Capítulo 195 - Ampliando os horizontes

– Mas mãe...justo agora! - essa era a voz de Wilson, em uma tentativa não muito bem sucedida de obter o apoio da própria mãe em um momento de relativa dificuldade - Vamos ter uma reunião importante agora!

– Eu já tinha planejado, Wilson! - disse a mãe dele, nossa adorável fornecedora de suco de acerola e, no momento, uma pessoa carregando diversos aparatos de limpeza - Hoje era dia de faxina nesse sótão! Preciso fazer isso pelo menos uma vez por ano! Ou você esqueceu de olhar na agenda anual da família?

– Oh, droga - imediatamente Wilson pegou um aparelho e, após alguns cliques, verificou que sua mãe estava certa (como a grande maioria das mães) - Oh, é verdade. A faxina anual do sótão caiu justamente hoje!

– Sábado de manhã. O melhor horário para uma faxina - disse ela - Você e seus amigos podem ir brincar lá fora.

– Sim. É verdade, Wilson. Podemos aproveitar o dia. Está fazendo tanto sol - disse Demi, sempre compreensiva.

– Brincar...lá fora? - Wilson não parecia compreender a dimensão dessa frase - Espere...não podemos fazer uma reunião secreta da NERD ao ar livre. É uma reunião...secreta!

Considerando que essa reunião secreta provavelmente seria mais um informativo de ideia louca, por mim a suspensão de entrada no sótão estava mais do que bom.

– Que pena - falei ironicamente - Estamos sem sótão. Mas ainda podemos jogar videogame no seu quarto, Wilson.

– Tsc. Vamos ter mesmo que cancelar nossa reunião? Justo agora que estava planejando juntar ideias para ganhar de vez a popularidade naquele colégio. Que lástima.

É, é uma pena. Mas para mim estava tudo bem. Estava tudo ótimo. Agora que a Emília não estava mais no meu pé, estava o mundo todo bem mais colorido. Na verdade eu estava até empolgado com a próxima ideia do Wilson. Mentira, não estava, não, mas que estou bem mais tranquilo, ah, isso com certeza.

– Não tem jeito. Vamos ter que dar uma volta até sua mãe terminar de fazer a faxina - disse Jorjão, enquanto devorava um pacote de bolachas (ou biscoitos, como preferir).

– A menos - a mãe dele se virou com um sorriso maligno - Que vocês queiram me ajudar na faxina. Mas saibam que será uma dura tarefa!

– Ah, não, não, obrigado - disse Wilson desesperadamente - Nós aguardamos...hehe. Já estamos indo, né, galera?

– Ué? Qual o problema de ajudar a sua mãe? - indagou Demi, inocente como sempre.

– Ela não terá piedade de nós - disse ele - Acredite. Eu já tentei ajudar e saí de lá com a ideia de construir um robô faxineiro. Aliás, é um projeto pendente.

Bem, eu sou um preguiçoso vagabundo, então quanto mais longe do trabalho eu ficar, melhor. O que faríamos agora? Iríamos para o quarto dele jogar videogame? Parecia ser a ideia original, até Demi olhar pela janela da casa e ver a árvore que Wilson tinha plantada no jardim da casa.

– Nossa. A árvore do seu jardim tá bem grande, né? - comentou ela.

– É uma espécie bem forte - complementou Karina - E parece ser bem antiga.

– É. Numa cidade grande onde as casas são cada vez menores, é bem raro ter uma árvore no jardim - disse ele.

Considerando que eu sou um insensível que não dá a mínima para essas coisas, é bem previsível que eu nunca tenha comentado isso, mas sim. Wilson tinha um jardim nos fundos da casa e havia uma grande árvore nele. E só estou narrando essa conversa agora porque ela é importante para a próxima encrenca que iríamos arranjar.

– Isso é muito legal. Queria ter uma árvore assim em casa, mas meu jardim é bem menor - comentou Demi.

– Ela solta muitas folhas - disse Wilson - Principalmente no outono. Dá um trabalhão limpar, mas ainda assim achamos melhor deixá-la aí.

– Claro. Seria um absurdo cortá-la. Precisamos cuidar do ambiente, né? - disse Demi, correta como sempre.

– Mas não tem muitas coisas legais para se fazer com árvores, tem? - falou Wilson, em um raro momento de desilusão.

– Não muito - comentei apenas por comentar - No máximo fazem aquelas casinhas na árvores como em filmes americanos, mas não mais que isso.

Infelizmente, meus comentários impensados sempre acabam levando a coisa para um lado que não quero. E esse é mais um desses momentos em que me arrependi de abrir a boca. Aquele olhar, aquela mudança para um sorriso nos lábios. Aconteceu de novo. Poderia reconhecer aquela aura em qualquer lugar. Acabei de dar uma ideia maluca para Wilson sem querer...de novo.

– Daniel...você é um gênio! - disse ele, sem esconder a empolgação nem um pouco.

– Não, não sou não. O que você tá pensando? - reclamei.

– É isso! Nosso próximo projeto vai ter que ser isso! - disse ele, com os olhinhos brilhando.

– Acho que sei no que ele esta pensando - comentou Karina, enquanto ajeitava os óculos - Você é mesmo muito criativo, Daniel.

– Não, peraí. Eu não disse nada! - continuava negando.

– Vamos construir nossa própria casa da árvore! - falou Wilson. Sabia que ele iria dizer isso e enfim ele disse.

– Casa da árvore?! Nossa, demais! - Demi parecia tão empolgada quanto - Acho que essa foi uma das suas melhores ideias!

– Precisamos de um lugar próprio da NERD. Fora da bagunça do meu quarto e útil para momentos de emergência como quando nosso sótão está em limpeza - disse ele - Vamos usar essa árvore velha para construir nossa nova base!

– Árvore velha é um pouco ofensivo, não acha? - comentou Demi - Árvores também são seres vivos.

– É verdade - concordou Wilson - Sim. É isso. Vamos nomear essa árvore como um membro oficial da NERD!

E assim começou nossa nova jornada: construir uma casa da árvore. Alguém tem ideia de como faz um troço desses? Bem, imagino que Wilson tenha alguma ideia...o lado construtor e arquiteto dele finalmente encarnou.