This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 30
Capítulo 30




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Capítulo 30 - Confusões em video

 Relatando situação atual: cinco garotos sem muito juízo na cabeça, no meio de uma praça, com uma câmera de video e sem muita certeza do que se está fazendo. Esses somos nós, exatamente um dia após a nossa primeira reunião do grupo de Informática. O professor sugeriu que trabalhássemos em temas mais atuais da Web, o que inclui blogs, redes sociais e (por que não?) compartilhamento de vídeos. E é claro que essa última ideia foi a que soou melhor aos ouvidos de nosso líder, Wilson. O problema era...o que exatamente gravar?

- Então...o que exatamente podemos gravar? - ele pergunta, segurando sua câmera de vídeo, enquanto pensava no assunto. Tinhamos tirado a tarde para gravar alguma coisa antes da próxima aula. Estávamos em uma praça relativamente tranquila, era grande, espaçosa, mas tinha várias pessoas passando e olhando o nosso movimento. Como se perguntassem: o que esses caras estão fazendo?

- Não tenho a menor ideia - respondi - Você que quis gravar o video e não tem a menor noção sobre o que gravar?

- Bem...algumas ideias na cabeça eu até tenho...mas também queria ouvir a opinião de vocês

- Podíamos gravar um clipe - sugere Demi, ainda mais graciosa com uma blusa de alcinha e calça jeans. Vê-la fora do uniforme escolar sempre me deixava mais animado - Eu canto a música e vocês gravam

- Legal. Que música poderia ser?

- Bem, eu gosto mais de pop, mas...não sei se vocês tem um estilo próprio...

- Um clipe, é? - comenta Karina - Interessante...só precisaríamos de um roteiro

- Vocês gostaram da ideia? - Demi diz contente.

- Clipes são legais - diz Jorjão, devorando um sorvete que acabara de comprar - Se bem que alguma coisa engraçada também seria legal

- Coisas engraçadas, é? - diz Wilson, com um sorriso - Gostei de ver...vocês tem boas ideias. E se a gente fizesse um clipe engraçado?

Já vi que aquilo era uma bola de neve que iria aumentar mais e mais. Se a gente desse asas à imaginação não iria demorar muito para pensarmos em uma produção cinematográfica com efeitos especiais no estilo de Avatar. É que conhecendo o Wilson, não podia ser uma coisa pequena..tinha que ser algo grande.

- Seja o que for - ele diz - Essa praça é ótima para isso. A Praça da Sonhadora é um lugar bem grande!

- É verdade- diz Demi - Tinha um pessoal que até ensaia peças de teatro por aqui (*)

- Não é? Já temos um bom cenário...agora só falta um bom video. Hehe! - Wilson parecia animado como sempre. Eu apenas ficava imaginando que tipo de projeto iríamos fazer.

- Vamos ter que pensar num roteiro bom - comentei - Será que vídeo é mesmo uma boa ideia? Acho que faríamos um site legal

- Videos são mais legais ultimamente, Daniel - fala Wilson - Além disso, site todo mundo faz

- E já tem todo tipo de site por aí - comenta Karina - Tinha até o site que encontrava qualquer pessoa desaparecida..era só mandar uma foto.

- Eu lembro - comentei - A dona do site chamava Truth (**) ou algo assim, mas saiu do ar faz um tempinho, né?

- Sim. Uma professora achou o cachorro dela por aquele site - diz Karina

Não sei como a conversa chegou naquele ponto, mas a verdade é que ainda não havíamos decidido sobre o que gravar. Clipe, filme, seja o que for, precisávamos ter uma ideia logo.

- Só sei que precisa ser algo legal - diz Wilson, olhando para a câmera - Ninguém tem mais ideias?

- Documentário? - diz Karina

- Documentários...precisaríamos pensar num tema bom para falar. Poderíamos entrevistar as pessoas do parque, né?

- E perguntaríamos o que? - questionei, já com medo da resposta.

- Não sei...talvez sobre o sorvete preferido delas - diz Jorjão.

- Já discutimos isso - diz Karina - A maioria vai responder chocolate. Não precisamos nem de um video para deduzir isso

- Ou o tipo de música - pergunta Demi

- A maioria deve responder samba - coloca Karina - Essa região tem vários barzinhos tocando samba o tempo todo. Um tema mais objetivo cairia melhor aqui

- Isso pode dar trabalho...ai, ai...então não vamos depender das outras pessoas - diz Wilson, ainda filmando várias coisas ao redor - Vamos gravar só com a gente mesmo. É só escolher uma ideia

- Eu ainda fico com o clipe - diz Demi - Eu bolo um roteiro e a música. Daí a gente se reúne para gravar. Pode ser?

- Acho que seria legal. Alguém tem mais alguma ideia? Daniel...quer falar alguma coisa? - ele coloca a câmera na minha direção - Fala pra câmera aí!

- Hã...olá, como vai você? - falei. Bah, foi a primeira coisa que me veio a cabeça. Não sou muito bom com câmeras.

- Bom, se ninguém pensou em mais nada...a gente fica com o clipe mesmo. A gente se reúne outro dia...é uma pena, achei que daria para gravar alguma coisa hoje - diz Wilson

- Você continua filmando? Vai acabar com toda a bateria da câmera desse jeito! - falei

- Ah, a gente não vai gravar nada hoje...deixa eu continuar gravando

- Gente, alguém quer tomar sorvete antes de ir embora? - sugere Demi

- Ah, claro - Jorjão responde prontamente, embora ele tenha acabado de tomar um. E assim foi. Tudo parecia tranquilo. Fomos à pracinha, não fizemos porcaria nenhuma e tudo acabou em sorvete. Parecia algo corriqueiro, até o que viria a seguir.

- Buáááá!!! - ouve-se um molequinho, por volta de seus cinco anos, chorando. Choro de criança sempre é um porre. Acontece que ele tinha deixado cair o sorvete que acabou de comprar. A mãe que o acompanhava disse que comprava outro, mas ele chorava muito.

- Nossa, tadinho - comenta Demi. Nisso, eu acabo tendo uma das piores ideias que uma pessoa pode ter na vida, superando, de longe, todas as ideias que Wilson teve. Mostrar solidariedade pode derreter o coração de uma garota. E foi o que tentei fazer. Eu, não tendo nada a ver com a história, me aproximo do garoto e digo.

- Pode ficar com o meu...eu nem comecei a tomar - disse, tentando alegrar o garotinho. A mãe sorri agradecida, mas o moleque, o desgraçado do moleque, tem uma reação totalmente inesperada.

- NÃO É DE MORANGO! - ele grita e me dá uma rasteira. Eu não só acabo caindo, como o sorvete de chocolate ainda pula e cai na minha cabeça. Não me pergunte como um garotinho de cinco anos pode me derrubar desse jeito, mas eu não esperava por isso e muito menos que o sorvete cairia direitinho em cima da minha cabeça, pintando meus cabelos com chocolate.

- Buáááá!!! - o moleque ia andando e chorando. A mãe pede desculpas e vai atrás do pirralho. A parte boa é que Demi é a única que tem piedade de mim.

- Daniel! Você tá legal?

- Tô, tô sim - disse, me levantando - Como assim ele não queria o sorvete? Eu falei que nem tinha começado a tomar e ainda era de chocolate! Karina! E aquela história de que todo mundo adora sorvete de chocolate?

- Eu falei a maioria - ela responde - Alguns, como eu, tem bom gosto e escolhem sorvete de morango...ou escolhem o Squirtle como primeiro Pokémon

- O moleque tem força, heim? - comenta Jorjão - Que rodo foi aquele? - ele ainda ria.

- Isso! Podem rir! Isso que dá querer ser bonzinho!

- Isso foi o máximo! - diz Wilson


- Como assim? Foi o máximo eu ter levado uma rasteira do pirralhinho? - retruquei

- É claro! - ele responde, na maior cara de pau - Eu gravei tudo! Isso vai ser o maior sucesso da Internet!

- O que?

- Não precisamos de um clipe ou um filme mega elaborado! Precisamos de algo legal! E mesmo que seja um vídeo de poucos segundos, se ele for inesperado e engraçado, pode fazer sucesos

- O QUE?! - eu repeti, mais enfático. Minha desgraça ia virar nosso trabalho de informática?

- Ah, entendi...um meme - comenta Karina

- Meme? - pergunta Demi

- É um termo introduzido por Richard Dawkins em seu livro "O Gene Egoísta"...segundo ele, assim como os genes se multiplicam no corpo, os memes se multiplicam na mente. O termo foi adaptado para o mundo contemporâneo como cenas ou símbolos  que se espalham pela rede. Vídeos virais que todo mundo assiste podem ser ótimos exemplos de meme. - explica a enciclopédia humana, mais conhecida como Karina

- Ah - exclama Demi, já abandonando a minha triste situação. Que ótimo. Eu seria motivo de piada para a Internet inteira. Eu poderia impedir aquilo, não podia?

- Você tá brincando, né? - tentei argumentar - Vai me fazer passar por essa vergonha?

- O que é a vergonha perto do sucesso, Daniel? Todo mundo vai te achar o máximo! - ele diz

Como discutir com Wilson seria inútil, ainda mais quando ele coloca uma ideia na cabeça, só me restava rezar para que o video não tivesse muitos acessos. Nem preciso dizer que eu estava errado. Saberia disso logo, assim que a noite chegasse.

- Nossa, Daniel! Esse seu vídeo ficou hilário! Hahhaa! - diz minha irmã, assim que liga o computador à noite, me acordando do meu inocente sono

- O que?! - acordei, ainda de pijamas, indo ver o que ela quis dizer com "meu video". Sim. O pior aconteceu. Meu video levando uma rasteira já tinha recebido, em poucas horas, mais de 500 acessos, além de vários comentários como "kkkk não canso de ver isso" ou "Não é de morango! Rachei! XD". Como assim?

- Parece que você é uma nova celebridade da internet, maninho - ela comenta - Quando a mãe falou que caiu sorvete em cima da sua cabeça, fiquei morrendo de vontade de ter visto essa cena. Quem diria que te filmaram? Muito bom!

"N-Não...o pior aconteceu", pensei. No dia seguinte, a coisa foi pior ainda. Todo mundo que me encontrava me reconhecia como o garoto do sorvete. Se não me paravam para perguntar isso, davam risinhos de longe. Não era bem esse tipo de popularidade que eu queria, mas Wilson parecia satisfeito (claro, ele não era o garoto do sorvete)

- Fala, Daniel! O seu vídeo tá fazendo o maior sucesso! Vamos ter o melhor projeto do clube de Informática com certeza!

- Pelo menos isso, né? - retruco, enquanto sentava e segurava minha mochila. Nisso, Demi chega com o video no iPhone

- Gente, gente! O vídeo do Daniel já tem até outras montagens! - ela chega toda animada.

- Que? - fiquei até com medo de ver, mas fizeram uma versão remixada.

- Nossa, legal! - comenta Wilson, ao ver o meu vídeo com o efeito da rasteira do pivete repetida três vezes - SInal de que você fez sucesso mesmo, heim?

- Olá - chega Karina, como sempre, sem muita expressão no rosto - Ah, então vocês viram a versão remixada? Até que eu consegui mexer bem no editor de vídeo

- Você o que? Aaah, deixa pra lá! Agora eu sou só o cara mais otário da escola! - lamentei, fazendo Wilson perder o posto de pessoa mais zuada do colégio. A única parte boa naquilo tudo era ganhar a melhor atribuição no grupo de Informática. Será que a gente consegue? E o que? Mais de 3000 views só no dia seguinte? Maldita inclusão digital!


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Notas finais do capítulo

(*) = Praça da Sonhadora...é a mesma de Dilema Platônico (outra história minha)

(**) = Referência a Leitura Indiscreta (também outra história minha)

Sim, várias de minhas histórias pertencem ao mesmo universo



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