Capítulo 17 - A fúria do grêmio estudantil

- A-Aqui estão - diz o professor Denis, chegando com cópias impressas da última edição do jornal da escola - Ufa!

- Valeu, prof! - agradece Wilson, empolgado com os exemplares. Ele pega um deles e sorri orgulhoso para o trabalho - Modéstia à parte, ficou legal, heim?

- "Grêmio estudantil apóia o bullying? Em quem poderemos confiar?" - li o título da matéria. Aquilo sim que era brincar com o perigo - Sei não...isso vai dar problema

- Relaxe! A verdade está do nosso lado! Basta mostrar as provas que temos quando a opinião pública exigir uma explicação. Hehe!

- Vocês tem certeza? - pergunta o professor, enquanto tomava um copo de água do galão da nossa sala - Se quiserem posso levar o vídeo direto à coordenação. Sou professor, eles vão me ouvir

- E deixar eles esconderem isso dos alunos? É papel do jornalista mostrar a verdade! - responde Wilson, em um tom de sede de justiça. E é a partir de agora que a coisa começa a ficar difícil...

- O que a gente faz agora, Wilson? - pergunta Demi.

- Vamos distribuir os jornais! - ele responde - Vamos aproveitar o intervalo para isso!

Então, algum tempo depois, na hora do intervalo, estávamos ali, entregando jornais para todos os alunos que passavam pelo corredor do local. Em cinco pessoas, até que isso ia rápido, embora Karina simplesmente tenha sentado na cadeira, aberto um livro e deixado a pilha de jornais em outra cadeira, junto com uma folha de papel escrito: "Pegue aqui o seu jornal"

- Espertinha você, heim? - critiquei.

- As pessoas só precisam pegar o jornal, não? - ela retruca, sem mudar a expressão e a calma - Para que se esguelar tanto?

Duvido que aquela garota tenha ficado nervosa em algum momento da vida. Enfim, os exemplares foram enttregues em uma velocidade incrível. Sobraram poucos e, por incrível que pareça, a pilha de Karina foi a primeira a acabar.

- Vocês ainda não terminaram os de vocês? - ela pergunta, tirando os olhos do livro rapidamente.

- Como ela consegue? - comentei comigo mesmo. Mesmo assim, Wilson parecia satisfeito.

- O importante é que entregamos vários jornais só no intervalo. Depois da aula vamos ver se isso deu algum resultado

Na verdade, o resultado viria mais cedo do que imaginávamos. Enquanto estávamos fechando a sala para voltar às aulas, alguns alunos comentam o que estava escrito no jornal. Eram alunos típicos ameaçados (não eram da nossa sala, mas eram vítimas comuns de valentões).

- Caraca...isso é verdade? Os caras do grêmio estão mesmo pagando os caras para ameaçar a gente e nos cobrando para nos defender? - comenta um - O que é isso?

- Se for verdade, esses caras são mais perigosos do que a gente pensa

- Ora...e aí, gente? Não tem ninguém ameaçando vocês, tem? - diz Jonathan, o líder do grêmio - Qualquer problema é só falar com a gente...aliás, vocês já contribuiram com a campanha, não?

Os dois se entreolham amedrontados e tentam sair dali com o máximo de discrição.

- Ah...Jonathan...então, nós estamos bem...hehe...a gente se vê depois

Mas claro que o cara percebe que havia alguma coisa de diferente. Normalmente, eles não teriam uma reação tão arredia. Ele percebe que estavam lendo o jornal e pega de um deles

- O que é isso? O jornal da escola?

- Ah...p-pode ficar! A gente precisa voltar pra aula! Tchau!

Os dois alunos saem correndo e Jonathan lê o jornal com as mãos tremendo de nervoso. Como assim? Descobriram o que estavam fazendo?

- Fala, Jonathan! Algum problema? - diz Beto, o outro cara do grêmio.

- Todos os problemas! - ele responde, com uma cara não muito amigável - Veja isso!

Beto começa a ler o que estava escrito e também fica espantado. Parece que alguém havia mesmo descoberto os planos do grupo. E isso não era muito bom para eles.

- É...isso pode ser um problema pra gente. Se os aluinos começarem a cobrar

- Droga! Alguém do jornal deve nos ter visto conversando com algum desses idiotas por aí e inventado essa história

- Ou eles podem ter alguma prova para isso...do jeito que escrevem aqui, parece que sabiam exatamente do que estávamos falando

- Que tipo de prova?

- Aqui está escrito "segundo gravação em vídeo.."

- Gravaçãoem vídeo? Então alguém filmou a gente?

- É o mais provável, não?

- Esses idiotas do jornal não sabem no que estão se metendo...acho que vamos precisar trocar uma ideia com eles

- Trocar uma ideia, você diz...trocar uma ideia do nosso jeito?

- De que outro jeito seria? Você sabe quem está responsável pelo jornal da escola agora?

- Parece que o editor-chefe é um tal de...Wilson Abadias

- Wilson Abadias, é? Acho que já ouvi falar desse cara...

- Não é o cara que foi chamado para levantar a bandeira da escola há alguns anos atrás?

- Ah, eu lembro...levantar a bandeira é a coisa que todos os alunos da escola detestariam ser chamados, mas ele parece ter gostado da tarefa

- E naquele dia tinham molhado a cadeira que ele estava e ele sentou na água sem nem perceber. Não parece ser uma das pessoas mais fortes do colégio.

- Heh! E um cara desses ainda tem a ousadia de desafiar o grêmio da escola por meio do jornal da escola? Ele não tem muita noção, não é?

- Nenhuma noção - concorda Beto, voltando a ler o que estava escrito - Mas...que o texto está bem escrito, está

- De que lado você tá, heim?

- Calma, foi só um comentário

- Só um comentário...e...ei, olha o editorial de novo - agora Jonathan parecia ter reparado em alguma outra coisa.

- Hã? O que tem?

- Demétria Gomez! É a menina que fugiu de você outro dia, não é?

- Ah, sim. Era bem bonitinha, mas não curto muito pirralhas

- Idiota! Não é disso que eu estou falando! Ela é quem deve ter filmado alguma coisa sobre o que estávamos fazendo! Pelas imagens do jornal...sou eu conversando com o Fabião...e eu conversei com ele no mesmo dia que ela disse ter fugido de você

- É mesmo - concorda Beto - Eu lembro que ela estava com uma câmera rosa...e tinha umas meninas provocando exatamente por causa da câmera

- Droga...ela pode ter tirado fotos ou flmado a gente. Isso é mal!

E as coisas iriam complicar ainda mais para eles, principalmente porque a maracutaia em que estavam envolvidos também tinha outro lado.

- Ah! Achei vocês - diz um dos folgados da escola, que parecia estar no esquema do "bullying arranjado"

- Você é o...Tomaz, da oitava - diz Beto

- É - ele responde - Vocês viram o jornal, não viram?

- Sim - Jonathan responde

- Então - Tomaz coça a cabeça - Acho que agora esse esquema miou, né não?

- Como assim?

- Tá na cara que ninguém vai acreditar em vocês agora. Vim pegar minha última parte da grana e cair fora daqui

- Sua...última parte? Tsc! Desculpa...mas não temos dinheiro nenhum agora

- Como é que é? A gente tinha combinado direitinho e...

Nisso, um outro cara mais alto e mais forte que aqueles dois chega por trás de Tomaz e o segura no ombro.

- Você ouviu o Jonathan, não ouviu? - diz o figura - Como você mesmo disse...o esquema miou...então, vamos terminar isso numa boa?

- Hã? - o tal Tomaz olha com um olhar assustado - Ah...se é assim...então tá

O folgado sai de cena. Jonathan sorri.

- Ah, Montanha! Bom te ver...as notícias não andam muito boas 

- Pois é - responde Montanha.

- Nós vimos as notícias - diz uma menina relativamente alta, cabelos pretos e curtos, depois de fazer uma bola de chiclete - Detonaram a gente, heim?

- Heh! Por enquanto - diz Jonathan, com o clássico olhar maligno que todo vilão tem - Nós somos o conselho estudantil dessa escola, lembram?

- Embora com nossa imagem política um pouco manchada - ironiza Beto, ainda terminando de ler o jornal, mas mudando logo de assunto - Ei, quadrinhos

- Esquece esse jornal! - reclama Jonathan, arrancando a folha das mãos de Beto e anunciando uma coisa mais maquiavélica - Ou melhor...concentrem-se nas pessoas que fazem o jornal

- Ah, sim...aquele grupo editorial novo - comenta a mocinha

- Isso mesmo, Deisy - concorda Jonathan - Depois da aula...vamos ter uma conversinha com o jornal da nossa escola

 Jonathan esboçava um sorriso diabólico e os quatro membros do grêmio poderiam ser enquadrados num close de grupo de vilões de quadrinhos, só faltava os raios e trovões para dramatizar mais a cena. Mas o sinal de fim de intervalo foi o único barulho que se ouviu.

- Bem...melhor a gente subir, né? - diz Montanha - Agora é aula de Espanhol...e a professora é muito gata

- Ah...que seja! - responde Jonathan - Mas depois da aula nós vamos ver isso!

Enquanto isso, eu podia sentir o mau presságio na própria sala de aula, enquanto me sentava e aguardava a chegada do professor de Ciências

- O que foi, Daniel? - estranha Wilson, sentado do meu lado - Parece que teve um calafrio

- Não é nada...você já teve a sensação de que alguma coisa estranha está para chegar?

- Hmm....não, mas o Jorjão sente isso o tempo todo. Principalmente quando come alguma coisa pesada

Não era bem a resposta que eu queria ouvir, mas era um mau pressentimento. É...as coisas iam ficar feias para o nosso lado.