Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 26
O Momento Em Que O Fim Chega


Notas iniciais do capítulo

Chegueeeei.Título tenso hein? Pois podem se preparar, eu disse que a 'emoção' ia voltar p fic a partir desse capítulo, né? Então...E eu separei uma música p esse. Se quiserem, podem começar a ler e soltar logo que carregar, p começo ela não é tão importante.



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When It Rains – Paramore

     Um garotinho de uns dois anos de idade passa correndo pelo corredor branco, do que eu sinto ser a minha futura casa. Do mesmo modo que eu sinto ser a minha futura casa, sinto que ele é o meu filho. Ele para em minha frente esticando os braços e sorri, o sorriso do pai, sem dúvida alguma. Me curvo para pegá-lo e nós dois rimos juntos quando o coloco no colo. Então, como um relâmpago a visão some.

  - Senhorita! Acorde! – senti meu rosto molhado e aos poucos fui abrindo os olhos e estava de volta a esta casa. Eu estava caída na escada, me sentei e vi a governanta com o copo vazio de água na mão me olhando preocupada. – Vou ligar para o seu médico agora. Espere aqui.

  - Não. – ela se virou para mim imediatamente. – Eu estou bem, isso não será necessário.

  - Mas...

  Não deixei que ela terminasse de falar, e levantei rápido do chão, sentindo um pouco de tontura, mas logo disfarcei. – Eu já disse, estou bem. Foi apenas uma indisposição. Eu vou ir para o meu quarto dormir mais um pouco. Quando eu acordar estarei bem melhor, não se preocupe. – ela fez que sim e se virou na direção da cozinha. – Ah, – falei antes que fosse. – não comente com ninguém, por favor.

  Subi para o meu quarto e me joguei na cama. Apesar de já ter aceitado que mais cedo ou mais tarde eu iria morrer, essa criança mudou tudo para mim. Agora eu sentia, que de alguma forma, iria sobreviver. A única coisa que eu desejava era que a minha mãe estivesse aqui comigo.  Isso aliviaria tanto as coisas. Daria um sentido nisso, eu não me sentiria tão despreparada para isso. A falta que eu senti dela neste momento esmigalhou meu coração.

  Meus olhos piscaram pesados, enquanto eu me lembrava da curta cena que se passou pela minha mente nos míseros segundos que eu havia apagado. As risadas alegres do meu filho continuaram ressoando em minha mente até que eu caisse no sono.

  Abri os meus olhos e eles se cegaram instantaneamente com os fortes raios de sol que penetravam no quarto. – Droga! – coloquei o braço na frente deles e fui direto ao banheiro, sem abri-los. Fechei a porta e finalmente pude abrir meus olhos. Esperei que eles se acostumassem com a pouca, mas ainda presente claridade do local.

  Abri a torneira e lavei meu rosto com a água abundante que saía dela e não pude evitar que alguns fios de cabelo se molhassem. Abri o armário, tirei dois compridos do pote laranja que lá estava e os engoli com a mesma água que havia acabado de me refrescar. Cessei o derramamento de água e levantei a cabeça me encarando no espelho. Peguei na ponta do meu nariz e sorrindo constatei que ele ainda estava fino. Não sei por que grávidas sempre ficam com aqueles narizes enormes. Eu torcia para que o meu não ficasse daquele jeito. Fiz xixi de novo, minha bexiga parecia estar cada vez menor. Arrumei um rabo de cavalo e voltei para o quarto. Antes de qualquer coisa fechei as cortinas. Sentei-me na cama e peguei o celular no criado mudo. Uma da tarde e nenhuma chamada. Antigamente o Bill me ligava direto se ficávamos longe e agora já fazia mais de uma semana, não sei ao certo, que ele havia voltado para Los Angeles e ele parecia ter esquecido que eu existia.

  Dei o braço a torcer e eu mesma liguei para ele, coisa que raramente acontecia.  – Oi, aqui é o Bill... – desliguei antes que a mensagem gravada da secretária eletrônica terminasse. Joguei o celular em cima da cama, vesti um short e desci.

  A governanta estava terminando de arrumar a mesa para o almoço e deu uma olhada para mim. Ela não havia gostado de ter escondido o meu desmaio do meu pai. Mas eu tive três dias para fazê-la desistir da ideia de me delatar. Meu pai iria almoçar conosco hoje, e por essa comunicação visual nossa, acho que eu tinha conseguido.

  Sentei-me no lugar costumeiro e esperei que todos descessem e ela servisse o almoço. Peguei o pingente de bailarina nos dedos e fiquei mexendo nele. A bailarina ficou de cabeça para baixo, revelando a inscrição na parte detrás dela. Sorri e dedilhei letra por letra. B, I, L, L. Meu coração pareceu bater mais lento pela falta que ele me fazia. Recriminei-me por estar assim já que eu havia ficado apenas três dias sem vê-lo. Pelo visto, isso era muito tempo. Larguei o colar e me reclinei na cadeira, deixando meu abdômen livre para que eu pudesse acaricia-lo. Eu queria tanto poder sentir meu pequeno garoto, mas ele parecia não querer dar o ar da graça ainda. Eu não via a hora de ganhar uns chutes.

  Ouvi uns grunhidos e logo uns passos fortes. Conforme o barulho ia aumentando percebi que o grunhido era na verdade um choro bem fraco. – Carol! – Jared gritou assim que apontou na entrada da copa, com o J.J. chorando contido em seu colo. – Me ajuda.

  - O que foi? – ele colocou o pequeno em cima da mesa. Nós dois o fitamos atentamente e ele respirava forte para engolir o choro.

  - Eu acordei com ele chorando, e ele ainda estava dormindo. – o pai falava rapidamente, atropelando as palavras. – então eu fui tentar acordar ele e quando coloquei a mão nele estava muito quente, olha. – ele pegou minha mão e colocou na testa do J.J. ela estava bem quente. – Daí eu desci.

  - Você está sentindo alguma coisa? – perguntei afagando os cabelos do meu sobrinho. Ele era meu sobrinho mesmo, o teste de DNA havia confirmado isso. Ele só abriu a boca para mim. Olhei e vi a gengiva dele bem vermelha e inchada lá no fundo. Contei os dentes dele, tendo que recontar duas vezes por que o Jared ficava me atrapalhando. – Tem um dente nascendo, só isso. – dei de ombros. – Não sei pra quê esse escândalo todo, Jared.

  Ele olhou para mim revoltado. – É por que não é o seu filho. – pegou o menino no colo e se virou.

  - O que você vai fazer?

  - Procurar no Google “dentes nascendo” e achar algum remédio, - olhou para mim como se aquela fosse a coisa mais óbvia a fazer em um caso desses. – o que mais eu poderia fazer?

  Ele sumiu do meu campo de visão e o som dos passos dele subindo a escada foi substituído pelos passos do meu pai adentrando em casa. – Bom dia mon chéri. – beijou o topo da minha cabeça e se sentou ao meu lado na mesa, colocando a pasta ao seu lado no chão.

  - Pai, - pausei e ele me olhou, esperando que eu continuasse. – faça o favor de lavar as mãos. – meu pai permaneceu olhando para mim como se não acreditasse que eu estava falando sério. – Anda. Vai voltar a ser criança agora?

  Ele resmungou como se fosse uma criança mesmo e foi até o lavabo. Voltou ainda com a cara feia, talvez temeroso de que eu começasse a desafiar a autoridade dele depois disso. – Onde estão os outros?

  - O Jared está paparicando o filho e o Ben saiu cedo. – ele me olhou desconfiado, mas pareceu ter acreditado logo. Fiz mais uma vez o que fiz a vida inteira; acobertar as transgressões dos meus irmãos. Se eu dissesse que o Benjamin não tinha voltado para casa desde ontem ele iria ter um ataque de fúria, controlador do jeito que ele era...

  Eu comi rápido, com medo de que colocasse tudo para fora. O que já havia virado rotina, principalmente depois de um dia de quimioterapia. Decidi tomar um banho de piscina para aproveitar o dia de sol ameno que estava fazendo. Fiquei sozinha durante quase toda a tarde e só saí dali a hora que senti um vento mais frio vindo. Sequei-me e vesti as roupas novamente, por cima do biquíni molhado mesmo, - colocando um casaco, claro, não ia querer ficar gripada agora - e entrei em casa.

  Ouvi uns murmúrios e me senti atraída para ir até lá.

  - Eu entendo. – meu pai falava pacientemente, no entanto sua voz soava meio estranha. Eu me aproximei mais da sala para tentar ver alguma coisa.

  - Eu só queria que o senhor soubesse antes. – foi aí que eu paralisei. Essa era a voz de Bill, e ela estava muito, muito séria. Coloquei a cabeça para dentro e ele estava olhando para as mãos fechadas, e com o cotovelo apoiado sobre as pernas. Meu pai estava apoiado no braço do sofá, com a mão no queixo e o cenho franzido. Bill levantou sua cabeça olhando seriamente para o meu pai. – E também... – William Ford me viu e apontou para mim com a cabeça. Bill se virou e ao me ver arregalou um pouco os olhos e deu um sorriso sem graça. – Oi mein Schätzchen.

  - Oi. – pisquei meus olhos, ainda tentando entender o porquê de toda aquela seriedade entre eles. Talvez eles estivessem apenas conversando, e isto normalmente seria bom. Porém algo me dizia que eu não devia ficar tão feliz assim.

  Meu namorado se levantou, se aproximou de mim meio sem jeito e pegou na minha mão. – Vamos dar uma volta? – ele beijou a minha mão, tentando sorrir. – Nós precisamos ter uma conversa. – ao ouvir isso minhas pernas fraquejaram, meu coração parou de bater, eu parei de respirar e todas essas coisas que acontecem com o nosso corpo quando sentimos que o pior está prestes a acontecer. – Vamos? – ele chamou novamente, visto que eu permanecia parada. Mentalizei fazer que não com a cabeça, mas não o fiz e então ele me puxou para fora.

  Bill foi me levando para o mesmo caminho que Jared havia me levado quando voltamos. Atravessamos a propriedade, passando por todas as suas dependências, e isso era uma grande caminhada, principalmente se fosse feita em silêncio. A mão de Bill suava também, talvez até mais do que a minha. – O que foi? – consegui finalmente perguntar, após a décima tentativa de fazer com que algo saísse da minha boca.

  Ele olhou para mim dando mais um dos sorrisos de canto de boca e desviou o olhar receoso para o mar, que se aproximava cada vez mais.  – Fala... logo. – pedi de novo, com a voz esganiçada pelo nó que começava a se formar em minha garganta.

  - É... – pausou e respirou profundamente. Puxou minha mão para cima junto com a dele e a beijou. – Você sabe tudo o que significa para mim não é? – me olhou esperando que eu respondesse. Mas eu não tinha uma resposta para dar, agora eu não tinha mais certeza de nada. A única coisa que eu tinha era medo, muito medo. – Acho que não. – deu uma risadinha sem graça. – Então eu tenho que dizer, de novo não é? – Eu comecei a pensar em como eu poderia evitar que aquilo acontecesse. Eu não poderia permitir que ele falasse que me amava, mas que não poderia mais ficar comigo. Não, eu não suportaria.

  - Bill, e... – comecei a falar e ele me olhou. Depois disso eu não tive mais forças para continuar. Eu parecia estar anestesiada, imobilizada de todas as formas. Eu não estava reagindo muito bem, eu não estava me sentindo muito bem. Fiz sinal com a cabeça para que ele continuasse a falar. Coloquei a mão sobre o abdômen tentando encontrar algum conforto dentro de mim.

  - Como eu estava dizendo. – esfregou minhas mãos entre as suas, olhando fixamente para elas. – Desde o dia que eu te vi é como se eu finalmente tivesse achado uma razão para viver, uma razão para entender que a vida é realmente linda. – então por que você quer acabar com tudo isso, droga? Ele estava só tentando amenizar as coisas, para que eu não prestasse muito atenção no que viria depois. E de fato ele estava conseguindo me distrair. Eu apenas escutava essas coisas, evitando olhar para ele e me lembrar do que ele estava prestes a fazer. – Você sabe que eu te amo né? – parou de andar e olhou para mim, esperando a resposta. Eu balancei a cabeça afirmativamente sem muita certeza e ainda sem olhar para ele.  Meu namorado puxou o meu queixo para que eu olhasse para ele. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, eu fechei os meus e aí tive certeza de que ele iria mesmo fazer aquilo. Eu senti os lábios frios dele nos meus, isso me doeu tanto, me doeu por saber que seria o último. De qualquer maneira, eu aproveitei, justamente por saber que muito em breve eu não poderia mais. Ele me soltou sorrindo e me abraçou de lado andando em direção à praia.

  As ondas nos atingiam e molhavam meu tênis, mas eu não estava me importando muito com isso agora.  Eu vi um vulto ao longe, como se alguém tivesse passado correndo, mas também não dei muita importância e voltei a olhar o chão. – Você já entendeu né? – eu tive uma disritmia cardíaca ao ouvir isso. Olhei para ele com os olhos arregalados. O momento que eu tanto temia havia chegado. – Eu te amo. Mais do que um dia eu pudesse imaginar amar alguém. – ele deu uma risadinha e me beijou de novo. – Justo eu. – eu consegui sorrir depois disso, senti um alívio enorme por saber que aquilo foi adiado nem que só por um curto espaço de tempo. Bill fixou o olhar no meu sorriso por um tempo e depois o desviou para a mão sobre a minha barriga. Colocou a mão que estava sobre o meu ombro, sobre a minha mão que estava na barriga, me abraçando completamente. – Olha, uma concha. – ele apontou para um ponto na areia perto dos meus pés. Parou ao chegar perto dela, e continuou apontando. Parecia fazer questão que eu a visse. – Olha.

  - Eu já vi, Bill. – murmurei. Pensei mais um pouco e decidi usar essa distração a meu favor, para adiar as coisas por mais um tempo. – É verde. – falei estranhando a cor dela. Nunca tinha visto uma concha verde, e que brilhava.

  - Por que você não pega ela? – ele me incentivou, eu me abaixei e a peguei na mão. Ele se afastou de mim, eu olhei para ele, estava com medo de qualquer ação que ele tomasse. – Abre. – eu achei estranho, mas já que estava querendo prolongar as coisas, fiz o que ele disse. Abri e vi uma pedra preta, alguns pontinhos brilhantes, enroscados em fios de ouro. Mexi um pouco, e aquilo era... um anel. Peguei nele e olhei para trás, para Bill e o vi sorrindo, ajoelhado no chão.

  - Quer casar comigo?


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Notas finais do capítulo

Gostaram???Espero que sim, pq foi bem difícil escrever ele. Ah, boas vindas para a nova leitora, apareça sempre por aqui.Beijos