Nothing Lasts Forever escrita por Cherrie


Capítulo 23
Conversas Irrelevantes


Notas iniciais do capítulo

Título vagabundo ¬¬

Eu acho que não existem desculpas para um mês sem postar.
Mas o que importa é que neste mês conturbado, entre casamento do irmão, semana de praia e morte da querida cachorra, eu voltei.
Mas com certeza as coisas logo vão melhorar e quem sabe, eu volte ao normal com as inspirações súbitas e afins.
Sem mais delongas, aqui está o máximo que eu consegui fazer.



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  - Por que a senhorita não me contou que estava grávida? – senti um jato de água atingir o meu rosto. Antes que eu pensasse que alguém havia feito isso para me acordar do transe olhei para o lado e percebi que não era nada disso. Bill estava com uma mão tampando a boca que pingava água e a outra segurando o copo virado de boca para baixo. Nunca vi alguém fazer tanto estrago com um engasgo. Olhei para os seus olhos e o modo como eles estavam assustados me lembrou o que eu havia acabado de escutar.

  De alguma forma o ‘cuspe’ que eu recebi me fez acordar realmente. Meu estômago gelou ao recordar a fala do Dr. Carlton. Minhas mãos envolveram meu abdômen instintivamente e a única coisa que passava pela minha cabeça é que não fazia sentido. – Você poderia me responder o porquê de ter me escondido este fato?

  - Por que eu não sabia? – respondi como se fosse óbvia a resposta.

  - Como não sabia? – fitou-me incrédulo e voltou os olhos para o laudo do exame. - Não prestou atenção em nenhum sinal?

  - Que sinal? Menstruação atrasada? Você disse que isso ia acontecer por causa da quimioterapia. Enjoo?

  - Certo. – ele olhou para o teto, colocou a mão na cintura e suspirou profundamente. – Mas você tinha que ter percebido, você ia fazer uma tomografia agora. – ele começou a se alterar novamente. – Você tem noção de como isso poderia ter sido ruim para o bebê? – desviei minha atenção dele enquanto sentia meus olhos marejarem e reparei em dois rostos que estavam bem piores do que o do Bill. Christopher me olhava num misto  de surpresa e ódio eterno e o Benjamin estava com a boca aberta e olhos sapecas. Agarrei meu abdômen com ainda mais força tentando acreditar que realmente existia alguém ali dentro. – Você tem certeza disso?

  - Tenho, quanto a isto não se preocupe e – fez uma pausa – me desculpe. – colocou o exame em cima da mesa e passou a mão na testa, como se tentasse achar uma justificativa ou uma solução para aquela falha. – Eu vou ligar para a ginecologista, você precisa ter uma conversa com ela. Licença. – saiu da sala e me deixou com os energúmenos que só me faziam sentir pior com a ‘maravilhosa’ reação deles.

  Não há nada mais constrangedor do que o silêncio que se instaurou no lugar após a saída do médico. Eu estava me sentindo completamente sozinha.

  - Oh! – Benjamin fazia uma cara cínica de assustado olhando para o Christopher, que estava mais irritado do que eu jamais havia visto, se é que isso era possível vindo do Senhor Ranzinza. – Ela não é mais virgem? – debochou mais ainda dele. – Oh Meu Deus, ela faz sexo? Não... – parou de zoar dele e ficou sério. – Para de ser ridículo Christopher. – se levantou rindo, quase gargalhando. – Eu tenho que contar isso para o pai.

  - Relaxa. – eu disse ao meu irmão restante dando de ombros e olhei pelo canto do olho para o Bill, que ainda estava sentado, olhando para cima, como se nada tivesse acontecido. – Pelo visto foi concepção imaculada. – ele pareceu se condoer, veio até mim, beijou a minha testa e saiu.

  Pelo menos eu tinha recebido a primeira reação positiva após a notícia. Isso tudo era ainda muito estranho para mim. Agora eu tinha começado a digerir direito, eu ia ter um filho, um filho. Meu coração começou a palpitar de medo. O que seria daquela criança? A mão em meu abdômen agora o acariciava, como se eu já sentisse alguém ali. Olhei para o lado, tentando entender a reação que o meu namorado estava tendo. Eu sabia que era uma coisa difícil, inesperada. Mas eu não esperava que ele agisse assim. De verdade.

  Fiquei apenas encarando minhas mãos e ouvindo minha respiração acelerada em cima daquela maca. Senti algo mexer nos meus cabelos e olhei rapidamente para o lado que tinha sido tocado. Meus olhos se conectaram rapidamente com os orbes castanhos encharcados a minha frente. Senti uma pontada no peito quando vi que ele estava chorando. Tudo menos isso, por favor. Droga, eu não queria que ele se sentisse assim. Um nó logo se instaurou em minha garganta, mas meus olhos foram cativados pelo sorriso logo abaixo. Peguei-me sorrindo também por constatar que ele chorava por qualquer coisa menos tristeza ou arrependimento. Chorava de alegria.

  Meus braços logo envolveram o pescoço alvo dele. Os dele fizeram o mesmo com a minha cintura. Agora sim, agora eu estava me sentindo melhor. E feliz por estar carregando uma vida, além da minha. – Desculpa... – Bill afastou meu rosto e o segurou em suas mãos, murmurando pedidos de perdão entre os beijos que me dava. Vendo que eu não estava dando muita atenção ele parou e me olhou profundamente. – Desculpa, eu...

  - Tudo bem. – o interrompi antes que ele pudesse terminar. Isso não importava mais agora. Porém ele parecia não concordar com isso. Colocou o dedo em meus lábios e prosseguiu.

  - Fica quieta, por favor. – forçou os olhos e deu uma risada. – Posso terminar? – fiz que sim com a cabeça, já impaciente. – me desculpe por eu ter ficado daquele jeito. Eu não consegui digerir isso tão fácil assim, eu não esperava por isso. Isso é assustador.

  - Eu sei, e eu te entendo. – sorri roçando o polegar em sua bochecha. – Eu já disse, tudo bem.  – enfatizei arregalando os olhos, rindo e fazendo-o rir também.

  - Mas agora, - olhou para baixo, colocou a mão sobre a minha barriga e deu o sorriso mais fofo que eu já havia o visto dar. – Eu estou gostando da ideia.

  Forcei-me a continuar respirando enquanto meu coração se projetava contra as paredes do meu peito. Enrosquei ainda mais meus braços no pescoço dele e arranjei um jeito de me sentar no colo dele. Eu simplesmente não conseguia me controlar quando ele fazia essas coisas, eu ficava completamente fora de mim e quando dei por mim já estava nos sufocando com um beijo inadequado para aquele local.

  - Licença. – me assustei com a voz do meu pai dentro do quarto. Arregalei meus olhos e fui me afastando de Bill lentamente, que estava quase transparente de tão pálido. Olhei e dei um sorriso de canto de boca para o meu pai. – Não é por menos que você está grávida agora. – deu uma bufada de ar e se sentou na poltrona aos pés da maca, onde anteriormente meus irmãos estavam. Olhou para frente e constatou que o corpo de Bill tampava a sua visão de mim. – Você poderia se sentar em outro lugar, por favor? – disse apontando para Bill. – Eu tenho que dar uma bronca nessa criatura, e para isso eu preciso manter contato visual com ela.

  - Eu não acho necessário que você brigue com ela por... – ele começou a dizer surpreendendo-nos, muito mais ao meu pai que semicerrou os olhos esperando que ele terminasse a frase. Bill parou de falar por um momento, mas logo continuou. – Isso, mas é claro que eu posso me sentar em outro lugar. – beijou a minha bochecha e se sentou no sofá que antes estava. – Mas eu continuo achando...

  - Tudo bem rapaz, relaxe. – William Ford interrompeu e direcionou sua atenção a mim. – Eu não vou brigar com você, por que eu acho que você não é a maior culpada nisso tudo. – olhei para ele sem entender, e ele percebendo que ninguém falou nada, prosseguiu. – Eu não consegui suprir a falta da sua mãe. Você precisava de uma mulher que...

  - Não papa, para com isso, não tem nada a ver. – falei apressadamente. – Eu já disse que nunca precisei de mais nada. É claro que eu queria a mãe aqui, mas por causa dela, da presença dela e não por algo que o senhor não tenha feito direito.

  - Mas se eu tivesse lhe informado melhor, você saberia como se prevenir disso.

  - Eu me preveni, eu sei me cuidar. – ele achava que por ele não ter me explicado eu não tinha descoberto. Só pais mesmo.

  - Exatamente por isso você está grávida. – ele debochou de mim.

  - Eu tomo remédio. – coloquei o dedo do queixo e interroguei o meu pai, baixinho. – Aliás, eu tenho que parar agora né? Por causa do bebê...

  - Remédio? – perguntou alterado ignorando a minha pergunta anterior. – E se ele te passasse alguma doença? – passou a mão na cabeça, dramático, como se tivesse ouvido o pior absurdo do mundo. Eu ouvi o suspiro pesado do Bill e pelo canto do olho o vi se jogando para trás no sofá. – Eu sabia que tinha tido filhos novo demais, nem consegui passar maturidade para eles.

  - ‘Tá vendo? O senhor não pode falar nada, eu engravidei bem mais velha do que a mãe. – ele ficou quieto dessa vez. – Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço né?

  - Quieta! – disse bravo, mas logo começou a rir. As pessoas costumavam dizer que ele era mal-humorado, mas eu não achava. Pra mim ele era o homem mais digno do mundo, e não poderia ser diferente, com todas as coisas que ele fez pela nossa família.

  - Quem é a mamãe mais nova por aqui? – uma mulher com os seus trinta anos, bem encorpada de cabelos castanhos e um nariz chato entrou sorridente na sala. Eu ergui o meu dedo, sorrindo de lado. - O Carlton me fez vir correndo para cá. Sabe como são esses médicos novos não é? – como esse hospital fazia parte da Universidade de San Francisco, a maioria dos médicos que trabalhavam por aqui era bem novos, residentes que por serem extremamente competentes tinham passado de estagiários para efetivos rapidamente. Ela própria deve ter passado por isso. – E o papai está por aqui?

  - Aham. – sorri e apontei para o Bill no sofá. Ele se levantou e estendeu a mão para ela.

  - Prazer, Bill. – galanteador este meu namorado.

  - Oh, me desculpem, eu me esqueci de me apresentar, que cabeça a minha. – ela falava tão rapidamente e tão alegremente que parecia uma criança conversando. – Jane, e o prazer é todo meu. E você? – olhou para o meu pai, sorrindo mais desta vez. – É o tio?

  - Não, o avô. – a última palavra soou quase como um peso, como se ele tivesse odiado fala-la.

  - Não me diga, tão novo assim. - se ela continuasse sorrindo para ele assim ia arranjar um jeito de quebrar estes dentes. – Mas vamos voltar para você. – é, acho bom. – Fez algum exame?

  - Não. – olhei para a mesa ao lado, vendo o resultado do exame de sangue. – Não depois que eu descobri, mas o Dr. Carlton chegou sacudindo isso na minha frente.

  Ela deu uma risada sonoramente desagradável. – Então vamos dar uma olhada nele. –Jane então pegou o laudo e ficou lendo-o com o cenho franzido durante o que me pareceram longos minutos. Bill se sentou ao meu lado e ao segurar suas mãos percebi que ele estava bem nervoso, pois as mesmas estavam suadas e frias. – Você disse que descobriu há pouco tempo?

  Afirmei com a cabeça. – Hoje. – ela mordeu o lábio inferior e olhou para a minha barriga, depois para o exame novamente e meneou a cabeça. – Por que, algum problema?

  - Não, é que você descobriu meio tarde. – deixou o exame de lado e voltou a sorrir. – Por isso o Carlton quase enfartou.

  - Meio tarde? Você só pode estar certa se considerar um ou dois dias muito tarde. – Bill olhou-a interrogativamente, com a sobrancelha direita arqueada.

  - Não, este exame é irrefutável e o laudo concluiu que a gestação já está em nove semanas.

  - Não – Bill se levantou e colocou os braços na cintura, - isso não pode ser possível por que...

  - Bill. – tentei o chamar para que ele não terminasse de falar, na frente do meu pai, que nós só havíamos transado há no máximo dois dias, na casa do meu pai.

  - Por que nós...

  -  Bill! - Ele então olhou para mim, com a testa toda enrugada e olhar confuso. Olhando para ele eu percebi uma coisa. – Faça as contas, por favor. – Ele continuou apenas olhando para mim, começando a ficar furioso. – Nove semanas são mais de dois meses. – Eu não podia acreditar que havia passado pela cabeça dele que esse filho poderia ser de outra pessoa. Ou não, vai ver...  – Espera, isso são mais de dois meses. – me dirigi a Dra. Jane. – Por que eu não tenho barriga então?

  - Nós temos que fazer um ultrassom para ter certeza, mas provavelmente não há nada demais nisso.

  - Isso é comum? – olhei para a minha barriga. Ela não tinha nenhuma elevação. Tudo bem que eu tinha emagrecido bastante ultimamente e a barriga parecia estar como há meses atrás, mas crescido ela não tinha, isso sim era estranho.

  - Não é comum, mas é normal. Não se preocupe, está tudo bem. – ela afagou meus cabelos sorrindo. Gostei dela. Era tão espontânea e parecia estar realmente interessada, isto me deu mais segurança. – Você anda tendo muitas alterações de humor?

  - Não. – respondi confiante.

  - SIM! – meu namorado e o meu pai falaram em uníssono.

  - Mentira deles! – disse com um olhar carbonizador para cada um deles.

  - Viu isso? – Bill perguntou para a médica. – Ela está assim o tempo todo. Ela está normal, do nada fica exageradamente feliz, depois quer matar qualquer mulher que apareça na frente dela e então começa a chorar. – ela parou de prestar atenção no que ele dizia e ficou olhando para o meu pai com um sorriso bobo na cara.

  - Agora diz se eu não tenho razão de querer matar as mulheres? – perguntei para o Bill, mas o alto o suficiente para que ela escutasse. E ela escutou, mas se fez de desentendida e voltou ao assunto anterior.

  - É pai, você vai ter que aturar isso por algum tempo ainda, - ela colocou a mão no ombro dele, fazendo que sim com a cabeça e entortando a boca. – E... – um som estrondoso a fez parar de falar.

   - Eu cheguei de viagem agora, mas vim correndo para cá. – Jared entrou quebrando a cartilha da educação falando alto como se não houvesse mais ninguém ali. Ele parecia estar bem empolgado com alguma coisa. – Quem diria hein? – parou ao lado da maca, sorrindo e com um olhar reprovador contraditório. – Você, com um filho. Em que mundo estamos?

  - ‘Tá falando do quê criatura? Pelo menos eu ainda tenho um bebê. E o teu que já tem três anos? – ele ficou lívido e os olhos saltados no mesmo instante. O Totti e o J.J. Entraram na sala, e pela cara do maior eu percebi a burrada que tinha feito. Mr. Ford se levantou e veio até nós com a mesma expressão que o Jared. – Ops. – encolhi os ombros e pela temperatura do meu rosto ele já devia estar completamente vermelho. – O Christopher explica direito para vocês, agora eu tenho que ir ao banheiro. Por que vocês sabem, eu estou grávida né.

 


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Notas finais do capítulo

Podre né, mas ou era isso ou só semana que vem...

Prometo não demorar mais tanto tempo.