Capítulo 29 - Grupos de Atividades

 Duas semanas podem passar muito rápido ou muito devagar, depende do seu ponto de vista. Albert Einstein já provou matematicamente que tempo é relativo e, de fato, isso é verdade. Normalmente duas semanas de aula demoram séculos para passar, mas aquelas duas, aquelas duas semanas que me separavam da encrenca que Wilson estava armando, passaram voando.

 Nesse meio tempo, é claro que nosso amado líder estava planejando tudo minuciosamente. Para quem não se lembra dos eventos anteriores, Wilson se conformou em não criar um próprio grupo de atividades pelo simples fato de achar melhor revolucionar todos os grupos participando deles. Isso seria uma ideia honrada e até digna de elogios...claro, se não fosse pelo pequeno detalhe dos membros do nosso grupo não terem muita noção de suas habilidades, com exceção da Demi, que é ótima em música, dança, atuação e coisas do gênero. Pelo menos no grupo de Artes estávamos salvos, mas e quanto aos outros?

- Bom, muito bom. Dessa vez a gente se dá bem - ele diz, em uma de nossas reuniões de biblioteca (já que era o único lugar da escola que tinhamos para passar o intervalo) - Vamos repassar as coisas...Demi já está no grupo de Artes e Karina se inscreveu no grupo de Literatura. Perfeito. Já temos contato nesses grupos

- Então...podemos começar por eles - falei

- Hmm...não. Vamos deixar as meninas frequentarem por um tempinho para a gente saber como é. Podemos começar com um grupo que seja mais a nossa área

- E qual seria? - perguntei

- No de Informática, é claro! - ele diz - É a matéria que vamos melhor

Na verdade, era a matéria mais fácil. É verdade, como sou distraído. Nunca comentei com vocês como é o esquema do curso técnico, disse? Basicamente, alunos do Fundamental (nosso caso), são apresentados à aulas de informática básica e introduzidos à linguagens de programação básicas. O Ensino Médio tem mais noções de programação e manutenção técnica de hardware. Bem, eu gostava de computadores e provavelmente minha profissão ou seria um emprego comum numa empresa comum com um chefe chato comum e tomando cafézinho comum...ou seria o técnico que vai na sua casa para consertar o computador e cobra uma nota só para formatar o sistema (no dia que as pessoas descobrirem que qualquer problema de software pode ser resolvido formatando o sistema, vou estar ferrado)

- Eu já me informei...o grupo de Informática não tem conflito de horário com os grupos das meninas e é orientado pelo professor Cerati...e ele parece gostar principalmente da parte de Web. Que sorte, né?

Situando...Web era a matéria da sétima série da escola (nosso caso). Aprendemos coisas difíceis como mexer na internet e editar a Wikipédia. Provavelmente ele iria gostar de algum projeto de Web

- E o que podemos fazer para ir bem nesse grupo? - pergunta Demi

- É o que vamos ver na primeira reunião. O grupo vai começar na semana que vem. Já estão todos inscritos, não?

 Bem, mesmo que alguém dissesse "não", ele iria inscrever naquela hora. Enfim, chega o tão esperado dia dos grupos começarem. Estávamos lá, nós cinco, na sala de Informática devidamente preparada para o grupo. Demi chega em cima da hora, mas, para sorte dela, nada tinha começado.

- Ufa! Desculpa a demora...tive que resolver umas coisinhas - ela diz

- Tudo bem para você frequentar esses grupos, além do grupo de Artes e das suas aulas normais? - perguntei

- Relaxa. Eu passei aulas de canto e teatro para os fins de semana

- Se você diz..

- Demi...você também faz parte desse grupo? - diz um garoto, no computador da nossa frente. Aquela sala, além da gente, devia ter umas dez pessoas. Acho que todo mundo já estava cansado de tanto mexer em computador (ou então todos viam computador como diversão e não como trabalho. Bem, não que eu discorde...trabalho sempre é a última função do meu computador)

- Err..sim? - ela responde

- Que bom - é tudo que ele diz. Parece ser um dos garotos que era do fã clube dela na época que estávamos fazendo nossa campanha para o grêmio estudantil.

- Ai, ai. Que projeto será que faremos? - pergunta Wilson, enquanto se espreguiçava na cadeira.

- Seja lá o que for...vamos descobrir logo - respondi, vendo que o professor, um cara não muito velho, mas careca e usando óculos. Professor Cerati (isso não é nome de marca de mortadela?), professor de informático do Ensino Médio e fanático por Internet. Ele chega calmamente, se apresenta, mostra o que é o grupo de Informática e todo aquele blá-blá-blá inicial de começo de curso. Até que ele toca num assunto interessante..

- Bem, esse grupo será um complemento à formação que esse colégio já dá a vocês. Queremos que realizem projetos que não temos tempo de fazer nas aulas

- Hmm..parece legal - comenta Wilson

- Que tipo de projeto? - pergunta alguém

- É o que vamos decidir agora....eu, pessoalmente, gosto da parte de Web. Atualmente, trabalhamos muito com troca de informação...sejam blogs, tweets, redes sociais, etc. Poderíamos pensar em algo com isso

- Ah, é. A diretora falou que poderíamos montar um blog para substituir o jornal da escola - comenta um dos alunos. Espera aí...aquele não era o capacho da professora Joseane? O Felipe, também conhecido como "estagiário fantasma"?  Ah, claro, o jornal foi abolido, então, era hora de arrumar outro canto. Heh. O mundo dá voltas.

- É verdade. Isso é uma ideia legal. Mas não só nesse grupo, como nos outros, queremos que vocês tenham bastante liberdade. Podemos criar um projeto único ou deixar que vocês se dividam em projetos individuais e vamos orientando. O ideal é que vocês mesmos construam seus próprios trabalhos

Falar isso para o Wilson era a mesma coisa que soltar uma criança num parque de diversões e falar que ela podia usar todos os brinquedos de graça. Claro que ele adorou a ideia.

- Heh! Eu não disse? Esses grupos de atividades serão a nossa chave para subir no topo dessa escola, meus amigos! - ele comenta

- E o que a gente vai fazer? - pergunta Jorjão - Tem alguma ideia

- Vocês podem usar a Internet para pesquisar à vontade. Apenas apresentem um esboço de projeto até a próxima reunião..seja site, blog, fórum ou até mesmo vídeos

- Videos? - repete Wilson

- Sim. Compartilhamento de vídeos e videologs são muito comuns hoje em dia

Não precisava enxergar muito bem para ver os olhinhos dele brilhando. Uma única palavra foi suficiente para ativar milhões de sinapses no cérebro exótico daquele garoto. E eu também não precisava ser o mestre da dedução para descobrir que ele já tinha uma ideia em mente.

- Videos, Daniel! - ele fala, sem olhar para o lado (mesmo estando do meu lado) - Esse vai ser nosso primeiro projeto rumo ao topo!

E lá vamos nós...