Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 29
Afundando


Notas iniciais do capítulo

Oi, *-*Consegui não demorar tanto dessa vez né?Bom, sem mais delongas, vamos ao capítulo. Nos vemos lá embaixo.


E eu vou responder os reviews amanhã, okay?



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Anberlin - The Unwinding Cable Car

     Não parava de olhar o meu anel enquanto me lembrava da noite anterior. Mais precisamente do final da noite anterior. Um lindo quarto de hotel, o namorado perfeito, champanhe e morangos cobertos por chocolate. O que aconteceu depois não carece de mais detalhes.

  O único raio de sol que atravessava a cortina refletiu nos diamantes que rodeavam o anel, e eu o movimentei de uma forma que ele atingisse o olho do Bill, que estava deitado sob a minha barriga. Ele resmungou, e enfiou o rosto mais na minha barriga. Ele ia dormir de novo. – Bill...

  - ‘Tô com sono. – ele resmungou de uma maneira quase ininteligível.

  Desisti de tentar acordá-lo e coloquei um travesseiro sob a minha cabeça para ver se eu conseguia dormir mais um pouco também.

  Acordei com o mesmo raio de sol penetrando no meu olho. Abri os olhos devagar e vi Bill apoiado no cotovelo, observando-me atentamente. – Hallo Meine Schatzen. – deu um beijo estalado na minha testa. Sentei-me e repentinamente a expressão dele ficou tensa. Algo devia estar errado, comigo. Passei as mãos pelo meu rosto, que era para onde ele estava olhando, e embaixo no nariz tinha um líquido quente. De início me assustei e quase saí correndo pensando que eu estava com catarro escorrendo do nariz, mas ao observar meus dedos os vi vermelhos e logo comecei a sentir o cheiro de sangue.  - Não é nada, Bill. É só... – levantei e puxei o lençol me enrolando nele. – É por causa do frio.

  - Frio? – ele se sentou, olhando-me incredulamente. Desculpa fajuta a minha, nem frio estava.

  - É, frio do ar condicionado. – fui indo na direção do banheiro para lavar o meu nariz.

  - O ar condicionado nem sequer está ligado! – ele me seguiu até o banheiro, falando com a voz mais firme e calma. – Se troca que eu vou te levar ao médico.

  - Não... – terminei de limpar o nariz e me virei para ele. – Meu nariz só está sangrando, eu não preciso ir ao médico.

  - Mas isso pode ser alguma coisa séria, alguma complicação. – ele me olhava realmente sério. – Isso nunca aconteceu antes, - passei por ele indo para o quarto, com a cabeça baixa. – você não sabe o que pode ser.

  - Não. – me sentei na cama de frente para ele. – Isso já aconteceu antes. – disse como quem confessa um crime e pela reação dele, era o que isto parecia.

  - Quando? – droga, por que ele tinha que perguntar isso?  Eu pensei em mentir, inventar qualquer coisa, mas ele descobriria de qualquer maneira. Eu tenho plena consciência de que não consigo esconder as coisas dele muito bem. Eu precisava treinar muito isso para ter algum sucesso nas próximas vezes.

  - Ah não lembro... um dia qualquer.

  - Quando? – cruzou os braços e arqueou a sobrancelha direita.

  - Por que isso é tão importante? Que diferença faz saber o dia que isso aconteceu?

  Bill encolheu os ombros. – Eu só quero saber.

  Bufei, me jogando para trás na cama. – Aquele dia no estúdio.

  - E por que você não me contou? – falou realmente alterado. Eu fechei os meus olhos, temendo que qualquer objeto pudesse ser atirado em minha direção.

  - E por que eu contaria?

  - Por que aí eu poderia fazer alguma coisa. – senti o colchão abaixando do meu lado, onde ele havia se sentado. – Poderia te levar para casa, para o hospital. – Escutei sua respiração algumas vezes, ficando mais lenta aos poucos. E então ele falou mais calmo. – Você não está levando isso a sério, Carol.

  O pesar que eu senti na voz dele fez meu coração parar de bater por uns instantes. Sentei-me e abri os olhos, Bill encarava suas mãos tristemente. – Eu estou, Bill. – segurei o rosto dele entre as minhas mãos fazendo com que ele voltasse a me olhar. - Eu estou. – me abraçou e colocou sua cabeça na curva do meu pescoço. – Não se preocupe com isso, okay? Eu já sei que não é nada. – ele movimentou sua cabeça afirmativamente ainda no meu ombro enquanto eu acariciava seus cabelos. Nós realmente não tínhamos motivos para nos preocupar com isso. Era um sintoma da doença, apenas isso.

  Ficamos por longos minutos assim, até que Bill se sentisse bem novamente. Ele se sentou e nos movimentou de forma que eu ficasse no seu colo. Observou fixamente o anel que havia me dado em meu dedo. – Você sabe há quanto tempo eu planejava te dar isto?

  Fiz que não com a cabeça. Mas eu suspeitava que fosse depois de ele ter descoberto que iria ser pai. Sei lá, isso exige mais responsabilidade.

  - Eu estava com ele no bolso para te dar no lugar disto. – pegou a bailarina no meu pescoço entre os dedos. Arregalei meus olhos e deixei meu queixo cair um pouco. Eu não fazia ideia de que ele já queria isso há tanto tempo. – Mas eu não tive coragem.

  - Ainda bem que não fez. – sussurrei fracamente, me lembrando da sequencia dos fatos após tal dia. – Teria tornado tudo mais difícil.

  - Ou talvez você não tivesse feito aquilo. – Bill disse mostrando que sabia exatamente do que eu estava falando.

  Balancei a cabeça negativamente novamente.

 - Eu iria fazer de qualquer maneira. – dei de ombros. – A única diferença é que iria ficar mais difícil. Nada me faria mudar de ideia. Aquele era o meu plano desde sempre. Cortar relações e evaporar. Mas aí tudo deu errado.

  - Que bom que tudo deu errado. – Bill deu um sorrisinho torto. Sorri de um jeito que provavelmente mais parecia uma careta. Nossos olhares se conectaram por um longo tempo, em uma daquelas transmissões mudas de pensamento. Aquilo estava ficando tão intenso que meu coração começou a acelerar e bombear o sangue fortemente e as minhas mãos já estavam trêmulas e suadas. Eu me perguntava se algum dia isso iria parar, todo este torpor somente por um olhar. Nossas bocas se colaram e os choques costumeiros percorreram cada extremidade nervosa do meu corpo fazendo com que cada pequeno pedaço de pele tocada pela também fria, suada e trêmula mão de Bill se arrepiasse.

  Tudo estaria bem bonito se não fosse o meu estômago roncar e estragar tudo.

  Bill riu de mim. – Você está com fome?

  - Não, imagina. – ironizei revirando os olhos, já sentindo as bochechas quentes de vergonha.

  - Okay, vou pedir o café. – se esticou na cama até alcançar o telefone, se mexendo tanto que quase me derrubou de seu colo.

  - Que horas são? – perguntei enquanto ele discava. Ele olhou no celular e levantou três dedos enquanto falava com a recepcionista no telefone.

 - Ela disse que vai demorar um pouco. – Bill fez uma caretinha triste e passou o polegar na minha bochecha.

  - Tudo bem, é bom que eu emagreço. Estou precisando mesmo. – ironizei de novo. Tudo que eu não precisava era emagrecer, meu organismo já estava fazendo isso por si só, se continuasse desse jeito daqui a pouco eu iria ter um buraco no lugar da barriga. Lembrei-me do bebê e coloquei a mão na barriga sem perceber que sorria abertamente.

  - O que foi? O bebê chutou? – Bill perguntou todo feliz, com cara de criança quando ganha brinquedo novo e as mãos espalmadas no meu abdômen.

  - Ele nem tem perna ainda. Como vai chutar? – ele fez beicinho e tirou as mãos dali. – Você já planejou algo sobre a data do nosso casamento? - até arregalei os olhos quando disse isso. Soava tão estranho para mim dizer tal coisa, me sentia uma extraterrestre falando do meu próprio casamento.

  - Não, mas não vai demorar muito, pode ter certeza. – meu noivo falou empolgado sem nem ao menos reparar na minha cara de espanto. – Por quê? - só agora me encarou, fazendo-me parar de encará-lo com vergonha do que iria dizer. Eu ainda tinha um pouco de 'constrangimento' ao dizer essas coisas, só um pouco e somente ao dizer.

  Dei de ombros. – Eu só acho que nós deveríamos aproveitar, por que essa vai ser a última oportunidade que nós teremos de... você sabe.

  - O quê? – ele perguntou alto demais, se esquecendo de que estava com a boca ao lado do meu ouvido. – Por quê?

  - Qual o objetivo do casamento? – perguntei, mas ele não respondeu. – Poder transar. Se as pessoas já transam a todo o momento antes de casar, qual a lógica? Qual vai ser a graça da nossa lua de mel?

  Ele olhou para a parede meio emburrado, mas não respondeu. Acho que mais por falta de argumentos do que por vontade. – Não gostei. – reclamou com a voz dura.

  - E mesmo assim vai ficar aí perdendo tempo?

(...)

  - Satisfeita? – Fiz que sim com a cabeça e me encostei para trás na cabeceira da cama com as mãos sobre a barriga. Típico de quem acabou de comer muito mais do que o necessário. – Também...

  - Também o quê? – estreitei meus olhos para ele e coloquei as mãos na cintura. – Eu estou comendo por dois, tá.

  - Eu prefiro que você acabe com toda a comida e não deixe nada para mim do que ficar sem comer. – ele tentou se manter sério, mas logo começou a gargalhar fazendo-me perder a máscara irritada que eu tinha feito.

  - Vamos?

  - Já? – Bill resmungou.

  - Eu tenho a leve impressão que tinha alguma coisa para fazer hoje. – falei olhando pra cima, batendo o dedo indicador na bochecha. – Mas não lembro o quê... – meu coração se apertou só de eu pensar na possibilidade de já estar perdendo a memória.

  - Então vamos.

  Esperei que Bill pagasse a conta, já que ele não tinha permitido que eu o fizesse, no lobby decorado com mármore italiano, tecidos ricos e lustres de cristal austríaco. Fomos até a rua e eu descobri que íamos para casa de bonde. Era tão divertido ir até o alto das colinas, principalmente no quarteirão da Lombard Street, entre as ruas Hyde e Leavenworth, é uma longa curva em ziguezague, na descida da colina, que virou atração turística.

  Quando nós chegamos à minha casa ainda estávamos rindo do quase tombo que Bill tinha levado em uma curva. Mal eu entrei e já fui lembrada do que eu havia me esquecido. – Por acaso perdeu a memória menina? – meu pai perguntou nem me permitindo entrar em casa direito.  “Talvez” eu respondi para mim mesma, torcendo para que isso só tivesse sido um esquecimento cotidiano. Ele ficou me observando esperando que eu lembrasse, mas eu realmente não conseguia. – A ultrassom. – Mr. Ford disse como se fosse a coisa mais óbvia, e realmente era. Eu me lembrei.

  - É isso! – disse empolgada por ter conseguido lembrar, porém meu pai não estava no mesmo sentimento que eu e continuava me fitando embravecido. – Eu estou muito atrasada?

  - Se você considerar mais de uma hora muito, é, você está.

  - Okay. – disse ficando um pouco ansiosa, eu ia ver meu bebê! – Vamos então. – virei-me e Bill também estava sorrindo bastante e eu podia ver seus olhos brilhando, saímos e eu senti falta dos sons dos passos do meu pai. Olhei para trás e vi meu pai ainda parado no mesmo lugar, só que agora ele sorria, ao invés da cara emburrada de antes. – Você não vem?

  - Não, - entortou o sorriso, deixando-o um pouco triste. – esse momento é de vocês.

  Eu só consegui correr e ir abraçar meu pai. – Vai logo. – me afastou dele e deu um beijo em minha testa.

  Bill já estava me esperando no carro e assim que eu entrei ele deu a partida. Ficamos calados o caminho todo. Estávamos ansiosos demais para ainda conseguir conversar. O que me deixava mais feliz é que Bill estava feliz, eu não sei como eu conseguiria lidar com isso se fosse de outra forma, se Bill não estivesse contente por ser pai.

  Tudo bem que com quase doze semanas de gestação eu não iria conseguir ver ele completamente formado, mas alguma coisa eu já iria conseguir. Quem sabe já ouvir o coração, será que isso já era possível?

  - Chegamos.

  - Pensei que não iria vir mais. – Dra. Jane olhou por cima dos óculos assim que adentrei em seu consultório.

  - Foi mal. – pigarreei, revendo o que eu tinha falado. – Desculpa. – dei um sorriso amarelo.

  - Ainda dá pra fazer? – Bill perguntou visivelmente ansioso. A médica fez que sim com a cabeça e nós dois suspiramos ao mesmo tempo fazendo com que ela risse debochadamente.

  - Pode ir ali se trocar. – ela me indicou uma portinha a sua direita.

  Eu entrei no cubículo e tirei as minhas roupas para colocar aquela bata ridícula. Pelo menos ela não deixava minha bunda toda a mostra como aqueles aventais de hospital. Os dois lá fora estavam em algum papo bem animado e Bill parecia estar bem mais calmo quando eu saí.

  - Você está muito sexy. – ele disse e tudo o que eu fiz foi aumentar a minha cara de tédio.

  Dra. Jane parecia estar impaciente com tudo aquilo e já estava sentada no banquinho ao lado daquela cama igual a de dentista. Eu me sentei logo lá, já tinha a feito esperar muito tempo. Ela pegou aquele aparelho que se parecia um pouco com um taco de golfe e foi me dizendo como iria ser o exame.

  - Isso não vai machucar ela? – Bill perguntou, mostrando com quem que ele estava preocupado.

  - Isso não vai machucar o bebê? – perguntei, mostrando com quem eu estava preocupada.

  - Não e não. – ela riu mais uma vez. Isso já estava me incomodando, ela iria ficar rindo de mim toda hora agora?

  Eu gostei menos ainda quando ela começou a enfiar aquele troço dentro de mim. Olhei para Bill num misto de nojo e desconforto. Ele só deu um sorriso torto, com os olhos meio arregalados.

  - O feto está numa posição ótima, acho que já podemos ver o sexo. – Dra. Jane disse com uma voz muito empolgada seguida de um gritinho de felicidade de Bill, que se aproximou mais de mim e pegou a minha mão.

  Meu coração começou a acelerar desesperadamente, não de alegria ou ansiedade, mas sim de pavor. – Como assim ver o sexo? Existe a possibilidade de ser uma menina? – as últimas palavras que eu disse soaram menos terríveis do que pareciam para mim.

  - Não só pode, como é.

  Foi nessa hora que eu senti todo o meu corpo tremer loucamente, meus membros se flexionarem involuntariamente, minha visão ficar turva e aos poucos perder toda a cor, me deixando caindo num buraco escuro sem fim.


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Notas finais do capítulo

Teeenso.Alguém sabe o por que de ela ter entrado em pânico por causa do bebê? Vamos ver se alguém acerta.Beijos