmente tinha acordado depois de um longo cochilo em cima de mim, e insistia em continuar aqui. - Está se comer, - gaguejei um pouco, minha língua parecia estar adormecida na base. – sem comer, e sem tomar ba-ba-BANHO!


- Eu não preciso tomar ba-ba-banho. – ele disse me imitando gaguejar. – Eu continuo cheiroso. – disse sorrindo prepotente.


- Se cheira. – disse pra ele. Ele então puxou a camiseta e cheirou, fazendo uma careta. – Continua cheiroso hein. – ele cerrou os olhos me fazendo rir. Foi até a mochila e tirou a câmera de lá, ligou e a apontou para mim.


- Sua mãe está me expulsando neste exato momento. – ele voltou a câmera para ele. – Ah, sim. E nós estamos aqui por que você está muito apressadinha. – Bill fazia caretas enquanto falava, eu não conseguia não rir da seriedade com que ele fazia aquilo. – Por que querer sair dali tão cedo hein?


- Por favor, - eu disse fazendo beicinho e Bill virou a câmera para mim. – Fique mais um pouco.


- Isso aí, agora eu vou ir embora antes que sua mãe me bata. Tchau, bebê. – ele guardou a câmera e foi se dirigindo a saída. Peguei o pulso dele, fazendo com que parasse e já que as minhas mãos não conseguiam se erguer até seu pescoço as deixei repousadas em sua cintura e o olhei esperando que entendesse o que eu queria. E ele entendeu, deu um sorriso quente e lentamente acomodou seus lábios sob os meus, por um longo tempo. – Tchau. – sussurrou afastando nossos lábios e colando nossas testas. – Mas eu logo estarei de volta.






- Oi cunhada! – Tom entrou alegremente no quarto, e parou segurando a porta, me olhando de um modo suspeito.


Estreitei meus olhos o observando. – Tá aprontando o quê?


- Nada. Por que eu estaria aprontando alguma coisa? – deu um sorriso enviesado e puxou a porta. Estiquei meu pescoço tentando ver o que ia aparecer e para minha surpresa o que estava entrando era uma agarota, aquela garota. Ela se aproximou e estendeu a mão, com aquele sorriso tímido estampado no rosto.


- Prazer, Gina. Você deve ser Carol, a cunhada do Tom. – fiquei olhando para ela sem estender a mão. – É só que, nós não fizemos isso certo da outra vez, então... – ela encolheu os ombros e jogou a mão dela de lado. Veio em minha direção e me abraçou. Eu arregalei meus olhos e vi tom rindo ainda na porta e deu um sorriso compassivo, como se dissesse “ela é assim mesmo”. Eu desajeitadamente passei meus braços em volta dela também e isso não pareceu tão desconfortável. Ela se afastou e juntou as mãos sorrindo. Ela era bem melhor quando não estava querendo me obrigar a me humilhar.


- Por favor, sintam-se a vontade. – fiz um gesto amplo com a mão, mostrando o quarto. Eles então se sentaram no sofá de couro branco ao lado da cama. Virei-me e fiquei com os pés balançando pra fora da cama, de frente para eles. Os observei juntos por um tempo, eu não sabia o que estava rolando entre eles, mas eles ficavam bem juntos. E eu gostava dela.


A campainha do meu celular soou com Livin’ On a Prayer, me tirando da minha análise conjugal. Tom tencionou se levantar para pegar o celular. – Nem precisa, é só mensagem, logo para. – esperei alguns segundos. – Viu, parou. – E então eu tive um estalo, “Tommy used to work on the docks… Gina works the diner all day”. Arregalei meus olhos e apontei para eles dois. Tom pareceu meio assustado, mas pelo rubor que tomou a face da Gina ela sabia exatamente o porquê de eu estar assim. – Tommy. – direcionei meu dedo para ele e depois para ela. – Gina. – e então para o meu celular. – Como na música.


Ele se levantou de um pulo. – É isso! – nós duas olhamos para ele meio confusas. E ele continuou, dirigindo-se a Gina. – É por isso que você falava tanto “como na música”. Só agora eu vim entender. – e se sentou de novo, rindo para si mesmo, com a mão apoiando o queixo.


- Você é lento mesmo, Tom, a gente entende... – meu cunhado imediatamente cerrou os olhos para mim e Gina soltou uma gargalhada leve.


- Mas, sério agora. – Tom rapidamente mudou de expressão e ela também diminuiu seu sorriso. – Eu sei que o Bill pensa diferente, mas eu acho que isso só torna as coisas mais difíceis para você.


Eu logo entendi do que ele estava falando. – Que eu não tenho nada e que vai ficar tudo bem? – ele acenou afirmativamente e continuou.


- É claro que sempre se precisa ter esperança e confiança. – Gina falou deixando o sorriso de lado, o que me fez prestar mais atenção ainda. – mas eu acho que não dá pra ficar se enganando tanto, mas sim encarar isso de frente e olhar o lado bom pra poder te ajudar.


- E uma coisa que a gente sempre vê nos filmes, – Tom continuou mais animado. – quando as pessoas descobrem que tem uma doença grave, é elas fazerem tudo que sempre quiseram. O que elas mais têm vontade. – fiz que sim com a cabeça, entendendo onde ele queria chegar. – E nós estamos aqui pra te ajudar a realizar qualquer sonho. O que você quer fazer?


Encolhi os ombros e olhei distante para a janela que dava para o jardim florido e de repente eu tive a sensação de que já tinha tudo. – Nada... Eu já fiz tudo que eu queria e até o que eu não queria. – Apoiei a cabeça no meu ombro e dei um sorriso, voltando a olhá-los. – Eu já pulei de paraquedas, já viajei pra onde eu quis, já encontrei o amor, casei, vou ter a Julie... Não me falta nada. – sorri genuinamente e percebi que Gina estava com os olhos cheios d’água e Tom apenas acenava com a cabeça apertando as mãos. – Mas obrigada, isso só ajudou a preencher mais ainda minha vida.


- Eu trouxe filmes! – ela exclamou, secando as lágrimas, e se levantou rapidamente em direção à televisão. – Cartas para Julieta ou Sex And The City? – eu e Tom nos entreolhamos já nos preparando para a sessão mulherzinha que estava por vir.






Já fazia algum tempo, pouco mais de uma hora, que Tom e Gina – ou melhor, Tommy e Gina – haviam ido embora e também já estava quase anoitecendo. Um vento fresco entrava peja janela balançando as cortinas. O jardim lá fora só era iluminado por fracas luzes, que também proviam a única iluminação do meu quarto e não havia ninguém por lá.


Lembrei-me do celular que tinha tocado no meio da tarde quando eles ainda estavam aqui e levantei da cama para pegá-lo. Assim que coloquei meu pé no chão percebi que minhas pernas estavam ainda mais fracas. Apoiada na cama fui dando passos lentamente, o que era muito difícil, pois as pernas mais cambaleavam do que se firmavam. Comecei a sentir um aperto no peito. Se eu não pudesse nem pegar o celular do outro lado do quarto eu estava acabada. Eu ia conseguir, eu tinha que conseguir. Soltei-me da cama e abri os braços para me equilibrar melhor e dei alguns passos até o meio do quarto.

Consegui chegar até a cômoda e ao tentar pegar o cellular ele caiu no chão. Voltei dando passos mais trêmulos ainda até que em certo momento minhas pernas não se sustentaram mais e eu caí. Sem apoio dos braços, direto com o rosto no chão. Meu queixo parecia que ia explodir de dor. Coloquei a mão sobre ele e ela voltou ensanguentada.


Tentei me sentar, tentei me apoiar com os braços, tentei levantar minhas pernas. Mas por mais que eu tentasse eu não conseguia me levantar. Eu não conseguia mais fazer nada.



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Notas finais do capítulo

Dózinha dela né?
Se eu me imaginar no lugar dela, eu vejo que enfrentaria tudo bem pior do que ela. Aí percebo que aprendo tanto com uma coisa que sai da minha própria cabeça...
Que pena que tá acabando, vou sentir muita falta dela e de vocês *-*